Capítulo 824: Cada Um Por Si (1/5)

Noventa por cento de Imunidade a dano de fogo. E não era um efeito aplicado a um único alvo, mas uma aura em área. Essas duas frases, embora simples, carregam um significado enorme.

Quer dizer, faz sentido, não?

Fendas com temática de fogo, não importa o andar, agora podiam ser vencidas de forma fácil. Da mesma forma, mesmo que o monstro fosse de primeiro nível, se tivesse um único atributo de fogo, já não havia mais motivo para temê-lo.

“Bom… isso é só na teoria, claro.”

A maioria das fendas só dava para entender entrando nelas. Era difícil encontrar uma que fosse exatamente do tipo fogo, e entrar nela só por isso. Além disso, monstros de primeiro nível só apareciam do nono andar em diante… Ir direto ao nono ou décimo andar confiando apenas na Orbe de Fogo seria extremamente arriscado com o nosso nível atual.

“…Será que a biblioteca do Primeiro Subsolo é diferente?”

De repente, lembrei daquele lugar onde era possível fazer invocações conforme a vontade. Mas logo deixei esse pensamento passar. Afinal, foi um lugar de onde só conseguimos sair depois de fazer um juramento de nunca mais voltar. Na situação atual, depois de até receber ajuda para a viagem, quem sabe o que aconteceria se quebrássemos o juramento e voltássemos pra lá…

“Espera, peraí.”

De repente, me veio à mente a conversa que tive com o ‘Chefe da Vila’, agora conhecido como Jérôme Saintred, durante a expedição ao Primeiro Subsolo.

— Em intervalos curtos, de dez a quinze anos. Em intervalos longos, de trinta a quarenta. É nessa frequência que esses cadáveres costumam cair do céu. Eu suponho que isso tenha alguma ligação com o colapso dimensional.

Na época, o chefe apresentou os diários de exploração encontrados com os cadáveres como base para sua teoria. E nesses diários estavam registradas as experiências de sobrevivência de exploradores envolvidos em colapsos dimensionais. Portanto, essa premissa já estava comprovada.

“Quem é arrastado por um colapso dimensional pode acabar no Primeiro Subsolo.”

Claro, isso não quer dizer que vai parar lá com certeza, mas sim que existe essa possibilidade, caso tenha azar.

Mas…

“Azar, hein…”

Só de pensar nisso, minha respiração ficou um pouco ofegante.

Ba-dum!

Se por acaso eu acabasse indo pra lá de novo… O que aconteceria? Sobreviver com os membros atuais, sem a ajuda do Exército Real, parecia quase impossível…

“Chega de preocupação inútil.”

Cortei à força o fluxo interminável de pensamentos.

Chiiic…

— Ei! O colapso começou…!

Haa… parece que o descanso acabou.

— Todo mundo, junto a mim…!

Por agora, o foco tem que ser sobreviver ao dia de hoje.

O colapso dimensional não termina com um único evento. Ao contrário do que os exploradores geralmente imaginam, ele acontece lentamente. Pode durar apenas alguns dias, ou se estender por até duas semanas, isso é o colapso dimensional.

“Agora é a segunda onda…”

Ninguém é capaz de prever quantas fases um evento de colapso dimensional terá. Às vezes, acaba cedo, por volta da sétima onda, mas…

“Meu recorde foi quinze ondas…”

Naquela época, meu personagem estava explorando o 9º andar. Além disso, tive uma boa dose de sorte com o ambiente de batalha durante o colapso. Mesmo assim, acabamos todos exterminados no final.

O melhor recorde de alguém que sobreviveu foi até a 14ª onda.

Esse também foi meu último registro antes de encerrar o jogo. Sobrevivi a um total de 14 ondas e, durante esse processo, conquistei muitas coisas. Foi graças a isso que consegui chegar ao Portão do Abismo.

“…E acabei sendo arrastado pra esse mundo.”

Merda. Era só não ter tocado naquele jogo. Por que logo aquele, entre tantos?

“…Mas acho que já é tarde pra reclamar, né?”

