Capítulo 796: Ilha da Caveira (3/5)

No momento em que a porta na caverna se fechou e fomos isolados do mundo exterior, as tochas alinhadas nas paredes começaram a se acender uma a uma, traçando um caminho na escuridão. Ainda assim, o espaço cavernoso não ficou totalmente iluminado, pois o caminho a dez metros à nossa frente continuava envolto em trevas.

— Leait. — Raven lançou um orbe de luz na escuridão antes de exclamar: — Oh! Então realmente não se ilumina. Pelo fato de minha mana continuar estável, acho que o feitiço também não foi interrompido.

Ela parecia interessada na mecânica por trás daquela escuridão, mas eu não me sentia particularmente atraído por isso. Não era um estudioso, mas um jogador. A ideia de tentar descobrir o porquê de um campo funcionar de determinada maneira me parecia, para ser honesto, engraçada.

Feitiços de luz ou tochas eram inúteis contra a escuridão dentro da caverna. As palavras-chave ‘luz dos mortos’ já haviam me levado a tentar usar magia negra ou itens similares ali, mas todos falharam. As únicas coisas que nos permitiam enxergar eram as tochas já fixadas nas paredes. Nem todas estavam acesas ao longo do caminho, mas isso não era um problema.

Afinal, os monstros logo começaram a aparecer.

— Oh! Está usando um crânio!

— Espere! — Eu rapidamente parei Ainar, que tentou correr em direção ao primeiro monstro que viu. — Segure-se.

— Hm? O que foi, Bjorn?

— Adnus derrotará todos os monstros que aparecerem a partir de agora.

Ainar parecia confusa, mas o mestre da Guilda entendeu imediatamente e sorriu. — Então você está me colocando como o sacrifício.

— Que sacrifício? Você não vai morrer por isso — eu respondi.

— Entendido. Sacrificar-me-ei de bom grado pelo grupo.

Ambos sabíamos o que estava acontecendo ali. Ele estava falando em ‘sacrifício’ apenas para enfatizar o crédito que deveria receber?

Adnus desembainhou sua espada.

— Uma espada…? Mas ele não era um arqueiro?

Ignorei a pergunta. Ele usava também arco, mas na verdade era um híbrido. Seu conjunto de habilidades não estava preso a uma única arma.

Com isso, o mestre da Guilda matou quatro monstros com um único golpe à medida que emergiam da escuridão. Nada muito surpreendente, já que os monstros que apareciam nessa fase eram aproximadamente de sétimo nível. O verdadeiro desafio não era a luta em si, mas sim o preço da vitória.

Quanto mais monstros alguém matava ali, mais seus atributos eram reduzidos. No entanto, isso não significava que podíamos simplesmente ignorá-los e seguir em frente.

Fwoosh!

— Oh! A chama ali ficou maior!

Catacoma foi criada de forma que só pudéssemos progredir se continuássemos matando monstros.

— Não sei quanto a vocês, mas definitivamente estou sentindo isso pesar — Adnus arfou. — Eu tinha que perder força logo no começo.

— Hm? O que quer dizer?

Dessa vez, foi Raven quem respondeu a Ainar. — Sempre que você mata um monstro aqui, uma habilidade específica aleatória é reduzida.

— Habilidade específica…? Como assim?

— As coisas adquiridas através de essências e das Conquistas de Gabrielius. Força, Agilidade, Resistências… essas coisas.

— Hã?! Elas diminuem? — Ainar gritou, com um olhar de desgosto no rosto. Provavelmente estava imaginando como quase correu em direção aos monstros assim que apareceram.

O mestre da Guilda soltou uma risada amarga. — Ainda assim, alguém precisa se sacrificar.

— Eu respeito você, Adnus! Aceitar algo assim pelo time! Você é um guerreiro confiável!

— Haha… Obrigado.

Para mim, tudo aquilo parecia um teatro.

“Sacrifício? A redução de atributos nem é permanente.”

As penalidades que ele acumulava seriam removidas assim que saíssemos daquele lugar. Ainda assim, não era como se a experiência fosse agradável.

— Você pode estar bem agora, mas prepare-se mentalmente. Pelos relatos das pessoas que já passaram por aqui, todas disseram que viveram algo que nunca mais querem experimentar.

— Bem, perder suas habilidades e se tornar igual a um cidadão comum seria um choque e tanto.

— Sim. Embora, como maga, eu não saiba como é essa sensação.

