A obra atingiu um pequeno ponto de hiato e novos capítulos serão publicados na segunda metade de julho.
Capítulo 815: História Oculta (7/8)
O pequeno barco, capaz de transportar apenas três pessoas, cortava as ondas com velocidade enquanto recebia uma miríade de reforços de nosso navegador profissional.
【Auyen Rockrobe lançou Ventos Favoráveis.】
【Auyen Rockrobe lançou Rota Comercial.】
【Auyen Rockrobe lançou Navio Fantasma.】
A velocidade real deste barco não era muito diferente da do nosso navio principal quando transportava todos os membros do clã.
Vuuush!
Mas, na percepção de um passageiro, parecia até várias vezes mais rápido.
Boom! Splash! Bang!
Talvez por o barco ser menor?
Do ponto de vista de um passageiro, porém, essa viagem era de longe a pior das duas. Cada vez que batíamos em uma onda, o barco sacudia e estremecia, saltando no ar como um golfinho. Honestamente, se Ainar tivesse vindo conosco, o enjoo do mar dela já teria sido desencadeado de novo e ela estaria vomitando por toda parte.
Assim como eu agora.
— Blergh! Ugh!
Infelizmente para mim, bárbaros eram fracos no oceano.
— D-Devo diminuir a velocidade um pouco?
— N-Não… — gemi. — Nunca diminua.
Como o Auyen, de todas as pessoas, estava bem com essas condições? Uma pessoa normal já estaria tonta e enjoada a esse ponto. Eu não conhecia nenhum atributo ou habilidade de navegador que ajudasse com enjoo do mar.
— Blerrrgh!
— P-Por favor, aguente só mais um pouco! Já estamos quase lá!
“Quase lá…”
Já tinha ouvido isso algumas vezes. No começo me deu forças, mas agora só me fazia afundar ainda mais no desespero.
“Vamos pensar.”
Era igual ao primeiro dia, quando rastejei pelo chão da caverna depois de cair em uma armadilha de goblin. Se eu focasse minha mente em outro pensamento, eventualmente chegaria ao destino. O problema era que o enjoo estava dificultando até mesmo pensar.
O monstro-máquina Arta e o Arta humano.
O passado, o presente e o futuro.
O Projeto Labirinto.
O império e o reino.
O colapso dimensional…
Todas as informações que obtive nessa expedição voavam pela minha mente, se entrelaçando. Era como se eu estivesse perto de alcançar algo grandioso, mas ainda longe demais da verdade para entender qualquer coisa. Mesmo assim, por algum motivo, sentia que, se conseguisse desembaraçar esses fios, teria a resposta para tudo.
“A última coisa que ele tentou me dizer também não sai da cabeça…”
Mesmo com a cabeça prestes a explodir de tanto pensar, eu não conseguia deixar de lembrar das palavras e da expressão dele.
— ⟅Guarde bem isto: um ser de uma dimensão, em condições normais, não pode entrar em outra dimensão. A única forma de um ser assim atravessar é…⟆
A sensação de que ele ia me contar algo muito importante não me deixava em paz. O fato de eu não ter conseguido ouvir aquilo estava me enlouquecendo de frustração.
Será que ele fez isso de propósito?
“Chega.”
Meus pensamentos corriam soltos como um touro descontrolado. Os contive, para que não colidissem com as partes da mente que precisavam se focar no que mais importava agora.
“Um colapso dimensional…”
Como poderíamos superar o desastre que provavelmente estava por vir? Essa era a questão que eu precisava resolver primeiro.
“O Lorde do Andar também foi invocado…”
Cara, espero que a raid acabe antes do colapso começar. Se não, aquele cara vai ser uma dor de cabeça enorme.
“Talvez eu não devesse ter vindo pra cá e sim procurado por um mago capaz de usar portais dimensionais?”
Apesar da dúvida, decidi não me prender a ela. Praticamente impossível encontrar um mago que saiba usar portais dimensionais nesse oceano sem fim.
“Arta.”
Além disso, eu não conseguia deixar de sentir que havia um segredo profundo escondido na história de Arta. Antes de partir, precisava descobrir qual era.
— Capitão, chegamos!
Suspirei aliviado. Finalmente havíamos chegado.
