Capítulo 331: Ao Futuro (1/6)
『 Tradutor: MrRody Revisor: SMCarvalho 』
A luz do sol e uma brisa fresca entravam pela janela. Enquanto eu bebia rum acompanhado da carne grelhada da loja do outro lado da rua, não pude deixar de exclamar: — É isso aí!
Há quanto tempo eu não conseguia desfrutar de um dia normal assim? Talvez fosse porque eu estava em Noark, aquele lugar sombrio, por vários meses, mas a mudança era incrivelmente satisfatória. Não que eu não tivesse preocupações na mente.
“Já faz uma semana.”
Sete dias haviam se passado desde aquela noite caótica em que todos aqueles grandes nomes saíram das sombras para me manter ocupado: Auril Gavis, Lüchenprague e Jerome, O Cavaleiro da Luz.
Fiiu.
Eu ainda estava preso nesse período do tempo.
— Quando é que isso vai ativar? — Tirei o Fragmento da Pedra dos Registros e comecei a mexer nela por hábito, mas havia algumas coisas boas em ter tempo extra. Pelo menos, tive tempo para me livrar dos equipamentos que coletei.
“Também tenho algumas suposições do por que essa coisa ainda está inativa…”
De qualquer forma, por essa razão, decidimos fazer uma pausa e encontramos um lugar para ficar na superfície. Apenas um quarto, a propósito. Tentei encontrar dois quartos separados, mas Amelia me repreendeu, dizendo que não havia necessidade disso, e para ser honesto, aceitei sua lógica. Afinal, vivíamos praticamente como uma unidade única há vários meses. Era tarde demais para discutir sobre separação de gênero.
— Bebendo de novo…
— Ah, você está aqui.
— Eu disse para manter a porta trancada quando eu estivesse fora. — Amelia voltou de seu passeio e jogou seu casaco no cabide sem cerimônia. Não me dei ao trabalho de perguntar onde ela estava desde cedo. Era óbvio.
Provavelmente foi seguir sua irmã para ver como ela estava.
— Reclamando assim que entra?
— Eu não estou reclamando…1
Mudei rapidamente de assunto. — E então, como está Laura?
Talvez por causa dos poderosos efeitos do protótipo da Benção de Lethe, Laura só abriu os olhos há três dias. Depois de ser diagnosticada com perda de memória pelo sacerdote que estava fazendo serviço voluntário na estação de primeiros socorros, ela começou a acreditar que o nome na etiqueta de identidade era o dela.
— Não é Laura, é Shannon.
— Ah, certo.
Shannon Ellaura era o novo nome que criamos para ela. Ficamos um pouco relutantes em usar a etiqueta que o velho havia dado a ela. Trocando a etiqueta antiga por uma nova na caixa de pertences da paciente e até corrigindo os registros do paciente escritos na estação de primeiros socorros um por um, Amelia esteve bastante ocupada nos últimos dias.
— E como ela está?
— Infelizmente, ela atraiu a atenção do sacerdote que estava lá como voluntário. Ela foi ensinada a ler pela primeira vez hoje e está aprendendo muito rápido. O sacerdote parece pensar que isso é um sinal de que suas memórias voltarão em breve…
— Não se preocupe. Isso não vai acontecer.
— Não estou preocupada com essa parte. É só que, como o sacerdote é da igreja, sua atenção me incomoda.
No começo, fiquei confuso sobre o que ela queria dizer, mas logo entendi. — Por causa da essência dela?
— Sim. Vai parecer suspeito que uma criança que ainda nem é adulta tenha uma essência.
Se deixada sozinha, Laura, ou melhor, Shannon, provavelmente viveria toda a sua vida sem saber que o poder de uma essência residia em seu corpo. Seus atributos poderiam ser explicados como ela sendo naturalmente apta, e sem suas memórias, ela nunca seria capaz de ativar suas habilidades especiais.
— Isso definitivamente me deixa nervoso. Atrair a atenção do sacerdote voluntário não estava nos planos.
