Capítulo 176: Doppelganger (1/5)
『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisor: SMCarvalho 』
De pé em frente ao espelho, Amelia prendeu o cabelo ruivo na altura dos ombros atrás da orelha meio cortada, revelando a cicatriz, aquela ferida que certamente se tornaria uma falha se ela desejasse levar uma vida típica de mulher. Na época, ela não tinha dinheiro para comprar uma poção, então não teve escolha a não ser deixar como estava. Claro, ela poderia facilmente tratar isso hoje, mas não se incomodou. Além disso, combinava com seu físico magro e musculoso de 1,68m e combinava com a tatuagem sob seu olho.
— Quase lá.
Essa ferida sempre a lembrava de quem era seu verdadeiro inimigo.
— Amelia, o lorde está chamando você.
Ela jogou a mochila sobre o ombro e saiu. Uma figura a aguardava. — Não esperava que você viesse.
Ele era membro da Orcules, o espírito maligno mais infame tanto acima quanto abaixo da superfície, e um grande criminoso que chamavam de Coletor de Cadáveres. — A situação é urgente.
— Quão ruim é a situação?
— O palácio fez um movimento incrivelmente ousado. Nunca pensei que libertariam aquele louco da prisão.
— …Ele está solto? — Até mesmo Amelia, que sempre era impassível, não conseguiu esconder sua surpresa. Se o Coletor de Cadáveres era um espírito maligno conhecido, esse homem era o oposto. Poucas pessoas conheciam seu nome, mas qualquer um que estivesse minimamente familiarizado com ele só podia sentir medo ao pensar que ele estava livre.
— Sim, ele está aqui. Graças a isso, as coisas ficaram um pouco bagunçadas. Nosso lado também está morrendo em massa. — O homem de óculos sorriu e deu um tapinha nas costas da Amelia. — Então, vamos. Todos já estão reunidos, só falta você.
— …Tudo bem, vamos. — Amelia seguiu o homem por um corredor silencioso, seus passos rápidos eram o único som a ser ouvido. — O Matador de Dragões está envolvido na batalha?
— Hum? Ah, ele… o braço dele está incapacitado, então o que ele pode fazer? Provavelmente está descansando em seu quarto agora.
— …Entendo. — Amelia lançou cautelosamente mais uma pergunta. — Houve alguma melhora?
O homem parou em seus passos e se virou. — Por que a curiosidade? — Como alguém famoso por sua inteligência, ele pode ter feito uma conexão entre Amelia e o equipamento do Matador de Dragões encontrado no mercado negro.
“Isso foi um erro.”
Amelia percebeu seu deslize um momento tarde demais, mas respondeu da maneira mais calma possível. — Se ele não for mais útil, vou matá-lo.
— Ah? Vocês dois são inimigos?
— Não gosto dos olhos dele.
Um momento de silêncio seguiu a resposta da Amelia. Não demorou muito. O homem explodiu em risadas. — Ahahaha! Verdade! Os olhos de cobra dele são meio irritantes. Especialmente porque ele não conhece seu lugar. — O homem começou a andar novamente. — É melhor que você seja paciente. Parece que o corpo dele se recuperará em menos de um ano.
— E a Espada do Dragão? Ele não é inútil sem ela?
— Ah, isso. Teremos que procurá-la. O vovô alquimista disse que restaurar suas memórias não é impossível.
— …Entendi.
Uma maneira de restaurar memórias; ela queria perguntar o que exatamente era isso, mas se conteve. Ela normalmente não se interessava pelos outros. Esse cara inteligente certamente perceberia que algo estava errado se ela fizesse muitas perguntas.
“No entanto, devo investigar isso mais tarde.”
Depois de percorrer o corredor por cerca de três minutos, uma grande porta apareceu diante de seus olhos, a porta branca que levava ao grande salão. Ao entrar, ela viu o lorde do castelo sentado no trono. — Faz um tempo, meu senhor.
— Venha, Amelia Rainwales.
Após uma breve saudação, Amelia inspecionou as outras quatro figuras no salão. Três eram familiares, mas uma não era.
— Um aventureiro da Orcules. Mas como não temos muito tempo, as apresentações podem ficar para depois. Vamos passar para o motivo pelo qual estamos aqui.
Ela afastou sua curiosidade e aguardou as ordens do lorde.
— Como vocês já podem perceber, reuni todos porque a situação não está boa.
— Hehe, eu ouvi! Ouvi dizer que o louco está aqui embaixo? — perguntou uma mulher.
