Índice de Capítulo

    Estávamos nos movimentando pela parte central da ilha sem um objetivo definido.

    Crunch! Crunch! Cruuunch!

    Claro, íamos destruindo cada monstro que surgia no caminho.

    O único motivo pelo qual eu dizia que estávamos sem objetivo era porque nem sequer estávamos entrando em batalhas de verdade.

    — Isso é entediante.

    — Sim… Estou começando a pensar que preferia olhar papéis e documentos a fazer isso.

    A média de nível dos monstros que apareciam na Ilha da Caveira era sexto nível, um número inflado por causa de alguns poucos monstros de nível mais alto que tinham uma chance baixa de aparecer. A maioria, na verdade, ficava entre o sétimo e o oitavo nível.

    E os monstros nem eram novos. O único que ainda poderia nos dar alguma experiência era o Fantasma Caveira, de sexto nível.

    — Espero que aquele monstro que você mencionou apareça logo, Capitão.

    Até mesmo Auyen, que não era um combatente, estava caindo no mesmo estado de desânimo, então devia ser realmente frustrante vagar ‘sem rumo’ daquele jeito.

    “Onde foi parar todo o fogo da competição de antes?”

    Bem, eu não podia culpá-los. Já fazia dois dias desde aquele encontro fatídico.

    — Eles também não encontraram nada ainda, certo?

    — Provavelmente não — respondi, tentando aliviar a suspeita de Raven. — Saberíamos se a caverna tivesse sido aberta.

    — Eles podem ter um jeito de esconder isso ou algo do tipo.

    Por pouco, não ri e mandei Raven parar com aquele absurdo. Mas, pensando melhor… era possível.

    — Digo, eles também tinham aquilo com eles — ela insistiu. — E em grande quantidade.

    — Ah, você está falando daquilo…

    O que Raven se referia era um item numerado. Não tínhamos certeza absoluta de que eles tinham um, mas as chances eram muito altas.

    — Sim — ela confirmou. — Você concordou comigo também, não foi? Se não tivessem esse item, não faria sentido como conseguiram se esconder de nós.

    Bem, isso era verdade.

    Detecção era uma habilidade auxiliar. Como Erwen e Amelia eram mais voltadas para o combate, eu podia relevar o fato de que não notaram nossos oponentes.

    No entanto, nosso novo membro, Beleg, era um aventureiro que havia ganhado o título de Perseguidor. Em outras palavras, era um profissional em rastrear e detectar alvos. Mas mesmo assim, o outro clã nos notou primeiro e conseguiu ocultar tantas pessoas com sucesso. Como fizeram isso?

    Depois de discutir o assunto com Beleg, chegamos a uma única conclusão: tudo se resumia a itens absurdos. E já tínhamos uma ideia de qual item poderia ser.

    No. 16: Insígnia de Ébano. Quando equipada, fortalecia significativamente as habilidades furtivas do usuário. Seus atributos aumentavam enquanto estava em furtividade, concedia bônus ao emboscar alvos e muito mais. Era praticamente um item de formatura para assassinos.

    O item tinha duas características cruciais para a situação atual. Se alguém o equipasse e ficasse parado, entraria em furtividade absoluta. Além disso, ao ativar sua habilidade ativa, criava temporariamente vinte e nove emblemas que podiam ser distribuídos a outras pessoas, permitindo que também usassem a primeira habilidade.

    “Se usaram isso, explicaria como conseguiram se esconder de nós.”

    Pensando naquele momento, lembrei-me de como todos estavam apenas esperando silenciosamente por nós. Só revelaram sua presença quando nos aproximamos da entrada da caverna. Alguns membros do meu clã até relataram ter visto insígnias semelhantes neles.

    “Mas para esconder noventa pessoas assim, precisariam de três desses itens…”

    Mesmo assim, se essa hipótese fosse verdadeira, levantava ainda mais perguntas. Não era nem uma questão de como conseguiram algo tão precioso, mas sobre a natureza e o caráter desse tal de Fantasma Dourado, que conseguiu obter três dessas insígnias.

    Não importava como eu olhasse para isso, suas intenções não podiam ser…

    Nesse momento, Beleg parou de se mover e sussurrou em meu ouvido:

    — Visconde Yandel.

    — Eu te disse para me chamar de capitão.

    Ele hesitou, aceitando a correção. — Alguém está se aproximando.

    — Quantos?

    — Seis.

    Eu nem precisava perguntar quem eram. Provavelmente, era uma das subdivisões do Clã da Árvore Dourada.

