Capítulo 179: Doppelganger (4/5)

『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisor: SMCarvalho 』

As fendas eram masmorras especiais que existiam em cada andar, como a Citadela Sangrenta e a Caverna Glacial. Uma Fenda tinha duas características principais: a taxa de queda de essências aumentava exponencialmente e um monstro especial chamado guardião dava aos jogadores recompensas especiais que não podiam ser obtidas em áreas normais.

— Abman, onde está localizada a Fenda?

O Sr. Urso fechou os olhos para focar seus sentidos antes de abri-los novamente. — Ali. Não parece estar longe.

“Nesse caso…”

Eu sorri. As chances de conseguir entrar com sucesso acabaram de aumentar. Foi apenas graças às cinco Escadarias da Sabedoria que apareceram no primeiro dia que já conseguimos alcançar o andar vinte e sete. Faltavam quinze minutos para a meia-noite; o sétimo dia ainda não havia terminado. Era seguro dizer que tínhamos pouca competição, já que as Fendas no quarto andar só se formavam acima do vigésimo quinto andar da Torre. E o portal também estava próximo.

— Sr. Yandel, vamos procurar por ela, certo?

— Claro.

As Fendas eram a joia do labirinto, uma oportunidade que nenhum aventureiro deixaria passar. Despertados do nosso sono, unanimemente limpamos nosso acampamento e ficamos em frente à porta que levava na direção que Abman havia apontado.

Voom!

Depois de esperar alguns minutos, a gravação no portão de pedra começou a brilhar. Isso significava que o tempo de espera de quatro horas havia terminado e a porta agora estava pronta para ser aberta.

— Ugh, eu não gosto disso…

— Espero que não haja alucinações.

A Missha e o Sr. Urso, que tinham experiência anterior, gemeram enquanto caminhávamos pela porta. Por outro lado, Raven e Ainar pareciam não entender por que estavam tão angustiados.

— Eu prefiro lidar com alucinações. Ouvi dizer que não são muito eficazes contra pessoas com força de vontade forte.

— Hahaha! Então eu não terei problema!

Pensando bem, essa seria a primeira vez que essas duas lidariam com essa escadaria em particular. Eu também estava um pouco curioso. Uma maga armada com lógica e uma guerreira bárbara destemida, como essas duas reagiriam? Se eu visse como eles lidavam com as coisas, talvez pudesse dizer se eu era um caso único ou não.

Um corredor reto com cerca de cem metros de comprimento se estendia à nossa frente. Assim que pisei no local, meus companheiros desapareceram e um novo cenário apareceu: a ala pediátrica onde passei a maior parte da minha infância. O céu além da janela estava claro, e o rosto da criança deitada na cama também estava brilhante.

“É uma alucinação visual.”

Quando dei um passo em direção à criança, meu entorno mudou. Além da janela, o sol começava a se pôr. Em frente à cama, um jovem estudante universitário puxou uma cadeira. Esse era alguém em quem eu confiava mais do que nos meus pais.

“Ha, começando com isso de novo?”

Eu ri e dei outro passo à frente. Então, a conversa entre a criança e o estudante começou. Enquanto jogavam juntos, a criança perguntou se o estudante poderia ficar e jogar um pouco mais, mas o estudante recusou. Poderia ter acabado ali, mas a criança era jovem. Quando ele continuou insistindo, o rosto do estudante endureceu. Como uma explosão, ele se levantou de repente e desencadeou uma enxurrada de abusos, palavras que machucaram mais do que qualquer tratamento hospitalar naquela época.

Tuff.

Dei um passo à frente, deixando entrar por um ouvido e sair pelo outro. Eu era um adulto agora. As mesmas palavras não me machucavam mais. Eu não direcionava a culpa para mim mesmo, dizendo que ele devia ter tido um dia ruim. Era algo que podia acontecer a qualquer um. Podia ter sido culpa de alguém, mas também podia não ser. Era só isso.

Tuff.

