Índice de Capítulo

    Salão Eterno. A estrutura deste lugar é bem simples.

    Fogo, terra, água, vento.

    Existem quatro tipos de campos ao todo, e em cada um deles, os espíritos primordiais do respectivo atributo ficam como donos da área, guardando os caminhos.

    E…

    “Em algum lugar do mapa há a Porta dos Espíritos.”

    Nós viemos parar aqui por causa do colapso dimensional, mas mesmo que não fosse assim, não teria muita diferença. Afinal, entrando pela Porta dos Espíritos, cairíamos em uma posição aleatória de qualquer forma. A estratégia deste mapa é explorá-lo e sair novamente usando a Porta dos Espíritos.

    “Não, na verdade nem dá pra chamar isso de estratégia.”

    Em condições normais, bastaria não sair e esperar até que o labirinto fosse fechado. Mas como a própria Porta dos Espíritos é uma recompensa, quase ninguém faria isso.

    — Sigam-me!

    Começamos a busca de fato e, pouco a pouco, fomos aumentando o ritmo. Primeiro caminhando rápido, depois correndo de forma mais leve, como um trote…

    Kuung…!

    E agora já estávamos correndo de verdade. Invocando várias esferas de luz para ampliar ao máximo o campo de visão.

    — Este caminho está bloqueado…!

    — Desviem pela direita.

    Ao detectar qualquer obstáculo mais à frente, imediatamente mudávamos de direção e voltávamos a correr. E…

    — Bloqueado de novo…!

    Repetimos isso sem parar. Só podíamos agir assim porque estávamos dentro do Salão Eterno. Normalmente, ampliar demais o raio de visão atrairia a atenção dos monstros. O comum é manter apenas o suficiente para não ficar desconfortável. Da outra vez, quando fomos pegos pelo Corpo de Terra, como não sabíamos onde estávamos, mantivemos apenas o mínimo de visão, e foi por isso que aquilo aconteceu.

    Fwoosh…!

    — …Olhem ali! Fogo…!

    Após mais de três horas de busca, o ambiente ao redor finalmente mudou. Nem era preciso magia de esfera de luz para enxergar: o solo ardia em chamas rubras, visível de longe.

    “Finalmente apareceu.”

    Escondendo um sorriso satisfeito, conduzi o grupo em direção à zona de fogo. Movemo-nos pela linha que marcava a fronteira entre o campo de fogo e o campo de terra. Uma espécie de estrada segura. Nessa linha divisória, os espíritos primordiais raramente surgiam, e por isso eu sempre avançava por ali. E então…

    — Guia, está sentindo alguma coisa?

    — Ainda nada… Nem mesmo Detecção de Sorte foi ativada desde aquela pedrinha que encontramos antes.

    — Eu disse para não responder de qualquer jeito.

    — N-não é isso, é realmente verdade, o que quer que eu faça?!

    — Hm…

    — Mas tem algum sentido nisso? Se houvesse um portal, já deveria ter sido detectado.

    — Se eu mando, você faz. É tão difícil assim?

    — …

    Periodicamente, eu usava o talento do guia para rodar como um radar. A Porta dos Espíritos também era considerada um portal, então podia ser detectada pela habilidade dele. Claro, diferente dos andares comuns do labirinto, havia a condição de estarmos dentro de certo raio de alcance.

    “Será que temos mesmo que entrar?”

    Não restava muito tempo até completar as oito horas de estabilidade garantida. Estava chegando a hora de arriscar uma jogada decisiva.

    — Sigam-me. Vamos investigar também lá dentro.

    Quando apontei para a zona de fogo, os sobreviventes se assustaram.

    — Lá dentro…?

    — Dá pra sentir o calor mesmo daqui…

    — Não se preocupem. Não vai ser tão quente assim.

    Depois que expliquei brevemente sobre a Orbe de Fogo, a resistência do grupo logo desapareceu. Embora uma dúvida ainda permanecesse.

    — Mas será que poderia haver sobreviventes ali…?

    “Hmm, de fato…”

    Ele tinha razão.

    Paf!

    O guia, atingido na nuca, olhou para mim com uma careta.