Se ela levasse uma vida estreitamente ligada a uma denominação religiosa, isso mudaria as coisas. Como as igrejas eram lugares que tinham o poder e a autoridade para apagar essências, isso aumentava a possibilidade de que a existência de sua essência fosse descoberta.
— …Como perder a memória é uma ocorrência rara, parece que ela atraiu a atenção deles inesperadamente.
— Então o que você vai fazer agora?
— O que eu posso fazer? Não é como se eu pudesse resolver isso usando a força. — Amelia mordeu o lábio, infeliz, e disse que apenas ficaria de olho por enquanto. Concordei com sua opinião. Com isso, esse tópico chegou ao fim.
— De qualquer forma, você não acha que deveria mudar seu jeito de falar?
Quando comecei a falar sobre isso, Amelia me deu um olhar cauteloso. — …O que você quer dizer?
— Seu tom é muito ríspido para uma conversa entre membros de um clã.
— Membros de um clã?
— Por que está me olhando como se fosse a primeira vez que ouve isso? Não está pensando em fingir que esqueceu ou algo assim…
— Não, eu lembro. Só que… não sei o que isso tem a ver com a minha forma de falar.
— Hmm, na verdade, não tem nada a ver. Eu só estava curioso para saber como você soaria com um tom diferente.
— …O quê? — Amelia me deu um olhar exasperado antes de soltar um suspiro profundo. — Você… realmente…
— O que foi, não posso ficar curioso? Dado o jeito que você falava quando era jovem, não parece que sempre falou assim.
— Bem… — Amelia parou, o que eu não esperava. No passado, ela teria apenas me ignorado ou perguntado se eu estava zombando dela. — Vou tentar mudar meu tom.
— Hã?
— Não, eu vou… trabalhar nisso. Você está satisfeito? Não, isso… é bem?
“O que você quer dizer com bom?”
Fiquei genuinamente arrepiado, por isso fiquei sem palavras quando Amelia começou a contemplar seu tom com um olhar sério no rosto. — Hmm… ‘bem’ soa melhor do que ‘bom?’ Qual você acha melhor?
— E-Espera. Você não está mudando isso muito facilmente?
— Foi você quem me disse para mudar, Yandel.
— Sim, mas ainda assim.
— Não me entenda mal. Isso é uma questão que eu venho pensando há um tempo.
— Você tem pensado nisso?
— …Laura teria desejado isso para mim. Além disso, já que você mencionou também, isso deve significar que realmente há um problema comigo.
“Ah… Eu estava só brincando com ela antes de começarmos a falar sério para aliviar o clima deprimente aqui…”
Decidi resolver isso rapidamente antes que fosse tarde demais. — Pensando melhor, acho que você não precisa se forçar a mudar nada. Quem se importa com a forma como você fala? O que importa é o que está por dentro.
Amelia não parecia particularmente emocionada com meu discurso a princípio, mas quando eu disse a ela que podia confiar em mim, como alguém que teve um relacionamento romântico com Missha, que falava de forma diferente da maioria das pessoas, ela assentiu.
— Então esse é o relacionamento entre vocês dois.
— Ah…
“Por que eu disse isso? Não contei isso a ninguém.”
— Hmm, já que discursos como esse são difíceis de criticar, tenho certeza de que não são palavras vazias desta vez. Tudo bem, por enquanto, vou deixar essa questão de lado.
— …Certo, parece sensato. — Esse era um assunto bastante desconfortável para mim, então rapidamente mudei para o ponto que estava tentando abordar antes. — De qualquer forma, como já descansamos bastante, acho que é hora de uma conversa séria.
— Conversa… certo. — Amelia sentou-se na cadeira em frente a mim e começamos a reunião que estávamos adiando há uma semana sob o pretexto de uma pausa.
O primeiro item da reunião era este: — Você realmente não tem nenhuma ligação com a Ordem da Rosa?