Dentro do carro pouco antes do acidente; um apartamento que estava em chamas; sentado sozinho em um parque de diversões; meu primeiro apartamento após ser contratado no meu trabalho… Cada vez que eu dava um passo, meu entorno mudava e o elenco de personagens mudava de acordo.

Tuff.

Minha mãe, meu pai, meu tio e minha ex-namorada, em cada local, uma nova pessoa aparecia e dizia palavras que deixavam cicatrizes profundas em mim. Mas, e daí?

“Ainda é fácil.”

Eu não precisava de uma alucinação para ver essas coisas, eram cenas que eu podia imaginar vividamente na minha cabeça. Isso não era mais novidade. A dor vinha com a tolerância.

“O que é isso?”

No entanto, quando continuei andando, novos personagens apareceram que nunca tinham aparecido antes.

— Oh! Ah, você está aqui também, Bjorrrn?

— Haha, por que está tão atrasado?

A Missha e o Dwalkie estavam sorrindo para mim felizes, de braços dados. Mas, apesar da recepção calorosa, seus rostos se contorceram grotescamente quando dei outro passo.

— Se não fosse por você, todos poderiam ter sido felizes.

— Você está feliz por ter sobrevivido no meu lugar?

Esse era um enredo que eu via com frequência em desenhos animados e filmes. Puxa, não tinham nada original?

“Sim, não é minha culpa. Vão reclamar com Deus.”

Sem desviar o olhar deles, continuei caminhando em silêncio.

— Bjorn, grande guerreiro e filho de Yandel!

— Devolva o corpo do meu amigo!

Além da Ainar, que apareceu em seguida, as conexões que formei como Bjorn Yandel apareceram uma após a outra e disseram coisas estranhas para mim. Nenhuma dessas interações se baseava em memórias reais, mas também não pareciam desconhecidas. Eram todas coisas que eu já havia pensado comigo mesmo pelo menos uma vez.

“Yup, ainda não está funcionando.”

Continuei avançando sem parar. Não tapei meus ouvidos, nem fechei os olhos.

Logo, as alucinações acabaram. Eu estava na frente da porta, mas antes que percebesse, havia chegado ao fim do corredor e as escadas estavam à minha frente. O resto da equipe também estava lá.

— B-Bjorrrn…!

— Se você chorar de novo, eu vou realmente te deixar para trás.

— Hnng…

Desviei o olhar da Missha, que estava com os olhos marejados, e verifiquei o resto. O Sr. Urso tinha uma expressão calma no rosto. Ele tinha um olhar ofendido nos olhos, mas era só isso. Ainar estava surpreendentemente bem também.

— Você está bem? — perguntei a ela.

— Huh, oh… só parecia meio desagradável.

Bem, pensando bem, os bárbaros eram todos mentalmente fortes, já que eram uma raça ensinada a lutar contra seus problemas em vez de fugir deles. E quanto a uma maga?

Raven estava olhando para o espaço com uma expressão vazia no rosto. Mesmo à distância, eu podia ver que ela tremia como uma folha. O que ela viu? Eu estava curioso, mas não me preocupei em perguntar. De qualquer forma, eu não achava que ela responderia.

— Já acabou.

— Oh… sim. Certo… — Raven voltou a si quando me aproximei e a bati no ombro. O suor frio havia se formado em sua testa.

— Faremos uma pausa no andar de cima, então aguente um pouco mais.

— Ok…

Consolei meus companheiros e subi as escadas. Em seguida, fizemos uma pausa de dez minutos. Na verdade, eu evitava escolher a Escadaria da Paciência por esse motivo, mesmo no jogo. Reduzia drasticamente a resistência de uma equipe. No entanto, eu nunca suspeitei que esse fosse o motivo.

— Abman, para onde devemos ir a partir daqui?

— Por ali.