Após ouvir a conversa, Missha interveio com uma pergunta. — Hã? Então não deveríamos deixar os magos matarem os monstros?

— Ouvi dizer que os magos têm sua mana reduzida — Raven explicou, desviando o olhar.

— Eh? Então os magos também sabem como isso é, não?

Raven não respondeu ao ponto lógico de Missha. Que raro. Missha havia superado Raven na lógica e a fez ficar sem palavras.

Embora fosse uma cena divertida de certa forma, como capitão, eu não podia simplesmente ficar parado deixando todos perderem tempo.

— Chega de conversa. Continuemos — disse eu, cortando o assunto ali para que pudéssemos prosseguir com a expedição.

À medida que avançávamos e o mestre da Guilda matava mais e mais monstros, ele parecia visivelmente mais abatido. Diferente de antes, quando conseguia matar quatro monstros com um único golpe, agora precisava se esforçar muito mais para derrotá-los.

Havia um motivo pelo qual eu não deixei Auyen dividir a tarefa com ele. Era necessário um certo nível básico de atributos para essa estratégia.

— Bjorn, que tal ajudá-lo um pouco…? — Ainar sugeriu. — Ele parece estar sofrendo. Não podemos ajudá-lo e deixar que ele dê o golpe final?

Balancei a cabeça firmemente. — Apenas observe.

Eliminar todas as variáveis era a melhor abordagem. Se tentássemos ajudá-lo a dar o golpe final e errássemos, perderíamos quase metade do motivo de estarmos fazendo isso. Mesmo que fosse difícil para ele, continuar como estávamos era o melhor para o mestre da Guilda.

— Bom trabalho — disse a ele enquanto ofegava. — Vamos seguir. Por aqui.

Eu precisava escolher o caminho certo para reduzir nosso tempo de viagem, pois Catacoma não era uma caverna linear. Era um labirinto, como a Caverna de Cristal, mas, ao contrário do primeiro andar, se nos perdêssemos ali, perderíamos atributos demais e fracassaríamos na batalha contra o chefe.

Não que isso importasse muito para uma grande força expedicionária que pudesse arcar com muitos sacrifícios.

— Há uma porta ali!

— Oh! Então terminamos?

— Quem é aquele sujeito na frente?

Por fim, nossa exploração nos levou à entrada da sala do chefe.

Rapidamente, fiz os cálculos em minha mente. Trezentos e dezessete, esse era o número de monstros que o mestre da Guilda havia matado no caminho até ali.

“Muito bem, já que passamos de trezentos, completamos uma das condições…”

Sem perder tempo, iniciamos nossa batalha contra o guardião do portão.

A batalha contra o subchefe foi bastante inconveniente. Se quiséssemos apenas matá-lo, poderíamos simplesmente ter Erwen disparando uma flecha com carga total, mas isso causaria problemas mais adiante, na próxima fase.

— Adnus! Mate-o logo!

— Ugh! Estou tentando! Mas já acumulei muitas maldições…

— Eu sei, mas apresse-se!

Tomamos cuidado para reduzir a vida do chefe até restar apenas um fio de HP antes de segurá-lo no lugar para que o mestre da Guilda pudesse desferir o golpe final.

O mestre da Guilda conseguiu dar o último golpe, e o subchefe desapareceu em um feixe de luz. Isso também completou um segredo oculto.

Normalmente, derrotar o Guardião do Túmulo fazia com que o debuff do personagem mais amaldiçoado se espalhasse para todos os outros. Por isso, o método formal de limpeza era garantir que todos matassem um número igual de monstros para que a maldição fosse distribuída de maneira uniforme após a eliminação do subchefe. Essa, aliás, foi a estratégia que eu mesmo vendi no passado.

Aquela mulher nem sequer sabia da existência do chefe oculto. Não havia motivo para contar a ela que, se acumulássemos todos os debuffs em uma única pessoa, tornando-a o amaldiçoado, e então a fizéssemos derrotar o subchefe, a maldição não se espalharia.

— Não vejo nenhuma essência.

— Que pena — Raven respondeu, emburrada.

— Nem tanto. Era uma essência lixo, de qualquer forma.

— Ainda assim, deve valer algo, considerando sua raridade. Também tem valor para pesquisa.

Certo. Eu lembrava que ela tinha interesse nesse tipo de coisa.

— Tanto faz, vamos logo entrar.

Depois de derrotar o guardião do portão, abrimos a porta e entramos na sala além dela.

