Capítulo 339: Bola de Neve (3/5)
『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: SMCarvalho – Demisidi 』
Minha mente ficou momentaneamente vazia. O mundo ao meu redor parecia se estreitar como uma lata esmagada, e as palavras que Amelia me dissera continuavam ressoando na minha cabeça.
“O palácio anunciou que você era um espírito maligno.”
“O palácio anunciou que você era um espírito maligno.”
“O palácio anunciou que você era um espírito maligno.”
O choque não foi diferente do que eu imaginava que sentiria se dezenas de homens fortes estivessem em um círculo ao meu redor e me batessem na cabeça com martelos. Se não fosse pela Amelia, eu teria ficado ali congelado por muito tempo.
— Yandel.
— Ah…
— Você está bem? — Quando voltei a mim, o rosto da Amelia estava a poucos centímetros do meu. Sua mão direita, que parecia incrivelmente pequena para mim, estava no meu peito, e ela me olhava com preocupação nos olhos.
— U-Uh…
— Eu entendo como você se sente, mas este não é o momento.
— Ah, desculpe…
Amelia agarrou meu pulso e me puxou para a frente. Eu comecei a mover meus pés distraidamente atrás dela. Mesmo eu podia ver que a decisão dela era a correta aqui.
— Eu duvido que aquela mulher ainda tenha o desejo de fazer isso de qualquer maneira…
Erwen também sabia que eu era um espírito maligno. Isso significava que seria ingênuo da minha parte esperar que ela ainda me visse como seu companheiro. O mesmo provavelmente valia para os outros. Minha mandíbula subconscientemente se apertou.
“Sim… Então, o dia finalmente chegou.”
Apesar de aceitar isso, também tive o seguinte pensamento: Você nunca sabe. Erwen estava perseguindo Amelia porque estava sob a suposição incorreta de que ela havia me matado. Quer eu fosse um espírito maligno ou não, ela poderia me tratar da mesma forma que antes. Sim, essa possibilidade definitivamente existia.
— Você não precisa mais me puxar. — Soltei a mão de Amelia e comecei a correr por conta própria.
Independentemente das possibilidades, era definitivamente como Amelia disse. Erwen não podia me proteger agora. Mesmo que quisesse, Erwen fazia parte da tribo dos elfos. Se ela tentasse me ajudar, isso significaria prejudicar sua raça, e Erwen era mais propensa a escolher seu povo em vez de tomar uma decisão por razões pessoais.
“…Mas isso provavelmente é apenas uma desculpa.”
Mesmo enquanto corria, sorri com tristeza. Isso porque, por mais esperto e covarde que você fosse, não podia mentir para si mesmo. A verdade era que eu ainda não queria ver Erwen. Para ser mais exato, eu estava com medo porque não sabia o que ouviria quando o fizesse.
— Certo! O chefe também disse isso! Espíritos malignos devem ser mortos assim que forem encontrados!
Essas foram palavras que a Ainar uma vez me disse.
— Sim… Eu não sabia disso antes, mas depois de hoje, sei com certeza. Porque todo mundo diz para não confiar em espíritos malignos…
Palavras da Missha.
— É sábio se livrar deles assim que a oportunidade se apresentar. Esse homem é um testemunho do que acontece se você confiar em um espírito maligno.
Palavras do Sr. Urso.
Grrrp.
Cada uma foi como uma faca no meu peito. Só de lembrar disso, já me sentia assim, mas experimentar isso pessoalmente? Se eu tivesse que vê-los duvidar da minha sinceridade, tivesse que vê-los me insultar por minha enganação com meus próprios olhos, qual seria a expressão no meu rosto então? Se eu pudesse evitar essa situação agora, talvez pudesse evitar que esse dia chegasse. E então corri atrás de Amelia.
— Yandel, por aqui!
Saindo da praça vazia, passamos pelas ruas escuras e subterrâneas e nos dirigimos ao castelo localizado no centro da cidade. Além da passagem secreta no cemitério, havia outra no castelo. Chegar lá e ir para a superfície o mais rápido possível era crucial.
Nhyyeeee!
Chegamos ao castelo e forçamos o portão a abrir.