    — Por que bateu do nada?! Eu só falei a verdade, não pode haver ninguém vivo num lugar desses…

    Esse sujeito já vinha agindo de qualquer jeito como radar, e ainda ousava retrucar.

    — No labirinto, nunca existe certeza absoluta.

    — Mas, ainda assim…!

    — E se houver sobreviventes lá dentro? O que você faria então? Assumiria a responsabilidade…?

    — R-Responsabilidade? Eu só disse uma frase…

    — Há pouco, você afirmou com certeza que não havia nenhum sobrevivente.

    — …

    Derrotado no embate de lógica, o guia mordeu os lábios, frustrado. Mas parecia que ainda não tinha digerido bem.

    — Somos gratos por nos salvar, mas não posso aceitar ser tratado assim! Além do mais, ainda engoliu aquele achado que eu detectei com Detecção de Sor…

    Antes que terminasse de me lançar aquela acusação, seus próprios companheiros o interromperam.

    — Anton!!

    “Caramba, me pegou de surpresa.”

    — Chega…

    — Mas…

    — Eu disse chega!!

    O trovão da voz do guerreiro do martelo, da mesma clã, fez o guia recobrar um pouco a razão. Respirando fundo, recuou.

    — Peço desculpas em nome dele, Visconde Yandel.

    — Aceito.

    — Obrigado…

    — Que nada, somos todos guerreiros.

    Pois é, quando um guerreiro se desculpa, aceitar é o dever de um homem. Além disso, ele era da mesma tribo dos ursos-negros que o Senhor Urso, o que me fazia sentir certa afinidade.

    — Hahaha…

    Deixando o guerreiro do martelo para trás, avancei em direção à zona de fogo. Talvez por causa do incidente com o guia, todos os outros me seguiram sem protestar.

    Fwoosh…!

    As chamas ardentes nos envolveram, mas graças ao efeito da Orbe de Fogo, somado às magias e orações sagradas, o dano era praticamente nulo. Então…

    — Poder sagrado…?

    De repente, a sacerdotisa murmurou e, logo depois, gritou:

    — O visconde estava certo!

    — O quê…?

    Eu não conseguia entender.

    — S-São sobreviventes!!

    Por que haveriam sobreviventes aqui?


    Eu disse ao guia que talvez houvesse sobreviventes, mas no fundo não falava sério. Só precisava de uma desculpa para entrar no mar de fogo. Ah, e dar uma lição naquele guia insolente foi apenas um bônus. Sim, era só isso…

    — É… é verdade! Também sinto uma onda de mana vindo daquela direção!

    Depois que até o mago especialista confirmou, corremos para lá, e as palavras da sacerdotisa sobre haver sobreviventes se provaram incrivelmente verdadeiras.

    Fuuuuuuum…

    Oito exploradores surgiram, protegidos por um escudo de poder sagrado, sustentando feridos e atravessando as chamas.

    — Não acredito… de fato havia sobreviventes…

    O guia, que havia discutido dizendo que era impossível, olhava para eles completamente atônito. Se eu visse meu próprio reflexo, provavelmente estaria com a mesma expressão. A surpresa não era apenas ‘sobreviventes existirem’. Quando conferi seus rostos, reconheci várias pessoas conhecidas.

    — O grupo de exploração Armin…?

    O mesmo clã com quem havíamos dividido a jornada no primeiro subsolo. Não era engano por estar longe. Eu os tinha encontrado diversas vezes na cidade, mantendo contato regularmente.

    “Isto faz algum sentido…?”

    Reencontrar justamente rostos tão familiares aqui era uma alegria absurda.

    — Behel–LAAAH!

    Não consegui conter e invoquei o nome dos ancestrais em alto brado. Com isso, eles também notaram nossa presença.

    — E-Essa voz forte e vigorosa…?

    — Ali! Há pessoas ali!

    Como eu ainda estava usando Gigantificação, não foi difícil me reconhecerem, mesmo de longe.

    — O barão Yandel… não, é o visconde Yandel…!!

    — Oh, meu Deus…!!

    Eles pareciam exaustos, então corri depressa até eles, enquanto meus companheiros (temporários) socorriam o grupo de Armin, que estava em estado crítico.

    — Fiquem quietos! Nós vamos ajudá-los!

    A sacerdotisa e o sacerdote receberam os feridos para iniciar o tratamento.

