Capítulo 844: Onda (2/8)

Mesmo em um evento de Colapso Dimensional já brutal por si só, o que realmente eleva a dificuldade é o terreno estreito. Quando a área é limitada, o número de participantes também fica restrito. Se passar de cem pessoas, basta um passo em falso para ser lançado para fora, então, na prática, sessenta é o número máximo.

Em outras palavras, no Colapso Dimensional, quantidade não vence.

Mas isso não é tudo. Conforme as ondas avançam, é inevitável que o grupo sofra baixas, e substituí-las depende inteiramente da sorte. E, como se não bastasse…

— Formação.

O pior é que, durante um colapso, a liberdade de formação desaparece. Existem várias formações possíveis durante uma exploração, avanço, retirada, aniquilação, mas em um Colapso Dimensional, só a formação defensiva é permitida. E mesmo essa precisa dividir as linhas frontais para conter os inimigos que atacam de todas as direções…

— A dificuldade não tem como ser baixa.

O motivo de eu ter ficado preso apenas segurando o Valantis sem conseguir fazer nada era justamente por causa dessas características do Colapso Dimensional. Uma formação limitada significa, em outras palavras, que a liberdade de estratégia também é anulada. Assim mesmo…

— Behel–LAAAH!

Durante toda a batalha caótica, eu estava segurando apenas o Valantis, mas pela primeira vez me movi de posição. Algo que jamais seria possível durante um Colapso Dimensional. Só que agora, estávamos no período de estabilidade, sem restrições.

No instante em que soltei o rugido, o efeito da Barreira de Aegis foi ativado, e o Valantis, como que hipnotizado, veio atrás de mim.

— Todos, recuem! Ainar, prepare aquilo!

Depois de ordenar a retirada da tropa principal, corri para o lado oposto, onde não era possível atrair atenção apenas com nível de ameaça. Assim, assumi completamente o aggro dos monstros que atacavam o grupo. Uma estratégia impossível de usar antes, quando o espaço era apertado. ‘Prioridade’ e ‘absoluto’ são coisas diferentes. Não importa o quanto se provoque, se a tropa principal estiver logo ao lado, o aggro se quebra.

“Certo, o agrupamento de monstros está bom assim…”

A distância entre mim e o grupo já era adequada. Então…

— Atirem…!!!

Ao meu comando, toda a potência de fogo máxima da tropa se concentrou à minha volta. Em condições normais, um método desses seria impossível com um tanque comum.

KWA-AAAAANG!!!

Não importa.

Afinal, eu não sou um tanque comum. Além disso, enquanto o bombardeio descia sobre mim, todos os cuidados da tropa principal também estavam concentrados aqui, o que compensava boa parte do dano.

Mesmo que me ferisse, as lesões eram curadas imediatamente. Com os sacerdotes concentrando toda a assistência em mim, não havia tensão alguma, mesmo cercado por mais de cem monstros. A menos que houvesse alguma criatura com uma mecânica de morte instantânea, até mesmo um monstro de primeiro nível dificilmente conseguiria me abater em um único golpe.

Regra número um do Bárbaro com Escudo:

A dor que não mata apenas torna o Bárbaro com Escudo mais forte.

Mesmo após cinco transferências, o grupo persistente de Mergulhadores Lanceiros e as feras mecânicas vindas das ruínas de Panthelion foram finalmente aniquiladas. Na verdade, considerando o caos das batalhas anteriores, foi fácil a ponto de parecer até frustrante. Claro, o fato de os wyverns que tanto nos atormentaram não terem conseguido nos seguir até aqui ajudou bastante. De qualquer forma…

— …

Com todos os monstros menores derrotados, o silêncio relativo fez com que uma presença se destacasse ainda mais.

— Grueeeek…! Gueeek…!

O Guardião do Túmulo de Valantis. A Estrela Decadente, Valantis.

— Gueeek…! Keh, keh! Gueeeek…!

Desde o momento em que apareceu até agora, não desviou os olhos de mim, vomitando aquela substância repugnante sem parar.

— Fogo! Magos ou conjuradores, usem fogo! Nada além disso funciona contra essa coisa!