— Isso mesmo, senhorita Carmilla. O capitão está lidando com ele agora, mas não aguentará por muito tempo — continuou o lorde do castelo com um sorriso tenso. A cidade finalmente seria selada. Ninguém poderia entrar nem sair de Noark pelos próximos dois anos. — Assim que vocês saírem pela passagem secreta, o círculo mágico de selamento será ativado. Alguma pergunta?
— Não, meu senhor.
— Vejo você em dois anos, meu belo senhor!
— Carmilla, mostre um pouco de respeito.
— Cale a boca, fedorento.
Após essa breve troca, Amelia se moveu para a passagem secreta com seus quatro companheiros. Não demorou muito para que chegassem ao local onde a bandeira vermelha estava plantada. Eles trocaram comunicações com seu lorde por uma pedra de mensagem.
— Nós chegamos.
— Desejo-lhe boa sorte.
Um momento depois, uma imensa barreira de mana azul cercou toda a cidade.
— Uau, tão legal. Realmente não podemos mais passar.
“Não pensei que acabaria deixando a cidade desta forma.”
Amelia fez o melhor para afastar suas emoções confusas e lembrou-se do objetivo desta missão.
— Ouvi dizer que você é a comandante. O que fazemos agora? — perguntou Carmilla.
A missão era muito simples: reunir informações em Rafdonia. Esse era o objetivo principal.
“Finalmente. Cheguei aqui.”
Recordando a segunda missão que seu lorde havia lhes dado, seus lábios se curvaram.
“Se possível… matar um certo aventureiro.”
Rumores de todos os tipos circulavam na cidade, desde a teoria da conspiração de que o fracasso da conquista foi orquestrado pelo palácio até a teoria apocalíptica de que a cidade seria em breve dizimada pela guerra com Noark.
“Este mundo não é diferente da Terra, heh.”
Nos últimos dias, eu vinha andando por tavernas e ouvindo essas histórias ridículas repetidas vezes. Era uma operação chata, mas estressante, e também uma que eu não podia evitar. Não era como se eu fosse o Leão da Távola Redonda agora. O que um bárbaro no chão poderia fazer, exceto mover seu próprio corpo?
— Bjorrrn, você também vai beber hoje?
— Sim, vou me atrasar, então não me espere.
Faltava menos de uma semana para a reabertura do labirinto. E hoje também, assim que o sol começou a se pôr, me dirigi às ruas e tomei um copo sozinho. Só de fazer isso, informações chegaram aos meus ouvidos.
— Ouvi dizer que os pagamentos de indenização por morte serão atrasados até o próximo mês.
— Faz sentido… até o palácio não pode pagar por todas essas mortes.
— Haha, é o contrário. Eles têm dinheiro suficiente, mas está demorando para contar todos os corpos.
De certa forma, era semelhante aos meus primeiros dias aqui. Naquela época, eu não tinha dinheiro para ir a uma taverna, então tudo o que eu podia fazer era manter os ouvidos abertos durante as refeições.
“E mais uma vez, nenhuma informação especial.”
Depois que a conquista falhou, o palácio não fez nenhum anúncio oficial, deixando rumores intermináveis se propagarem de boca em boca. Porém, haviam alguns fatos consensuais.
Primeiro, Noark também sofreu perdas consideráveis e escapou por pouco da derrota ao selar a cidade. Isso foi confirmado, pois haviam muitas testemunhas. Não importa o quanto o palácio tentasse manter isso em silêncio, como poderiam quando o número de pessoas que participaram da batalha era tão alto?
Segundo, o palácio tinha um super aventureiro que vivia fora dos olhos do público. Isso eu ouvi diretamente de um sobrevivente bêbado, nomeadamente o Sr. Derves do encontro no quinto andar, que conseguiu retornar vivo. Aparentemente, esse aventureiro misterioso lutou em pé de igualdade contra o chefe da Orcules. Bem, não era estranho que o palácio tivesse um campeão assim.
Terceiro, três dos dez maiores clãs foram dissolvidos graças a esta conquista, ou melhor, foram completamente aniquilados. Nem 10% de seus membros sobreviveram, tornando a recuperação praticamente impossível. Isso não foi apenas o caso dos dez clãs. Os clãs menores ativos no quinto e sexto andares tiveram mais da metade de seus membros reduzidos a cinzas.
“Graças a isso, as limitações de caça serão reduzidas.”
Esse era o único aspecto positivo dessa situação, mas os custos associados eram altos demais para se comemorar.
“Se essa batalha se arrastar, eventualmente terei que enfrentá-la, dentro do labirinto.”