— É… bom trabalho… Blergh!
Eu já estava exausto.
【Você entrou em uma área especial.】
【Efeito de Campo – Base Secreta de Arta ativado.】
【Todas as ações hostis estão proibidas dentro do campo.】
Escotilhas e tubulações forravam as paredes de ponta a ponta. Eram os circuitos de mana que lembravam fiação elétrica da Base Secreta de Arta.
Contudo, mesmo após entrarmos, não ouvimos nenhuma voz.
— ⟅Artaaaaaaa!⟆ — gritei, e uma resposta agitada logo veio.
— ⟅Ah? Ah! Você finalmente chegou! Não consegui assistir à sua luta contra a Fera. Surgiram alguns problemas, entende. Mas agora que vejo que a reação desapareceu, posso dizer que você a derrotou…!⟆
— ⟅Que tal vir aqui agradecer pessoalmente?⟆
— ⟅Ah, sim. Com certeza deveria fazer isso. No entanto, preciso reparar o local de testes rapidamente…⟆
— ⟅Não deixe pra depois. Venha agora. Tenho algo importante a discutir.⟆
— ⟅O que isso quer dizer…? Não há nada mais importante do que recuperar o local de testes. Esqueceu? Ele precisa ser restaurado para impedir o fim do mundo…⟆
Do que ele estava falando?
Tirei um dos itens deixados pela Fera e o levantei para que ele visse. — ⟅Sem isso, você nem conseguiria restaurar seu local de testes.⟆
— ⟅Você está… me ameaçando?⟆
— ⟅Ameaçando? Não, estou te convencendo. Então que tal largar essa história de reparo e conversar comigo primeiro?⟆
— ⟅Entendo… Está bem. Fale. O que é tão urgente assim?⟆
— ⟅Neste ponto, acho que devíamos conversar cara a cara.⟆
— ⟅Isso será… problemático.⟆
— ⟅Por quê? Porque você não é humano?⟆
A resposta veio pelos alto-falantes após uma breve pausa.
— ⟅Você sabe sobre mim?⟆
“Sim, eu sei.”
Já havia visto esse cara várias vezes durante o jogo. Quando se seguia a história normal, chegava o momento em que Arta exigia os restos da Fera caçada, e então o jogador podia escolher: entregar ou não.
Se entregasse, a história terminava ali com as recompensas de Arta. Após isso, ele só dizia que estava ocupado e mandava o jogador ir embora. Se o jogador saísse da base secreta por causa do limite de tempo de Terminus, a entrada se fechava e o lugar se tornava inacessível para sempre.
Simplificando, escolher ficar com os itens encerrava a história dele.
“Embora a segunda opção também não oferecesse uma grande história…”
Se o jogador recusasse entregar os itens, Arta revelava sua forma de monstro-máquina e uma batalha começava.
“Ele era tão difícil quanto o Lorde do Nono Andar.”
Nem preciso dizer que fui massacrado na minha primeira tentativa. Meus atributos não estavam nem perto do necessário. Depois descobri que Arta Monstro-Máquina era um chefe de raid mais forte até que Sniktura ou a Fera. No fim, formei um time preparado para explorar o décimo andar e os trouxe até o sexto para tentar enfrentá-lo. Mesmo assim, foram dezenas de tentativas até finalmente vencê-lo.
“O problema é que a recompensa nem era tão boa assim.”
Ganhei um Coração de Monstro-Máquina, e nunca tive certeza do uso real daquilo. Claro, ele podia ser consumido como um elixir que aumentava muito os atributos, ou usado como material de altíssimo nível, equivalente a um coração de dragão. Só por isso, já era um item valioso. Mas…
“Não parecia uma recompensa digna de um monstro no nível do Lorde do Nono Andar.”
Foi por isso que, depois de completar a história uma vez, continuei tentando entender melhor o enredo dele. E graças a essas tentativas, descobri algumas coisas.
— ⟅Responda. Você sabe sobre mim?⟆
“Bem…”
— ⟅Eu sei pelo menos que parar o fim do mundo não é o verdadeiro motivo por trás do seu interesse nisso⟆ — respondi, como isca.
Ele pegou o gancho na hora. — ⟅Você é… Você é um peregrino?⟆
Peregrino.
