Capítulo 361: Interrogatório (3/4)
『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: SMCarvalho – Demisidi – Elteriel 』
De certa forma, isso era como um enredo clichê em um romance de mistério. Todas as evidências circunstanciais apontavam para um culpado, mas uma peça crucial de evidência física estava faltando. Era exatamente essa a posição em que eu me encontrava agora.
“Que tipo de presente é esse?!”
Talvez, se isso fosse antes da noção de que eu era um espírito maligno já ter sido estabelecida, isso seria útil. Mas, para provar minha inocência nesta situação, eu precisava de evidências concretas adequadas. Caso contrário, eu só pareceria mais suspeito, exatamente como agora.
— Repita depois de mim. Eu sou uma mulher. — Esse foi o pedido que Raven me fez após o estranho mau funcionamento do Confiança Equivocada. Seu objetivo era claro. Ela queria descobrir por que o Confiança Equivocada parava quando eu falava, e embora ela não tivesse como descobrir a verdade, ela faria diferentes experimentos até chegar perto dela.
Havia apenas uma coisa que eu podia fazer agora. — Eu…! Ugh, minha voz…! Não consigo dizer porque é uma mentira…
— Pare de brincar!
“Uh… essa foi uma tentativa genuína. Como esperado, essa estratégia não vai funcionar.”
— Tanto faz, apenas diga qualquer coisa.
— …Eu realmente não sou um espírito maligno. Acredite em mim, Raven.
Quando repeti as mesmas palavras, o ponteiro parou novamente. A única diferença foi que Raven não perdeu aquela breve abertura e rapidamente disse — Eu sou um homem. O quê… Eu consegui dizer isso?
“Então, o efeito anti-mentira também para de funcionar em todo mundo quando ele congela. Acabei de aprender algo novo. Droga.”
Tick, tick.
Mas, apesar do fato de que continuava parando, ele voltava a funcionar normalmente um momento depois, o ponteiro no disco continuando a se mover.
— Eu sou um h… Hmm, agora não está funcionando mais. Sr. Yandel, você fez algo, não fez?
“Espera, por que você está automaticamente me culpando? Bem, eu sou o causador disso, mas…”
Eu tinha que negar isso completamente. — I-Isso é injusto! Por que você está me acusando quando você comprou um produto defeituoso?
— Produto defeituoso? Como pode ser normal que isso aconteça toda vez que você abre a boca? — Isso era definitivamente estranho. Se eu fosse a Raven, usaria o mesmo raciocínio.
Mas eu não podia simplesmente admitir isso, podia? Aumentei minha voz. — Eu não fiz nada! É verdade! Acredite em mim! — O fato de que agora era impossível distinguir verdade de mentira com o Confiança Equivocada significava que as chances de a pessoa com a voz mais alta ganhar o argumento aumentaram.
— …Por favor, cale-se. Você é muito barulhento.
“Caramba, por que você está ficando com essa expressão de pedra? Tão assustadora.”
Quando me calei reflexivamente, Raven também fez uma pausa por um momento, perdida em pensamentos. — …Diga-me.
— Hã?
— O que você estava prestes a dizer antes. Diga-me aquilo.
— Ah… — De certa forma, isso era como nos tempos antigos, quando não havia magia ou ciência, um tempo em que apenas falar com alguém era o suficiente para confiar. Ufa, que mundo maravilhoso era aquele.
— O que você quis dizer com ‘voltou’? O que diabos você estava fazendo antes disso?
— Eu vou te contar tudo.
Com isso, eu passei pelo que aconteceu depois que Amelia e eu ficamos sozinhos na Ilha Farune em ordem cronológica. No final, nós dois derrotamos o Storm Gush, e uma essência apareceu.
— Então você puxou o Guardião do Farol mais cedo com…
— Sim, usei isso em conjunto com a Transcendência de Bayon.
— Acho que tudo até esse ponto é verdade. Continue.
Antes de entrar na próxima parte, falei sobre o tesouro que a Amelia e sua equipe estavam atrás, o Fragmento da Pedra dos Registros que antes estava em posse do senhor do castelo de Noark.
