Índice de Capítulo

    O tempo de estabilidade após a quinta onda no Território Primordial transcorreu sem grandes incidentes. Exceto pelos monstros que se aproximavam periodicamente do acampamento e eram repelidos, nada digno de nota aconteceu. Não havíamos enviado equipes de exploração, e, diferente dos grupos de cavaleiros anteriores, também não surgiram sobreviventes que viessem até nós por conta própria.

    Zzzzt…!

    Assim começou novamente a sexta onda. Partindo de um campo favorável, o segundo andar, conhecido como Terra dos Mortos, enfrentamos a enxurrada de monstros que surgiam sem parar, derrotando-os à medida que as transferências se sucediam. E então…

    — Quatro mortos! O total atual de sobreviventes é cinquenta e cinco!

    Encerramos a onda com quatro baixas. A dificuldade geral parecia menor do que na anterior, mas, paradoxalmente, houve uma morte a mais. Não dava para dizer que foi apenas azar… provavelmente todos estavam exaustos. Afinal, já fazia dias que vínhamos dormindo e lutando, dormindo e lutando, em meio ao colapso dimensional.

    — E agora, o que faremos?

    — Vamos explorar. Perdemos bastante gente.

    — Entendido.

    Durante o período de estabilidade, organizamos uma equipe de busca, mas no fim não encontramos outros sobreviventes. Nem mesmo a Missha.

    “Sério… onde diabos ela está?”

    Por favor, que tenha encontrado um grupo decente e esteja sobrevivendo bem. Uma inquietação paranoica subia dentro de mim, mas toda vez que isso acontecia eu me forçava a controlar a mente e sufocava o sentimento. Afinal, não havia nada mais que eu pudesse fazer naquele momento.

    Zzzzzzt…!

    Assim teve início a sétima onda. Uma fase cheia de incidentes e acidentes diversos. Mas deixando tudo de lado e falando apenas do resultado…

    — Doze mortos… O total de sobreviventes agora é quarenta e três!

    Devastador. Foi o maior número de mortes desde a quarta onda, quando perdemos treze pessoas.

    Fwoosh…!

    As chamas que se ergueram dessa vez quase não trouxeram soluços. Não que tivessem desaparecido, e nem que a dor sentida fosse menor do que antes. Mas os lamentos simplesmente não se prolongaram.

    Os vivos… precisam continuar vivos.

    Diante do mandamento absoluto da sobrevivência, todos os outros valores se tornam luxos supérfluos.

    — …

    — …

    Assim que o fogo, que ardia de forma vazia, se extinguiu, um silêncio pesado tomou conta do ar.

    Foi uma rodada difícil. Desta vez, sequer formamos uma equipe de busca e, como esperado, até o momento em que despertamos, nenhum outro grupo de sobreviventes havia vindo ao nosso encontro.

    O mesmo valia para Missha.

    O tempo passou enquanto todos dormiam como cadáveres ambulantes, e, quando o período de estabilidade terminou, mais uma onda começou.

    Zzzzt…!

    Assim chegamos à oitava onda. Já não havia mais gritos de coragem para ‘resistirmos com força’ nem reclamações infantis dizendo ‘quero ir pra casa’. Exaustos até o limite, todos apenas se levantaram silenciosamente, empunharam suas armas e se prepararam para lutar em suas posições assim que a nova onda começou.

    Quando, afinal, essa maldita ruína dimensional vai acabar?

    Não peço muito… só queria que terminasse antes da décima onda…

    — …

    — …

    Me dei conta de repente, enquanto fazia meu trabalho mecanicamente, meio fora de mim. O silêncio ao redor. Em algum momento, os monstros haviam desaparecido, restando apenas pilhas de pedras de mana espalhadas pelo chão. Pensando bem, já fazia um bom tempo desde a última transferência…

    Clack, flop, flop…

    A pedra que lancei distraidamente voou longe e rolou sem força. Isso significava que a oitava onda havia chegado ao fim. Mas, sinceramente, essa constatação não me trazia alegria alguma.

    “Então… dessa vez também não acabou.”

    Os sobreviventes, só percebendo o fim da onda ao verem a pedra que eu jogara, abaixaram suas armas e se deixaram cair no chão, exaustos. Eu também queria me jogar ali junto deles, mas…

    Thud.

    Antes disso, tinha algo que eu precisava confirmar.

    — Armin, situação atual?

    — Três mortos… total de quarenta sobreviventes!

    Certo, mais três dessa vez. Não enfrentamos nenhum monstro de segundo nível, e o campo estava favorável, eu realmente esperava um resultado melhor.