— Não tenho. E essa conversa acabou há muito tempo.
Descobri, há vários dias, que o motivo pelo qual Lüchenprague perseguia Amelia tão persistentemente era porque ele acreditava que ela era um membro daquele grupo. Parecia que ele guardava algum tipo de rancor contra eles que não era conhecido pelo público.
— Assim eu posso mostrar o que é perder algo precioso.
Considerando que o cara disse isso na época, ele deve ter perdido alguém precioso para ele. Mas isso não importava.
— Por que está trazendo isso à tona de novo?
Na época, pensei nisso como uma estranha coincidência, mas agora que estava pensando um pouco mais, uma possibilidade me veio à mente. — Você disse que aprendeu a usar sua aura com uma mulher que encontrou por acaso no Castelo Noark, certo?
— Sim, ela me ensinou algumas coisas, dizendo que gostou do brilho dos meus olhos. Claro, ela só me ajudou a construir uma base, foi muito depois que realmente despertei a aura. Mas… também tenho certeza de que já falamos sobre isso.
— Isso é verdade. — No início da semana, concluímos que essa mulher deve ter sido um membro da Ordem da Rosa, mas… — Existe a possibilidade de que essa mulher era você?
— …O quê?
— Isso me ocorreu de repente. Não há como uma mulher estranha mostrar tanta gentileza para você.
Amelia, que sempre foi bastante perspicaz desde criança, entendeu exatamente o que eu estava tentando dizer desta vez. — Você está pensando que essa é a tarefa que ainda temos que completar?
— Sim. — Criar a base de uma aura para Amelia F, que foi deixada sozinha neste mundo, pode ser nosso dever restante.
— Não se preocupe. Esse não pode ser o caso. — Amelia rejeitou prontamente a possibilidade. Pedi-lhe que fornecesse provas, mas ela apenas me disse para confiar nela nessa questão e não entrou em detalhes.
“Do jeito que ela está falando, acho que realmente estou errado…”
Se isso fosse verdade, seria uma boa notícia para mim. Se tivéssemos que seguir a história como aconteceu, isso significaria que teríamos que ficar aqui mais dois anos.
— Então vamos para o próximo item da pauta. — O segundo tópico que levantei foi Auril Gavis. Que tipo de variável seria esse velho suspeito daqui para frente? Discutimos isso por um bom tempo, mas sem muitos resultados. Terminou comigo sendo repreendido.
— Por que você fez algo tão perigoso? Poderia ter sido uma boa coisa se separar em bons termos.
— O que você quer dizer? Está dizendo que eu deveria ter revelado meu nome e rosto?
— Mesmo que você não fizesse isso, estou dizendo que não havia necessidade de zombar dele no final.
— Ah… — Isso é verdade. Na época, parecia bom, mas pensar em como o velho deve ter ficado furioso depois me fez estremecer um pouco.
— Você é legal e tudo mais, mas precisa aprender a se comportar melhor.
— …Tá bom.
— Já que você está concordando, não vou mais tocar no assunto… Mas tome cuidado. Tornar-me sua companheira também significa que estou confiando minha vida a você. — Fiquei muito satisfeito com essa declaração, que ia além da confiança.
“…Mas ela não disse que não tocaria mais no assunto?”
— Ahem. — Interrompi a conversa com uma tosse e passei para o próximo item da lista. Era nada menos que o ponto desta reunião: como ativar o Fragmento da Pedra dos Registros. — Para ser exato, quero que discutamos exatamente qual é a tarefa que talvez tenhamos recebido…
— Você parece ter algo em mente.
Claro, eu não teria levantado esse tópico sem nenhuma hipótese. Além de fornecer a base de uma aura para Amelia F daqui a dois anos, havia mais algumas possíveis tarefas. A primeira era esta.
— Os Tesouros Gênese…? — Amelia parecia confusa assim que os Tesouros da Gênese foram mencionados, mas eu não conseguia afastar a possibilidade.