— Yandel, cuidado.
— Hã?
Naquele breve momento, Amelia me empurrou pela fresta do portão por trás.
Clink!
Uma flecha que estava voando em nossa direção silenciosamente afundou-se profundamente nas costas de Amelia. Sua boca se abriu e ela cambaleou com o impacto, caindo sobre mim. Senti sua mão tocar meu rosto.
— Estou… grata…
— Grata? O que você está…?
— O rosto dela… Eu não acho que ela vai… te machucar…
Eu não conseguia entender o que ela estava dizendo, mas não havia tempo para perguntar. Rapidamente a peguei e fiquei de pé.
— O… cofre… — Amelia continuou a me dizer algo, mas nunca terminou sua frase.
Pop!
Porque ela explodiu em meus braços.
Plop, plop, plop, plop.
Dezenas de pedaços dela caíram no chão. A visão não parecia real.
— A… melia…? — O peso dela desapareceu dos meus braços, mas eu não conseguia nem mover meus braços agora sem propósito. Eu só conseguia ficar ali, minha mente lutando para acompanhar.
“Amelia está… morta? Assim…? E… por causa da Erwen…?”
Fiquei congelado por apenas um momento antes de notar algo estranho.
— Sangue.
Não havia sangue. Uma explosão que poderia despedaçar uma pessoa assim deveria ter espalhado sangue por toda parte, mas não havia uma única gota no meu corpo.
Shaaaaaa!
No momento em que percebi isso, Amelia, que havia se transformado em centenas de pedaços de carne, desapareceu em um flash de luz como um monstro morrendo.
【A cópia de Amelia Rainwales sofreu muitos danos.】
【A invocação foi desfeita.】
“Então, era um doppelganger feito com Auto-replicação.”
“Caramba, isso me assustou… Achei que você realmente havia morrido. Se você fosse me encontrar como um doppelganger, deveria ter me dito isso desde o início.”
Ainda abalado, comecei a resmungar com Amelia, mas rapidamente deixei esses pensamentos de lado. Agora não era hora para isso.
“Devo pensar enquanto me movo.”
Chutei o chão e continuei correndo. Como memorizei o caminho quando segui Amelia pela primeira vez em Noark, sabia a localização da passagem secreta. O problema era se eu conseguiria chegar lá em segurança.
Huff.
Ainda não havia flechas, mas eu não tinha certeza de quanto tempo minha sorte duraria.
“Se eu lutar… posso vencer?”
Decidi assumir o pior: a possibilidade de Erwen ser hostil e tentar me matar. Com essa premissa em mente, a memória do corpo da Amelia explodindo naturalmente entrou na minha mente.
“Aquela habilidade…”
A explosão era diferente das explosões normais. Não havia faíscas e pedaços dela não voaram em todas as direções como aconteceria com uma granada. Seu corpo apenas desmoronou em centenas de pequenos pedaços como um jogo de Jenga.
“Tem que ser Ruptura…”
Os efeitos de 【Ruptura】 eram simples. Independentemente de ser uma flecha, espada ou machado, desde que uma lâmina pudesse penetrar a carne do alvo e infligir uma certa quantidade de dano, ela causava uma quantidade fixa de dano adicional proporcional aos principais atributos possuídos pelo usuário. Assim como uma aura, que era exclusiva dos humanos, essa habilidade ignorava coisas como Resistência Física e Resistência à Mana.
“Além disso, ela disse que Erwen se tornou uma sangue puro e assinou um contrato com a Regente Elemental…”
Quer esse ataque envolva 【Ruptura】 ou não, eu estava começando a pensar que minhas chances de vencer em uma luta um a um eram baixas. Com especificações como essas, ela teria equipamentos de nível semelhante.
“Como posso vencê-la com as mãos nuas e sem arma?”
Whoom!
Enquanto corria com esses pensamentos zumbindo em minha mente, a gema que servia como minha fonte de luz nesta cidade escura e subterrânea perdeu sua luz. Isso não era normal. Eu já havia usado gemas de luz várias vezes antes. Esse dispositivo mágico gradualmente perdia sua luz quando ficava sem mana, não ficava escuro de repente assim.
