Índice de Capítulo

    Ilha Ludria. Não era o Grande Rochedo, extremo oriente do Grande Mar, mas sim uma ilha tropical na periferia. Sob as palmeiras, além da praia, havia um grupo de nove exploradores reunidos. A cena parecia pacífica demais.

    “Lek Aures.”

    Um humano corpulento, verdadeiro símbolo de tanque, torcia a camisa molhada, como se tivesse acabado de brincar na água.

    “Belbev Ruingenes.”

    O velho, no crepúsculo da idade, usava um tronco caído como cadeira e, sentado ali, lia um livro.

    “Jayna Flyer.”

    A sacerdotisa de túnica negra mantinha certa distância, encostada em uma árvore, olhos cerrados, como se não quisesse se misturar.

    “Baekho Lee.”

    O desgraçado loiro, de feições arrogantes, estava sentado diante da fogueira. E não apenas sentado: ria, falando algo animado.

    “Baekho…!”

    Havia outros cinco que eu nunca tinha visto, mas não havia espaço em minha mente para pensar neles agora.

    Piiiiiiiii…!

    A repentina visão me deixou atordoado. Meu corpo espiritual tremia, os ouvidos zumbiam. Fechei e abri os olhos com calma, mas nada mudava.

    “…Baekho.”

    Era ele. O mesmo que matou James Calla e Versyl Gowland. O mesmo que, no dia em que fundei o clã Anabada, esmagou meu juramento de nunca mais sentir aquela humilhação.

    “Então ele também entrou no labirinto…”

    Desde aquele dia, não dera sinal de vida. Eu pensava que havia desaparecido, mas, claro, estava por aí, farejando algo para se aproveitar. Como uma barata.

    Tum…

    O ódio me inundava. Quis cravar a bandeira ali mesmo e atravessar o portal para ir atrás dele. Mas…

    “Não.”

    Contive a tentação. Não apenas porque, com minha equipe atual, não tínhamos chance contra o grupo dele.

    “Não posso…”

    A bandeira era o único item capaz de me reunir novamente com meus companheiros perdidos no colapso dimensional. Gastá-la apenas para atacar aquele verme? E se meus aliados morressem porque desperdicei a chance de salvá-los?

    Eu me odiaria por toda a vida.

    “Haa…”

    Suspirei, afastando os olhos de Baekho Lee. Se continuasse a olhar sua cara, minhas convicções se abalariam. Então observei os outros.

    “…Cinco pessoas.”

    Novos membros se juntaram ao grupo dele. Era melhor gravar seus rostos; talvez fosse útil no futuro. O primeiro, um garoto sorridente, assando algo na fogueira.

    “Não deve ser menor de idade… talvez mago?”

    Um mascarado misterioso.

    “Altura pouco acima de 1,70… impossível saber se é homem ou mulher.”

    Um espadachim, ouvindo Baekho de perto, rosto fechado. Pelo jeito, não estava gostando do que ouvia, compreensível. Aquele sociopata não sabia falar nada que agradasse alguém.

    “Enfim, o próximo…”

    Um elfo de pele tão escura que nem a sombra apagava. Seria um elfo negro? Mas supostamente haviam sido extintos séculos atrás.

    “Não deve ser só bronzeado…”

    Não dava para saber no momento, então passei adiante.

    “Ah, esse eu conheço.”

    Um anão, com machadinhas penduradas na cintura como um chaveiro.

    “Qual era mesmo o apelido dele…?”

    De qualquer modo, era um ex-promissor da Geração Dourada, mas que, por algum motivo, assassinou o antigo Dumoka, o chefe dos anões, e fugiu para se juntar à Orucules. Considerado mais perigoso que o Coletor de Cadáveres, embora eu nunca o tivesse visto lutar.

    “O último.”

    Um terian, deitado de braços abertos na praia, afastado dos demais. Não parecia contemplar as estrelas com romantismo, garrafas vazias jaziam ao redor.

    “Bebendo no labirinto…”

    Deve ser maluco. Mas, claro, se andava com Baekho Lee, não era surpresa.

    “No fim, só reconheci um deles…”

    Era ridículo. Aceitar que andar com Baekho significava ter algum nível de habilidade já era humilhante, mas não reconhecer quase ninguém?

    “Esse desgraçado recruta onde, em alguma agência do submundo?”

    Meus olhos memorizaram os novos membros. Talvez meu conhecimento fosse insuficiente, mas depois eu descobriria quem eram.

    “Exploração concluída…”

    Revirei o olhar uma última vez sobre o grupo, e, inevitavelmente, o centro da cena voltou a ser Baekho.

    “…”

    Eu sabia que precisava parar. Já tinha conseguido informações suficientes; era hora de focar no objetivo original. Mas meus pés não se moviam.

    “Baekho Lee…”

    Era a prova viva de que, em terra estrangeira, deve-se temer ainda mais os conterrâneos. Restava apenas ódio. Mas não era só isso que me prendia.

    “…Por que esse bastardo entrou no labirinto?”

    Para crescer como explorador, caçar monstros, ganhar níveis, tesouros? Duvido.

    “Ele deve estar tramando algo…”

    O quê? Que conspiração se escondia por trás daquele sorriso?

    “…Será que até o Lorde das Lágrimas…?”

    A ideia me atravessou de repente. Sem provas, mas impossível de ignorar. Havia algo mais suspeito do que esse grupo? Baekho Lee sacrificaria milhares em troca de lucro próprio sem pestanejar.

    “Talvez até o colapso dimensional tenha ligação com ele.”