Bem, eu não poderia ser o único a roubar os Tesouros da Gênese daqui a vinte anos, mas posso ter algo a ver com isso no futuro. Como o fiasco do coração do bárbaro, por exemplo, as consequências viriam muito mais tarde, mas eu poderia acabar sendo o catalisador.
— Verdade, você disse que os Tesouros da Gênese são itens particularmente importantes para espíritos malignos. Nesse sentido, faz sentido. Você também é um esp…
— Shh.
— Ah, desculpe. Você me disse para não mencionar isso.
Embora isso fosse um ponto sensível para mim, já que Amelia pediu desculpas imediatamente, deixei passar com um cartão amarelo. Vamos para a segunda possibilidade. — O GM… esse é o apelido do homem que assumiu a reunião de Auril Gavis.
— Sim. Mas o que tem ele?
— Essa é exatamente a época em que ele assumiu a comunidade.
Você poderia dizer que era um pouco coincidente demais. Talvez eu precisasse encontrá-lo no passado e fazer algo para voltar ao nosso tempo original.
— Isso também parece plausível. Você tem uma terceira teoria?
“Você acha que não?”
Imediatamente contei a ela minha última teoria. — Esconder tudo que coletei aqui para que eu possa recuperá-lo no futuro. Talvez essa seja minha tarefa final.
— Isso é… apenas algo que você quer fazer de qualquer maneira, não?
“Uh, não tenho nada a dizer sobre isso…”2
— Então você teve alguma ideia? — perguntei. — Sobre o que temos que fazer?
— B-Bem… vou te contar quando pensar em algo.
Achei que ela poderia ter uma boa ideia. Isso foi um pouco decepcionante, mas abraçar as falhas de um companheiro era um sinal de boa liderança. — De qualquer forma, você vendeu todo o equipamento?
— Mais da metade. A um preço reduzido, eu poderia vender tudo mais rápido…
— Não, não importa quanto tempo leve. Venda pelo preço total.
— Havia alguns itens valiosos entre eles… não é melhor manter alguns deles?
“Você realmente não sabe?”
Quando se tratava de equipamento, a manutenção era essencial. O valor diminuía com o tempo. Além disso, tentar vender equipamentos de vinte anos atrás no futuro só despertaria suspeitas quanto à sua origem, então, além do Triturador de Demônios, era melhor se livrar de tudo.
“O problema é onde posso esconder isso para mantê-lo seguro…”
Eu estava prestes a revisar as potenciais soluções pela milionésima vez quando Amelia disse: — Ah, tenho algo para te contar.
— Hã?
— Ouvi isso quando saí hoje. Dizem que uma essência de terceiro nível será leiloada no Centro Comercial.
— Hã, uma essência de terceiro nível? Por que não na Casa de Leilões do Céu?
— Parece que a Companhia de Comércio Alminus3 está tentando algo novo.
“Hmm, eles estão tentando gentrificar4 a Centro Comercial? Mesmo que estejam, não conseguirão superar a Casa de Leilões do Céu.”
— Então, que essência é essa? Ah, ou isso também é mantido em segredo até o dia anterior ao leilão, como na Casa de Leilões do Céu?
— É, mas eu já sei que essência é, então não importa. Foi um leilão muito famoso na época.
Sim, esse era o benefício de ser um viajante do tempo.
Quando a incentivei a falar, Amelia abriu a boca. — É a essência de Vol-Herchan.
“Isso é o que chamam de destino?”
Coincidentemente, essa era uma essência central para a minha build.
- SMCarvalho: Vida de casado não é fácil[↩]
- SMCarvalho: só falo com meu advogado[↩]
- A companhia de Comércio Alminus é dona de várias empresas em Rafdonia, como o Banco Alminus ou o Centro Comercial Alminus.[↩]
- Proceder à valorização imobiliária de uma zona urbana, de modo a torná-la mais atraente para residentes dotados de maior poder econômico[↩]
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