Capítulo 121: Nuvens Negras (5/5)

『 Tradutor: MrRody 』

Fiquei congelado por um momento, encarando diretamente à frente. Dentro do quarto que eu tinha acreditado estar vazio após a partida de Missha, estavam duas pessoas: Missha e Erwen.

“Não há como as duas se conhecerem: Erwen veio me visitar e encontrou ela por acaso?”

Assim que entrei no quarto, por hábito, analisei as possíveis causas e efeitos da situação atual. No entanto, isso foi tudo que tive tempo para fazer.

Kablam!

Ao contrário do ar lá fora, úmido pela chuva torrencial, por alguma razão o ar no meu pequeno quarto de solteiro parecia fresco. O quarto estava cheio de perguntas.

“O que…? Por que essa aqui está tão irritada?”

Depois de passar meses lado a lado, eu conseguia dizer só de olhar para o rosto dela. Missha estava muito, muito irritada agora, ainda mais do que na vez em que ela me pegou escolhendo apenas a carne e jogando fora as cenouras da minha comida. Vendo que até mesmo o pelo da cauda dela estava um pouco eriçado, ela parecia estar desconfiada de algo também. Erwen também estava agindo de forma estranha.

“Ela está… chorando?”

Havia lágrimas em seus olhos. Ela não estava derramando-as ou algo do tipo… na verdade, parecia estar se esforçando para contê-las. Em vez de chorar de tristeza, parecia mais que ela estava cerrando os dentes de raiva.

“Elas brigaram ou algo do tipo?”

Com base nas informações apresentadas a mim, cheguei à conclusão de que a Erwen e a Missha tinham brigado. O motivo? Bem, não estava certo sobre isso. Eu não achava que nenhuma delas era do tipo tão emocional ou confrontacional com alguém que acabaram de conhecer.

Nhéque.

Quando fechei a porta, seus olhos voaram para mim. Talvez fosse por causa do som da chuva e do trovão, mas parecia que foi só depois de fechar a porta que elas notaram minha presença.

Foi a Missha quem falou primeiro, sorrindo e me cumprimentando como de costume. — Ah, você está aqui, Bjorrrn? Você tem uma visita. — Por algum motivo, porém, seus olhos não estavam sorrindo nem um pouco.

— Uaaah! Senhor… — As lágrimas que Erwen estava segurando transbordaram quando ela pulou em mim. Eu a esquivei reflexivamente. Acho que essa não era a reunião que ela tinha imaginado, porque ela aterrissou com o equilíbrio de um personagem ágil e mordeu o lábio. — É… por causa daquela mulher?

O que essa criança estava falando? Por algum motivo, ela parecia muito diferente da última vez que a vi, mas… Bem, tinha sido muito tempo desde então.

— Por causa daquela mulher…?

— N-Não é nada!

Quando fiz uma pergunta própria, imaginando se as duas realmente tinham brigado, Erwen se encolheu e balançou a cabeça. Então, ela olhou para Missha de forma autocrítica.

— Bjorrrn, o que demorou tanto? — Missha encontrou meus olhos e se aproximou de mim com passos rápidos. — Você saiu com prrressa mais cedo, aconteceu alguma coisa? — Sua voz estava estranhamente nasal.

Isso fez com que arrepios aparecessem no meu corpo por algum motivo, mas por enquanto apenas respondi à pergunta. — Não foi nada. Kharon foi acusado de ser um saqueador, mas tudo se resolveu depois que conversei com eles.

— Ohh, entendi. Isso deve ter te cansado. — Missha disse algo estranho e acariciou meu braço. Normalmente, ela só me daria tapinhas no antebraço ou nas costas.

Neste ponto, não tive escolha a não ser ser direto. — …O que há de errado com você?

— Como assim? Só estou te elogiando por fazer um bom trabalho. Bárrrbaros não são estranhos para nós, afinal.

Involuntariamente, inclinei a cabeça. Isso nem mesmo tinha sido a minha pergunta inicial, e a resposta em si estava cheia de contradições. — Não são estranhos?

