Capítulo 292: Peixe Grande (4/4)
『 Tradutor: MrRody Revisor: SMCarvalho 』
Ravigion abrigava mais da metade da população do reino. As pessoas da classe alta agrupavam todas essas pessoas e as chamavam de plebeus, mas a disparidade de riqueza também existia em Ravigion. Aventureiros e autônomos que administravam negócios prósperos encontravam casas no centro do distrito e nas ruas principais perto da praça. Esses lugares eram geralmente seguros, bons lugares para se viver.
“Então é aqui que ela morava quando era jovem.”
As coisas eram diferentes no grande bairro a um quarteirão da estrada principal, que só se podia alcançar através de um beco escuro. A segurança era ruim longe dos olhos dos guardas. Os edifícios eram velhos e degradados. Cada um era dividido em dezenas de quartos, e cada quarto era alugado. Os banheiros eram compartilhados, assim como as cozinhas. Até a pousada bárbara que custava quinhentas pedras por noite ficava na periferia do centro da cidade, não em um lugar como este.
Quando entrei no beco após a Raven, os olhos cautelosos dos moradores se fixaram em mim. Foi uma experiência semelhante ao meu tempo em Bifron. Todos estavam em guarda ao meu redor, mas ninguém se aproximou primeiro para brigar. Em vez disso, todos desviaram o olhar.
“Caramba, nunca viram um bárbaro antes?”
Embora isso mais uma vez me lembrasse de todas as vantagens de ser um bárbaro, eu também estava percebendo em que bairro terrível Raven estava morando. Esta não era uma rua movimentada com muitas pessoas. Seria óbvio para qualquer um que estivesse observando que eu a estava seguindo.
“Mas nenhum desses desgraçados veio me parar, hein? Então, isso não é da sua conta, né? Bem, tanto faz. Eu não pretendo deixar Raven ficar aqui por muito tempo, de qualquer maneira.”
Creak. Thud.
Pouco tempo depois, Raven entrou em um prédio e fechou a porta. A princípio, eu nem percebi que aquilo era uma casa. Era realmente apenas uma parede com uma porta pendurada.
“Então devo esperar aqui um pouco?”
Depois de chegar na casa dela, passei o tempo encostado na parede. Cerca de vinte minutos depois, a mãe biológica da Raven voltou do trabalho. Não foi difícil reconhecê-la. Seu cabelo estava longe de ser loiro brilhante como o da filha e ela era muito mais alta, mas seu rosto, pelo menos, era exatamente igual ao de Raven.
— Você é a mãe de Arua Raven?
— Eu sou… Q-Quem é você…? — A diferença de idade entre nós dois não era grande o suficiente para que eu pudesse dizer algo como ‘ela teria sido uma beleza em seu auge’. Ela parecia ter, no máximo, seus vinte e tantos anos. Isso significava que ela teve um filho no início dos vinte anos?
Enquanto eu a encarava, sentindo-me estranho com isso, a mãe da Raven ficou ansiosa. — Minha filha causou outro incidente…?
— Aqui não é um lugar adequado. Vamos conversar em outro lugar.
— …Tudo bem.
Fui para a rua principal com a mãe dela e entrei em uma casa de chá que também servia como uma cafeteria nos dias de hoje.
— Não se preocupe. Eu pago.
— Certo…
Eu me sentia incrivelmente estranho falando com ela. Seu rosto era o mesmo da Raven, mas seu modo de falar e outras coisas eram completamente diferentes.
— Peça qualquer coisa que queira comer. Se não, eu mesmo pedirei.
Pela experiência, não foi difícil pedir do menu aqui sem muita ajuda. Nossa comida chegou rapidamente, o que era adequado para uma casa de chá. Claro, nem eu nem a mulher tocamos em nada.
“Droga, por onde eu começo?”
— Primeiro, vamos esclarecer um mal-entendido. Não estou aqui para reclamar de algo que a Raven fez.
— Desculpe? Então…
— Sou amigo da Raven.
— Amigo…?
— Bárbaros não se importam com idade.
— E-Eu entendo… — A mãe assentiu, embora ainda parecesse confusa. Achei que tinha uma ideia geral de como era a personalidade dela. Ela era exatamente o oposto de Raven.
