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    Departamento Secreto de Segurança. Uma instituição estatal diretamente subordinada à família real de Rafdonia. Embora, hoje em dia, sua influência seja bem reduzida. O brilho da antiga glória já havia desaparecido há muito tempo.

    Missões de infiltração, espionagem e operações encobertas foram separadas e repassadas à Ordem da Rosa, e a autoridade investigativa sobre os nobres foi transferida quando surgiu a Mozlan.

    Atualmente, sua principal função é praticamente localizar e executar espíritos malignos. Talvez seja por isso que o nome termina com ‘departamento’ e não ‘agência’. Em seus dias de auge, chamava-se Agência Secreta de Segurança.

    “Quando a era do Rei Novo Mundo começou, tudo foi reformulado.”

    Esse foi um dos motivos pelos quais fiquei um pouco perdido quando cheguei a este mundo. Mais de cento e cinquenta anos se passaram desde o período em que se passa Dungeon & Stone, e há inúmeras diferenças em relação ao que eu conhecia. Por exemplo, a Ordem da Rosa, no jogo sequer existia um grupo com esse nome.

    — O Departamento Secreto de Segurança, hein…

    Astarota murmurou isso, como se estivesse organizando seus pensamentos enquanto me olhava.

    — Não deve estar falando em realmente caçar e matar espíritos malignos. Está pensando em reuni-los e formar algum grupo próprio?

    Como esperado de um sujeito esperto, captou minha intenção imediatamente. Embora eu precisasse corrigir um pequeno equívoco.

    — Não pretendo formar um grupo particular.

    Fui direto e totalmente honesto.

    — Só estou um pouco frustrado, só isso. Se aceitam até Noark porque faltam pedras mágicas, então por que não aceitar os espíritos malignos?

    — …

    — Ainda mais considerando que Noark está infestada de espíritos malignos. Reprimir espíritos malignos, nessa altura, não é só inútil, é praticamente trabalho perdido.

    — Hm. Não posso negar.

    Surpreendentemente, Astarota assentiu em vez de reagir agressivamente. Claro, isso não significava que estivesse disposto a ceder.

    — Pelo que vejo, no fim das contas você quer retomar a política de inclusão dos espíritos malignos que foi descartada no passado. Esqueça. É impossível.

    — Por quê?

    — Sua Majestade não deseja que a civilização deles contamine este mundo.

    Astarota foi categórico. E não era difícil entender o que ele queria dizer. Democracia, revolução, religião, tecnologia moderna… Para quem governa esta cidade, a mentalidade moderna de pessoas como nós jamais seria bem-vinda.

    “E pensar que esse hipócrita cria elevador, jogos de tabuleiro e todo tipo de porcaria moderna…”

    De qualquer forma, eu entendi perfeitamente o sentido. Na verdade, eu já esperava receber exatamente esse tipo de resposta. Por isso, também estava pronto para dar a minha.

    — Por isso mesmo eu preciso assumir o Departamento Secreto de Segurança.

    — …Claro, não esperava que desistisse tão facilmente. Fale então. Qual é o motivo?

    — Porque eu posso controlar e prevenir antecipadamente tudo o que vocês temem. E, se alguém resolver me desobedecer e fizer besteira, basta colocar só esse alguém na guilhotina.

    — Bem… isso seria possível, de fato. Mas, do nosso ponto de vista, já estamos lidando bem com a situação. Não há motivo para permitir um risco desnecessário.

    Astarota não perdeu tempo discutindo a viabilidade do meu plano; foi direto ao centro da questão.

    — Então diga: por que deveríamos atender ao seu pedido?

    Nem Astarota nem o Rei Novo Mundo eram meus pais, para simplesmente me darem o que eu quisesse porque fiz birra. Mas esse ponto não me preocupava. Por sorte, eu tinha um passe livre.

    — Sua Majestade deve ter dito antes de adormecer. Para atender ao máximo tudo o que eu exigir daqui para frente, e cooperar comigo.

    Astarota fez uma careta, como se aquela frase fosse um abuso de interpretação.

    — …Isso foi durante a missão de matar o antigo primeiro-ministro, em plena guerra.

    — Oh? Então quer dizer que Sua Majestade acordou no meio do processo e repetiu isso pra você?

    Minha fala era debochada o suficiente para qualquer um notar, mas ele não respondeu.

    Silêncio. E isso já era uma resposta.