Depois da pausa, a expedição foi retomada. Decidi que a Fenda era nossa prioridade máxima no momento. Escolhemos a Escadaria da Sabedoria em seguida e limpamos o labirinto em cerca de duas horas. Então veio o próximo estágio depois disso.

— É o portal!

Uma Fenda estava aberta na câmara de pedra vazia. A cor do portal que tremulava violentamente era verde.

“Floresta dos Doppelgangers, hein?”

Citadela Sangrenta, Caverna Glacial e agora esta, a terceira Fenda que eu exploraria.

Havia dois tipos de Fendas no quarto andar, a Ruína Dourada, onde o dinheiro praticamente caía no seu colo, e a Floresta dos Doppelgangers.

“Então não é Ruína Dourada.”

Dissipando minha decepção, chamei nossa maga. — Raven.

— Leait.

Quando a esfera de luz flutuou no ar, pude ver o novo ambiente que nos cercava. Estávamos presos dentro de uma enorme gaiola de ferro. Nada além das barras podia ser visto devido à escuridão do labirinto.

— Bjorn! O que está acontecendo!?

“Um, devo explicar?”

Enquanto eu me perguntava isso, Raven abriu a boca. — Não se assuste. Vai abrir sozinha com o tempo.

— Huh? O que você quer dizer?! Explique!

— É porque o número de participantes ainda não foi atingido. Até três equipes podem entrar neste lugar.

Isso era o que diferenciava essa Fenda da que havia no primeiro andar. A Floresta dos Doppelgangers podia ser acessada por até quinze pessoas por meio de três portais diferentes. Se a anterior era uma colaboração entre indivíduos, esta era uma colaboração entre equipes.

— Este lugar está escrito naquele livro também?

— Sim. Temos sorte. Não sei muito sobre a Ruína Dourada.

“Hmm, já que ela leu O Livro Completo das Fendas, ela pode cuidar da característica oculta… Espere, devo deixar tudo, inclusive a estratégia, para ela?”

Tomei uma decisão rápida. — Isso é bom. Então você pode dar as ordens desta vez. Eu seguirei todas elas.

— Quer dizer que eu devo assumir o papel de líder?

— Não há um ditado sobre seguir a maga em lugares como este?

— Heehee, claro. Deixe comigo. — Com um pouco de lisonja, a Raven ergueu os ombros e declarou que assumiria todas as tarefas problemáticas. Essa aí era definitivamente fácil de lidar.

“Se surgir um problema, eu posso intervir.”

Seguindo o conselho do Rotmiller de esconder minha singularidade do meu novo grupo o máximo possível, senti a necessidade de ser cuidadoso. Correr livremente como eu fazia no passado estava destinado a fazer a Raven e o Sr. Urso perceberem que algo estava errado.

— Então, aqui estão as coisas com as quais vocês precisam ter cuidado. Primeiro, todos os monstros que encontrarmos aqui serão doppelgangers…

Depois disso, o briefing¹ da Raven continuou. Exceto pela Ainar, todos ouviram atentamente. Eu já sabia de tudo isso, mas ouvi com o pensamento de que poderia haver partes que eu não conhecia ou partes que precisavam ser corrigidas.

Depois de não sei quanto tempo disso, eu a interrompi. — Isso parece o suficiente.

— Perdão? Eu ainda não contei sobre as ervas que crescem aqui…

— Você pode nos contar enquanto avançamos. O descanso é prioritário.

Parei a infindável explicação da Raven e fizemos uma pausa. Após a Provação da Paciência, encontramos a Fenda tão rapidamente que não dormimos. Precisávamos conservar nossa energia para o evento principal.

Honnnk!

Ainar começou a roncar imediatamente. A Missha e o Sr. Urso também se sentaram contra as barras de ferro.

E a Raven… Por alguma razão, ela estava tagarelando ao meu lado. — É meio estranho. Obter o espelho na primeira expedição e depois alcançar uma Fenda na segunda… — Parecia que sua empolgação por entrar em uma Fenda ainda não havia desaparecido. — Eu me sinto muito sortuda. Eu consegui ir para a Citadela Sangrenta também.