— A vi pela primeira vez em um tempo hoje. Ela tinha um hematoma no rosto.
— Ah… — Finalmente percebendo por que eu vim vê-la, o rosto da mulher ficou pálido. Mas então ela parou para pensar novamente e aparentemente chegou à conclusão de que era injusto da minha parte julgá-la. — Isso… não cabe a você questionar.
Apesar de estar com medo de falar o tempo todo, ela escolheu bater o pé no chão dessa vez. Por todos os meios, minha observação foi bastante tola. Este era um mundo ridículo onde você era condenado à morte se não pudesse pagar seus impostos. Um pai bater em seu filho desobediente não era um problema aqui. Não, pelo contrário, seria ainda mais estranho criticá-los por fazer isso.
— Questionar? Não use palavras complicadas. — No entanto, eu era um membro orgulhoso da tribo bárbara que não sabia nada sobre essas coisas. — Tudo o que me importa é conseguir vingança sangrenta pela minha amiga.
Quando eu disse isso calmamente, sem nenhuma emoção, a mulher congelou. Isso era justo, quando ela teria motivos para ouvir algo como ‘vingança sangrenta’ em uma conversa normal? Pelo que ouvi, ela apenas trabalhava em uma cozinha.
— …Então, o que você quer de mim? Que eu pare de bater nela no futuro? Isso é suficiente para você?
— Não, deixe-a ir.
— O que você quer dizer com isso?
— Você já deve saber. Raven tem o potencial de se tornar uma maga poderosa.
— …Até porque, ela tem o sangue dele. — A mulher pressionou os lábios. Havia um brilho claro de ódio em seus olhos. Ela parecia estar pensando no marido que abandonou a família após ter um caso… mas isso não era da minha conta.
— Envie Raven para a Torre Mágica.
— Eu não posso pagar isso.
— Eu pagarei todas as despesas necessárias.
— …Por que você faria isso?
— Porque eu quero.
A mulher ficou em silêncio por um longo tempo com a minha resposta. Então ela disse algo estranho em voz baixa. — Aquela criança vai me abandonar.
“Hã?”
— Ela se tornará uma grande pessoa um dia e olhará para mim de cima. Então, no final, ela me deixará para aquele mundo dela. Assim como ele fez naquele dia, já que ela tem o sangue dele…
“Ah…”
— Isso não é injusto? Por que a vida daquela criança é tão fácil? Eu a dei à luz, mas ninguém em toda a minha vida jamais me ajudou por isso. Mas… por que aquela criança…? — Depois disso, todo tipo de mágoas saíram dos lábios da mulher em uma confusão desorganizada. — Pensando bem, eu não tinha nenhum talento. Eu também era lenta para ler. Mas aquela menina está aprendendo e usando magia na idade dela.
Seu marido e filha eram os tópicos de conversa, mas, em última análise, o fio condutor era arrependimento e insatisfação com a vida que ela havia vivido. Eu a ouvi em silêncio. Seu trauma foi causado pelo caso do marido; seu ódio era muito complicado para ser resolvido com platitudes breves e ia além do apodrecido.
Depois de sei lá quanto tempo, perguntei — Terminou?
— Tudo bem — ela respondeu. — Vou mandá-la para a Torre Mágica. A única coisa que ela herda de mim é o rosto, de qualquer maneira. Será mais fácil para mim se ela desaparecer completamente de vista. Claro. Eu também… quero estar confortável agora.
— Então está resolvido. — Assim que a conversa terminou, levantei-me da cadeira e paguei a conta. Então, antes de sair da loja, tentei entregar algum dinheiro à mulher, mas ela recusou.
— Eu não preciso. Alguém da Torre Mágica veio há alguns dias. Disseram que a apoiariam totalmente e que eu deveria pelo menos mandá-la lá para fazer o teste. Acho que usar magia por toda parte em uma idade tão jovem chamou a atenção deles.
— …Entendo.
— Não é estranho? Tudo o que realizei na vida está em um único quarto nesta espelunca.