— Sim. Bárbaros e terians não estão em bons termos?

Estavam? Bem, acho que em termos melhores do que estavam com os elfos.

— Aqui está uma toalha! — Estava prestes a dizer mais alguma coisa quando Missha pulou e colocou uma toalha na minha cabeça. — Seque seu cabelo prrrimeiro. Você vai pegar um resfriado.

— Ah, oh… sim. — Isso ainda parecia um pouco suspeito, mas desviei o olhar para Erwen enquanto secava meu cabelo. Eu não podia deixar minha convidada sem atenção. — Erwen, você veio me procurar?

— Perdão? Ah, sim… — Quando me virei para ela, os ombros de Erwen se encolheram e ela evitou meu olhar. Não foi ela quem correu na minha direção antes? Ah, foi porque eu evitei?

— De qualquer forma, que bom que você está aqui — eu disse. — Eu estava querendo te visitar há um tempo…

— Perdão? Você estava me procurando?

— …Sim?

— Mesmo? Estou feliz. E-Eu pensei que você pudesse ter se esquecido de mim…

Sorri com a maneira como o clima mudou com apenas algumas palavras. — Eu jamais poderia esquecer a companheira da minha primeira expedição.

— C-Claro? Isso é especial para nós dois, certo?

Hã? Sentindo estranhamente que estávamos falando de duas coisas diferentes, ainda assim balancei a cabeça, conquistado pelo olhar sincero nos olhos de Erwen. — …Acho que sim?

— Sim! Era assim mesmo! — Não sabia o que acabara de acontecer, mas Erwen de repente se animou com minha resposta.

Aquilo foi o suficiente de conversa fiada, então decidi perguntar sobre o que estava curioso. — De qualquer forma, já faz um tempo. Então, como você tem estado?

— Eu? Você está curioso sobre como eu tenho estado?

— Sim…?

— Então eu vou te contar!

Um segundo depois, Erwen começou a falar sobre todas as coisas que haviam acontecido desde nossa separação, como um pássaro tagarela. A maioria delas eram histórias relacionadas ao labirinto. Ela tinha subido os andares com sua irmã, derrotado monstros e absorvido novas essências. Ah, e ela acabou de dizer que geralmente passava seus dias trancada sozinha em seu quarto praticando dia e noite?

— Olha isso! Eu posso lidar com todos os quatro Grandes Espíritos agora! Três deles eu até dominei!

— O quê? Três já?

— Sim! Eu trabalhei muito, muito pesado!

Para ser honesto, fiquei um pouco surpreso. Mesmo que ela estivesse se aproveitando de sua irmã, era difícil acreditar que esse era o resultado de alguns meses de trabalho.

“Isso é o que as pessoas querem dizer quando falam de ‘talento’?”

Ela era diferente de mim de várias maneiras. Eu ficava mais forte usando essências e equipamentos de alto nível, enquanto ela desenvolvia suas habilidades com prática real.

“Uma arqueira élfica que conseguiu atingir a maestria em três atributos em menos de um ano…”

Isso era definitivamente raro. Se você conseguisse dominar todos os quatro atributos principais, seria capaz de desbloquear algo na segunda metade do jogo.

“Bem, se não fosse por sua irmã, eu poderia tê-la adicionado ao meu grupo.”

Foi uma pena perder um talento como aquele. No entanto, escolhi não dizer nada. Não era como se estivesse formando um grupo agora mesmo, de qualquer forma, e não havia como ela abandonar sua família.

— Ainda assim, estou feliz que você estava ocupada treinando. Eu pensei que você não pudesse me encontrar porque eu mudei de pousada. Bem, era hora de você focar no seu próprio crescimento em vez de mim…

— Ah, isso não é completamente verdade…

— Sim, Bjorrrn está certo. Se você ainda não tem um ano de experiência como aventureira, você deveria se concentrar em encontrar maneiras de se sustentar, certo? — Missha, que estava ouvindo a conversa em silêncio, se levantou e envolveu os braços nos ombros de Erwen.

