Capítulo 808: Dia Final (5/5)

Ao ser atingido pela habilidade especial Presságios da Corrupção, a habilidade de uma das essências do alvo podia ser distorcida de formas estranhas. No meu caso, a habilidade afetada foi a Transcendência de Bayon.

“Pelo menos não foi o Storm Gush…”

Apesar de ter evitado o pior cenário, eu não conseguia relaxar totalmente. Transcendência era uma habilidade essencial no combo central que impulsionava não só a Gigantificação, como também várias das minhas outras essências. Mesmo que não fosse tão importante quanto a Gigantificação, isso não mudava o fato de que essa essência tinha conquistado seu lugar na build final de bárbaro com escudo.

“Como será que ela mudou…?”

O pensamento de que ela poderia ter se transformado em algo esquisito e que eu teria virado um personagem inútil estava realmente me deixando maluco. Ainda assim, por mais que eu quisesse, eu não podia verificar naquele momento. Após ser atingido pela habilidade, a essência corrompida não podia ser usada por 180 dias.

“Como hoje é o trigésimo terceiro dia da expedição… Mesmo que voltemos à cidade no dia setenta e cinco como planejado, isso dá só quarenta e dois dias. Depois, mais trinta dias na cidade. Mesmo que eu passe setenta e cinco dias na próxima expedição, ainda faltariam trinta e três dias.”

Ou seja, o mais cedo que eu poderia usar a Transcendência e ver como ela mudou seria na expedição seguinte à próxima.

— Capitão, conseguimos ver a ilha!

Foi nesse momento que finalmente avistamos nosso destino, interrompendo minhas reflexões enquanto eu estava no convés. A ilha parecia de outro mundo, com o céu avermelhado acima, a lava escorrendo para o oceano e se solidificando em rocha, e a fumaça vermelho-escura cobrindo toda a ilha.

— Vamos desembarcar!

Desde que embarcamos até chegar à ilha, levamos cerca de três horas e cinquenta minutos. No total, economizamos cerca de cinquenta minutos em comparação com a nossa primeira viagem à Base Secreta.

— Bom trabalho, Auyen.

— Obrigado…

Depois de usar suas habilidades durante toda a viagem, Auyen não estava nada bem. Estava curvado e cambaleando, como se fosse entrar em exaustão da alma com mais algumas habilidades.

— Pode descansar agora.

— Como é?

— Ainar! — chamei em resposta. Não precisava de muitas palavras.

Assim que chamei Ainar, ela veio até mim e entendeu o que eu queria. — Entendi! É só carregar ele, né?

— C-Como é? E-eu tô bem…!

— Haha! Não se preocupe! Já estou acostumada a carregar os outros!

Pronto, o problema de locomoção do Auyen estava resolvido. Além disso, como a Esfera de Fogo estava ativada desde o momento em que chegamos à ilha, não precisei reativá-la.

— Vamos nos mover o mais rápido possível — ordenei.

Com os membros do clã tendo descansado bastante durante a viagem de quatro horas, conseguimos correr pela ilha. Nosso destino era o centro da ilha, onde Amelia havia sido vista pela última vez. No entanto, à medida que continuávamos a vasculhar a área, percebemos que Amelia não era a única em risco de morte.

O dano do efeito de campo ainda não estava tão alto, então eu podia ignorar por enquanto.

Ainda assim, restavam menos de seis horas até que o efeito de Terminus se aplicasse, então precisávamos nos apressar se quiséssemos redefinir o tempo de todos.

— Raven, Marrone. A partir de agora, apliquem magia de distorção em todos os monstros que enfrentarmos.

Caçávamos os monstros à nossa maneira enquanto aplicávamos magia de distorção neles, avançando em formação de rompimento. Embora os monstros não soltassem nenhuma essência, havia a chance de deixarem um cadáver para coletarmos.

— Olhem! Funcionou!

Em vez de desaparecer em uma nuvem de luz, o monstro derrotado caiu no chão com um baque surdo, sinal claro de que a magia de distorção funcionou. Logo depois, no entanto, o corpo foi engolido pelas chamas e virou cinzas. E então…

Vwoong!

Uma miragem vermelha flutuou do cadáver para o ar.

— Algo como uma essência apareceu…?

— Isso significa que funcionou — expliquei.

O nome disso no jogo era Pecado Original. Eu não fazia ideia do motivo por trás do nome, mas ao ser consumido, ele produzia dois efeitos.