No contexto da história deste mundo, o termo se referia aos traidores da humanidade que lutaram ao lado da Bruxa. Arta já havia nos perguntado isso no início.
— ⟅Quem são vocês? Peregrinos?⟆
— ⟅Você ainda não respondeu minha pergunta. Quem são vocês? Peregrinos?⟆
Importante lembrar: eu disse que não éramos. Arta tinha um método de provar que não éramos peregrinos, e os jogadores não tinham como provar que eram.
“Então por que ele continuava perguntando se éramos?”
Apesar da dúvida crescente, não demonstrei nada. Se perguntasse, ele saberia imediatamente por que perguntei e encerraria a conversa ali mesmo.
Decidi guardar essa dúvida para depois.
— ⟅Que tal me deixar ver seu rosto antes de começarmos a conversa?⟆ — Como ele não respondeu, insisti: — ⟅Só quero conversar. Entrego isso depois que terminarmos.⟆
A oferta parecia gentil, mas sob outro olhar, era uma ameaça velada: se ele não cooperasse, eu não entregaria o item. Felizmente, Arta entendeu a entrelinha.
Com uma voz resignada, ele disse: — ⟅Entendido…⟆
Mesmo com todas as portas abrindo e fechando desordenadamente devido aos danos, uma havia permanecido fechada até agora. Ela finalmente se abriu com um chiado, e Arta revelou sua verdadeira forma.
Clank! Clank!
Ele avançou ao som de metal contra metal, um som que nenhum movimento humano deveria fazer.
— ⟅Revelei-me, como pediu. O que quer de mim?⟆
A partir daqui, acima de tudo, eu precisava manter o foco.
Arta tinha pouco mais de um metro e oitenta e lembrava os robôs humanoides dos filmes de ficção científica. Porém, seu design deixava muito a desejar.
“É realmente repulsivo vê-lo ao vivo.”
Braços, pernas e corpo eram claramente mecânicos, com as estruturas de aço à mostra. Mas seu rosto… era humano demais, como se o rosto de uma pessoa tivesse sido esticado sobre a máquina.
“Por que o rosto dele é um rosto humano de verdade?”
Quando jogava, nunca entendi por que Arta escolheu aquela forma. Achei que fosse só gosto pessoal e deixei pra lá. Bem, ele nem era uma, pessoa, de verdade, era uma máquina. Mas isso não importava.
“Vendo agora, percebo que é o mesmo rosto.”
O Arta da base secreta e o Arta pesquisador que vi recentemente eram um só.
— ⟅Fale logo.⟆
Apesar de estarmos frente a frente, ele ainda não falava com as cordas vocais, mas sim pelo sistema de som embutido.
— ⟅Você não parece um sobrevivente do império destruído. O que você é, de verdade?⟆
— ⟅O que você acha?⟆ — devolvi a pergunta.
— ⟅Não responderei.⟆
— ⟅Então vai ser difícil eu te entregar isso. Não estamos aqui para conversar?⟆
Arta apenas me encarou. Seus olhos levemente avermelhados, parecendo lentes de câmera, me causaram arrepios. Era como se o computador na mente dele estivesse calculando se era mais eficiente continuar me ouvindo ou apenas ignorar e tentar tomar o item à força.
— ⟅Faltam-me informações⟆ — ele disse, por fim. — ⟅Enquanto você não revelar sua identidade, tudo o que posso fazer são suposições.⟆
— ⟅E se você tivesse que supor?⟆
— ⟅Um peregrino… Mas, como imaginei, não há provas suficientes. Diga-me. O que é você?⟆
Ao ouvir a pergunta repetida, dei de ombros e respondi: — ⟅Não importa se sou ou não um peregrino.⟆
Já tinha um plano em mente para conduzir essa conversa de forma a aguçar a curiosidade dele e, com sorte, conquistar seu favor.
— ⟅Então posso entender isso como uma declaração de que você não é um peregrino…⟆
“Certo, hora de interromper.”
— ⟅Pesquisador do Primeiro Centro de Engenharia Mágica do império, Arta. Fui enviado até aqui por você, do passado.⟆
Nenhum ser… Não. Nem mesmo uma máquina seria capaz de ignorar isso.
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