Erwen ficou tensa e assentiu fracamente. — Certo…

Foi só minha imaginação ou ela estava incomodada com os comentários da Missha? Lembrando da atmosfera quando entrei pela primeira vez no quarto, perguntei tardiamente: — Ah, então o que aconteceu com vocês duas enquanto eu estava fora?

Na verdade, isso era algo que eu estava curioso desde o início. No entanto, à minha pergunta, Missha inclinou a cabeça casualmente como se eu tivesse acabado de perguntar algo estranho. — Hmm? Nada aconteceu.

— Nada aconteceu? Eu pensei que vocês duas estavam brigando…

— Haha! Prrr que estaríamos brigando? Nos tornamos tão próximas. Não é mesmo, Errrwen?

— Sim, Senhorita Karlstein…

— Senhorita Karlstein? Apenas me chame de irmã.

— Sim, irmã…

Ela estava como um valentão arrastando um colega de classe inocente para um beco. Algo estava claramente acontecendo aqui, mas enquanto elas mantivessem a boca fechada, parecia que seria difícil para mim obter as respostas que eu queria.

“Vou descobrir o que aconteceu no momento certo.”

Passei por elas e abri a janela. As nuvens escuras já tinham se dissipado e o sol brilhava no pavimento molhado. Portanto, dei a ordem para que ambas saíssem. — A chuva parou. Vocês duas deveriam ir para casa agora. Eu quero tomar um banho e descansar.

Por algum motivo, a fadiga estava se instalando.

Depois de sair do quarto do Senhor, Erwen se viu em uma situação complicada.

— Hã? Você está indo prrr este caminho também?

— Sim, por quê?

— Então você vai na frente. Eu sairei um pouco depois de você.

Ela estava indo na mesma direção que a terian. Felizmente, a mulher também não parecia querer andar com ela.

— Então você vai na frente. Eu vou depois.

— Não. Você vai prrrim…

Isso estava se tornando uma dor de cabeça enorme. Sair depois? Como ela poderia acreditar nessas palavras? Parecia que assim que ela saísse, essa mulher voltaria para o quarto dele. Pelas aparências, era claro que Missha também tinha as mesmas suspeitas.

— Hah… — Erwen e Missha suspiraram ao mesmo tempo.

— Então vamos seguir juntas?

— Sim, isso seria melhorrr.

No caminho de volta, só havia um silêncio desconfortável. Ninguém falava, e elas apenas se concentravam em caminhar. Era de se esperar. Embora tivessem dito a Bjorn que nada tinha acontecido, isso não era realmente verdade.

— Não sei. Você já não sabe o que quero dizerrr?

Quando ouviu essas palavras, Erwen sentiu como se um parafuso em sua cabeça estivesse se soltando. Seu coração estava batendo loucamente, e ela não conseguia mais aguentar. Então, sem perceber, as palavras saíram de sua boca.

— Sua gata safada…! — Pela primeira vez em sua vida, ela insultou alguém, e isso não foi tudo. Quando ela voltou a si, sua mão estava tocando a adaga em sua cintura. Foi quando Erwen percebeu.

— Você, está doente da cabeça?

Se não fosse por aquele comentário, ela teria voltado a si apenas depois de brandir a adaga. A terian era forte. Isso não era apenas uma suposição, mas a verdade. Os elfos eram naturalmente perceptivos quando se tratava dessas coisas e podiam sentir o Poder da Alma dos outros.

“Ela é duas… não, talvez até três vezes mais forte do que eu.”

Havia uma grande diferença em seu poder espiritual, o que significava que essa mulher tinha absorvido várias essências de alto nível. Ela também podia perceber pela postura e energia que a Missha não era apenas uma aventureira que dependia das habilidades de suas essências em uma luta. No momento em que percebeu isso, uma tontura dominou Erwen.

Missha Karlstein… Esta mulher era sua inimiga, mas ela não podia derrotá-la em uma luta. Isso queria dizer que algo precioso seria tirado dela, assim como naquela época. Sim, seria tirado dela. Sentimentos completamente divorciados da razão rugiram dentro dela. O lampejo momentâneo de memória paralisou a mente da Erwen. Enquanto ela se afogava em emoção, sua boca se moveu por conta própria.