    Alguns podem chamar isso de suposição infundada, mas eu não achava isso de forma alguma. Afinal, esse maldito bastardo do Baekho era a raiz de todo o mal, a existência mais prejudicial deste mundo. Certamente até mesmo a Bruxa da Terra seria mais benéfica para o mundo do que ele. Provavelmente.

    “Haa…”

    Sinceramente, não sei mesmo o que aquele idiota do Baekho pensava. Mas havia algo que sempre quis dizer-lhe, se voltássemos a encontrar-nos. Bem, não é que a minha voz chegasse aos ouvidos dele neste momento.

    “Baekho.”

    Eu sei por que, após décadas, você nunca conseguiu abrir o Portão do Abismo.

    Você sempre buscou o caminho fácil. Sempre culpou fatores externos. Sempre procurou soluções fora de si. Nunca tentou mudar a si mesmo. Eu, eu sou diferente.

    “Um colapso dimensional?”

    Dessa vez também vou sobreviver. Ficarei mais forte, a ponto de não precisar mais do auxílio de ninguém. E, quando a hora chegar, assim como fiz com o Matador de Dragões…

    “Vou atrás de você.”

    Hmph.

    Antes que esse verme fugisse, eu devia ter dito isso na cara dele. Mas, bem, só de pensar, meu peito já aliviou um pouco.

    “Então agora…”

    Quando decidi finalmente me afastar, algo me chamou atenção.

    “…Hm?”

    De repente, o Vovô Caído chamou minha atenção. O velho estava lendo um livro novamente. Pensando bem, ele já fazia isso antes, quando explorávamos fora das muralhas. Sempre que montávamos acampamento ou fazíamos uma pausa, ele costumava ficar lendo um livro em algum canto assim. Naquela época, eu achava que ele estava lendo algum livro de magia ou algo do tipo, então não me interessei particularmente.

    “O que ele está lendo?”

    Aproveitando meu corpo espiritual, fui até atrás dele para espiar.

    E então…

    O pelo branco da guerreira Baktu Reina brilhava de suor. Quando acariciei sua pequena cauda fofa e me aproximei, Reina se sobressaltou, suas orelhas brancas se eriçando…

    Fiquei tão chocado que perdi as palavras.

    “Ah… hã… então…”

    Não havia como explicar aquilo. Mas uma coisa era certa.

    “Perdi até a pouca consideração que restava.”

    Meu ódio e nojo pelo grupo de Baekho Lee só se intensificaram ainda mais.


    Apesar de ter perdido bastante tempo ao descobrir o grupo de Baekho Lee, talvez por ter vasculhado sem descanso depois disso, não demorei muito para concluir a busca por todo o sexto andar, o Grande Mar. …Ainda que sem resultados.

    “O sexto andar também… nada.”

    Revirei até as ilhas subterrâneas sob o mar, mas não encontrei nem um fio de cabelo dos meus companheiros. Parecia até um drama de famílias separadas. Onde diabos todos eles estavam?

    Fuuuum…

    Quanto mais estreitava o raio de busca, maior ficava minha ansiedade. Não por pensar no pior. Claro, essa possibilidade não podia ser descartada totalmente. Mas, realisticamente, era mínima. Afinal, não era porque eram meus companheiros: o clã Anabada era, objetivamente, muito competente. Não seria por perder só a mim que iriam ser aniquilados em apenas um dia. O problema era outro…

    “Por favor, que estejam em algum lugar visível…”

    Se estivessem em uma área coberta pela névoa, lugares onde eu nunca tinha ido, não haveria nada que eu pudesse fazer.

    “O quinto andar também não…”

    A angústia aumentava, e redobrei o esforço, vasculhando minuciosamente. Mas nem no Grande Deserto encontrei sinal dos meus. Para falar a verdade, encontrar gente viva já era difícil. O motivo era bem claro.

    “O Lorde das Lágrimas.”

    Não o vi no sexto andar e me perguntava para onde tinha ido. A resposta: havia despencado para o quinto andar e vagava por lá. Provavelmente por ter se separado à força da ilha que segurava consigo. O resultado: já tinha avançado até a quarta fase, sem nem a venda nos olhos.

    “Esse lugar virou um inferno…”

    Ao redor dele, montanhas de esqueletos de aventureiros. Todos derretidos pela sua habilidade ácida.

    “Hmm…?”

    De repente senti como se nossos olhares se cruzassem. Era impossível, mas um calafrio percorreu minha espinha. Afastei-me rapidamente.

    Craaaash…!

    Como se algo tivesse se quebrado, o monstro estendeu a mão em minha direção. Surpreso, subi mais alto e aumentei a distância.

    “…”

    E só isso. Logo ele voltou a ficar imóvel, congelado no mundo monocromático.

    “Droga, que susto…”

    Em vez de tentar entender por que tinha se mexido, tratei de me afastar ainda mais. Vai que se mexesse de novo? Eu não queria ser arrastado para confusão desnecessária. Então, dei só uma olhada rápida no restante do quinto andar e segui direto para o quarto. Não precisei gastar muito tempo ali. Já havia pegado o jeito da movimentação em estado espiritual, e a busca foi concluída à velocidade da luz.

    E então…

    “Finalmente.”

    Achei o que tanto procurava. Não estava no campo principal, a Torre Celestial, mas sim em um campo oculto do quarto andar. Mais precisamente…

    O Labirinto de Larcaz.

    Um lugar com o qual eu já tinha uma ligação duradoura. E lá estava um dos meus companheiros.

    “Ainar…!”

    Cercada por uma dúzia de aventureiros de aparência hostil.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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