Índice de Capítulo


    Tradutor: MrRody Revisor: SMCarvalho 』


    ‘Quando o zumbido estático no fundo da minha mente começou a se espalhar por todo o meu corpo, voltei à consciência ao som de algo caindo.

    Tap.

    Quando verifiquei, era o Fragmento da Pedra dos Registros. Eu tinha certeza de que estava segurando-a firmemente no punho, mesmo quando a luz emanava dela, então como ela caiu? Caminhei rapidamente e a peguei. Foi quando percebi que havia algo mais no chão.

    — Roupas…?

    A túnica era feita de um tecido de alta qualidade. O importante não era o material, mas o dono. Não era apenas uma túnica de alta qualidade… era a túnica que Auril Gavis estava vestindo, agora no chão, exatamente no lugar onde o velho estava de pé um momento atrás. Era como se seu corpo tivesse sido sugado para algum lugar, deixando isso para trás.

    — Não me diga… — Olhei para o Fragmento da Pedra dos Registros na minha mão. — Isso ativou para o velho?

    Eu estava começando a entender o que havia acontecido, embora estivesse momentaneamente atordoado pela reviravolta inesperada. O Fragmento da Pedra dos Registros havia reagido a Auril, não a mim.

    “Argh, não consigo entender isso.”

    Me forcei a focar e comecei a revisar tudo desde o início. Havia duas possibilidades. Primeiro, Auril havia recebido um ‘chamado dos tempos’, assim como eu.

    Você já usou o Fragmento da Pedra dos Registros antes?

    Eu já usei antes.

    Segundo, Auril já havia usado o Fragmento da Pedra dos Registros. O que significava que o velho estava vivendo nesta era após responder ao chamado, assim como eu. Foi assim que ele me conheceu, e uma vez que o trabalho que ele precisava fazer, o papel que precisava cumprir, foi completado, ele retornou ao seu tempo original.

    “Se for a primeira opção, isso significa que ele foi enviado ao passado. E acho que a segunda significaria o oposto.”

    Foi assim que as peças do quebra-cabeça na minha cabeça começaram a se encaixar.

    “Não, ainda é cedo demais para tirar conclusões.”

    Então percebi o quanto de informações me faltavam e mudei de ideia. Eu não sabia o suficiente sobre o Fragmento da Pedra dos Registros para fazer qualquer inferência. Era sábio manter todas as possibilidades em aberto. Era possível que o chamado dos tempos não fosse sempre um chamado para o passado, poderia ser também um chamado do futuro.

    “Devo pensar nisso mais tarde.”

    Coloquei o Fragmento da Pedra dos Registros de volta no meu subespaço e peguei a túnica do chão. Então comecei a remexer animadamente.

    “Saquear!”

    Afinal, isso era um item raro de Auril Gavis. Havia chances de que ele carregasse algo interessante.

    “Você está brincando?”

    Como resultado do meu entusiasmo, não encontrei nada além da túnica. Apenas meias comuns, sapatos e uma cueca luxuosa feita de seda branca pura.

    — Ah, merda! — Percebendo que o pedaço de pano que eu estava tocando era roupa íntima, joguei-a no chão. A irritação me dominou.

    “Que tipo de velho não tem nada?”

    Eu estava criando esperanças porque esse homem passava uma aura de último chefão. Que decepção massiva.

    — Ah. — Tarde demais, lembrei-me de ver Auril tirando água do seu subespaço. Na época, imaginei que fosse um anel de subespaço. — Mas acho que era um subespaço subordinado. — Um subespaço subordinado só podia ser usado por magos de alto nível. Nesses casos, não havia objeto físico; era conectado diretamente à alma do usuário por uma tatuagem ou algo assim.

    “Ah, não, espere um minuto…”

    Então, se eu usasse um subespaço subordinado, isso significaria que eu poderia levar todo o equipamento que coletei aqui de volta ao meu tempo? O pensamento me ocorreu de repente, mas não era algo para gritar Eureka! Eu não era um mago. Ao contrário de um dispositivo mágico, um subespaço subordinado só podia ser aberto pela mana única do mago.

    “Ha, então é outra decepção…”

    Suspirei e deixei de lado qualquer arrependimento. Ficar com raiva e desabafar minha decepção não mudaria nada. Eu tinha outra coisa que precisava fazer agora.

    “Primeiro, devo me encontrar com Amelia.”

    Peguei os pertences de Auril e os coloquei no subespaço antes de caminhar pelo esgoto novamente. Era claramente uma roupa comum, mas como eu poderia ter perdido algo, decidi verificar mais uma vez mais tarde.

    Splash, splash.