— Por favor, não tire ele de mim… Por favor… — Um lamento miserável, algo que ela nunca participaria se estivesse em seu juízo perfeito, saiu dela.

— O quê…? — A terian, que a encarava com olhos frios, ficou boquiaberta, perplexa.

Erwen sabia em sua cabeça como ela devia parecer feia e grotesca, mas naquele momento, ela pensou que se isso protegesse algo precioso para ela, ela poderia fazer algo ainda pior. Ela realmente poderia ter caído em lágrimas e implorado de joelhos se ele não tivesse chegado bem na hora.

Nhéque.

— Uaaah! Senhor…

Ela balançou a cabeça na tentativa de afastar seus pensamentos. Foi um incidente vergonhoso que ela nem sequer queria pensar. Por alguma razão, era difícil para ela pensar racionalmente quando o Senhor estava envolvido.

“…Eu devo ter parecido uma maluca.”

Corando de vergonha, Erwen olhou para Missha. Ela agora estava parada em uma bifurcação na estrada.

— Eu vou irrr naquela direção, para onde você está indo?

— Felizmente… eu estou indo para o outro lado.

— Entendo…

O momento de acabar com o silêncio constrangedor delas havia chegado, mas ambas pararam para se olhar, incapazes de mover os pés.

A primeira a falar foi Missha. — Você… você não vai voltarrr amanhã também, vai?

— Sim, eu vou.

— Haha… como eu… — Missha pôs a mão em sua testa como se não acreditasse na situação em que estava.

O mesmo aconteceu com Erwen. Quando ela estava correndo em direção à pousada, tudo em que ela conseguia pensar era em ver o Senhor novamente e rir.

— De qualquer forma, estou indo embora. Você também vá para casa. Entendeu? — disse Missha.

— Um…

— Hã?

Erwen agarrou Missha enquanto ela estava indo para a outra bifurcação na estrada. Ela tinha algo a dizer, embora realmente não quisesse dizer. — …Obrigada.

— Pelo quê…?

— Você não contou ao Senhor sobre o que aconteceu mais cedo.

— Que você tentou me enfrentarrr com sua adaga?

— É… — Erwen baixou a cabeça.

Missha soltou um grande suspiro. — Esqueça. Vamos fazer uma prrrmessa.

— Promessa?

— Você vai aparecer mesmo se eu disser para não virrr, certo? Então vamos manter o que aconteceu entre nós em segredo do Bjorrrn. Bem… você provavelmente sente o mesmo, mas… e-eu não quero que ele tenha que se preocupar com algo assim.

— …Tudo bem.

— Então estou indo. Você também tem que ir para casa, certo?

— Certo.

Com isso, Erwen se despediu de Missha e foi para o dormitório. Era uma distância considerável, mas não parecia tão longe, talvez porque sua mente estivesse tão preocupada.

Quando ela abriu a porta, Daria a cumprimentou com uma expressão de preocupação. — Erwen.

— Daria… — Erwen se deixou cair nos braços de sua irmã.

— Aquele homem… você o encontrou?

— Sim. Ele estava realmente vivo.

— R-Realmente…? Que ótimo.

Ela se deliciou nos braços de sua irmã por um longo tempo, absorvendo o conforto. Então ela tomou uma decisão. — Daria, eu vou ficar mais forte.

— Mais forte…?

— Sim. Isso é estranho?

— Não, na verdade pensei que você não iria querer mais treinar.

Diante da insinuação de sua irmã, Erwen inclinou a cabeça. Por que ela pararia de treinar? Bem, quando descobriu que o Senhor estava vivo, todo o tempo que passava treinando em seu quarto admitidamente parecia sem sentido, mas agora, Erwen sentia um desejo fervoroso que era ainda mais forte do que antes. — Eu tenho alguém que eu tenho que derrotar, então por favor me ajude ainda mais no futuro.

Se ela não queria que algo fosse roubado dela, ela teria que ser a única a roubar.