Índice de Capítulo


    Tradutor: MrRody Revisor: SMCarvalho 』


    Tick, tack, tick…

    O ponteiro dos segundos do relógio fez um círculo completo, marcando o início do próximo minuto, mas ainda não fui chamado para o mundo espiritual. Depois de verificar a data e a hora novamente, esperei até de manhã, caso meu relógio estivesse quebrado, mas nada mudou. Como isso aconteceu? Discuti as possibilidades com Amelia a noite toda e reduzimos a lista para três explicações.

    Primeiro, que este incidente foi um erro singular, aleatório, completamente acidental e não resultado da ação de alguém. Havia uma probabilidade não nula disso. Seja um dispositivo eletrônico ou mágico, ele foi criado por uma pessoa. Embora raro, às vezes até anéis de subespaço falham e os itens dentro não podem ser retirados. No entanto, a possibilidade disso era mínima.

    A próxima fazia mais sentido: Auril Gavis me baniu do mundo espiritual. Esta era uma hipótese mais provável do que a primeira. Se você apenas olhasse para como o velho me tratava, qualquer um diria que ele não tinha motivo para me banir, mas, novamente, nunca se pode ler a mente de alguém. Não podia descartar a possibilidade de que isso fosse algum tipo de truque da parte dele.

    Finalmente, algo além do controle dele poderia ter acontecido a Auril Gavis. Esta também era uma teoria muito plausível. Na verdade, decidi que esta era a mais provável das três. Embora eu não pudesse nem imaginar o que teria que acontecer para que aquele velho desumano tivesse problemas, afinal, este era um mundo cheio de monstros. Mesmo ele poderia ter pessoas que considerasse uma ameaça, o principal exemplo disso sendo o palácio.

    “Seja como for, vamos dormir.”

    Como eu não tinha como descobrir a resposta, era inútil passar mais tempo me preocupando com isso. E assim decidi esperar até o dia quinze do próximo mês para lidar com isso e, à medida que os dias passavam, entrei no labirinto mais uma vez.

    — Hahaha! Deu certo de novo! Se continuarmos assim, logo estaremos todos ricos!

    Nada digno de nota aconteceu no labirinto. Tudo o que fiz foi passar o tempo saqueando saqueadores até o labirinto fechar como da última vez.

    Quando a meia-noite do dia quinze chegou novamente, as coisas aconteceram da mesma forma que da última vez.

    — Você não foi desta vez, também?

    — …É.

    Minha mente permaneceu no meu corpo novamente, embora fosse a hora.

    “Ah, isso é tão frustrante…”

    O que diabos estava acontecendo? Enquanto as paredes continuavam a se fechar cada vez mais sobre nós, o tempo continuava sua marcha implacável para frente.


    “Uau, o tempo voa.”

    Limpei o sorriso amargo do meu rosto e dobrei o calendário na minha mão antes de colocá-lo no bolso. Já fazia seis meses desde o dia em que voltei ao passado.

    Swip.

    Quando me levantei e peguei meu casaco, Amelia perguntou sem nem olhar na minha direção:

    — Você também vai hoje?

    — Não há nada para fazer aqui, de qualquer maneira. E você?

    — Eu vou ficar aqui.

    Depois dessa conversa seca com Amelia, deixei a pousada. Hoje em dia a maioria de nossas conversas era assim, curtas, superficiais e sempre em uma borda invisível.

    “Ugh, tão malditamente desconfortável.”

    Era suportável no início, mas agora que faltavam apenas alguns dias para o Dia D, havia piorado muito. Isso porque ainda não encontramos uma boa solução. A comunidade não abriu uma única vez desde que fechou todos aqueles meses atrás.

    “…Ele realmente me baniu?”

    Eu já estava começando a pensar que era o caso, o que me fez querer verificar. O chefe da Orcules estava nesta cidade subterrânea. Se eu perguntasse diretamente a ele, poderia descobrir se fui o único expulso ou se o servidor da comunidade estava inativo.

    “O que estou pensando? Não é como se isso fosse mudar alguma coisa.”

    Suspirei e caminhei pelas ruas da cidade subterrânea. Eu tinha me familiarizado bastante com este lugar. Além do distrito leste, que era o lar da Orcules, eu praticamente memorizei as ruas principais.

    — Oh, Capitão! Você está aqui! — Quando cheguei à base do clã localizada dentro das muralhas do castelo, Dumbo me cumprimentou. Tendo entrado no labirinto comigo por alguns meses, ele não tinha mais tanto medo de mim como antes. Na verdade, ele estava agindo de forma semelhante a um capanga. — Venha, venha, sente-se aqui! Você gostaria de algo para beber?

    — Algo leve.

    — Haha, só espere um momento! Vou buscar imediatamente!

    Enquanto me sentava na cadeira vazia, agindo todo arrogante, Dumbo rapidamente me trouxe uma bebida e se sentou ao meu lado. Como uma jukebox, ele começou uma conversa unilateral. A maior parte do papo era sobre rumores e eventos recentes na cidade, e a maneira como ele falava era suficientemente divertida para não ser entediante.