Desde que despertei no corpo de um Guerreiro Bárbaro, passei por muitas coisas. Explorei, derrotei inúmeros inimigos. Descobri tesouros raros dentro do vasto labirinto, e também perdi coisas valiosas. E com todas essas experiências…

“Não sou mais Hansu Lee, e sim Bjorn Yandel.”

Tomei minha decisão. Goste ou não, resolvi viver neste mundo que agora guarda tantas coisas preciosas para mim. Sim, por isso…

— Behel–LAAAH!

Gritando o nome do ancestral, balanço meu martelo.

Kwa-jik!

No começo do colapso, quando ainda não havia acúmulo de monstros de nível elevado nem desorganização na formação de combate, a ameaça era mínima.

A fadiga também ainda não havia se acumulado, então o perigo parecia distante por ora.

Fuuuuuush…!

Bom, o cenário mudar de repente durante o combate, sem qualquer aviso prévio, forçando a adaptação a novos ambientes e monstros, era um pouco irritante…

“Mas pelo menos fazia tempo que a experiência não subia tão rápido.”

Era um consolo.

O Mausoléu de Balantis. Um campo oculto no sétimo andar do Continente Negro, acessível apenas sob condições especiais ou com uma sorte absurda, assim como o Labirinto de Larcaz no quarto andar. Normalmente seria necessário muito planejamento e várias tentativas para conseguir entrar.

“Ganhei mais de 200 de EXP em só 15 minutos…”

Um campo cheio de monstros de elite, que permitia acumular uma quantidade insana de experiência em pouco tempo.

E esse tipo de coisa continuava acontecendo durante todo o evento de colapso dimensional.

Com certeza toda essa experiência seria muito útil. Quanto mais alto o nível do aventureiro, mais difícil se tornava subir de nível. Seria uma fonte valiosa para o nosso clã Anabada.

Kwa-jik!

Sim, contanto que pudéssemos voltar vivos…

— Juntem-se!!

Enquanto esmagava as cabeças dos monstros de atributo gelo que surgiam na tempestade de neve, o ambiente mudou repentinamente.

Fwoooosh…!

O que vi ao redor foi um mar de chamas por todos os lados. Por um momento, pensei que tivéssemos voltado à floresta em chamas de antes…

“Mas é diferente.”

Rapidamente analisei os arredores e identifiquei os detalhes. Mesmo com tudo pegando fogo, havia elementos importantes a se observar. O chão era de mármore duro. E os azulejos negros não estavam apenas chamuscados — era um revestimento específico.

Swish.

Ao olhar para cima, vi que havia um teto. Ou seja, não estávamos ao ar livre, e sim em um ambiente fechado…

— Ugh… onde é que estamos agora?

No meio das chamas oscilantes, avistei estelas misteriosas. E logo compreendi onde estávamos.

— O Covil do Dragão Vermelho.

— …O quêêê?!

Parecia que, com exceção de Raven, ninguém reconhecia o nome. Por isso, expliquei rapidamente.

— É uma das fendas do oitavo andar.

Vale mencionar que o guardião é o ‘Dragão Vermelho’. Ele possui a habilidade passiva Medo Dracônico, e por isso é necessário que todos tenham alcançado pelo menos o nível 9 para tentar a raid, um monstro verdadeiramente aterrador. Mas não precisamos nos preocupar com ele agora. Afinal, o lugar onde caímos não é a sala do chefe.

“Como é em espaço fechado, deve ser a seção de corredor.”

Felizmente, o ponto em que aterrissamos foi o corredor que antecede a sala do chefe, algo como o 3º capítulo da fenda.

E os monstros que surgem aqui são…

Kuoooon…!

Gigantes que, a cada passo, deixavam cair chamas como gotas de suor.

— É um Gigante de Lava!

Por sinal, tenho certa conexão com esse tipo de monstro de quarto nível.

O Caçador de Dragões Regal Vagos possuía a essência de um desses.

— Ver esses brutamontes vindo em massa dá a impressão de que o fim do mundo chegou.

— Agora ficou com medo, é?

— Claro que não.