A Resistência ao Fogo aumentava em +1, e o Terminus concedido pelo efeito de campo era redefinido, nos dando mais um dia de vida. Além disso, o aumento da Resistência ao Fogo só era aplicado no primeiro consumo, mas isso nem importava tanto.

Como não tínhamos nenhum ícone visível indicando o tempo restante, minha intenção era fazer todos redefinirem seus cronômetros um por um sempre que consumissem um Pecado Original.

— É estranho — murmurou Marrone. — Olhar pra isso e saber quanto tempo te resta. Não acha, Sr. Parav?

— Haha, é… É verdade.

— Seria ótimo se pudéssemos ver isso também na vida real, né?

Parav se assustou. — Como é?

— O tempo que nos resta. Só imaginei como seria bom se sempre pudéssemos ver isso. Tipo, você não sentiu isso também? Quando eu achei que tudo ia acabar em um minuto… Eu fiquei tão abalada. Ainda havia tanta coisa que eu não tinha feito…

— Seria bom se este mundo fosse assim. Se pudéssemos saber quanto tempo nos resta… daria pra dizer tudo o que quiséssemos dizer.

— Dizer? Não fazer?

— Ah! Haha… Só estou dizendo! Como exemplo!

Mesmo com tudo isso acontecendo, Marrone e Parav estavam flertando. Hmm, e Parav se ofereceu pra carregar a Marrone quando estávamos falando sobre locomoção…

“Será que esses dois também têm alguma coisa…?”

Não dava pra saber, mas sinceramente, eu ia deixar pra lá. Antes, eu com certeza ficaria desconfiado de sentimentos e relacionamentos como esse surgindo dentro do grupo. Emoções podiam gerar variáveis inesperadas, afinal. Mas, ultimamente, mudei de ideia.

— Talvez você não tenha uma segunda chance…

Erwen cantarolou, confusa. — Disse alguma coisa, Senhor?

— Só falando comigo mesmo.

Depois de ignorar a pergunta dela, voltei minha atenção para Marrone e Parav. Eu não fazia ideia do que o relacionamento deles viraria, mas não queria interferir. Ia dar certo ou não. Só esperava que não tivessem arrependimentos.

Com isso, voltei meu foco para a missão e segui em direção ao centro da ilha.

Então, mais ou menos na hora em que conseguimos quatro Pecados Originais para redefinir o cronômetro do Terminus, de repente ouvi uma voz que me capturou a atenção.

— Finalmente te encontrei.

— Hã?

“Aquela voz é definitivamente…”

— Emily…?

Amelia apareceu com um sorriso travesso. — O quê? Tá com cara de quem viu um fantasma.

Fui pego de surpresa. Como ela mesma disse, parecia mesmo que eu estava encontrando uma aparição. Pra ser honesto, eu não esperava encontrá-la tão cedo.

“Espera, será que foi ela que nos encontrou?”

Eu não fazia ideia de que Amelia estava nos procurando. Se Arta não tivesse nos contado, eu nem saberia que ela estava na ilha.

— O que aconteceu? — perguntei. — Por que você está aqui?

— Aconteceu algo lá fora.

— É o Clã da Árvore Dourada?

— Não, nada a ver com eles.

— O quê? Nada?

— Aqueles caras deixaram a ilha assim que perceberam que pegamos o espião deles. Eu esperei caso voltassem, mas não vi nada até vir pra cá.

Então todas as minhas suposições estavam erradas. Eu só presumi que ela tivesse vindo por causa deles.

— Se não foi por causa deles, por que você está aqui?

À minha pergunta, Amelia deu uma resposta que eu jamais esperaria. — O Lorde do sexto andar foi invocado.

“O quê?”

Embora a notícia fosse surpreendente, ela explicava todo o resto.

— Então, no momento em que percebeu que o Lorde do Andar foi invocado, veio pra cá em busca de refúgio — resumi quando ela terminou de explicar.

— É. Eu estaria encrencada se me envolvesse com isso. E quando calculei o tempo, era mais ou menos a hora em que vocês deviam estar voltando.

Assenti reflexivamente diante do raciocínio dela. Sério, ela era uma pessoa confiável. Sempre tomava decisões certeiras.

— Bom trabalho.

A maioria dos Lordes dos Andares afetava o andar inteiro. Um exemplo claro era Riakis, do terceiro andar. Assim que ele aparecia, todos os portais do andar eram fechados e o andar inteiro se transformava. Foi o que aconteceu com o Senhor do sexto andar também. Embora os portais não tenham sido bloqueados, assim que o Lorde foi invocado, qualquer um no andar podia virar alvo daquela coisa que podia aparecer em qualquer lugar do oceano infinito.