    — Você manteve a magia de proteção até quase esgotar sua mana. Descanse agora. Deixe conosco.

    O mago do grupo de Armin, à beira da exaustão, largou o cajado e caiu desfalecido. Eles sabiam se virar bem sozinhos…

    Tap, tap.

    Aproximei-me do líder, Armin.

    — V-Visconde… — Ele me olhava, quase desabando. — Isso não é… um sonho, certo?

    Dava para sentir quantas dificuldades e dores haviam passado. Mesmo nesse estado, ele ainda pedia para cuidarmos primeiro dos feridos. Bem, afinal… era o líder.

    — Não é sonho, fique tranquilo.

    — Q-Que alívio…

    Sua garganta seca mal deixava sair a voz. Não eram necessárias muitas palavras.

    — …Você se saiu bem.

    Eu, que compreendia mais do que ninguém o peso nos ombros de um líder, apenas toquei seu ombro em silêncio. Passados uns cinco minutos, Armin recuperou um pouco de energia e, enfim, perguntou:

    — …O que houve com você? Nunca imaginei encontrá-lo aqui.

    — Estou na mesma situação que você.

    — E… os membros do seu clã…?

    — Não se preocupe. Nos separamos no meio de um incidente, só isso. Eles vão resistir.

    — Entendo…

    Ele assentiu. Então, perguntei de volta:

    — E vocês?

    — …Somos só os que estão aqui.

    — …Entendi.

    Realmente notei que havia poucas caras conhecidas. Um suspiro escapou de mim, mas não seria justo deixá-lo perceber isso. Mudei o assunto.

    — Vocês também caíram aqui?

    — Sim… assim que começou o período de estabilidade, as chamas nos cobriram. Mesmo cansados, seguimos caminhando.

    — …Durante seis horas? Sobreviver até agora foi pura sorte.

    Armin se calou de repente. Só então percebi minha gafe.

    “Droga…”

    Alguém deve ter morrido no caminho.

    — Devíamos ter ficado parados. Teríamos resistido pelo menos oito horas.

    — …

    — Mas não sabíamos quanto tempo a estabilidade duraria, então achei melhor tentar sair do mar de fogo.

    — …

    — Foi um erro. Se não tivéssemos encontrado você, todos teríamos morrido aqui…

    Palavras longas e cheias de autoacusação. Balancei a cabeça com firmeza.

    — Não, não foi um erro.

    — …?

    — Se tivessem avançado só mais um pouco, teriam saído das chamas.

    — É-é mesmo…?

    — E se não tivessem chegado até aqui, não teríamos nos encontrado. Sua decisão não estava errada. Entendeu?

    — …

    Será que minhas palavras serviram de consolo? Ou só aprofundaram sua dor? Eu não podia saber o que havia por trás daquele silêncio, mas Armin abaixou a cabeça, como se contivesse emoções fortes. Uns dez minutos depois, com os feridos tratados, rompi o silêncio.

    — Certo, vamos voltar a nos mover.

    — Hã…? Agora de novo? Ainda há quem mal consiga ficar de pé…

    — Então que alguém os carregue.

    — Mas…

    — Nunca se sabe. Pode haver mais sobreviventes.

    Dessa vez não consegui falar com tanta firmeza. Encontrar este grupo já tinha sido um milagre. Juraria que não havia mais ninguém vivo. Mas a reação deles foi inesperada.

    — O visconde continua o mesmo…!

    — Mesmo que fracos, também nos uniremos a sua causa.

    O clã de Armin, que tinha laços comigo, mostrou apoio incondicional.

    — Sim, pode haver outros! Quanto mais pessoas, maiores as chances de sobrevivermos!

    Até os companheiros temporários, influenciados pelo exemplo do clã Armin, reagiram com entusiasmo. E, talvez contagiado por esse clima…

    — Me desculpe por antes. Desta vez, vou expandir minha percepção com mais cuidado…

    Até o guia, que me confrontava, acabou cedendo, e cumpriu com dedicação seu papel de radar enquanto avançávamos pela zona de fogo. E talvez esse esforço tenha sido recompensado pelos céus.

    — Ali! Estou sentindo a energia de um portal!

    O alvo finalmente apareceu no radar.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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