    Enquanto refazia meus passos, me deparei com cinco ou seis corpos.

    “Foi aqui que começou o conflito interno.”

    Como eu tinha o bom senso de levar o equipamento não reivindicado comigo, tudo foi saqueado. Imaginei que, porque essas pessoas estavam tentando migrar para o mundo superior, todas estavam carregando bolsas expansíveis ou anéis de subespaço, então o inventário não era um problema.

    “Uau, quanto vale tudo isso?”

    Usando meus ombros, pescoço, braços e tudo, carreguei todas as bolsas e continuei me movendo. Logo, cheguei ao local onde deixei Amelia e descobri que ela não estava lá. Julgando pelos vestígios da batalha com o chefe da Orcules, este era definitivamente o lugar onde ela desmaiou. Para onde ela foi enquanto eu estava fora? Não precisei pensar muito.

    “Ela deve estar lá…”

    Incapaz de ignorar a acidez na garganta1, apressei meu passo.

    Um teto desabado bloqueava mais da metade do corredor. Eu podia ver a Amelia limpando os destroços. Ela estava removendo freneticamente, a ponto de não parecer notar minha presença.

    — Aaaah!

    “O que é isso, por que você está gritando de repente? Isso é assustador.”

    A visão dela agarrando a cabeça era brutal, então rapidamente caminhei até ela e agarrei seu pulso.

    Tap.

    No momento em que minha pele tocou a dela, Amelia estremeceu e se virou. — …Yandel? — Ela parecia surpresa ao ver meu rosto, então tentou soltar minha mão. — Solte. Eu preciso encontrar…

    — Mesmo que você procure, não encontrará nada.

    — O quê?

    Eu sorri. — Por isso que eu disse. Tudo estará acabado quando você acordar. — Apesar dessas palavras, Amelia ainda me encarava com uma expressão vazia no rosto. Parecia que ela não estava entendendo o que eu queria dizer. — Apenas me siga. — Seria mais fácil deixá-la ver com seus próprios olhos.


    Quando voltou a si, Amelia estava cheia de desespero. Estava sozinha no esgoto escuro e o silêncio familiar lhe dizia que tudo estava acabado.

    “Sim, está tudo acabado…”

    Amelia se levantou e começou a caminhar pesadamente. Havia um lugar onde ela precisava ir, algo que não tinha conseguido fazer naquele dia.

    — Esqueça… todas as memórias dolorosas aqui. Uma vida normal… isso é o começo para você.

    Ela teve que deixar o corpo de sua irmã para trás. Quando veio procurá-la algum tempo depois, o corpo de Laura já havia desaparecido. Aparentemente, os trabalhadores que restauravam o corredor removeram todos os corpos. Isso se tornou uma fonte de arrependimento doloroso para ela.

    — Eu tenho que encontrá-la.

    Ela precisava encontrá-la, mesmo que fosse apenas um corpo. Ela precisava recuperá-lo, não deixar o corpo de sua irmã nesse esgoto sujo. Agora que ela havia viajado vinte anos para o passado, pelo menos isso ela podia fazer. Não, talvez isso fosse a única coisa que o destino estava disposto a permitir desde o começo.

    — Ugh, heugh…!

    Chegando ao local da tragédia, Amelia começou a remover todas as pedras que encontrava. Ela estava tão desesperada que parecia quase enlouquecida, e isso não estava tão longe da verdade.

    — P-Por quê…?

    Sua irmã não estava em lugar nenhum. Ela tinha que estar aqui em algum lugar.

    “Será que nem isso me é permitido?”

    — Aaaah! — Pela primeira vez em muito tempo, Amelia soltou um grito. Mesmo quando sua carne era cortada e seus ossos eram quebrados em pedaços, ela conseguia conter seus gemidos, mas dessa vez não. Parecia que seu coração estava sendo rasgado.

    Tap.

    Naquele momento, ela sentiu o calor de outra pessoa. — …Yandel? — Era uma pessoa que ela via todos os dias nos últimos seis meses, alguém muito familiar para ela. — Solte. Eu preciso encontrar…

    Ela imediatamente tentou se desvencilhar dele, mas o bárbaro se recusou a soltá-la, como sempre. Depois de dizer algo incompreensível para ela enquanto resistia, ele a forçou a se levantar.

    — Este lugar é…

    Eles caminharam por uma eternidade para chegar ao mundo superior, a gigantesca cidade de Rafdonia, um lugar onde a influência do palácio alcançava todos os cantos.

    — Argh, meus olhos… — O meio-dia na cidade era brilhante demais para olhos que acabaram de emergir de um esgoto escuro. Mas antes que seus olhos tivessem tempo de se ajustar, o bárbaro a arrastou pelo pulso. — O-Onde estamos indo?