    — Se continuarmos avançando, vamos encontrá-los.

    Mesmo assim, fiquei surpreso com a situação. Não havíamos interagido com eles nos últimos dois dias. Mesmo que nossas rotas convergissem, ambos os grupos sempre percebiam a presença um do outro à distância e se afastavam.

    — Parece que eles têm algum assunto conosco. Vamos esperar aqui por eles — decidi.

    Enquanto aguardávamos, um grupo de aventureiros com a insígnia do Clã da Árvore Dourada emergiu dos arbustos retorcidos, como era de se esperar na Ilha da Caveira.

    — Yandel?

    — Abman.

    Um encontro completamente inesperado. Embora tivéssemos trocado olhares de longe no encontro anterior, aquele não era o momento para conversas.

    De qualquer forma, não pude evitar um leve riso ao perceber o que estava acontecendo. Julgando pelo choque em seu rosto, não parecia que ele tinha vindo me procurar de propósito.

    — Parece que você se perdeu.

    — De jeito nenhum… Só estávamos nos deslocando.

    Hmm? Ele claramente era o batedor do grupo, levando em conta suas habilidades.

    O Sr. Urso era um batedor, mas tinha a tendência de se perder, além de não possuir as habilidades básicas de detecção que a maioria dos batedores tinha. Era tão ruim nesse aspecto que, na época do Grupo Maçã Narak, cheguei a ter aulas de rastreamento com Rotmiller, mesmo tendo um batedor disponível na equipe.

    Ainda assim, pensando bem agora, foi uma sorte ter aprendido com ele naquela época.

    — De novo? — Um dos membros da equipe de Abman suspirou. Mas, diferente dos suspiros afetuosos que soltávamos durante o tempo no grupo Maçã Narak, esse carregava outro tom.

    — Você não estava ouvindo? O capitão nos disse para evitar contato, se possível.

    — A-Ah…

    — Você fez isso de propósito? Só para encontrar um velho amigo e bater papo?

    — N-Não é isso! Eu jamais faria algo assim. I-Isso é só uma coincidência. Uma coincidência!

    — Coincidência, meu rabo. Você só não tem habilidade para isso.

    O clima ficou tenso no mesmo instante.

    Mesmo com essa breve troca de palavras, já dava para perceber um pouco da dinâmica entre Abman e sua equipe. Talvez por notar o mesmo, Abman olhou para nós com um olhar desconfortável.

    Ele parecia alguém que acabara de ter um segredo exposto, algo que queria manter escondido.

    Infelizmente, realmente parecia ser esse o caso. Ninguém queria que amigos ou familiares os vissem sendo repreendidos por seus superiores, e o que estava acontecendo ali provavelmente não era nem de longe tudo o que ele passava no dia a dia. Até ele costumava se segurar quando estávamos diante dos outros.

    Era uma velha verdade: as ações mais brutais e humilhantes sempre aconteciam longe dos olhos alheios.

    — De qualquer forma, minhas desculpas, Lorde Visconde. Não estamos aqui para interferir… Como pode ver, a culpa não é nossa, mas sim desse homem.

    — Não vou culpar ninguém, então não se preocupem.

    — Fico aliviado em ouvir isso. Você entendeu? Vamos.

    Eu queria conversar mais com o Sr. Urso, mas aquilo era o máximo que conseguiríamos sob aquelas circunstâncias. Mesmo sabendo que poderia forçar uma conversa se exigisse, reconheci que isso não seria bom para ele. Poderia ser acusado de traição caso nos desse qualquer informação.

    Acima de tudo, parecia que o próprio Sr. Urso queria sair daquela situação o mais rápido possível.

    No entanto, quando eu estava prestes a deixá-los ir…

    — Hah… Como um perdedor desses acabou no nosso time?

    Uma provocação dita alto demais para ser considerada um comentário ‘sob a respiração’ chamou minha atenção.

    【Missha Karlstein lançou Alma Glacial.】

    Com um único corte de espada, uma parede de gelo se ergueu na frente dos que tentavam partir.

    — Você… O que foi que acabou de dizer?

    Missha estava agitada.

    Os ventos frios criados pela parede de gelo roçaram minha pele.

    Embora sua ação impulsiva tenha sido inesperada, por enquanto, tudo bem. Ela ainda não havia tomado uma postura completamente hostil contra eles. O problema era que aquilo não podia escalar mais do que já havia escalado.

    — Visconde Yandel — o homem que parecia ser o líder do grupo chamou, ignorando Missha. — Posso tomar isso como uma violação do nosso acordo?