Com isso, a mãe da Raven cambaleou em direção à sua casa no beco como uma pessoa sem energia no corpo, e eu a observei ir. Não foi porque senti simpatia. Mas, apesar disso, as últimas palavras da mulher continuaram a ressoar na minha cabeça.
“Qual foi o propósito da minha vida, então?”
O tempo passou rapidamente depois disso. A mãe da Raven a levou para a Torre Mágica, conforme prometido, e o potencial de Raven foi notado ao longo de vários dias. Para referência, pude ouvir sobre o processo em detalhes através da Raven, que vinha à biblioteca a cada dois dias.
— Você conseguiu entrar na Escola de Altemion?
— Sim, gosto do velho de lá. Ele não me menospreza por ser uma criança.
Foi exatamente como o velho Auril Gavis disse, então? Pensei que o futuro dela mudaria se fosse enviada para a Torre Mágica em uma idade jovem.
Pensando bem, nem sei quando ela entrou na Torre da Mágica…
Eu tinha certeza de que havia sido acima dos dez anos. Isso porque, quando a encontrei pela primeira vez, Raven disse que pretendia se tornar uma maga administrativa. Presumi que ela devia ter mudado de ideia em algum momento no futuro.
— Mas o que há com sua expressão?
— Nada. De qualquer forma, é bom que você tenha entrado na Torre Mágica.
— …Estou um pouco preocupada. Não sei se vou conseguir fazer um bom trabalho.
— Você será uma grande maga. Eu garanto.
— Hehe, sério?
De qualquer forma, minha conversa com Raven não se limitava à Torre Mágica, mas também à família dela. Aparentemente, a mãe dela de repente ficou legal. Parecia que sua mãe não havia contado sobre o encontro comigo.
Depois de conversar por um bom tempo, chegou a hora de Raven ir para casa. — Então, estou indo. Ah, e não posso vir aqui mais. Tenho que morar na Torre Mágica a partir de agora.
— Provavelmente não poderei vir aqui depois de amanhã, de qualquer maneira.
— Por quê?
— Algo aconteceu. — Amanhã, tenho que ir para Noark com Amelia. Provavelmente não voltarei aqui até atingirmos nosso objetivo.
— …Entendi.
Antes de me despedir de Raven pela última vez, ofereci um conselho. — Quando você chegar à Torre, tenha cuidado… Não seja tão rude quanto é agora.
— Hã?
— Isso vale para todos com quem você fala. Não há necessidade de ir por aí fazendo inimigos.
— …Não tenho medo de nada disso.
— Mesmo que você não tenha, faça o que digo. Não só você fará inimigos, mas também afastará pessoas que estão tentando ser suas amigas. Com essa atitude, você acabará sozinha.
— Eu… também te ofendi? — Raven perguntou cuidadosamente e, após uma pausa, admiti que tinha ficado um pouco ofendido. Parecia que isso a fez perceber algo. — Tudo bem. Eu não farei mais isso.
— O quê?
— …Eletrocutar as pessoas.
“Sim, agora você parece uma criança emburrada.”
— Mas você não precisa ir agora?
— Sim…
Depois disso, encerramos nossa última conversa, saímos da biblioteca e nos separamos sem fazer planos para o próximo encontro.
— Então, até mais! — Foi uma promessa que não definiu nem um horário nem um lugar para ser cumprida. Ei, onde foi parar aquele jeito educado e formal de falar?
Sorri e respondi — Sim, até mais.
“Embora você nem se lembre de mim então.”
Depois de me despedir de Raven, fui sem hesitação em uma certa direção. Eu meio que aceitei isso agora.
“Sim, Dwalkie… não pode ser salvo.”
Fui ao orfanato administrado pela Igreja de Reatlas. Chegando em frente a ele, fiquei paralisado por um longo tempo, incapaz de abrir a porta. A razão era simples. Embora eu estivesse inundado pelo desejo de entrar e falar com Dwalkie uma última vez, também me perguntava qual seria a razão de fazer isso.
Depois de sabe-se lá quanto tempo, alguém me chamou de perto. — Senhor Enze…?
— Emirn? — Era a mulher que conheci enquanto trabalhava como voluntário outro dia. No jantar, ela e eu tivemos uma conversa estranha pedindo-me coragem. — O que a traz aqui?
