Índice de Capítulo

    No momento em que entramos no portal, nossa visão oscilou e uma nova área surgiu diante de nós mais uma vez.

    — Este lugar é…

    — O que houve? Está silencioso…

    Nossos membros inclinaram a cabeça em confusão. Em vez das ondas de monstros que esperavam, fomos recebidos por uma área relativamente calma.

    Não os culpava. A Catacumba da Ilha da Caveira estava repleta de ossos e esqueletos e, apesar da exibição bombástica de uma ilha inteira explodindo e queimando em lava, este lugar era o completo oposto: um pouco escuro, mas ainda assim silencioso, sem ameaças visíveis à vista.

    O nervosismo por entrar num espaço desconhecido durou apenas um momento. Raven lançou um olhar ao redor e deixou sua curiosidade acadêmica transparecer.

    — Este lugar é interessante. Até parece uma instalação de pesquisa.

    “Com todo esse discurso sobre vingar seu mestre, as pessoas realmente não mudam tão rápido.”

    E isso nem era algo ruim. Se fosse para ser honesto, eu queria que ela deixasse de lado essa busca por vingança e simplesmente vivesse a vida fazendo o que gostava.

    “Não que eu esteja fazendo isso também.”

    Continuamos andando, cada passo acompanhado de um clang metálico sob os pés. Toda a área era revestida de metal, e as paredes estavam cobertas de canos metálicos, alavancas de escotilha e grossos circuitos de mana que pareciam tubos elétricos.

    A sensação era de estarmos dentro de um enorme submarino ou talvez um bunker.

    — Oh! Eu meio que quero girar isso…

    — Não! Srta. Fenelin, não toque em nada!

    — E-Eu nem toquei! Só pensei nisso!

    Ignorando Ainar sendo falsamente acusada, continuei avançando com pressa. Afinal, o tempo ainda estava correndo.

    “Já está na hora de eles começarem a falar…”

    Como se obedecendo ao meu comando, ouvi uma voz.

    ⟅Quem são vocês? Peregrinos?⟆ — perguntou uma voz distorcida, como se viesse de um alto-falante.

    A maioria do grupo se sobressaltou e levantou suas armas, compreensivelmente em alerta diante do som. Afinal, havia apenas duas pessoas aqui que entenderiam o que foi dito.

    — A língua antiga?

    Raven sabia um pouco da língua antiga por conta de seus muitos anos como estudiosa e…

    — ⟅Saudações, Arta.⟆

    Apesar de nunca ter aprendido a língua antiga, eu conseguia falá-la como um nativo.

    Houve uma pausa, então a voz disse: — ⟅Vocês ainda não responderam à minha pergunta. Quem são vocês? Peregrinos?⟆

    Não me incomodei em esconder o sorriso.

    Mesmo no jogo, a Ilha Arta era um capítulo interessante de se vivenciar, já que seu personagem homônimo era o único NPC que podia ser encontrado dentro do labirinto. Bem, chamar Arta de ‘NPC’ era um tanto questionável quando se conhecia sua história. Ainda assim, ele podia conversar e oferecer missões, o que o tornava uma entidade muito especial. Sem mencionar que o método de progressão da missão dele era, no mínimo, único.

    — Bjorn! É um inimigo? É só falar que eu destruo!

    — Acalme-se, Ainar. Não adianta, mesmo que tente.

    — Não adianta? É-é um fantasma?! Não se preocupe! E-Eu já consigo matar fantasmas agora!

    — É mesmo? Então vai e acerta aquela porta ali.

    Ainar pareceu confusa com minha ordem, mas mesmo assim foi obedientemente executá-la. No entanto…

    — Hã?

    Ela congelou, com a lança erguida no ar. Era como se algo invisível a impedisse de realizar a ação.

    — O q-quê?! Não consigo mover meu corpo! M-Me ajuda!

    — Não se preocupe. Você vai ficar bem assim que parar com a agressividade.

    A interação específica era que o botão de ataque ficava desativado nesta área, mas essa explicação bastava para a realidade.

    Assim que processou o que eu disse, Ainar voltou ao normal.

    — Ack! O que foi isso?!

    Era o efeito de campo.

    Este lugar era bem especial entre os segredos ocultos do labirinto.