Foi surpreendentemente fácil convencer a Raven. — Eu já ouvi falar desse item antes. Mas eu não tinha ideia de que esse era o tesouro que aquele homem Drous roubou. De qualquer forma, a lenda diz que você pode usá-lo para mudar o passado, certo?
— Não era uma lenda, mas um fato. Bem, é impossível mudar a história, no entanto. Você entenderá em um segundo.
Contei a ela sobre como o Fragmento da Pedra dos Registros ativou e como acordei vinte anos no passado.
— …Isso é impossível, mas se algo assim realmente aconteceu, acho que isso explica como apenas seu equipamento foi deixado na ilha.
Quanto mais a conversa progredia, mais dúvidas Raven começava a ter. Mas ela não me interrompeu, provavelmente planejando julgar a veracidade por si mesma quando minha explicação terminasse.
— Nivelles… Enze? — Quando cheguei à parte sobre como peguei minha identidade de IDs que conseguimos de um saqueador na ilha, Raven inclinou a cabeça em confusão.
Oh, ela se lembra do que aconteceu naquela época?
Comecei a ter esperança, mas a realidade continuou impiedosa.
— …Soa familiar, de alguma forma.
“Bem, ela tinha cinco anos naquela época. Como poderia lembrar meu nome? De qualquer forma, depois disso…”
Foi a vez de Dwalkie fazer uma aparição. Contei-lhe sobre como tentei mudar o destino dele, mas logo percebi que, não importa o que fizesse, a história sempre seguiria na mesma direção.
— Tudo o que fiz já havia acontecido na linha do tempo original.
— O estudo do tempo existe desde os tempos antigos. Esta é a teoria da linha do tempo unidimensional… Não se preocupe com isso, por favor, continue.
— Claro.
Então contei a ela como desci para Noark e expliquei em detalhes os esforços que fiz lá por seis meses para salvar a irmã de Amelia. Claro, omiti tudo o que tinha a ver com espíritos malignos.
— Quando voltei, a apenas um mês, eu estava em Noark. Naquela época, encontrei Amelia e Erwen, e Erwen acreditou em mim.
— E a razão pela qual você não anunciou sua sobrevivência imediatamente foi porque o anúncio feito pelo palácio era suspeito… certo?
— Certo. Mas, não sei se você vai acreditar nisso. — Eu disse tudo o que precisava dizer agora. Então, qual conclusão Raven chegaria?
Eu estava cheio de metade expectativa e metade preocupação enquanto esperava Raven falar. Quando ela falou, sua voz era dura. — Que história ridícula. Do tipo que crianças gostariam.
Eu esperava essa reação até certo ponto. Afinal, ela era uma maga, não uma pessoa comum. Quanto mais inteligência alguém tinha, mais absurda minha história soaria para eles.
— Você tem provas de que suas palavras são verdadeiras?
“Eu sabia que você iria perguntar isso, então preparei algo. Sabe por que não te contei sobre nosso encontro? Normalmente, essas coisas têm um impacto melhor quando são mencionadas em momentos dramáticos.”
— Provas… claro que tenho. Você disse que o nome Nivelles Enze soa familiar para você, certo?
— Sim, e?
— Claro que é familiar. Porque você e eu já nos encontramos há vinte anos.
Diante da confusão da Raven, expliquei aqueles eventos em detalhes: nosso primeiro encontro na biblioteca, como eu a salvei de encrencas enquanto ela ia por aí eletrocutando todo mundo, e como nos encontramos quase todos os dias depois disso para conversar.
— Aquela pessoa… era você…? — Logo, os olhos de Raven se encheram de espanto.
— Acho que você finalmente se lembrou de quem é Nivelles Enze.
Ela pode não ter lembrado do nome, mas se lembrou de quem eu era. Isso foi uma coisa muito afortunada. Raven ficou em silêncio por um tempo, me olhando com uma mistura de espanto e perplexidade.
— Não pode ser… Como isso aconteceu…?