    “Devem ter chegado ao limite físico…”

    Por mais que houvesse pausas entre as batalhas, lutar tantas vezes seguidas assim inevitavelmente cobrava um preço do corpo. E nem se fala do cansaço mental. Até os magos, que durante as pausas sempre começavam a meditar imediatamente para recuperar o MP, agora desabavam inconscientes assim que a onda terminava.

    — Um machado! Ou, se não tiver, qualquer porrete serve… algo que ainda preste, tem?

    — Meu protetor de pulso quebrou desta vez…

    Havia muitos na mesma situação, com equipamentos destruídos. A escassez era tamanha que já tínhamos organizado um sistema para compartilhar o que sobrava: quem tivesse algo extra deixava disponível para quem precisasse. Mesmo assim, o material ainda era insuficiente.

    — Farei os preparativos…

    Os sacerdotes, já tão acostumados a esses procedimentos, começaram a preparar o funeral sem que eu dissesse uma palavra. E então…

    Fwoosh…!

    As chamas vazias se ergueram mais uma vez… já perdi a conta de quantas vezes. Os sacerdotes recitavam as orações num tom igual ao de antes, e os sobreviventes, mesmo exaustos, se juntavam por alguns instantes para assistir até o fim. Quando tudo terminava, todos se deitavam em silêncio, acostumados demais à rotina, e enfim descansavam.

    — Vou organizar a equipe de busca. O senhor deve descansar.

    — Não. Não será necessário.

    — …Perdão? Ah, não me diga que pretende ir pessoalmente…

    — Não é isso. Desta vez, não faremos busca alguma.

    Armin inclinou a cabeça, confuso com minha resposta. E não era difícil entender o motivo. O grupo, que já teve mais de sessenta pessoas, agora estava bem reduzido. O colapso dimensional continuava sem sinal de término, e, mesmo no último período de estabilidade, pulamos a exploração porque todos estavam exaustos demais para se mover. Pensando de forma lógica, claro que deveríamos sair para procurar sobreviventes. Mas o problema era…

    “Justamente o lugar onde estamos agora.”

    O local onde passamos o oitavo período de estabilidade era nada menos que o quinto andar, o Grande Reino dos Demônios.

    Ba-dum!

    O mesmo andar onde o Lorde das Lágrimas, Tetraseia, fora visto pela última vez.


    O Lorde das Lágrimas, Tetraseia. Quando usei o Portal dos Espíritos para explorar todo o labirinto, encontrei aquela criatura bem no centro do Grande Reino dos Demônios, no quinto andar. Por algum motivo, ele havia avançado para a quarta fase sem sofrer sequer um arranhão. E ao redor dela… havia corpos de Aventureiros reduzidos a ossos.

    Mesmo estando em forma espiritual na época, houve até um incidente em que nossos olhares se cruzaram, mas isso não importa, então deixemos de lado.

    Ba-dum!

    Meu coração pulsou, pesado.

    “Será que… ainda está aqui?”

    Difícil dizer. Depois de tantas ondas, não seria estranho se ela tivesse sido transportada para outro lugar. Mas, sinceramente, não consigo ter certeza de nada.

    — Não é o labirinto inteiro que está ruindo, e sim apenas o espaço ao nosso redor. Como se o próprio labirinto quisesse expulsar os invasores.

    Se a teoria do mago especialista estivesse correta, o fenômeno de ‘transferência’ dos monstros só ocorreria na presença de Aventureiros por perto. Ou seja, havia uma boa chance de a criatura ainda estar nesta área. Talvez simplesmente não tenha se encontrado com outros grupos desde então, ou pior, talvez tenha matado qualquer um que visse antes que houvesse oportunidade de ser envolvido numa transferência. Tudo isso era perfeitamente possível.

    “Espero que… seja apenas paranoia.”

    Mas eu sabia. Ver o mundo com otimismo excessivo só levava a uma queda ainda mais dolorosa. Foi exatamente por isso que decidi não enviar nenhuma equipe de busca, uma espécie de tática de resistência passiva. Melhor reduzir ao máximo qualquer atividade externa até o fim do período de estabilidade do que correr o risco de vagar lá fora e dar de cara com ele.

    — …Aceita um pouco?

    De repente, uma mão surgiu à minha esquerda, oferecendo um pedaço de carne seca. Quando virei o rosto para ver quem era, fiquei surpreso.

    — Você é… Kevron?

    O vice-líder do Clã Sawtooth. Ou melhor, agora que o antigo líder morreu, acho que deveria chamá-lo de líder. Enfim, isso não era o importante.