    【Você entrou em uma área especial.】

    【Efeito de Campo – Base Secreta de Arta aplicado.】

    【Todas as ações hostis são proibidas dentro do campo.】

    Nenhuma luta era possível aqui, o que significava que precisávamos de algo além da força para avançar.

    ⟅O que você está dizendo a eles?⟆ — exigiu Arta por fim. — ⟅Responda à minha pergunta. Caso contrário, será expulso.⟆

    A maneira de prosseguir era conversar. No jogo, opções apareciam na tela ao falar com esse sujeito, e a missão progredia se você escolhesse as opções corretas. Claro, isso assumindo que você cumpria o pré-requisito de ser proficiente na língua antiga.

    “Precisei tentar mais de cem vezes só para receber a missão…”

    Em outras palavras, eu já tinha passado por inúmeras falhas, então neste ponto, conseguir a missão era fácil como torta.

    — ⟅Não somos peregrinos⟆ — respondi.

    Primeiro, dizer que éramos peregrinos era a escolha errada. Isso levava o jogador a ter que provar várias coisas, e era impossível provar todas.

    No entanto, o problema era…

    ⟅Então como você sabe meu nome?⟆

    Certo. O nome.

    — ⟅Isso…⟆ — murmurei, tentando pensar numa desculpa.

    Cara, eu tinha dito o nome dele porque fiquei feliz em vê-lo, mas parece que isso foi um erro. No jogo, eles só diziam as falas que estavam programados para dizer, e eu só dizia as falas que me eram dadas, então acabei esquecendo da liberdade que a realidade proporcionava.

    Bom, tanto faz.

    Infelizmente para Arta, eu não era tão inútil a ponto de travar só porque apareceu uma variável aleatória no caminho.

    Com a resposta decidida, falei: — ⟅Somos sobreviventes do império destruído.⟆

    Só podia dizer isso porque conhecia a história. Embora a sequência estivesse um pouco fora de ordem, quando Arta perguntava minha identidade, essa era a única resposta que levava ao sucesso.

    — ⟅Viemos até este lugar para impedir o Fim, então é claro que sabemos quem você é⟆ — concluí.

    ⟅Entendo… Os sobreviventes do império destruído… Bem, vocês também não gostariam de ver seu mundo destruído.⟆

    — ⟅Claro que não. Você poderia nos ajudar?⟆

    — ⟅Bem… Não há nada com que eu possa ajudá-los. É admirável que desejem salvar seu mundo, mas, se realmente desejam isso, deixem este lugar. Estou tentando inúmeras possibilidades para resolver o problema.⟆

    Espera, o quê? Por que estavam apenas nos mandando embora? Seria porque eu não comecei a conversa com a frase certa?

    Ainda assim, essa não era a primeira vez que a realidade diferia do jogo. Eu só teria que improvisar.

    Decidido, continuei rapidamente: — ⟅Arta, nós conhecemos um jeito de deter o Fim.⟆

    Por natureza da história, essa era uma frase que Arta jamais poderia ignorar.

    ⟅Hah, é mesmo? Vocês sabem?⟆

    Mas, por algum motivo, ele apenas riu de mim.

    Seria mais uma mudança por estarmos na realidade? Ele não era nem de perto tão irritante no jogo. Depois de confirmar quem éramos, ele deveria avaliar nossas habilidades e, se nos achasse úteis, nos dar uma missão.

    “Droga… Era só não ter cometido aquele erro no começo.”

    Ainda assim, como eu sabia toda a história, não deveria ser um grande problema.

    — ⟅Nós sabemos um jeito de matar a Serpente⟆ — acrescentei.

    ⟅A Serpente não é algo que pode ser morto. Até eu só planejo selá-la⟆ — disse Arta, a voz carregando um tom zombeteiro, como quem diz ‘O que alguém como você poderia fazer?’

    — ⟅Não pretendo te convencer. Eu vou lá e vou matar aquela cobra.⟆

    — ⟅Você até sabe disso?⟆

    — ⟅É importante que eu saiba? O que deveria importar para você é se podemos ou não resolver seu problema.⟆

    — ⟅Você não está errado, mas…⟆

    — ⟅Não se preocupe, também sei que a cobra é um monstro de primeiro nível e que precisamos ativar um mecanismo sob ela depois de derrotá-la.⟆

    Arta não perguntou mais como eu sabia de tudo isso. Em vez disso, sua atitude mudou, assumindo um tom muito mais sério ao perceber que eu conhecia tantos segredos profundos.