    — Ah, certo, Capitão. Você ouviu aquela notícia sobre corações de bárbaros?

    De repente, surgiu um tópico que eu não podia ignorar.

    — Corações? O que há com eles? Conte-me.

    — Ah, acho que você não ouviu? Bem, dizem que já se espalhou no mundo superior que corações de bárbaros estão sendo vendidos a um preço alto porque podem ser usados como ingredientes mágicos.

    — …O quê?

    O anúncio da Torre de Magia sobre corações de bárbaros sendo um ingrediente mágico precioso deveria ser feito em cerca de dez anos, muito depois da guerra entre elfos e bárbaros. Mas essa história já estava circulando?

    “O futuro mudou por minha causa? Não, isso não é possível…”

    Pressionei Dumbo pelos detalhes porque simplesmente não podia acreditar, e ele rapidamente esclareceu.

    — Ah, não foi a Torre de Magia que anunciou isso. Na verdade, foi apenas um boato falso.

    — Boato falso?

    — Aparentemente, nosso comandante fez um pedido há alguns meses atrás para a empresa mercantil Melter espalhar esse boato no mundo superior.

    “O quê? Mas que diabos…”

    Sem precisar de mais explicações, tudo fez sentido para mim. Isso era natural. Havia apenas um motivo pelo qual o líder do clã Felic Barker faria esse pedido à única empresa mercantil de Noark e conexão com o mundo superior.

    — Acho que o comandante pensou que espalhar esses boatos tornaria os saqueadores mais suscetíveis às nossas táticas. Ah, mas não acho que ele esperava que os boatos se espalhassem tanto.

    Dumbo parecia pensar que eu não entendia porque acrescentou detalhes que eu nem pedi. Além de rumores se espalhando no mundo superior, aparentemente, o boato já até circulando em Noark.

    Quando ouvi isso, um palavrão saiu dos meus lábios.

    — Merda.

    — …Ham?

    — Cala a boca.

    Dumbo se calou com uma única palavra minha e organizei meus pensamentos, que estavam todos confusos. Provavelmente seria revelado como um boato em breve.

    “Mas talvez isso fosse o começo de tudo…”

    Esse pensamento não me deixava. Talvez fosse por causa desses boatos que Felic Barker espalhou que alguns magos começaram a fazer pesquisas sobre o assunto, o que então levou a colocar um preço nos corações de bárbaros dez anos no futuro.

    “Então isso significa que eu poderia ser a causa de toda aquela insanidade…?”

    Ainda era apenas um pensamento, mas o problema era que não parecia um salto lógico de jeito nenhum.

    — Dumbo, estou saindo.

    — Ham? Tá bom!

    Eu não estava com vontade de socializar na casa do clã, mas quando saí, descobri que não havia para onde ir. Eu estava andando pelo interior do castelo quando um velho que estava passando parou de repente e começou a falar comigo.

    — Você deve ser Máscara de Ferro.

    Era difícil ignorar. Como este mundo era particularmente cruel com os idosos, uma pessoa precisava ter algum nível de habilidade para sobreviver até aquela idade.

    — E quem é você? — perguntei cautelosamente.

    O velho riu e tirou uma pedra de mana do bolso. — Este é o tipo de pessoa que sou. — Assim que ele abriu a boca, a pedra de mana brilhou e se transformou em um pão. Ele era um alquimista, um mago do tipo transmutação que tinha a capacidade de transformar pedras de mana em pão ou ferro.

    “Nunca pensei que encontraria alguém assim no corredor.”

    De certa forma, um alquimista era um peixe maior do que o lorde do castelo ou o chefe da Orcules. Pelo menos, esse era o caso em Noark. Até onde eu sabia, havia apenas dois alquimistas aqui. A cidade não cairia imediatamente em ruína se a posição de lorde do castelo não fosse preenchida por um tempo, mas se a posição de alquimista ficasse vaga, a cidade entraria em ruínas. Isso não era um exagero, mas a realidade.

    — Haha, pelo seu espanto, acho que é a primeira vez que vê alquimia?

    Primeira vez vendo alquimia ou não, eu não conseguia entender. Quem imaginaria que eu encontraria alguém que poderia ser considerado o próprio alicerce desta cidade em um corredor?

    “Espere, mesmo que este seja o castelo, o alquimista não seria tolo o suficiente para andar sozinho…”

    Quando olhei cuidadosamente ao redor, incrédulo, senti olhares sobre mim de todos os lados. Como eram difíceis de ver a olho nu, parecia que todos tinham uma essência de ocultamento.

    — Você é mais perceptivo do que pensei. Não se preocupe muito. Eles são apenas os guardas deste velho homem.

    Perspicácia à parte, eles estavam me deixando perceber sua presença como se não tivessem intenção de escondê-la desde o início, quase como uma espécie de aviso para eu não pensar em fazer algo tolo.

    — Ah, de qualquer forma, ainda não lhe disse meu nome. Meu nome é Marfa Ipaello. Você pode me chamar como preferir, mas se eu tivesse que escolher, preferiria que me chamasse pelo sobrenome.

    — …Máscara de Ferro.

