Capítulo 851: Três Escolhas (1/7)

Resistência Distorcida. Uma habilidade em que, ao ser atingido, a dor é amplificada, mas a regeneração natural aumenta drasticamente. No entanto, é difícil classificá-la apenas como uma habilidade de aprimoramento. Ela também possui uma função de maldição. Exatamente assim.

Enquanto a habilidade estiver ativa, os inimigos dentro do raio também têm sua resistência à dor reduzida. Não chega aos 1.000 do usuário, mas mesmo assim. Na verdade, isso não significa muita coisa. Monstros têm a característica comum de ficarem mais combativos e ferozes quanto mais dor sentem. Pode-se até considerar que isso atua como um buff. Diferente de nós, frágeis ‘seres não-mágicos’.

— …O-ouyah.

Assim que a resistência à dor cai, toda a mudança no corpo é claramente percebida.

Tec-tec, tec-tec-tec-tec…

Gotas de chuva que caem. Até pouco antes, aquilo só causava uma leve coceira. Agora, sinto nitidamente. A ponto de perceber em tempo real onde toca no corpo e para que direção escorre. Com clareza.

Chiiic…

Uma nítida dor ardente floresce.

Natural, claro. A resistência à dor do golem de cadáver era de apenas 70. Mesmo assim, graças àquele valor, eu conseguia cometer a façanha insana de continuar lutando enquanto tomava poções…

Kadeuduc…

Caramba, isso dói a ponto de enlouquecer. Claro que ainda não é o suficiente para me apagar. Meu atributo de Espírito é bem alto. Quando o atributo básico de Espírito aumenta, todos os atributos subordinados a ele, incluindo resistência à dor, sobem um pouco. Mas…

Tum…!

Involuntariamente, fico curioso. Se os pingos de chuva são assim, como será quando eu for totalmente encharcado pelos fluidos daquela coisa? A resposta chegou muito mais rápido do que imaginei.

Kkiyeeeeeeeek!

A criatura solta um grito de dor e desfere um jab ainda mais ameaçador e violento. Naturalmente, levanto o escudo para aparar.

Kwoaaang!

O dano físico não foi tão grande, mas novamente, o problema era o efeito que vinha depois.

Chiiiiiiiiik!!

Pelos buracos espalhados em suas patas dianteiras, fluido corporal jorra. Eu já havia travado os dentes antecipando a sensação…

— Ah…

Inútil.

— Agh… Olrok…!!

Pura arrogância. Era impossível aguentar.

— Olrolk…!

Uma dor que ultrapassa de longe o que eu havia imaginado. Por um instante, tenho a impressão de ter voltado ao passado. Não o corpo robusto de um guerreiro bárbaro, mas o corpo frágil e magro do moderno Lee Hansoo. Se aquele corpo pulasse dentro de uma fogueira, provavelmente doeria exatamente assim.

— Merda. droga!

Agora faz sentido. Por que os personagens do jogo piravam tanto depois de serem atingidos por essa habilidade.

Levar golpes causava rigidez como mínimo. Às vezes, um estado de Medo surgia do nada. Para personagens com baixos atributos de Espirito, como o Espírito de Batalha, caso tal se prolongasse, ocasionalmente, levava à fuga da batalha. Com esta mensagem aparecendo:

A primeira vez que vi essa mensagem foi na época em que estudava o Arqueiro Élfico. O anão que era nosso tanque principal simplesmente abandonou a linha de frente e mergulhou no mar; lembro até hoje o absurdo da situação. Bom, como o tanque não era tão essencial naquela raid, acabamos completando sem problemas.

“…Então era por isso.”

Agora vejo que o anão não teve escolha. Quando o corpo parece estar pegando fogo inteiro, como resistir ao impulso de se jogar na água? Nunca é fácil.

Certo. Nunca é fácil…

Por alguma razão, pensar assim me dá um pouco de ânimo. Quando foi que algo foi fácil antes? Como sempre, é vencer na marra. Como um Bárbaro.

— Behellaaah!!!

Quando dói, basta gritar o nome dos ancestrais de uma vez e sacudir tudo. De qualquer forma, não existe caminho para fugir…

“Mas que diabos.”

Que porra é essa.

— O que estão fazendo!!