— Para ser honesta com você… meu filho está aqui.
“…O quê?”
— Felizmente, as coisas deram certo e posso levá-lo para casa. Muito obrigada. Se não fosse por você, Senhor Enze, eu teria hesitado para sempre.
Eu endureci ao perceber instintivamente o que isso significava, mas precisei confirmar.
— O nome do seu filho é Riol? — Riol Warb Dwalkie e Warb Emirn.
— Oh, sim, ele mesmo — Emirn disse com óbvia surpresa. Então, Dwalkie havia herdado seu nome do meio de sua mãe. — Mas, como você sabia?
— Só… porque você se parece um pouco com ele.
— Haha, é mesmo? É verdade, percebi que você frequentemente conversava com ele. — Emirn sorriu feliz com minhas palavras. Mas será que ela queria levar Dwalkie para casa o mais rápido possível, mais do que queria conversar comigo? — Então, vou indo agora.
— Ah, certo…
Emirn se despediu apressadamente e entrou no orfanato. Fiquei lá na entrada como uma estátua, incapaz de me mover por vários minutos. Todos os tipos de pensamentos passaram pela minha mente.
Hush.
Escalei a cerca do orfanato e entrei. Dwalkie estava sentado onde sempre ficava, lendo um livro. — Oh! Olá. — Dwalkie me cumprimentou.
— Sim… Faz um tempo.
— O que o traz aqui?
— Eu… só vim.
Dwalkie inclinou a cabeça como se achasse que eu estava agindo de forma estranha, mas não parecia desconfiado, talvez por causa de todo o tempo que passamos juntos.
Swip.
Virei a cabeça e olhei para dentro do prédio pela janela. Pude ver Emirn entregando uma pilha de documentos à equipe na recepção. Foi então que percebi que Dwalkie agora viveria com sua mãe biológica e ouviria sobre o oceano. Ele se tornaria um mago administrativo, mas não conseguiria desistir de seu sonho e um dia entraria no labirinto.
— Pessoal, obrigado por serem meus companheiros de equipe.
Ele morreria.
“É… tudo por minha causa?”
Senti um profundo senso de responsabilidade. Ao mesmo tempo, também me senti como uma partícula de poeira na vastidão do universo. Um sentimento de impotência me preencheu, seguido de perto por um desejo de desafiar o destino. Talvez não fosse tarde demais. Se eu agisse agora, poderia ser capaz de impedir que esse futuro acontecesse. Sim, se eu sequestrasse essa criança agora, algo teria que mudar.
“Maldição.”
Mesmo quando esse pensamento veio à minha mente, meu corpo não se movia. As mesmas cenas continuavam passando pela minha mente: o rosto de Emirn enquanto vinha me pedir coragem; e a voz de Dwalkie ao recordar sua mãe biológica durante nossos dias de Time Meio-Lesado. Eu continuava vendo e ouvindo ambos.
“O que… devo fazer? O futuro realmente mudaria se eu o levasse? E se minhas ações não tivessem efeito e eu apenas reduzisse o tempo que ele teria para viver em paz com sua mãe?”
Grrp.
Uma pequena mão acariciou meu punho cerrado. Era a de Dwalkie. — É grande… Oh, desculpe. Por tocar em você de repente.
— …Você não precisa se desculpar.
— Minhas mãos serão tão grandes um dia? Grandes o suficiente para proteger as pessoas que eu amo?
A essa pergunta, respondi, com a voz rouca — Não se preocupe. Você se tornará um grande homem.
“Embora seu corpo possa ser magro e baixo, você será maior do que eu. Na verdade, maior do que qualquer pessoa que eu já conheci.”
Pulei os muros do orfanato como se estivesse fugindo de algo. Então me escondi em um beco e observei.
Creak.
Depois de algum tempo, pude ver Dwalkie e Emirn saindo pela porta do orfanato.
— Como assim, você é minha mãe?
— Isso… é uma longa história, Dwalkie. Vamos. Eu vou te contar tudo quan…
Os dois saíram, de mãos dadas, muito desajeitados para serem considerados mãe e filho.
— Adeus, Dwalkie.
Eu apenas observei.
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