“…Será que é um espírito das trevas?”
Nunca pensei que ela também conseguiria dominar esse atributo. Logo parei de correr.
Tap.
Eu confiava na minha capacidade de memorizar um caminho que havia percorrido uma vez. Se prestasse muita atenção ao meu caminhar enquanto viajava, seria capaz de encontrar meu destino mesmo no escuro, se não houvesse alguém me perseguindo, pelo menos.
“Essa fuga foi um fracasso.”
No momento em que cheguei a essa conclusão, fechei os olhos. Abandonando a visão, que se tornara inútil para mim, decidi me concentrar em meus outros sentidos. Logo minha audição sensível captou o som de passos.
Tap.
Isso foi meio surpreendente. Eu pensei que o primeiro som que ouviria seria uma flecha voando em minha direção.
“Verdade, ela deve querer falar comigo, mesmo que eu seja um espírito maligno.”
Mesmo enquanto mantinha meu peso nos dedos dos pés para poder sair correndo a qualquer momento, também pensei em uma das coisas que Amelia disse mais cedo.
— O rosto dela… Eu não acho que ela vai… te machucar…
Ela provavelmente viu o rosto dela. Amelia conseguia ver a distâncias várias vezes maiores do que eu. Ela poderia ter feito contato visual com a Erwen, que havia disparado a flecha além da escuridão.
“Mas como você pode ter tanta certeza só olhando para o rosto dela?”
Eu não tinha como saber o que a Erwen estava pensando enquanto caminhava em minha direção no escuro.
— É você, Erwen?
Não houve resposta. O som dos passos parou.
Tum!
Houve um silêncio onde tudo o que eu podia ouvir era o ecoar do meu coração.
— Senhor. — A gema de luz se acendeu novamente quando um nome que eu não ouvia há muito tempo soou na escuridão.
Shaaaaaa…
A luz se espalhou em todas as direções e iluminou meus arredores. Graças a isso, pude ver por mim mesmo por que Amelia disse que estava feliz, porque ela tinha tanta certeza de que essa garota não me machucaria.
— É… realmente… você, Senhor…?
Ela foi capaz de perceber apenas pela expressão dela, pelo menos naquele momento.
— Sim.
No momento em que respondi afirmativamente, o olhar nos olhos âmbar de Erwen pareceu mudar violentamente, fragmentos de inúmeras emoções piscando através deles: alegria, felicidade, antecipação, ansiedade, medo… e desconfiança.
— C-Como… Eles disseram claramente que você morreu.
— Ah, isso simplesmente aconteceu.
— O que você quer dizer com ‘simplesmente aconteceu’? Você não pode parar aí por algo assim…! — A voz de Erwen momentaneamente subiu enquanto ela se exaltava, mas ela de repente ficou em silêncio quando algo lhe ocorreu. — …Foi obra daquela mulher? — ela murmurou. O olhar em seus olhos se tornou afiado. — Quem é você?
“Uh, eu não pensei que as mudanças de humor dela seriam tão ruins…”
Foi nesse ponto que comecei a me preocupar que ela pudesse realmente me machucar, mas respondi mesmo assim, esforçando-me para não deixar minha preocupação transparecer. — Quem mais eu seria? Sou eu, Bjorn Yandel.
— Mentiroso.
— O quê, você vai acreditar em mim se eu usar Gigantificação?
— Sim, tente. — O tom seco de sua voz era incrivelmente estranho para mim, mas lancei 【Gigantificação】 sem discutir. — O-O que… é realmente você, Senhor?! — O tom de Erwen voltou ao normal. No entanto, isso só durou um breve momento.
— Eu disse…
— Não, eu não vou confiar em você só com isso.
— Hã?
— Tente outra coisa. — A Erwen chorosa e feliz instantaneamente mudou para o Modo Frio e eu rapidamente usei 【Salto】. — R-Realmente você…!
— Sim, estou feliz que você acredite em mim agora…
— Você acha que eu diria isso? Isso não é suficiente.
Repetimos o mesmo processo várias vezes. Parecia que Erwen só ficaria satisfeita depois de verificar todas as minhas essências, enquanto continuava a fazer exigências. Quando ela me disse para usar 【Explosão de Carne】, um calafrio percorreu minha espinha.