Percebendo tarde demais que tudo ao redor estava silencioso, não pude conter o grito. Por que pararam?

— O-O senhor parecia estar sofrendo demais…

Ha! Não estão vendo que aquele desgraçado está regenerando? Se descansarmos alguns segundos agora, sofreremos vários minutos a mais depois. Então…

— Continuem atacando!

Ao berrar com toda força, a chuva de golpes, que havia sido interrompida por instantes, recomeça.

Fogo, relâmpago, gelo, lanças, flechas…

Poderes de naturezas variadas eram lançados, e seus efeitos também me atingiam. O alvo era a criatura, mas eu estava perto demais para escapar do impacto. É o destino inevitável de um tanque. Mas o problema é…

— Ugh… agh! Kehuk…! Olrk…!!!

Diferente de antes, até a magia dos aliados agora dói pra caramba. Claro que eu já tinha dado ordens antecipadas ao Armin.

Kkiyeeeeeeeek…!

Quando essa coisa começasse a gritar, ninguém deveria considerar minha condição e sim atacar com força total. Eu também sofreria, mas se o dano que passa pela minha resistência mágica e pela Muralha de Égide não é assim tão grande, isso significa que também não seria tão perigoso para o monstro. Então, que não aliviassem nem um pouco.

Sobre Resistência Distorcida. Sobre resistência à dor. Sobre o inferno que se desenrolaria no momento em que esse plano fosse posto em prática.

Chiiiiiiiiik!

Mesmo entendendo isso melhor do que ninguém, dei aquela ordem e, agora que já começou, não tenho a menor intenção de voltar atrás. O motivo é simples.

Se suportar é a melhor opção, então suportar é a melhor opção.

Tenho consciência de que isso soa como algo que um certo político japonês famoso diria, mas não encontro expressão melhor. Além disso…

— Guhhh…

Aguentar é algo em que eu realmente sou bom.

— Aaaaaaaaaaaaaaah…!!!

O combate continua, repleto dos gritos do enorme monstro e do enorme bárbaro.

Maldições que reduzem a regeneração, para contrapor Resistência Distorcida, sobrepõem-se e são fortalecidas.

E os ataques à distância continuam sem pausa.

As criaturas invocadas periodicamente se aproximavam do inimigo, de longe ou de perto.

Boom!

Os guerreiros corpo a corpo que não têm meios de ataque à distância ou habilidades de suporte…

“Ah…”

Bom, não é culpa dos guerreiros. Eles sempre sofrem muito. Fazer o quê? Se não têm o que usar, não têm.

Tadadadadadadadap!

Com o passar do tempo, a chuva ficava cada vez mais intensa. Excelente sinal. Isso significa que nosso DPS havia superado a velocidade de regeneração dele.

— …Kkiyeeeeeeeeeek!

Ainda assim, não esperava que ele morresse obedientemente.

“A tristeza de Tetrasea se aprofunda.”

O Lorde das Lágrimas, Tetrasea. Um Lorde do Andar com um conceito pervertido: quanto mais apanha, mais forte fica.

Tadadadadadadadap…!

Estavamos apenas na metade.

Não havia uma barra de HP separada, mas não era difícil perceber que a vida da criatura havia chegado à metade. Graças a passiva, era possível confirmar isso a olho nu.

——— ———, ——— —— ——— —!

As flores que, assim que eram invocadas, entoavam um canto estranho e cuspiam saliva ácida, ganharam uma nova função.

Novas invocações se erguiam nos pontos onde as flores cuspiam. Tristeza gerando tristeza… Não sei qual seria o significado filosófico disso, mas eu estava apenas furioso.

A chuva cria flores. E as flores criam novas invocações.

Isso não é um subcontrato do subcontrato do subcontrato? Não imaginava que tamanha aberração também existisse neste mundo!

— Kkiyeeeeeeeeeek!!

Quando já não consegui mais me controlar e soltei um brado monstruoso, o Lorde das Lágrimas hesitou por um instante. E então, como se estivesse me encarando…

— …Kki, kkiyeeeeeeeeeek!!!!!

Logo depois, gritou ainda mais alto, como se quisesse competir.

“Será que… ficou desconcertado porque roubei sua fala?”

Difícil dizer. Como um mero humano, é impossível compreender o coração de tal criatura.