    — Como é? Se ele nunca disse nada disso, você estava tentando interpretar por conta própria o pensamento de Sua Majestade e distorcer as ordens?

    — …

    Mais uma vez, Astarota escolheu o silêncio. Era hora de desferir o golpe final.

    — Naquele dia, quando vim até aqui, o Rei do Novo Mundo disse que me faria cinco pedidos.

    O primeiro pedido, o primeiro-ministro, já estava resolvido. Restavam quatro. E até agora nenhum novo pedido me havia sido dado. Mas uma coisa era certa.

    — E o que exatamente está tentando dizer com isso?

    Caramba, tão ansioso…

    — …O Rei do Novo Mundo claramente tem algo que ele quer de mim. E ele decidiu me apoiar totalmente para esse propósito. Portanto, você também deve cooperar comigo.

    — Hah. Mesmo sem saber qual será o próximo comando?

    — Não é um ‘comando’, mas um ‘pedido’. Eu agradeceria se você prestasse atenção à formulação. Ou você está planejando interpretar arbitrariamente as palavras de Sua Majestade desta vez também?

    Depois de um longo silêncio, Astarota finalmente respondeu:

    — …Vou pensar no assunto.

    O que, na prática, equivalia a uma permissão.


    Não era uma confirmação ainda, mas a resistência foi muito menor do que eu tinha previsto.

    “Ainda nem falei todas as vantagens que surgiriam se ele atendesse ao meu pedido…”

    Isso só me deixou mais encucado. Aquele sujeito só tem lealdade absoluta à família real enfiada na cabeça, mas ainda assim… foi fácil demais. Quem já lidou com a família real algumas vezes sabe interpretar isso corretamente.

    “Eles estão tramando alguma outra coisa…”

    Na verdade, essa paranoia só piorou ultimamente. É como se tudo estivesse… estranho. Como se, desde o momento em que acordei neste mundo até agora, eu estivesse o tempo todo brincando na palma da mão de alguém. Essa sensação tem piorado recentemente. Mas isso não era algo para pensar agora.

    — Ah, e afinal… o que foi aquilo?

    — Se você fala assim, como espera que eu saiba do que está falando?

    Perguntei a última coisa que me intrigava antes de ir embora.

    — Por que diabos vocês convocaram o Lorde das Lágrimas?

    A própria pergunta para a qual eu não consegui obter uma resposta, não importava o quanto eu perguntasse ao atual Primeiro Ministro ou aos vários nobres influentes com os quais eu tinha conexões. Mas pensei que talvez Astarota pudesse ser diferente.

    — …

    …mas, claro, minha expectativa foi frustrada. De novo, ele simplesmente calou a boca. Então tive de ser mais direto.

    — O objetivo era ver se morria mais gente, é isso?

    — Não faço ideia do que está…

    — O Colapso Dimensional.

    Interrompi a fala dele. E enquanto levava um momento para firmar minha respiração, mantendo meu olhar fixo em seus olhos.

    — Foram vocês que detonaram aquilo, não foram?

    Perguntei contendo ao máximo minhas emoções. Ele não reagiu, nenhuma mudança de expressão. Tsc. Eu queria pelo menos tentar ler alguma coisa no rosto dele e…

    Ele riu. De repente, sem aviso.

    E então…

    — …E se tivesse sido? O que mudaria?

    Ele perguntou num tom de deboche. Mas… não parecia um deboche só dirigido a mim. Parecia que estava debochando de algo muito maior.

    — Vá embora por hoje. Sobre o Departamento Secreto de Segurança, darei uma resposta depois de pensar.

    Astarota encerrou a conversa de maneira unilateral. Isso era tudo por agora. Depois perguntei se poderia ver Ragna e Hyeonbyeol antes de sair, e ele disse para eu fazer o que quisesse. Então passei lá. Nada tinha mudado desde a última visita. Ragna ainda estava desacordada…

    — Você disse que viria sempre…

    Hyeonbyeol estava de cara fechada, emburrada. Tive de passar um bom tempo acalmando e animando ela.

    E então…

    — Algo aconteceu enquanto eu estava fora?

    Hmm, os incidentes não foram do seu lado, oppa? Tem havido muita conversa ultimamente sobre o Colapso Dimensional e o que mais.

    — …Pensei que você tivesse ficado aqui o tempo todo?