Assim que meu comando ecoou, um breve intervalo se seguiu antes que o feedback chegasse da tropa principal. Bolas de fogo, chuva de chamas, flechas de magma… incontáveis magias de atributo fogo começaram a voar ao mesmo tempo.

— Gueeek…! Luz… biiizt…!!

Não levou muito tempo. Em meros cinco minutos, a primeira fase terminou, e a seguinte também não apresentou grande dificuldade.

Com a vida chegando a 50%, começou a segunda fase. Normalmente, essa parte invoca soldados em quantidade proporcional ao volume de bile que ele havia cuspido, e o corpo principal se fortalece de acordo com o número deles, mas…

“O Colapso Dimensional até que tem seus pontos positivos.”

Atualmente, já havíamos passado por cinco transferências. A quantidade de soldados invocados era mínima, e por isso avançar até a terceira fase foi tranquilo.

Assim começou a terceira fase. As habilidades da criatura, agora coberta por chamas negras, eram as mesmas de antes, porém…

Dessa vez, não se limitava a corromper o campo e causar dano de veneno contínuo…

Puf! Puf!!

As massas negras começaram a explodir, causando dano em área. Além disso, a habilidade de aura Isolamento ganhou um novo efeito: explosões aleatórias por todo o campo. Ah, claro, sem grande importância, a tropa principal já havia recuado para longe há tempos.

— O fogo não funciona mais, então usem o que quiserem!!

Depois disso, todo tipo de ataque exceto o de atributo fogo começou a chover sobre o inimigo, e logo entramos na última, a quarta fase.

Era o momento em que a habilidade passiva dele entrava em ação.

Fuuuuuuuuuu…!

Do céu surgiu uma enorme estrela negra, com pelo menos dez metros de diâmetro. Um tipo de totem que espalhava todo tipo de debuff em forma de aura e invocava soldados sem parar. Durante essa fase, o inimigo recebia imunidade total a qualquer dano até que aquela ‘estrela’ fosse destruída. Mas…

— Se chegamos até aqui, então já acabou.

Ao meu grito, a resposta veio imediatamente, como se todos esperassem exatamente por esse momento.

— Ainar…!!!

— Uoooooooh!!!

Com um rugido tão potente quanto o meu, uma lança foi arremessada como um relâmpago.

A direção do arremesso de Ainar apontava para o corpo principal de Valantis, mas o ajuste do golpe era absoluto.

Fiiiiiiiiuuu…!

A lança não voou em direção ao ponto vital da criatura, mas, como se dobrasse no ar feito um bastão, disparou direto para a estrela negra. A ponta atravessou o corpo do astro que emanava uma vibração sinistra, sem qualquer resistência. E então…

Puc!

Depois de um breve instante…

Puuuuuuuuuuum…!

A estrela negra que flutuava no ar explodiu como se tivesse chegado ao fim de sua vida, e o corpo de Valantis tombou pesadamente ao chão.

Kuung…!

No mesmo momento em que o corpo massivo caiu, uma intensa chuva de luz se espalhou.

A batalha finalmente havia terminado. Mas afinal, qual seria a recompensa por todo esse inferno?

“A taxa de drop da Essência do Guardião é de 33%.”

E como Ainar deu o golpe final, o No. 9999: Sorte de Principiante adicionava mais 5% de chance, totalizando 38%. Porém…

— A… a essência…!

— Não dropou…

Infelizmente, a essência não caiu. Uma pena, já que essa essência poderia ser combinada com a Auto-Replicação de Amelia e render algo bem útil. Ainda assim, não foi uma caçada em vão.

— Mas caiu um item numerado!

— Isso mesmo, um item numerado!

Um item havia dropado, e nada menos que…

“Um item de dois digitos…”

Tão raro quanto uma essência, um ‘duplo digito’ havia caído. Um acontecimento realmente estranho.

Toc…

Ao me abaixar para recolher o espólio, minha mão parecia estranhamente pesada.

Treze mortos.

Assim que a batalha terminou, conferi o relatório de baixas, e não consegui esconder o sentimento de devastação. Dos trinta e nove que éramos, um terço havia caído. As origens dos mortos também eram variadas.