— …Então você era um impostor o tempo todo? — Aqueles olhos cheios de loucura e intenção assassina realmente fizeram meu estômago revirar.
Disse a ela que apaguei aquela essência e, em vez disso, provei minha identidade usando informações que apenas nós dois sabíamos.
— O que você me deu quando nos conhecemos.
— Uma erva de Licho.
— A estalagem onde passamos nossa primeira noite juntos.
Uma pausa.
— Você não pode… responder isso…?
— E-Era uma estalagem chamada Alho e Sal.
— Muito tarde.
— Não, você começou com ‘nossa primeira noite juntos’. Nós só fomos lá para testar uma essência…
— Hmm.
Após passar um tempo revisitando memórias, histórias que apenas nós dois conhecíamos fluíram entre nós sem hesitação, e as mudanças de humor dela diminuíram até que ela finalmente deixou de lado suas dúvidas. Claro, era impossível saber quando ela ficaria brava de novo e apontaria uma flecha entre meus olhos, mas isso era o caso por enquanto.
— S-Senhor…!
— Há quanto tempo. Ouvi dizer que já se passaram dois anos e meio?
Demorou um pouco para finalmente conseguir cumprimentá-la corretamente. Erwen abaixou o arco como se nunca o tivesse levantado em primeiro lugar e apertou os punhos em aparente frustração. — Por que… demorou tanto?! Você estava vivo o tempo todo…! Por que não veio me ver?
“Ah, acho que poderia parecer assim do ponto de vista dela. Não é como se eu não quisesse voltar…”
— Eu tinha circunstâncias atenuantes — respondi rapidamente, preocupado que ela pudesse se zangar novamente.
— Por circunstâncias atenuantes… você está falando sobre a declaração? — Erwen perguntou cautelosamente. — Que você é um espírito maligno?
Esta era talvez a parte mais crítica dessa conversa. Era um obstáculo que tinha que ser superado em algum momento.
Mas, justo quando eu estava me perguntando como abordar o problema, Erwen falou, sua voz suave. — Idiota — murmurou. — Não há como eu me importar com algo assim…
— …Isso significa que você não acredita na declaração real?
Mesmo enquanto perguntava isso, senti tanto culpa quanto alívio. Claro que Erwen teria decidido que não acreditava. O fato de que ela estava falando tão casualmente na minha frente agora era prova suficiente.
— Não? Quero dizer que, seja a declaração verdadeira ou não, isso não importa para mim — disse ela como se eu estivesse sendo deliberadamente obtuso.1
Não pude deixar de inclinar a cabeça. — Hã?
Parecia que ela percebeu que uma explicação era necessária naquele ponto. Erwen começou a me explicar passo a passo. — Senhor, nós nos conhecemos como adultos, certo?
— Uh, certo?
— E espíritos malignos aparecem no dia em que alguém se torna adulto.
— E?
— Então, de que importa se você é um espírito maligno ou não?
— É assim que funciona? — perguntei, incapaz de esconder meu nervosismo.
Erwen de repente veio até mim e agarrou minha mão com força. — Quando você arriscou sua vida para me salvar na caverna, me ensinou todas as coisas que eu não sabia, e depois que Daria morreu… a pessoa que me ajudou a me reerguer foi você, Senhor. Foi tudo você. — A sensação da mão dela contra a minha parecia particularmente quente. — Não importa o que digam, você é Bjorn Yandel para mim.
“Então, há pessoas que podem pensar assim.”
Muitas coisas que eu poderia dizer me vieram à mente, incluindo obrigado, mas não consegui me forçar a dizer nenhuma delas e apenas fiquei calado. Erwen provavelmente não sabia o quanto de conforto ela acabara de me dar com algumas palavras curtas.
— Mas… — Erwen então soltou minha mão. Quando falou, foi com um olhar nos olhos e um tom que parecia sugerir que estávamos de volta ao ponto de partida. — Você é realmente o Senhor?
Eu senti que ia perder a cabeça.
- Obtuso: Bronco, tolo, boçal, ignorante.[↩]
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.