Capítulo 843: Onda (1/8)

O início da quarta onda transcorreu sem problemas. Campos adequados surgiam em sequência, e quase não havia acúmulo de monstros deixados para trás. Assim, avançamos até um ponto que já podia ser considerado o meio ou até o fim da fase, sem nenhum incidente digno de nota. Mas, se fosse apontar um problema, seria este aqui.

— Deveríamos ter visto ao menos uma pessoa, mas não há nem um fio de cabelo à vista desta vez.

— Bem… acho que isso mostra o quanto o número de pessoas diminuiu.

Nenhum sobrevivente vagando pelo labirinto em colapso podia ser visto. Na onda anterior, tínhamos encontrado três. Ao que tudo indica, ao chegar à quarta onda, o número de Aventureiros ainda vivos diminuiu bastante…

Ba-dum!

A ansiedade e a inquietação tentaram crescer dentro de mim, mas não havia nada que eu pudesse fazer agora.

“Misha está…”

Ela vai ficar bem.

“E meus outros companheiros também…”

Com certeza estão bem. Então, eu só preciso acreditar e fazer o que devo fazer.

— Behelaaah!

Soltei um grito de guerra, brandi o martelo e ergui o escudo para conter o ataque inimigo.

— …Hm?

Durante aquela repetição monótona de movimentos, algo estranho aconteceu. De repente, uma luz azul explodiu do escudo e começou a fluir para dentro de mim…

Whoooong…

O quê? Alguém me deu algum tipo de buff? Foi o que pensei a princípio, mas logo percebi que não era isso.

Whoooong…

Aquela luz azulada… a sensação de que o escudo e eu havíamos nos tornado um só. Isso não era um buff. Sim, isso era…

Desde a Conexão com a Alma, Muralha de Égide vinha acumulando experiência de forma constante por baixo dos panos, e agora finalmente havia chegado ao sétimo nível. Assim, se fosse colocar os números em ordem agora…

Essas opções são fixas, então permanecem as mesmas.

O aumento dos atributos deve ter subido para vinte e oito por cento, e o alcance agora está multiplicado em 2,8 vezes…

A parte da imunidade mágica é fixa, mas a linha anterior é afetada pelo aprimoramento.

“Raio de 14 metros e redução de 42% no dano mágico.”

Ou seja, ao ativar Escamas da Ganância, os 50% de redução se multiplicam pelos 42%, resultando numa redução final de 71%.

“…Então, acho que posso considerar que graduei minha defesa mágica.”

Com alguns ajustes no equipamento, até seria possível atingir cem por cento de redução, mas isso não teria muito sentido. Assim como a ‘resistência a lâminas’ da Carapaça Evolutiva possui um limite, a redução de dano mágico também tem um teto. Com o tempo, apenas com a Conexão com a Alma e o efeito Arma Favorita do oitavo estágio da Marca da Imortalidade, será possível alcançar valores próximos desse limite…

“Mas já está no sétimo nível, hein…”

A sensação é estranha. Passei anos me arrastando pelo labirinto e ainda estou no oitavo nível, de alguma forma parece que todo esse esforço perdeu um pouco o valor.

“Bem… subir de nível é difícil só no começo. Depois que se tem poder suficiente, é coisa de um instante, como num jogo.”

Além disso, eu não estive exatamente em expedições comuns. Primeiro Subsolo, terras fora das muralhas, Colapso Dimensional… A quantidade de eventos grandes que vivi gerou um fluxo absurdo de experiência, então alcançar o sétimo nível tão rápido até faz sentido.

“Será que ela vai chegar ao oitavo nível antes de eu atingir o nono…”

Para ser sincero, tenho caçado monstros sem parar, tanto que já perdi a noção de quanto de experiência acumulei. Estimando por alto, parece que estou quase no final do oitavo nível…

“Na prática, já eliminei quase tudo que podia ser caçado abaixo do sétimo andar.”

Claro, ainda existem alguns monstros de elite que só aparecem em fendas ou campos ocultos, mas não é como se fossem presas que se pode caçar quando quiser. Nessas horas, eu invejo aquela era de algumas décadas atrás, a chamada Geração Dourada. Dizem que naquela época havia tantos Aventureiros de alto nível que montavam expedições com centenas de pessoas e chegavam até o nono andar. Comparado a hoje, quando a exploração do oitavo está travada há anos, o ritmo de subida de nível devia ser muito mais fácil.

“Talvez por isso todos fossem meio inflados naquela época…”

Os executivos da Orcules são um bom exemplo. Ativos durante a Geração Dourada, tinham níveis altos e essências de alto grau, mas suas combinações de essências, vistas isoladamente, eram bem fracas. Bom, dá pra entender. Era uma época em que o poder coletivo importava mais que o individual, então mesmo com combinações medíocres era possível avançar pelos andares superiores…

Zzzzt…!

Um som familiar de algo se rasgando ecoou. Assim que o ouvi, parei de pensar e examinei o entorno. Afinal, depois desse som… a transferência sempre começa.

— Reúnam-se…!