    — Estou ciente. É por causa do destino que nos encontramos assim. Por que não conversamos um pouco?

    — Tudo bem. — Aceitei sua oferta sem muita hesitação. Ele poderia ser outro alquimista famoso por seu temperamento ruim, mas eu conhecia o nome desse velho através da Amelia.

    “Este é o homem que criou a Bênção de Lethe.”

    Isso por si só já fazia valer a pena conversar com ele.

    — Hmm, você é tão robusto quanto dizem. Venha, vamos.

    “Como dizem, hein? Então este encontro não foi uma coincidência. Ele veio me ver.”

    Ipaello começou a caminhar pelo corredor primeiro, e eu o segui. Embora estivéssemos subindo para o terceiro andar, onde o acesso era restrito, ninguém me parou porque esse homem estava ao meu lado. Foi assim que chegamos ao laboratório do alquimista.

    — Estaremos bem a partir daqui, então todos podem sair.

    “É meio parecido com um laboratório de mago, mas também é meio diferente.”

    Comecei a escanear meu entorno assim que entrei, e o velho expulsou os guardas que estavam escondidos antes de me oferecer uma cadeira.

    — Sente-se. Se quiser algo para beber, me avise.

    — Estou bem. — Normalmente, este era o momento em que eu insistiria teimosamente em carne e afirmaria meu domínio na conversa, mas pulei isso desta vez. Se eu fosse pego sendo rude, certamente levaria uma bronca da Amelia. Este velho era o salvador que acolheu a Amelia quando ela era jovem. Mesmo sem levar em conta sua posição, eu não poderia tratá-lo mal. Bem, eu ainda não podia usar honoríficos, também, já que tinha que manter a pose de bárbaro. — Então, por que me chamou aqui?

    — Só queria saber que tipo de pessoa você era. Esta é a primeira vez que ouvi aquelas crianças se divertirem tanto enquanto falavam sobre o labirinto.

    — Aquelas crianças? — perguntei, fingindo ignorância.

    — Estou falando da Laura e da Amelia. Doces crianças. Às vezes, quando me sinto solitário, chamo-as para o meu laboratório, dou-lhes lanches e peço para conversarem comigo por um tempo.

    — …Entendi.

    — Fiquei bastante preocupado, mas agora que te conheci, minhas preocupações desapareceram. Elas são crianças infelizes. Espero que cuide bem delas.

    — Cuidarei — disse com um aceno de cabeça. Então, após um momento de reflexão, perguntei cuidadosamente: — Mas se vai pedir um favor como esse, não seria melhor se simplesmente as acolhesse?

    — Haha, isso não é fácil para mim no momento. — Ele falou vagamente e omitiu os detalhes, mas eu sabia sua situação até certo ponto.

    “No início, ele só podia fornecer lanches para elas, mas depois da morte do outro alquimista, ele tirou Amelia da equipe completamente e a criou sozinho.”

    Tentativas anteriores de tirá-las provavelmente falharam porque atualmente haviam dois alquimistas na cidade. Enquanto houvesse alguém lá fora que pudesse substituí-lo, ele não podia gozar de poder absoluto.

    — Como estão aquelas garotas hoje em dia?

    — Estão bem. Estou tentando evitar que façam trabalhos perigosos tanto quanto possível.

    — …Eu entendo.

    Depois disso, o tópico natural da conversa foram as irmãs Rainwales. O alquimista Ipaello perguntou como as crianças estavam e eu respondi honestamente. Então, esperando o momento certo, comecei a falar.

    — Mas nossa conversa pode ser ouvida lá fora?

    — Se está falando dos guardas, pode falar sem hesitação. Eles não ouvirão. Há algo que você quer perguntar?

    — Existe uma maneira de remover os efeitos de uma essência através da alquimia?

    — Efeitos? Se está falando de um veneno, isso é possível… — O velho respondeu minha pergunta sem pensar muito antes de interromper por um momento. — …Você está falando do Contrato Prejudicial?

    — Talvez. — Dei de ombros. Isso foi resposta suficiente?

    — …Isso está além do domínio da alquimia.

    — Entendi.

    — Sim, infelizmente. — Ipaello soltou um sorriso amargo. Fiquei igualmente decepcionado, mas não deixei transparecer. Sim, fazia sentido que algo que não existia no jogo também não existisse no passado. — Há algo mais sobre o que está curioso?

    Ipaello parecia realmente gostar de mim, considerando o quão amigável estava sendo, então perguntei sobre a pílula chamada Bênção de Lethe enquanto estava ali. Mas a reação dele à minha pergunta foi um pouco estranha.

    — Bênção de Lethe? O que é isso?

    — O… remédio que apaga memórias.

    — Ah, isso! Mas esse remédio ainda não tem nome…

    “Uh, eu não esperava isso…”

    — Mas Lethe, hein? Não soa mal. Também é muito romântico, comparando o esquecimento a uma bênção.

    Dei um suspiro silencioso de alívio. Não é à toa que era chamado de Lethe.

    — Ok, eu estava apenas pensando em um nome, então acho que posso usar esse.

    Nunca pensei que esta seria a história de origem.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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