    — ⟅Certo… Vou confiar em vocês desta vez, sobreviventes de um império destruído.⟆

    Houve um chiado de gás escapando enquanto uma escotilha oculta se abria no chão.

    Bom, acabei pulando um pouco da história, mas o que importava era chegar ao nosso destino, certo?


    Descemos a escada por um tempo que pareceu eterno, como se ela estivesse conectada ao purgatório.

    — Sobre o que vocês dois estavam falando? Ouvi algo sobre o império ou alguma dificuldade?

    — Não foi nada demais.

    — Não, sério. Como você sequer sabia da existência desta ilha?

    Apenas sorri em resposta à pergunta da Raven. Ela sabia que eu era um jogador. Os membros que não sabiam disso nem estavam me fazendo esse tipo de pergunta, de qualquer forma.

    — Ele é um visconde — disse Kaislan com confiança. — É natural que saiba de informações que aventureiros comuns não sabem! Não é mesmo, Sr. Parav?

    — Haha, sim… Isso mesmo.

    — Mas isso significa que o palácio também sabe do segredo da Ilha Arta…

    Ouvindo a conversa dos membros que não sabiam que eu era um jogador, soltei uma risada constrangida. — Não pensem demais nisso. Não é algo que vocês deveriam sair comentando por aí.

    — Eu sei disso melhor que ninguém, então relaxa. Só fiquei curioso por que o palácio deixou a Ilha Arta como um dos Mistérios.

    Talvez fosse porque ele próprio vinha do palácio, mas Kaislan sempre tendia a duvidar e suspeitar de que havia algum esquema vindo de lá.

    Não que ele estivesse errado.

    — Pessoal, prestem atenção — chamei. — Lembram do que falei sobre o monstro lá na cidade?

    — Oh… É aqui? O lugar onde aparece a Serpente do Fim, Sniktura?

    — Isso mesmo.

    — Estou ficando um pouco nervoso… Aquele Kashan já era um baita monstro.

    A voz de Kaislan tremia ao se lembrar do Kashan que caçamos no primeiro andar subterrâneo. Era compreensível. Mesmo com centenas de soldados de elite, sofremos muitas baixas.

    Como poucos aventureiros já tinham visto um monstro de primeiro nível, não havia muitos que compreendiam o real perigo que representavam, mas todos os que passaram por essa experiência jamais se esqueceram. Monstros de primeiro nível eram como desastres naturais, nem mortais, nem monstros, mas algo totalmente distinto.

    — Não se preocupe tanto — tranquilizei. — Como falei lá na cidade, vamos caçar esse monstro em circunstâncias muito diferentes daquelas de quando enfrentamos o Kashan. Considerando todas as condições, a dificuldade vai ser equivalente a um segundo nível alto.

    — Hm… Mas segundo nível também não é um monstro bem forte?

    Verdade. Honestamente, não era raro ouvir que um clã famoso e bem estruturado tinha sido dizimado por um único monstro de segundo nível. Mas a história mudava quando se olhava da perspectiva de um K-Gamer ambicioso.

    Enfrentar um monstro de primeiro nível com dificuldade de segundo nível? Era praticamente um prêmio.

    Então, meu pé finalmente tocou o chão no fim da escada.

    【Você entrou em uma área especial.】

    【Efeito de Campo – Local de Testes do Núcleo Destruído aplicado.】

    【A Origem da Terra devora todas as autoridades.】

    【Todos os recursos que você possui foram definidos como 0.】

    Todo o meu MP foi drenado e eu não podia mais usar nenhuma habilidade.

    — Então… Vamos lutar contra um monstro de primeiro nível nesse estado? — resmungou Raven, tendo se tornado ainda menos do que uma civil com toda a mana drenada.

    Apenas dei de ombros. — Não se preocupe. Isso também se aplica ao nosso inimigo.

    O conceito desta luta era um confronto puro, sem habilidades, sem poderes.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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