Mesmo sem uma ordem direta, os Aventureiros que estavam espalhados pela linha de frente, avançando para reduzir o número de monstros, voltaram instintivamente para o centro. Afinal, depois de uma transferência espacial, havia sempre a chance de monstros surgirem bem no ponto central. Já tínhamos adquirido certa experiência com esses colapsos dimensionais…

Flash!

De repente, como uma TV sendo desligada, a visão se apagou e um novo espaço surgiu diante de nós.

Shaaah…!

Uma praia, com ondas quebrando na costa. Só isso já bastava para imaginar onde estávamos, mas o sexto andar era muito vasto. Eu ainda estava prestes a verificar o entorno quando alguns aventureiros perceberam o local antes de mim.

— Ilha Ludria! É a Ilha Ludria!

— Oh, parece que é mesmo!

Ilha Ludria. Localizada no extremo leste do Grande Mar, logo além da fronteira do Grande Rochedo. Foi lá também que, durante o Atalho, avistei o grupo de Baekho Lee descansando.

— …

Surpreendentemente, o local era exatamente o mesmo. Que coincidência absurda. Movido por uma pontada de curiosidade, girei a cabeça e vi, mais adiante, as marcas de uma fogueira apagada, vestígios do acampamento do grupo de Baekho.

Aquele tronco oco e vazio.

Até ontem, Baekho estava sentado bem ali. Mas a sensação de estranha ironia do destino durou apenas um instante. Logo sacudi o pensamento e foquei na situação atual.

— Algo está subindo do fundo do mar…!

— O que são aquelas coisas? Não parecem ser murlocs.

— Tridentes…? I-Isso é um Mergulhador Lanceiro! Um monstro de terceiro nível!

— O quê? Monstros de terceiro nível… em tamanha quantidade?!

Uma tropa de Mergulhadores Lanceiros marchava em formação, subindo para o interior da ilha como um exército. À primeira vista, eram dezenas, talvez mais. E ainda nem todos haviam emergido da água.

“Será por ser o lugar onde Baekho estava…?”

Não fazia ideia do motivo de criaturas que deveriam estar nas profundezas do oceano aparecerem aqui, e em bando ainda por cima. Mas procurar sentido em algo que já estava acontecendo era inútil, especialmente durante um colapso dimensional.

— Preparem-se para o combate! Mantenham a formação e fiquem alertas!

Mas, justamente quando deixei as dúvidas de lado e me lancei correndo em direção à praia, o azar, como sempre, resolveu vir em grupo.

Kuuuuung!

Um tremor vindo do interior coberto de vegetação percorreu os grãos de areia até chegar aos meus pés. Uma sensação arrepiante percorreu minha espinha. Virei-me rapidamente, e lá estava ele.

Um monstro colossal avançava, esmagando coqueiros em seu caminho, emitindo ruídos grotescos e arrepiantes.

— Guueeeek!! Gueeek…!!

A criatura bípede vomitava repetidamente uma substância negra e viscosa de sua enorme boca aberta, como se algo estivesse corroendo seu interior. No instante em que vi aquela aparência abominável, reconheci o que era.

— Q-Que diabos é aquilo…

Antes de mais nada, era um monstro de segundo nível. Mas, curiosamente, aquela coisa não possuía um nome de espécie específico. Surgia apenas como Guardião, e nunca como um monstro comum.

— Gueeek! Lu-luz…! Gueeeek!

Fenda do Continente Negro, Sétimo Andar. Guardião do Túmulo de Valantis.

Se formos rigorosos, ‘Valantis’ em si pode ser considerado seu nome. Mas isso pouco importava naquele momento.

— V-Vou… devorar…! Gueeeek…!!

Um exército de monstros de terceiro nível avançava pela praia, enquanto do interior da ilha vinha o Guardião de Nível 2 da fenda.

— Todos vocês, concentrem-se apenas na praia! Vou lidar com aquela coisa!

Dei a ordem com rapidez quase instintiva e, logo em seguida…

— Behel–LAAAH!

Soltei um rugido poderoso, avançando para interceptar a criatura.

Ba-dum!

Mesmo naquele instante, enquanto encarava a fera de frente, não pude evitar pensar:

“Não é à toa que tudo estava fácil demais até agora…”

Dessa vez, não haveria como evitar grandes sacrifícios.

Como esperado, o caos iniciado na Ilha Ludria deixou feridas profundas em todos nós. Durante um colapso dimensional, a opção de ‘fugir’ simplesmente não existe. Não importa o quanto soframos, só resta lutar até o fim…

Zzzzt!

Nem mesmo a sorte com os campos esteve ao nosso lado. Na Ilha Ludria conseguimos resistir de algum modo, sem perder ninguém, mas…

— É transferência…! Entrem em formação!

A próxima área para onde fomos transportados foi as Ruínas de Pantelion, um campo localizado no Continente Negro do sétimo andar. Lá, monstros mecânicos de todos os tipos, do sexto nível até o terceiro nível, começaram a jorrar em massa.

— Gueeeek!!

Como eu estava encarregado de marcar o Valantis, não sabia ao certo o quão crítica era a situação geral…

— Ei, sacerdote! Aqui! Venha rápido!