— Eu sei como você se sente. Mas isso realmente aconteceu. Você lembra das conversas que tivemos, certo?
— Vagamente. Eu só lembro de alguém assim existindo… Eu fiquei realmente ocupada depois de entrar na Torre Mágica. E então aquilo aconteceu, não muito tempo depois…
— Aquilo?
Raven estremeceu, sua voz tornando-se fria. — Você não precisa saber disso, Sr. Yandel.
“Haha, e eu fui tão gentil com você quando era pequena. Como ela cresceu assim? Ah, acho que ela era ainda mais espevitada1 naquela época. Pelo menos agora ela fala de forma mais educada…”
— De qualquer forma, está considerando acreditar em mim agora?
Raven não respondeu a minha pergunta e manteve a boca fechada.
Tick, tick.
À medida que o silêncio se prolongava, o som do ponteiro girando no Confiança Equivocada parecia particularmente alto. Restavam menos de dois minutos agora. Pode ter parado todas as vezes que eu falei, mas não era como se eu tivesse falado sem parar o tempo todo.
Tick, tick.
O tempo avançava.
— Não importa no que eu queira acreditar. Amelia Rainwales, responda. Todas essas histórias são verdadeiras? — Lembrando-se então que ela poderia validar meu conto inacreditável através de outra pessoa, a atenção da Raven se voltou para Amelia.
Tick, tick.
Mesmo com o Confiança Equivocada funcionando normalmente, Amelia não teve problemas para responder. — Tudo o que Yandel disse é verdade. — Sim, eu posso ter omitido alguns detalhes, mas as experiências em si eram fatos. — Yandel e eu viajamos vinte anos para o passado e passamos por muitas coisas. Todas essas coisas realmente aconteceram.
Esse foi o golpe final. Mesmo que fosse uma história difícil de acreditar, não havia como ela não acreditar neste ponto.
“Ok, acho que consegui convencê-la…”
Com esse pensamento em mente, baixei um pouco a guarda.
— Mas… — disse Raven, exclamando as palavras. — Isso… não prova que o Sr. Yandel não é um espírito maligno.
— …Hã? — Eu simplesmente não conseguia entender. Por quê? Minha história não era suficientemente crível? Por que ela ainda estava cavando tanto nisso?
“Poderia ser… ela tem outro motivo para suspeitar que sou um espírito maligno além do anúncio do palácio?”
Essa possibilidade fez minha boca secar.
— Amelia Rainwales, vou lhe fazer uma última pergunta.
— Fale. — Amelia assentiu.
Raven hesitou por um momento, mas quando finalmente fez sua pergunta, não deixou espaço para ambiguidades. — Se você tiver a menor dúvida ou não souber com certeza, por favor, me diga. Bjorn Yandel é um espírito maligno?
“Maldição.”
Amelia não respondeu à pergunta de Raven. Não, ela não pôde responder, para ser mais exato. Como poderia? Você não podia nem proferir uma mentira diante daquele Item Numerado. A única coisa que podia fazer era ficar lá em silêncio.
Então, um silêncio pesado caiu. O único som era o clique do ponteiro do Confiança Equivocada se movendo ao redor do disco.
Tick, tick, tick.
No entanto, isso não durou muito.
Tick.
Assim que o ponteiro completou uma única revolução e parou, a luz do disco também se apagou. O Confiança Equivocada foi desativado. No entanto, a tensão no ar persistiu. Isso acontecia às vezes, em situações em que um momento de silêncio proporcionava uma resposta mais clara do que dez mil palavras.
— Acho que não há mais necessidade de responder agora — Amelia disse em voz baixa um momento depois.
A boca de Raven não mostrava sinais de se abrir. Ela também não reativou o Confiança Equivocada para repetir a mesma pergunta. Eu não perguntei, mas provavelmente não era porque ela estava sem usos.
— Raven…
— Por favor, não diga nada. Pelo menos… não agora…
Raven me encarou de sua posição na frente das barras por um longo tempo. Parecia que ela estava organizando seus pensamentos em silêncio. Mas talvez esse processo não estivesse indo tão bem quanto esperava?