Mas. Se por acaso…

Se realmente achou que algo lhe foi tirado…

— Kkiyeeeeeeeeeek!!!!!!

Então vou gritar ainda mais alto.

— …Kki… kkiyeeeeeeeeeek!!!!!!!

Cada vez mais. Cada vez mais alto. Para que ninguém além de mim, o Chefe dos Bárbaros, o Chefe do Clã Anabada, o Visconde de Rafdonia, Bjorn, filho de Yandel.

Chiiiiiiiiiiiiik!

Eu vou lhe ensinar a verdadeira dor de ter algo tirado de si!

— Kkiyeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeek!!!!!!!!!!!!!!

Os jovens que tiveram até a vida arrancada por um subcontrato do subcontrato do subcontrato do subcontrato. As dezenas de milhões de cidadãos que desmoronaram em agonia, esmagados pelos preços inflados por atravessadores. Um brado que carrega a tristeza e os espíritos remanescentes de todos eles.

— …Kki… kkiek?!

Vendo essa reação melancólica, parece que entendeu.

— Heh, he, hehehe…

Acabei sorrindo. Agora entendes, ó criatura mesquinha? A dor de quem é privado?

— Kki, kkiyeeeeeee…!

— Kehehe, hehehu…!

Eu ria enquanto lágrimas me escorriam.

— Kkiek! Kkieeek! Kkieeeeeek…!

Oh, criatura insignificante. Sim, pequena besta triste que nada conhece além da destruição.

— Heh, hehhut, hahahhahahah!!!

Mesmo compreendendo essa dor. Mesmo tendo experimentado essa tristeza com o próprio corpo. Ainda assim ousa não romper a cadeia de ódio e, no fim, tentar tirar algo de mim?!

— Kkiyeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeek!!!!!!!!!!!!!!

Então venha!

Eu jamais serei quebrado…!!

Eu estava brandindo o martelo como um bárbaro enlouquecido. Golpeando sem distinguir entre o Lorde das Lágrimas e as criaturas invocadas que o grupo principal havia enviado para me ajudar.

Kwoaaaaaang!

Um olho lacrimejando. O outro semicerrado num sorriso torto. Continuava destruindo tudo de forma completamente insana, como alguém que havia perdido a razão…

— Hã?

O que diabos eu estava fazendo? Com esse pensamento, recobrei a consciência por um instante. Levaria pouco tempo para compreender a situação.

Merda, eu realmente tinha pirado por alguns instantes. A lembrança de mim mesmo urrando como um louco brotou de súbito, trazendo um senso de vergonha, mas decidi focar apenas no lado positivo. Por alguns minutos, eu mal senti dor…

É, Frenesi ainda foi lucro.

Se eu tivesse entrado em fuga, aí sim teria sido um desastre.

“Maldição.”

Mesmo assim, com meus atributos atuais, achei que não seria afetado por esse tipo de estado. É uma situação que não pode ser descrita apenas como perigosa, é assustadora. Mas, como consegui passar ileso, era melhor parar de me culpar e pensar rápido em uma solução.

“Magias divinas de proteção mental.”

Foi o primeiro método que me veio à mente, mas não me agradava muito. Proteção mental também usa poder divino. Inevitavelmente, isso reduziria a quantidade de cura que eu receberia…

“A Coroa de Flores da Angústia.”

Mas também não posso usar isso. Seria inverter tudo. Com ela, eu ficaria imune a efeitos mentais, mas também ficaria imune ao poder divino, ou seja, não receberia cura alguma.

— Tch.

Não parece haver alternativa. E eu não tenho tempo para pensar muito mais.

— Armin! Daqui para frente, lance proteção mental em mim!

Adotei o primeiro método. Só que…

— Ah…?

A resposta do Armin, depois de ouvir minha ordem, saiu estranha. E não só porque demorou um pouco para responder.

— A-Ah! E-entendo…? De fato!

…Que reação é essa? Minha dúvida foi esclarecida pela frase seguinte do Armin.

— Todas aquelas atitudes bizarras de antes eram por causa de um ataque mental, então!!

Droga. Não é à toa que não tomaram nenhuma medida até o Frenesi passar sozinho.

“…Então achou que eu estava daquele jeito estando sóbrio?”

Será que isso também é um tipo de preconceito contra bárbaros?