    Senti uma energia hostil profunda emanando do capitão da equipe, mas, para ser honesto, eu estava mais surpreso do que qualquer outra coisa com o rumo dos acontecimentos. Afinal, ele nem sequer era o capitão do clã, apenas o líder de um time.

    Dei um passo à frente para responder, mas Missha me interrompeu de novo.

    — Que seja, você aí! Cabeça de Goblin! Responde. Do que foi que chamou o Abman? O que foi? Engoliu a língua?

    Apesar de ouvir Missha, o homem nem sequer olhou em sua direção.

    A respiração dela ficou mais pesada. A mão que segurava a espada tremia, ela estava absolutamente furiosa. Fazia muito tempo que eu não a via tão irritada assim.

    — Responda.

    Sua pronúncia se tornou mais nítida, talvez porque o tom de sua voz baixou. Só então o capitão da equipe respondeu, igualmente irritado.

    — Isso tudo porque o chamei de perdedor?

    — Você…

    — Só pode estar brincando. Então foi isso.

    — Retire o que disse enquanto ainda estou pedindo educadamente.

    — Para ser honesto, não sei que autoridade você acha que tem para me mandar retirar o que digo.

    — O quê?

    — Quero dizer, sei que já esteve na mesma equipe que Urikfried no passado. No entanto, agora ele é um membro do nosso clã. Você não tem o direito de se intrometer nos nossos assuntos internos.

    — Ah, então está tudo bem se ele não for membro do seu clã? Abman! Venha para cá! Saia desse clã agora e…

    — Pare, Missha.

    Não fui eu, nem o capitão da equipe, que a interrompeu, mas sim o próprio Sr. Urso. Missha pareceu chocada com a dureza em sua voz.

    — Por quê?

    Os olhos dela pareciam perguntar: ‘Eu só estava tentando te ajudar, então por que me interrompeu desse jeito?’

    Sr. Urso não respondeu. Em vez disso, quem o fez foi o capitão da equipe.

    — Você se considera uma aliada preciosa dele e nem sabe por quê? Urikfried pegou dinheiro emprestado do nosso clã. Não teve escolha, já que sua loja não estava indo bem e o labirinto ficou fechado por um ano.

    — Hah! Quanto? Podemos pagar…

    — Não importa se podem pagar ou não. A condição para o empréstimo era que ele participaria de um número específico de expedições conosco. Esta é a primeira, e ele ainda tem mais vinte e três pela frente.

    — Então… É por isso que o intimidam? Porque ele não pode sair mesmo que queira?

    — Eu realmente não faço ideia do que está…

    — Pare por aí — intervim. Missha ainda tinha muito a dizer, mas a interrompi apenas com um olhar. — Não tenho intenção de interferir nos seus negócios, e menos ainda de quebrar um acordo. Vamos encerrar isso aqui.

    — Agradeço.

    Ao dar um passo atrás, o capitão da equipe abaixou a cabeça para mim, e a interação terminou ali.

    No entanto, Missha ainda não conseguia engolir aquilo.

    — Por que você fez isso? — ela exigiu saber, antes que eles partissem.

    Amelia, que estava ao seu lado, tentou impedi-la, mas segurei seu braço. Sabia que Missha não os atacaria dessa vez.

    — Não sei do que está falando — respondeu o capitão.

    — Por que são assim? Vocês fazem parte do mesmo time, são aliados… Então por que o assediam e humilham desse jeito? Isso… é algo divertido para vocês?

    O capitão pareceu pego de surpresa pela pergunta genuína, mas logo seus olhos se encheram de irritação.

    — Que lindo. Você vive em um mundo completamente diferente do nosso.

    — O quê?

    — Se me der licença.

    Com isso, eles desapareceram na vegetação e ocultaram sua presença. Missha mordeu os lábios, ainda visivelmente tomada pela raiva.

    — Bjorn…

    — Não se preocupe. Tenho um plano.

    — S-Sério?!

    Não era um plano que eu tinha originalmente. Apenas algo que pensei na hora.

    “Vencer a competição contra o Clã da Árvore Dourada e monopolizar o evento da Ilha da Caveira.”

    Se essa era a missão principal, então suponho que acabei de conseguir uma missão secundária?

    Mesmo que o próprio Sr. Urso não quisesse.

    “Se o mestre da Guilda partir, isso cria uma vaga, não é?”

    Eu não poderia simplesmente ficar parado depois de ver aquilo.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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