Era isso que eu vinha temendo desde os primeiros sinais de guerra. Para ser honesto, essa situação era ridícula.
“Um ‘evento’ de PK1 ilimitado…”
Eu nem tinha experimentado isso no jogo. Se o labirinto se transformasse em um campo de batalha, uma pessoa como eu, que precisava ganhar dinheiro e aumentar o nível do meu personagem dentro dele, não teria escolha a não ser se envolver.
“Se o suprimento de pedras de mana diminuir, a inflação certamente aumentará.”
Infelizmente, ninguém estava falando sobre isso nas tavernas baratas. Suponho que qualquer um que já esteja preocupado com a inflação deve ser um espírito maligno.
“Terei que tomar uma decisão em breve.”
Estava se aproximando o momento de escolher: devo parar de aventurar até a situação se acalmar ou devo entrar no labirinto como de costume? Para ser honesto, minha resposta já estava decidida.
“Entrar seria a escolha certa.”
Não havia como dizer quando essa confusão terminaria. Apenas dar uma pausa seria uma má decisão, pois, minha desventura2 com aquele filho da puta do Matador de Dragões ainda não tinha acabado. Eu tinha que ficar mais forte antes que o anel de vinhas se quebrasse. Essa era a única maneira de sobreviver.
“Se eu acabar convocado à força mais tarde, terei que participar da guerra de qualquer maneira.”
Mais importante, Noark sofreu perdas consideráveis nesta batalha. Simplificando, eles também precisariam de tempo para se recuperar. Mesmo que não fosse o caso, estávamos em uma posição melhor do que outros aventureiros. Ou seja, poderíamos pular o primeiro andar com um bug, o quarto andar era independente, então eu nem precisava me preocupar com isso, e desde que entrássemos no espelho do quinto andar, estaríamos a salvo de um TPK3.
“O problema é como vou convencer aqueles dois…”
Eu ainda não poderia ter certeza de que Raven, a maga, e o Sr. Urso, o veterano de dez anos, gostariam de entrar no labirinto.
“Não tenho outra escolha a não ser lidar com isso de frente.”
Assim que cheguei a uma decisão, esvaziei meu copo e sai da taverna. Um bárbaro tinha que agir como tal. Fui para a taverna do Sr. Urso.
A Sra. Urso me cumprimentou. — Desculpe, estamos fechados… oh, Sr. Yandel. O que o traz aqui? É meu marido?
— O Abman está aqui?
— Provavelmente está desmaiado de tanto beber. Espere aqui. Vou trazê-lo para você. — Não tinha certeza se era porque ela havia recebido alguma terapia financeira adequada, mas a Sra. Urso parecia várias vezes mais gentil do que antes.
Sentei e esperei na mesa não tão limpa até que o Sr. Urso foi arrastado, esfregando os olhos. — Yandel, o que você está fazendo aqui no meio da noite?
— Tenho algo urgente para conversar com você.
— Hmm, você tem? Espere, deixe-me acordar primeiro. Querida?
Quando o Sr. Urso a chamou, a Sra. Urso serviu-lhe hidromel. — Beba. — Com base naquela demonstração calorosa de hospitalidade, parecia que ele havia recuperado sua autoridade como chefe da família.
— Ugh, eu precisava disso. Então, qual é o seu assunto urgente?
— Vou direto ao ponto. Você vai participar da próxima expedição?
— Hmm, parece que você já decidiu?
— Vou entrar.
Quando assenti sem qualquer pretexto, o Sr. Urso riu. — É mesmo? Então também vou participar.
— Isso foi rápido. Você sabe de algo que eu não sei?
— Não, mas somos uma equipe. Se nosso líder tomou uma decisão, devo confiar nela. — Eu não esperava isso de jeito nenhum. Nunca imaginei que ele respeitaria a autoridade de um líder! Esse homem era mais tradicional sobre essas coisas do que eu pensava.
— Fim de conversa, então.
— Por que não toma uma bebida enquanto está aqui?
— Não, obrigado. Sua esposa também precisa descansar. Agora que você está acordado, pode ajudá-la a limpar.
A conversa terminou num instante e eu saí da taverna. Parecia que eu havia ganhado alguns pontos com ela graças a essa fala porque notei que os olhos da Sra. Urso ficaram muito mais suaves enquanto eu saía.
Passava das três da manhã, mas fui para a Torre Mágica sem hesitar. Para a Raven, isso era praticamente de dia. Na verdade, ela estava trancada em seu laboratório trabalhando em um experimento quando cheguei.