— …Ele já está morto.

— Droga…! E ele não parava de falar da filha dele…!

Foi nesse ponto que surgiram as primeiras baixas. Três mortos de uma vez.

— Chwi, chwiiik!

Em seguida, fomos parar no Acampamento dos Orcs, do terceiro andar. Achei que seria uma chance para respirar um pouco, já que era uma área de nível mais baixo, mas, por algum motivo, um monstro de segundo nível apareceu. E não qualquer um: um chefe de raid.

— U-Um Orc Lord…!

Ao menos, entre as desgraças, havia um alívio. O Orc Lord não tinha uma resistência mágica tão alta quanto este maldito Valantis.

Nosso mago especialista conseguiu lançar o Orc Lord para fora da dimensão, para bem longe. …Mas o preço foi alto.

— …Kugh!

— O s-senhor está bem?!

— …É apenas um colapso de circuito mágico, não se preocupem. Mas não poderei fazer mais nada por um tempo.

Nosso mago especial acabou se tornando apenas especial, mas, graças a ele, evitamos que a situação ficasse ainda pior.

A transferência seguinte foi tão caótica que só lutei, sem nem perceber onde estávamos.

— Uma essência…!

— Dê ao mago… não, não há tempo pra isso! Que qualquer um a consuma!

— Mas esse cara usa uma lança…

— Só come logo! Dá pra apagar depois, não dá?!

A partir daí, quando uma essência surgia, ninguém mais se dava ao trabalho de guardá-la em tubos de ensaio, quem estivesse em condições simplesmente a engolia. Qualquer aumento de poder, por menor que fosse, era crucial. Além disso, alguns já haviam subido de nível durante o colapso, liberando novos espaços para essências.

Zzzzt…!

Assim veio a quarta transferência.

— Kkiek, kkiek, kkiek…!

Quando abri os olhos em meio à confusão, percebi que estávamos no Ninho do Rei. Uma das fendas do oitavo andar.

— …Droga! Wyverns!

— Atirem neles! Não deixem se aproximar! Se forem levados, acabou!!

Mesmo com as flechas de contenção subindo, as cabeças aladas circulavam acima de nós, grasnando como corvos e buscando o momento certo para atacar. E então…

— Kyaaaahhh…!!!

Alguns finalmente aproveitaram uma brecha e, num relâmpago, mergulharam, agarrando pessoas e alçando voo de volta ao céu. Não havia o que fazer. No instante em que atravessavam a parede invisível ao subir, os Aventureiros capturados simplesmente desapareciam sem deixar rastro.

Grrrp…

O que eu podia fazer diante disso?

— Behel–LAAAH!

Nada além de soltar um grito de guerra de tempos em tempos, dando apoio indireto. Eu estava ocupando o Valantis, impedindo-o de avançar.

Para mim, contê-lo já era o máximo possível. Mesmo ativando o Peitoral Dracônico de Égide com carga total, não havia como infligir dano real. Era da natureza de Valantis. Portanto, derrotá-lo dependeria de a força principal conseguir estabilizar o campo. Mas parecia despejar água em um balde furado.

— Maldição.

Quanto mais o combate se arrastava, mais baixas sofremos, e a situação piorava. Essa é a marca registrada de um colapso dimensional: quando o ritmo da batalha cede, o esforço necessário para se recuperar multiplica-se várias vezes. Por isso…

Kuaaak…

Observo, escuto e suporto. Porque não há outra coisa que eu possa fazer.

— …Oh, irmão! Meu irmão está aqui!

— Senhorita Ambrett, venha pra cá! Já é tarde!

— Mas…!!

Um wyvern voa carregando uma pessoa na boca.

Um Mergulhador Lanceiro, já quase derrotado, fincou sua lança na barriga da pessoa.

— Hã…? Jacob? Jacob? Jacob!! Droga!!

No meio da confusão onde é difícil até cuidar da pessoa ao lado, por um descuido acabei ultrapassando uma parede invisível.

— …Aqui, é, acabou pra gente!

— Aquele! Aquele maluco! Não vem aqui?! Só falta aguentar mais um pouco…!

— Des-desculpe…!

Houve casos de quem via a situação de forma pessimista levantando-se abruptamente e saindo. Mesmo com notícias de morte vindo incessantemente a ponto de ninguém saber ao certo quantos morreram desta vez.

— Behel–LAAAH!!

Gritei e suportei. Porque não havia outra coisa que eu pudesse fazer. E também sabia disso: se eu aguentar e esperar, chegará a hora algum dia.

Crackle

Certo, exatamente assim.

Tzzzzzt…!

Finalmente chegou a quinta transição.

Flash!

No instante em que um novo campo apareceu, lancei para fora a pedra que segurava na mão. A ação teve prioridade sobre confirmar onde estamos.

Toc, flop-flop-flop…!

A pedra, arremessada com força, passou por Valantis e rolou pelo chão. Isso significava somente uma coisa.

— Finalmente.

A quarta onda acabou. Ou seja, falando simplesmente…

— Agora eu posso matar todos eles.

Agora não é mais preciso aguentar.