Bem, pra ser mais preciso, era quando essa coisa usava uma habilidade específica, mas enfim.

“Eu planejava fugir caso surgisse uma emergência, mas esse plano não vai funcionar…”

Embora uma de nossas opções tenha desaparecido, a situação atual era melhor pra gente. Havíamos entrado em um tipo de abrigo sem nem perceber. Se não estivéssemos aqui, com certeza teríamos sido arrastados pela bagunça causada pelo Lorde do Andar.

— Bem, de qualquer forma, fico feliz que esteja bem — concluí. — Vamos conversar depois que sairmos daqui.

— Sair daqui?

— Podemos nos deparar com algo problemático se ficarmos. Embora a gente queira derrotar esse cara eventualmente… Mas vamos nos preparar primeiro.

— Ah, entendi. Tudo bem.

Depois de nos reencontrarmos com Amelia, nos afastamos o máximo possível do centro da ilha antes de continuar a conversa. Ela tomou a iniciativa.

— Vocês conseguiram o que vieram buscar? Fiquei preocupada que algo desse errado por eu não estar com vocês.

— Bem…

— Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu, mas deu tudo certo no fim. Ah, e conseguimos a essência também.

— A essência de primeiro nível…? Isso é impressionante. Não sei quem vai recebê-la, mas os fofoqueiros da cidade não vão se cansar quando isso se espalhar…

— Não, isso não vai acontecer. — Amelia me lançou um olhar confuso quando a interrompi. Com um sorriso, expliquei: — Você odeia ser famosa.

Ela arqueou a sobrancelha, claramente sem entender, até que seus olhos se arregalaram ao perceber.

Alguém assobiou bem alto. Foi Kaislan.

— Estou com inveja — resmungou Raven. — Você tem um homem que te dá uma essência de primeiro nível. Por que eu não tenho um desses?

— Srta. Raven, achei que você não podia usar essências por ser maga…? — perguntou Marrone.

— Mas eu gosto de pesquisar essências.

Erwen zombou. — Uma essência de primeiro nível não é nada. Eu ganhei uma essência de andar do Senhor.

— S-Sério…? As duas parecem ótimas… — disse Missha timidamente.

Bem, a fofoca de verdade começou ali, com todo mundo assobiando e tagarelando, mas Amelia não deu a mínima. Ela apenas me encarou diretamente e disse: — Obrigada, vou usá-la bem.

Apenas quatro palavrinhas, uma resposta curta e firme. Mas eu senti um peso nas palavras dela. Aquela resposta breve pareceu mais genuína do que cem palavras.

Claro, aquela seriedade dela não durou. Embora parecesse fria à primeira vista, quando você a conhecia melhor, descobria que ela tinha um lado infantil que não conseguia esconder.

— Então, que habilidade essa essência tem? — ela perguntou, sem conseguir se segurar. — E como ela interage com as que já tenho?

— Ah, você pode perguntar pra Raven sobre isso.

Raven se assustou. — Hein? Eu?

— Aposto que você já reuniu todas as informações necessárias.

— É, na verdade sim… Ugh! Tá bom! Aqui!

Amelia pegou o documento de habilidades com Raven, depois me fez algumas perguntas depois de absorver as informações.

— Mas o que é isso? O nome parece bem legal. Oho, Dia Final, é?

Eu não fazia ideia do que havia de tão legal no nome, mas pelo menos podia dizer: — Ah, não precisa se preocupar com isso por enquanto. Com todas as condições que ela exige pra ser ativada, pode ser que você nem use isso na vida inteira.

— Sério? Bem, olhando as condições aqui, vai ser difícil usar se não estiver tudo preparado.

— É, então…

— Dia Final.

Sério, essa curiosidade dela. Ela nunca ficava satisfeita até testar essas coisas pelo menos uma vez. Mas mesmo que lançasse a habilidade, não tinha como ela ser ativada.

Flash!

Ou, pelo menos, não deveria.

— Hã?

O quê?

Booooooom!

— Bjorn! Olha pro céu!

Por que havia meteoritos caindo do céu?

BAAAAAAANG!

Eu não fazia ideia, mas tive certeza de uma coisa ao ver a expressão claramente assustada da Amelia.

— …Eu cometi um erro? — ela perguntou, constrangida.

As coisas saíram do controle.