Um do grupo de exploração de Armin. Dois do Clã Illuma. Sete do Clã Sawtooth. E os três sobreviventes que haviam se juntado a nós durante a quarta onda, todos mortos.

Ah, um desses últimos poderia até ser considerado ‘desertor’, mas decidi classificá-lo como morto de qualquer forma.

— …

O alívio da sobrevivência, que se espalhou como uma epidemia logo após o fim da luta, durou pouco. Uma atmosfera sombria tomou conta do grupo.

— Já faz sete anos, hein. A gente se conhecia há tanto tempo… nunca imaginei que acabaria me despedindo assim.

— É sufocante. Quando voltarmos, o que vou dizer à família deles…?

— Merda, merda, merda, porraaaaa!!!

Ser um Aventureiro acostumado a despedidas não significa ser um monstro sem sentimentos. Perder alguém próximo é doloroso para qualquer um. E se for família, ainda mais.

— …Teremos de fazer um funeral.

Ao ouvir minhas palavras murmuradas, uma mulher que estava sentada no chão levantou-se de súbito, como tomada por um espasmo.

— Como…? Como vamos fazer isso…?

Charlotte Emblut, do grupo de exploração de Armin. Era maga, e trabalhava lado a lado com o irmão mais velho no mesmo clã.

— M-Meu irmão… sumiu. Ele sumiu… Eu devia ter segurado ele mais forte… devia ter cuidado melhor…! Não devia ter deixado ele lá…!

Sim. Esse é outro dos malditos aspectos do Colapso Dimensional. Se o corpo não for recuperado a tempo no meio do caos, jamais poderá ser encontrado novamente.

— Aaaah, aaaaaaaaahhh…!

Um grito dilacerante, carregado de mágoa. Mas mesmo vendo-a desmoronar, não pude deixar de pensar que ela era mais forte do que parecia, afinal, colocava a culpa sobre si mesma.

— Aaah…

De repente, lembrei-me do que acontecera no primeiro subsolo.

Brian Emblut.

Não cheguei a ter grande intimidade com ele, mas era um sujeito realmente gentil. Naquela ocasião, também havia perdido um companheiro, e cuidava com todo o carinho da irmã enlutada. Foi uma cena rara de se ver em um labirinto, uma cena calorosa.

— Por que… só comigo… por que sempre comigo…

Não suportando mais ver Charlotte Emblut se consumindo em dor, desviei o olhar. Então, aproximei-me da sacerdotisa.

— …Mais tarde prepararei um lugar. Poderia fazer uma prece pelos mortos?

— Claro…

— Obrigado.

— Mas… — Eu já me virava para sair quando ela me chamou. — Isso… realmente tem sentido?

O olhar dela estava voltado para Charlotte Emblut. Mesmo sem explicação, entendi o que queria dizer. Perguntava se haveria algum consolo para eles em realizar um funeral sem corpos, ou talvez, do ponto de vista religioso, quisesse dizer que sem os corpos não havia como conduzir um verdadeiro ritual de passagem. De qualquer forma, respondi sem hesitar nem um instante.

— Tem, com certeza.

— Entendido…

Depois disso, quando achei que a situação havia se acalmado o suficiente, ordenei o início da cerimônia.

Fwoooosh!

Os magos, seguindo minhas instruções, acenderam fogueiras sobre o solo nu, sem nenhum propósito além do simbólico. Os sacerdotes se colocaram diante da chama vazia e elevaram orações que apenas os vivos podiam ouvir. Até mesmo os Aventureiros exaustos compareceram naquele momento, permanecendo em silêncio até o fim.

Quando a cerimônia terminou, alguns permaneceram, outros se afastaram e se deitaram à distância, fechando os olhos como se estivessem mortos. E eu… fiquei ali, num ponto indefinido, sem partir, mas também sem me juntar aos que ficaram, vagando em silêncio por um bom tempo.

Quando olhei a hora por acaso, já havia passado da meia-noite. Ainar se aproximou e bateu de leve no meu ombro antes de seguir adiante.

— É hora de dormir, Bjorn.

— …?

— Ainda temos de lutar amanhã.

Certo. Apenas a quarta onda havia terminado.