— Hum? Sr. Yandel? O que está fazendo aqui?
— Vim perguntar uma coisa.
— É mesmo? Espere eu terminar isso. Você pode sentar em qualquer lugar enquanto espera.
Pensei que ela me acusaria pela minha grosseria de vir vê-la a essa hora, mas surpreendentemente não o fez. Será que é porque agora somos companheiros de equipe? Pelo menos ela não estava me tratando como uma estranha como fazia um tempo atrás.
— Então, o que você quer perguntar? — Raven arrumou a área ao nosso redor e se sentou.
— O labirinto — eu disse abruptamente. — Você vai entrar?
— Oh, isso… Bem, precisávamos falar sobre isso. O que os outros disseram? — Ela perguntou isso como se fosse óbvio que eu viria perguntar a ela por último. Feriu um pouco meu orgulho, mas ela estava certa. — Todos, exceto você, concordaram em entrar.
— É mesmo? Então vou com vocês.
— Isso foi rápido. Você sabe de algo que eu não sei? — Repeti a mesma coisa que disse ao Sr. Urso e desta vez recebi uma resposta diferente.
— Sim.
— …O que é?
— Nada importante. Apenas que o palácio não enviou um aviso oficial para a Torre Mágica ainda.
— Um aviso oficial?
— Normalmente, quando algo perigoso está acontecendo, a Torre Mágica é notificada primeiro. Tipo, ‘não entre no labirinto este mês.’
Minha mente ficou em branco por um momento, mas esse tratamento VIP4 fazia sentido. Como os magos eram considerados recursos humanos de alta qualidade, o palácio estava garantindo diretamente sua segurança.
— Então, não se preocupe. Eles são os que lideraram a conquista, então se ainda não há anúncio oficial? Isso significa que o palácio avaliou a situação e decidiu que não é perigosa.
— …Entendo. Se você ouvir algo assim, me avise com antecedência.
— Se nosso líder ordenar — ela disse com um sorriso provocador.
Deixei a Torre Mágica, voltei para casa e acordei a Missha e a Ainar de seu sono.
— Nyaah, o que é? Eu estava dormindo.
— Ugh, cheiro de álcool! Você foi beber sem mim de novo!?
— Uh huh, apenas comam isso. — Entreguei coxas de frango e as informei o veredito. — Vamos entrar no labirinto.
A Ainar reagiu como se nem tivesse considerado não entrar uma opção. Já a Missha soltou um grande suspiro. — Eu já sabia disso, seu bárbaro ridículo.
Haha, seria bom se o resto da equipe fosse como elas.
— Então, é só isso?
— Sim, é só isso. Voltem a dormir.
— Nyah, só nos diga essas coisas de manhã! — Missha reclamou e voltou para seu quarto.
A Ainar também. — Boa noite, Bjorn!
Peguei minha chave também e a inseri no encaixe. No entanto, assim que estava prestes a destrancar a porta, ouvi passos subindo as escadas.
Click, clack.
Esse pouco de ruído branco não era particularmente estranho, considerando que esta era uma pousada, mas por algum motivo, o som chamou minha atenção dessa vez.
Click.
No final, virei subconscientemente para o vão da escada e fiz contato visual com a pessoa que estava subindo. Pensei que talvez estivesse enganado por causa da saia, mas claro que não.
“O que ela está fazendo aqui?”
Esta era a parede intransponível que eu havia enfrentado duas vezes antes, uma vez na Terra dos Mortos e outra nos esgotos, a aventureira do oitavo andar da cidade subterrânea, também conhecida como a vadia louca.
Gulp.
Assim que vi esse rosto que estava impresso em minha mente, engoli subconscientemente. Mas parecia que ela também poderia ter ficado igualmente surpresa.
— Quem diria que veria um rosto familiar aqui… Isso é meio problemático. — A mulher olhou para mim, franziu a testa, e recuou um pé para assumir uma posição de combate. Parecia que ela já havia decidido como iria lidar com isso. — Bem, vou ter que te espancar e apagar sua memória como da última vez.
“Puta que pariu.”
- Player Kill, é o termo usado em inglês ao matar um jogador.[↩]
- N.R. Desventura. Infortúnio; falta de sorte; em que há desgraça. Má sorte; ausência de felicidade; expressão de tristeza. Desgraça; situação angustiante, prejudicial.[↩]
- Total Party Kill, a morte de todos os membros do grupo.[↩]
- VIP é a abreviatura de Very Important Person em inglês, é um termo usado inclusive no Brasil para representar pessoas que devem receber um tratamento especial.[↩]
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