Raven começou a murmurar para si mesma. — Eu sou a vice-comandante do Terceiro Batalhão Mágico e tenho orgulho e responsabilidade no meu papel. Não tenho intenção de abandonar os deveres do meu cargo. É por isso que tenho que relatar isso. Porque se eu não fizer, isso não será apenas traição ao nosso país, mas também uma traição e engano para aqueles que confiaram em mim.
Não era difícil descobrir para quem aquelas palavras que ecoavam pela sala escura eram destinadas. Não era para mim, nem para Amelia, nem para Erwen.
— E-Eu…
Era para ela mesma.
— Eu não devo fazer isso. Não, eu não posso fazer isso… — Raven murmurou, apertando seus punhos pequenos enquanto tentava desembaraçar seus pensamentos confusos. Então ela se virou e foi em direção às escadas.
Thump, thump.
Ela parecia estar andando na corda bamba.
— Yandel, se você deixá-la sair assim, estará em grande problema — Amelia me aconselhou por cima do ombro, mas eu não conseguia realmente ouvi-la. Claro, eu sabia disso logicamente. Se Raven saísse agora, da próxima vez, ela traria homens.
Grit.
O que eu poderia dizer para impedi-la? Minha camarada, que tentou acreditar em mim, eventualmente descobriu a verdade e decidiu se afastar de mim.
Tum.
Meu coração apertou. Ao mesmo tempo, tive esse pensamento: se eu não fosse um espírito maligno, se eu tivesse nascido no corpo de Bjorn Yandel, encontrado essas pessoas e me tornado seu companheiro, como as coisas teriam sido?
“Ridículo. Se fosse esse o caso, nunca teríamos nos tornado companheiros.”
Tentei afastar a fantasia inútil, assim como a culpa que sentia em relação a Raven. Não era hora de pensar nisso.
“Acho que não tenho escolha a não ser ir para o Plano B.”
Agora que a situação havia piorado, eu tinha que me concentrar em sair vivo, independentemente da minha situação atual. Afinal, não era apenas minha vida em jogo. Eu também tinha que assumir a responsabilidade pela Amelia e a Erwen.
Quando as tropas chegassem e as barras de aço se abrissem, eu teria que usar 【Gigantificação】 para mantê-las fora da sala e ganhar tempo. Em vez de sair para o convés, eu precisaria quebrar o chão para escapar para o lago. A questão da respiração poderia ser resolvida usando um espírito da água… e a partir daí…
Enquanto eu elaborava o Plano B, Raven parou de andar e se virou lentamente para mim novamente.
Tap.
— Mais cedo… por que você me salvou? — Ela olhou direto nos meus olhos enquanto perguntava, como se isso fosse a única coisa que ainda a incomodava. — Se você não usasse Gigantificação, sua identidade não teria sido exposta. Por que… ainda me salvou? Mesmo… se machucando assim. Deve ter havido uma razão.
“Então é isso que você estava se perguntando.”
Eu podia entender por que ela estava perguntando, mas isso só aprofundou minha tristeza. Raven nunca teria perguntado algo assim no passado. O motivo dela perguntar agora devia ser porque eu era um espírito maligno. Toda a minha sinceridade até agora estava em questão, e o tempo que passamos juntos havia sido anulado.
“Acho que é isso que Baekho deve ter sentido.”
As emoções que ele deve ter sentido uma vez saturaram todo o meu corpo até os ossos. As paredes ao redor do meu coração se fecharam como se nunca tivessem sido abertas. Eu duvidava que qualquer coisa que eu dissesse aqui significasse algo.
No entanto, falei. — Sim, eu tinha um motivo.
— …Eu entendo. Como eu pensei, havia algo mais te impulsionando.
Eu poderia parecer para ela como um monstro que roubou o corpo de outra pessoa, e tudo isso poderia parecer uma mentira. Mas, embora eu soubesse que não cabia a mim dizer algo assim, se houvesse algo me impulsionando, era uma única coisa.
— Raven, foi porque você estava em perigo. É por isso que eu te salvei.2
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