“Ah, então é assim?”

— Sim, você está completamente certa.

— …Você está zombando de mim?

— De jeito nenhum.

— Tire esse sorriso do rosto antes de dizer isso.

Ela era rápida demais para o próprio bem. — De qualquer forma, vou descansar, então você deve fazer o mesmo. — Terminei a conversa ali e fechei os olhos.

O tempo passou antes que eu percebesse e chegou a manhã do oitavo dia. Eram pouco depois das 7:00h; em outras palavras, cerca de cinco horas desde que entramos na Fenda.

Clunk!

As barras de ferro seladas deslizaram para cima. Isso significava que estávamos com capacidade total.

— Ok, então, vamos lá. — Quando saí da gaiola, a missão começou oficialmente.

— Leait. — Raven aumentou o número de esferas de luz para três para garantir que pudéssemos ver. Então, a forma da caverna além da escuridão ficou visível.

Ainar inclinou a cabeça. — Huh? Você não disse floresta?

— Eu pensei que tinha explicado isso antes.

— Oh, desculpa. Eu não prestei atenção em nada.

Foi uma resposta tão honestamente direta que a Raven não conseguiu nem ficar com raiva. — …A floresta aparece logo depois desta caverna. Afinal, todas as equipes que entraram se juntam em um só lugar.

— Entendi!

A Raven apenas apertou os punhos e vibrava de irritação. Senti empatia por algum motivo, mas naquele momento eu estava no Modo Bárbaro Normal, onde tudo que eu tinha que fazer era seguir ordens. Sim, às vezes dias assim também eram necessários.

— Sr. Yandel, que tipo de vida você vem levando?²

— …Vamos lá.

— Ah, sim. Vamos lá. Não temos tempo.

Seguindo as instruções da Raven, seguimos pelo caminho em um ritmo ligeiramente mais rápido. O motivo de nossa pressa era simples. O primeiro estágio da Floresta dos Doppelgangers era a Caverna das Sombras. O layout era tal que cada equipe começava de um local diferente e se encontrava com as outras no centro.

— Precisamos chegar ao centro o mais rápido possível. Assim podemos pegar as recompensas das outras rotas também. Se estivermos atrasados, será o contrário.

Embora fôssemos lutar juntos contra o chefe final, devido à estrutura da Fenda, até lá, isso não era diferente de uma competição. Quem pegaria mais? Isso dependia de nós.

Enquanto corríamos pelo corredor reto, o Sr. Urso de repente percebeu uma presença e nos parou. — Tem algo à frente!

Depois de uma breve pausa, uma pessoa emergiu da escuridão.

Tuff.

Ele tinha cabelo castanho desgrenhado, uma barba espessa, uma couraça feita de lithinum que cobria um corpo musculoso de mais de dois metros de altura, e até um escudo gigante e uma maça.

— É o Bjorn! — A Ainar olhou entre nós dois com óbvia confusão.

Raven percebeu e gritou: — Eu já disse que é um doppelganger!

— D-Doppelganger?!

— Ugh, sinceramente! Não importa mais. Prepare-se para a batalha!

Acho que essa foi a primeira vez que ela gritou assim. Será que havia alguém no mundo que poderia derrotar um bárbaro usando apenas palavras? Eu estava rindo sozinho com esse pensamento quando o doppelganger ousou invocar o nome do nosso deus ancestral.

— Behelahhh!

Ao mesmo tempo, seu corpo inflou como um balão. Teríamos que ser cuidadosos.

Eu era bastante forte.

1. Um briefing é um documento ou uma reunião onde são fornecidas instruções e informações detalhadas sobre um projeto ou tarefa a ser realizada.[↩]
2. N.T. Essa frase é meio confusa, mas decidi mantê-la como a original; No caso, é a Raven perguntando pro Bjorn como ele é capaz de conviver com a Ainar sem enlouquecer.[↩]