    — Eu disse que você verá quando chegarmos lá.

    Amelia escaneou os arredores mesmo sendo arrastada à força. Pedestres passavam pela rua, crianças sorrindo com seus pais, comerciantes anunciando suas mercadorias e edifícios de mármore branco refletindo a luz do sol. Era um lugar que ela outrora desejara desesperadamente, um mundo cheio de luz solar quente onde ela poderia viver uma vida normal, diferente de Noark. Claro, agora ela sabia que mesmo o mundo superior não era um paraíso, que era um lugar onde bestas piores do que aquelas que vagavam por Noark viviam, e onde tragédias mundanas ocorriam todos os dias.

    — Apenas uma vez… — No entanto, ela queria ver isso apenas uma vez, ela e sua irmã vivendo uma vida normal, às vezes chorando e às vezes rindo.

    — Hã? Do que você…

    — Yandel, vá sozinho daqui em diante. Tenho algo para encontrar lá embaixo…

    — Argh, eu disse que você não vai encontrá-la. — Quando Amelia parou de andar, o bárbaro olhou para ela com frustração e disse: — Sua irmã, ela está viva.

    — …O quê?

    “Viva? Mas como…?”

    — Eu… explicarei isso depois, então apenas me siga, ok?

    O bárbaro puxou a mulher confusa e continuou caminhando. Amelia não resistiu. Ela não tinha discernimento para fazê-lo.

    — Ufa, demorou porque ele nunca mencionou qual estação de primeiros socorros era.

    Depois de sabe-se lá quanto tempo, Amelia chegou a uma estação de primeiros socorros localizada no mundo superior. Então, após explicar o motivo de sua presença a um funcionário, ela encontrou o quarto do hospital.

    Rrrrr.

    Quando ela abriu a porta, a figura de uma garota deitada na cama entrou em seu campo de visão. A luz do sol quente estava brilhando através da janela.

    — L-Laura… — Era uma visão inacreditável, o tipo que ela nunca pensou que veria em sua vida. Amelia se aproximou da cama como uma mulher possuída. Então ela segurou a mão de Laura. Ela podia sentir o batimento cardíaco de sua irmã no lugar onde suas mãos se tocavam. — Como isso aconteceu?

    Em resposta à pergunta de Amelia, o bárbaro contou-lhe tudo o que havia acontecido até então. Ele havia feito um acordo com Auril Gavis. Para eliminar potenciais paradoxos, a Benção de Lethe foi usada para apagar as memórias de Laura, e então eles encenaram um acidente de carruagem para explicar sua amnésia.

    — Quando ela acordar, sua irmã provavelmente não se lembrará de nada. Ela viverá sua vida pensando que o nome na etiqueta de identidade é o dela.

    — A-Ah…

    — Mas não fique muito triste. Quando voltarmos ao futuro, não deve haver problemas. Você pode revelar sua identidade e viver como amigas.

    Seu coração disparou. Foi então que ela percebeu.

    — Além disso, você disse que o Matador de Dragões também está tentando recuperar suas memórias. Vamos procurar uma maneira juntos quando voltarmos, ver se conseguimos recuperar as memórias dela.

    Ele realmente havia feito isso.

    — Ok? Então, por favor, diga algo. Você está me deixando ansioso…

    A visão dele a observando cautelosamente, apesar de ter acabado de realizar algo miraculoso, claramente sem saber o que fazer consigo mesmo, fez Amelia rir. — Não precisa.

    — Hã? O que você quer dizer?

    — Significa que você não precisa mais se preocupar com isso. Não vou tentar recuperar as memórias da minha irmã.

    — Eh? Por quê?

    Amelia sorriu à sua pergunta. Como ela não sorria com frequência, os músculos de seu rosto se moveram de forma desajeitada. — É melhor não lembrar.

    A partir de agora, sua irmã seria diferente. A vida que ela tanto desejava desesperadamente começaria, e memórias dolorosas só atrapalhariam essa vida.

    — Adeus, Laura.

    “Estou bem. Mesmo que eu não esteja com minha irmã. Mesmo que a vida que levo esteja longe da vida normal que desejei. Mesmo que ainda seja estranho levantar os cantos dos meus lábios.”

    Sua irmã não teria nada com que se preocupar.

    — Vamos, bárbaro.

    — É Yandel, não bárbaro.

    — Sim, Yandel.

    Ela não estava mais sozinha.

    1. Refluxo, Ânsia de vômito; Forma de dizer que ele estava nervoso e incomodado[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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