— Se começarem a soltar vapor pela cabeça, tomem cuidado! Isso significa que a habilidade Fornalha foi ativada! Ah, e não usem ataques de gelo ou fogo, eles são imunes!

Ver aquele monstro me fez lembrar do passado. Na época, o Caçador de Dragões que carregava a essência era uma figura extremamente assustadora.

— …Não é tão difícil quanto imaginava!

— Mesmo sendo de quarto nível, é bem lento!

— Mas não baixem a guarda!

Ainar, Kaislan e Sven Parav assumiram a linha de frente, mantendo a formação e segurando os Gigantes de Lava que vinham de todos os lados. E então…

Enquanto a linha de frente segurava o combate, a retaguarda liberava uma força avassaladora.

Um dos gigantes mais próximos caiu com seu corpo massivo, se desfazendo em uma névoa luminosa.

E então…

Os demais começaram a cair um após o outro. Era algo esperado. Afinal, com o nosso nível atual, monstros de quarto nível já não são mais um problema…

E ainda temos a Orbe de Fogo. Todas as habilidades com atributo fogo usadas pelos Gigantes de Lava se tornam inúteis. Bom, os socos ainda causam dano físico…

— Lentos demais! Hahahah!

— F-Fenelin! Se acalme! Se continuar assim…

— Behel–LAAAH!

Os punhos lentos dos gigantes eram tão fáceis de desviar que até Ainar, em estado de excitação de batalha, evitava os ataques com folga.

Bom… talvez nem tanto?

Pow!

Mal pensei isso, um soco acertou bem na lateral do corpo de Ainar.

— Urgh!!

— Fenelin…!!

— Hahahaha! Estou bem!

Por sorte, ela era resistente o bastante para continuar lutando mesmo após levar um golpe direto.

“Uf… enfim um respiro.”

Até eu, que estava atento às mudanças ambientais, relaxei dessa vez. Sem a Orbe de Fogo, que evoluiu com desempenho absurdo, essa área teria sido extremamente perigosa. Mas no cenário atual, o Covil do Dragão Vermelho era um campo que podíamos explorar sem esforço. Portanto, havia apenas uma prioridade.

— Poupem o máximo de recursos possível e concentrem-se em se recuperar!

A ideia era conservar energia para as próximas ondas. E foi justamente nesse momento, quando já começávamos a relaxar…

Ba-dum!

Meu coração de guerreiro sentiu primeiro algo estranho.

“…O quê?”

A mente demorou para compreender a razão.

Swish.

Movi os olhos rapidamente, examinando tudo ao redor.

Kwaaaaang!

— Uhahaha! Acharam que iam me acertar, seus grandalhões?!

Entrei num estado de hiper-foco, capaz de captar claramente até os sons antes ignorados.

Mas…

“O que está acontecendo?”

Não entendi. Não havia nada de diferente. Então por que…

Ba-dum!

…essa sensação tão sombria? Talvez fosse só tensão. Ou paranoia.

Gostaria que fosse algo psicológico, mas mesmo assim, me preparei em silêncio. Afinal, não foram poucas as vezes que o instinto desse corpo guerreiro me salvou. Mesmo sem saber exatamente por quê…

— Cessar combate! — Não custa nada ser cauteloso. — Todos, reagrupem-se!

Mas então, no momento em que comecei a dar a ordem…

— …!

Meu corpo paralisou. E não demorou muito para entender o motivo. Já havia sentido isso antes.

Assim como quando encontrei um dragão do lado de fora das muralhas durante uma expedição com Baekho Lee. Senti calafrios na espinha enquanto o corpo travava.

Swip.

Com o pescoço rígido, movi apenas os olhos para fitar o fogo ondulante…

E por entre as chamas, uma sombra colossal apareceu.

“…O Dragão Vermelho.”

Uma criatura que, normalmente, nunca deveria deixar a sala do chefe no terceiro capítulo da fenda.

“Como diabos ele veio parar aqui…?!”

Senti vontade de gritar, mas engoli o pânico à força. Pouco importa o porquê. O que realmente importa… É que aquela maldita coisa estava diante de nós.

“Maldição.”