    — Basicamente, sim?

    — Basicamente, você diz…?

    Quando perguntei porque não entendi o que ela queria dizer, Hyeonbyeol me deu uma breve explicação. Ela ficou entediada por ficar confinada neste quarto, então ela perambulou pelo interior do palácio e gradualmente fez conhecidos, aparentemente? Começando pela empregada que trazia suas refeições, depois o jardineiro e até mesmo o chefe de cozinha. Aparentemente, os cavaleiros não tentaram particularmente impedir suas atividades… E recentemente, parece que até alguns dos cavaleiros começaram a retribuir seus cumprimentos.

    — Você não está fazendo isso só porque você estava entediada, né?

    — Claro que não. Eu também preciso saber minimamente como o mundo aqui fora está funcionando, não acha?

    Eu sabia. A Hyeonbyeol é do tipo que sobreviveria bem em qualquer lugar onde fosse jogada.

    — Então me conta. Qualquer coisa serve. As pessoas com quem fiquei próxima aqui acabam sempre tendo algum limite, sabe? Filtram o que dizem.

    Depois disso, para uma Hyeonbyeol que dizia estar quase enlouquecendo de tédio, contei tudo o que havia acontecido comigo.

    O Lorde do Andar. O Colapso Dimensional.

    Talvez por causa dos tópicos sensacionais que não poderiam ser entediantes, Hyeonbyeol ouviu com grande interesse. Talvez seja por isso? De repente, aquela pequena dragão na Árvore Gnomo me veio à mente. Ela também sempre me implorava para lhe contar histórias sempre que eu a visitava e ouvia com intensa concentração o dia todo.

    — …Enfim, é isso. Mesmo que eu quisesse continuar, não tenho mais o que contar.

    Assim, o tempo dentro da história foi passando até chegar ao momento em que entrei naquele quarto. Mas, por alguma razão, Hyeonbyeol não parecia feliz, mesmo sendo a primeira vez em muito tempo que tinha algo novo para ouvir.

    — …Você passou por muita coisa.

    — Ah.

    — E foi muito forte também. Do jeito que você é, sair daquele quarto deve ter sido quase impossível.

    É. Ela era a única que sabia. Não o bárbaro forte e imbatível, Bjorn Yandel, mas o coreano fraco e comum, Lee Hansu.

    Me senti estranho.

    Quanto mais parado eu ficava, quanto mais raciocinava, mais parecia que algo ia escorrer para fora de mim. Então pigarrei e mudei de assunto.

    Cof… E você, pretende continuar vivendo assim?

    — Por enquanto, sim.

    A resposta veio sem um único segundo de hesitação. Depois de pensar bastante, perguntei diretamente:

    — …Por que está fazendo tudo isso?

    A pergunta carregava vários significados. Talvez por isso a resposta também veio carregada.

    — Bom… acho que eu também mudei. Tanto quanto você, oppa. Desde que vim parar neste mundo.

    — Entendo.

    Assenti sem dizer nada. Eu já tinha uma suspeita. Eu também era a única pessoa neste mundo que conhecia a Kang Hyeonbyeol, a mulher coreana que existia antes de tudo isso. Talvez ela visse um pouco do antigo eu quando olhava para mim. Mas agir assim, com tamanha lealdade… isso significava que ela realmente havia mudado muito.

    — …Então, sobre o Departamento de Segurança. Pelo que ouvi do que você me contou, acho que é quase certo que vão aceitar. E depois? O que pretende fazer?

    Expliquei para Hyeonbyeol todos os meus planos, sem deixar nada de fora. Ela, que já havia trabalhado em órgãos públicos na Terra, ajustou vários detalhes que eu tinha deixado passar. Talvez por isso, uma dúvida surgiu para ela:

    — Mas… oppa, você realmente acha que vai conseguir fazer tudo isso sozinho?

    — Não. Acho que não.

    — Hã? Então como vai fazer?

    — Agora vou ter de procurar alguém. Mas não se preocupe. Tem uma pessoa que provavelmente consegue fazer isso muito melhor do que eu.

    — Ah, que bom que já tem um candidato. Quem é?

    Hyeonbyeol perguntou, cheia de curiosidade. Eu apenas olhei para ela em silêncio.

    — …?

    A qual é, você está fingindo não saber? Depois de ter sido você quem ofereceu toda aquela tentação em primeiro lugar.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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