— Não tem nada aqui?

— Isso porque temos doze pessoas.

O design da caverna como um todo era semelhante ao da ilha, com paredes, teto e chão feitos de crânios. Até mesmo as tochas presas às paredes eram crânios ardendo com fogo interno. Essa característica de terreno também se estendia ao interior da sala do chefe. A única particularidade era que, na parede oposta à nossa, havia o crânio de um monstro muito maior do que o que vimos na entrada da caverna.

— Oh, oh! Raven! Que monstro é aquele ali? Parece muito forte!

— Bem, não sei. Não deve haver muitos monstros desse tamanho no labirinto… Talvez nem seja um monstro?

— Hm… Eu queria lutar contra um no futuro! Que pena!

Nos movemos lentamente para frente, em formação, na vasta área aberta.

— Erwen, comece.

— Sim.

Ao meu comando, Erwen fechou os olhos e começou a se concentrar. Mantive meu olhar fixo nela enquanto o fazia.

— Agora. Todos, saiam.

Gritei a ordem assim que Circuito do Caos foi ativado. Todos, exceto os que eu havia avisado previamente, saíram rapidamente da sala do chefe. Apenas Amelia, Ainar, Missha, Erwen, o mestre da Guilda e eu ficaríamos para lutar desta vez.

Ao invés de escolher os mais fortes, selecionei os membros que eu queria que obtivessem a conquista. Afinal, essa nem seria uma luta de verdade.

Assim que os outros membros deixaram a sala, a porta se fechou com estrondo, e toda a área começou a tremer como se fosse atingida por um terremoto.

— Graaaaaaah!

O uivo que ouvimos ao entrar na caverna rugiu mais uma vez. Então, um chefe de aparência intimidadora emergiu dos crânios no chão, com um som de estalos, e se ergueu. E assim que o fez…

— Graaa…oh…?

Três fases foram puladas instantaneamente.

A estratégia oficial para derrotar o Rei dos Crânios era bastante complicada. À medida que a batalha avançava, o medidor da ‘gema da alma’ que ele carregava para indicar sua vida diminuía continuamente.

Quando sua vida caía para 80%, ele lançava uma maldição em área.

Aos 60%, invocava servos.

Aos 40%, ativava uma habilidade de morte instantânea.

E quando sua vida chegava a 20%, tornava-se momentaneamente invulnerável antes de se recuperar e obter um buff ainda mais forte.

Contudo, nós pulamos as três primeiras fases e fomos direto para a quarta.

Felizmente, a quarta fase também não era tão difícil. Em seu estado de mana infinita, Erwen podia fazer mais do que apenas Fogo Concentrado.

Boom! Bang!

Enquanto Erwen continuava a despejar seu poder de fogo, a gema da alma do Rei dos Crânios esgotava-se mais rápido do que ele conseguia recarregá-la.

Assim que Absorver Alma terminou, sua vida caiu imediatamente abaixo de 20%, e entramos na fase final.

A seguir, veio seu modo berserk, algo que todo chefe deveria ter. A estratégia para lidar com isso era simples.

Só precisávamos sobreviver, e eu era um especialista nisso.

Após descontrolar-se por cerca de um minuto, o Rei dos Crânios parou de repente. Embora ainda não o tivéssemos matado, o combate já estava praticamente encerrado. Mesmo uma pessoa comum poderia simplesmente se aproximar do monstro imóvel e estourar a gema da alma em seu corpo.

“Cerca de dois minutos desde a invocação… Então a regeneração da fase 4 e o modo berserk duraram um minuto cada.”

— Bom trabalho, Erwen. E, conforme o planejado, Adnus, você dará o golpe final.

— Entendido.

O mestre da Guilda então se aproximou do Rei dos Crânios paralisado e destruiu a gema da alma, encerrando o combate.

Infelizmente, ele não dropou uma essência, mas eu não me importei. O prato principal ainda estava por vir.

Enquanto os fragmentos ósseos do Rei dos Crânios se dissipavam em feixes de luz, todo o espaço voltou a tremer.

— Ugh… O que é isso? Não tínhamos terminado aqui?

Sem querer, sorri. — Parabéns, Ainar.

— Hã? O que quer dizer?

Em vez de responder, apontei para o crânio gigantesco do monstro decorando a parede dos fundos.

— Você não disse que queria lutar contra um?

Era hora de derrotar o chefe secreto.