    — É que… quase não o vi comer ultimamente.

    …O quê? Será que misturou veneno nessa carne seca? Para ser honesto, era difícil acreditar que fosse um gesto de pura boa vontade, a situação toda parecia estranhamente deslocada.

    — Ah… perdoe-me se o incomodei durante o descanso. Vou deixá-lo em paz…

    — Não. Eu aceito.

    Peguei a carne seca da mão dele e a mastiguei sem cerimônia. Mas então… algo estava errado. Um sabor impossível se espalhou pela boca.

    — Sabor de morango…?

    — Está na moda entre os Aventureiros ultimamente. É a primeira vez que prova?

    — Cada vez aparecem modas mais absurdas.

    — Haha, também acho que tem um gosto horrível.

    — Então por que comprou essa porcaria?

    — Não sei… talvez porque odeio a sensação de ficar para trás.

    Uma resposta inesperadamente séria. Fiquei sem saber o que dizer e apenas continuei mastigando a carne seca.

    Croc, croc.

    Suspirei. Bom, comer alguma coisa ajudava a aliviar um pouco o estresse.

    — Então… o que você quer?

    Quando fui direto ao ponto, o vice-líder fez uma expressão estranha.

    — Não quero nada em especial. Só percebi que ainda não havia comido nada…

    …Droga. Parece que ele está falando sério.

    — Haa…

    Não sei se ele tem noção, mas eu não sou muito bom com esse tipo de situação. Por isso, mudei de assunto de forma brusca, talvez até de modo desconfortável para ele.

    — Quantos de vocês ainda restam?

    — Agora somos sete.

    — É mesmo? Muitos morreram.

    Minhas palavras podiam soar frias, mas ele apenas respondeu com um leve tom de ironia.

    — Sim. Daqui a pouco nem poderemos mais chamar de clã, e sim apenas de equipe.

    Droga… por que ele veio conversar comigo justo agora? Essa sensação incômoda não parava de crescer. Era tão desconfortável que parecia que eu acabaria dizendo algo cruel sem querer. Mas consegui segurar a língua, mal e porcamente.

    — Não é que… — Ele soltou as palavras de repente, num tom calmo. — Não é que estejamos ressentidos. Nem eu, nem ninguém.

    — Do que está falando? O que me importa quantos de vocês morram?

    — É verdade. E, na realidade, deveríamos ser gratos.

    — …

    — Diferente do que alguns diziam no início, o senhor nunca nos tratou como simples descartáveis. Chegou a nos separar, sim, mas depois daquele primeiro colapso, nem isso voltou a fazer.

    — …O Armin deve ter agido por conta própria.

    Ao meu murmúrio, o vice-líder exibiu um sorriso complicado.

    — No início, achamos que o senhor Armin havia ajustado a formação por consideração a nós, para que pudéssemos lutar juntos. Mas… ouvimos dizer que foi o próprio senhor quem deu a ordem.

    Droga… e como é que eles souberam disso? Duvido que Armin tenha contado. Enfim, não faria sentido discutir isso agora.

    — E o que exatamente você está querendo dizer com tudo isso?

    — Na verdade, mesmo que não tivesse sido por consideração, não o teríamos culpado.

    — …

    — Qualquer um aqui, com olhos e ouvidos funcionando, sabe que ninguém se esforçou tanto quanto o senhor para manter todos vivos.

    …Uh. Agradeço as palavras, mas, honestamente, a essa altura parece até que ele está me provocando de forma educada. Então mudei de assunto de novo, de maneira displicente.

    — Bem, mastigando mais um pouco, até que não é ruim… mas ainda prefiro carne seca de verdade.

    — Concordo plenamente.

    — Ao menos temos algo em comum. Da próxima vez, traga uma normal.

    — Sim, senhor. Descanse bem.

    O vice-líder se curvou respeitosamente e se afastou, encerrando a conversa. Depois de comer um pouco, o sono me atingiu, e me deitei em qualquer lugar para descansar. E então…

    Uma hora, duas, três, quatro…

    Quem sabe quanto tempo passou.

    — Lorde Visconde…!!

    A voz urgente me despertou num sobressalto. Por um instante, temi que o Senhor das Lágrimas tivesse aparecido, mas felizmente não era isso. Apenas nos deparamos com visitantes indesejados.

    — É um grupo de cerca de cinquenta sobreviventes! O líder deles, chamado Fantasma Dourado, solicita uma conversa com o senhor!

    — …Fantasma Dourado?

    Mais uma vez, um visitante inesperado, com um nome que eu jamais imaginaria ouvir aqui.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota