Capítulo 362: Interrogatório (4/4)
『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: SMCarvalho – Demisidi – Elteriel 』
Arua Raven se virou novamente. Mesmo depois de desviar os olhos dele, ainda sentia o olhar solitário e lamentável do homem em seus ombros. Parecia que uma lâmina estava cavando em seu peito.
“Por que ele está me olhando assim? Eu sou a traída aqui…”
Espíritos malignos enganaram o mundo inteiro. Foi isso que ela aprendeu desde jovem, e o que ouviu de inúmeras histórias ao crescer.
“Você me salvou porque eu estava em perigo? Isso não é possível…”
Raven balançou a cabeça, mas isso exigiu mais esforço do que deveria. Ignorando a maneira como seu coração protestava, ela tentou incutir isso em sua mente: ele estava simplesmente dizendo o que ela queria ouvir. Ele devia ter algum tipo de objetivo. Ela não podia ser enganada por isso. Com isso em mente, começou a dar passos pesados para frente.
Thump.
A cada passo que dava, no entanto, memórias de expedições com ele passavam por sua mente. Começou com seu primeiro encontro na Cidadela Sangrenta.
— O que diabos é isso?! Por que há um Vampiro aqui?
— Melhor correr em vez de reclamar, anão.
Um Vampiro apareceu como o guardião da Fenda do primeiro andar. O homem naturalmente assumiu o comando do grupo e se lançou na batalha, alcançando a vitória no final.
“A água benta que ele usou no final… ele só sabia sobre isso porque é um espírito maligno.”
No final das contas, era assim. Por trás de cada memória preciosa, ela encontrava momentos em que foi enganada e iludida. Como ela deve ter parecido estúpida e fácil de enganar.
Thump.
Claro, no final das contas, ela acabou devendo sua vida àquele homem na Cidadela Sangrenta. No entanto, Raven avaliou a situação racionalmente.
“Isso não significa que ele se sacrificou para nos salvar.”
Se ele não tivesse feito o que fez, também teria morrido. Foi por isso que aquele homem arriscou sua vida naquela luta.
Thump.
A próxima cena que veio à mente foi a vez em que ficaram presos na Caverna de Cristal do primeiro andar. Os cavaleiros e grandes clãs os descartaram como uma mão ruim e escaparam por um portal, deixando-os em apuros. Foi no mesmo dia que aquele homem se tornou conhecido como um herói na cidade.
— Então o que você quer que eu faça?!
— Repito! Todos parem!
O homem foi resoluto quase até o ponto de falha, e em resposta, os aventureiros que estavam apontando espadas uns para os outros se uniram. Então o progresso começou.
— Merda, isso está me enlouquecendo.
— E-Eu não posso continuar. Sinto muito.
Enquanto guerreiros que deviam ter cruzado a fronteira entre a vida e a morte inúmeras vezes antes vacilavam e perdiam a coragem, aquele homem continuava em frente.
— Behelahhh!
Aquele homem assumiu o papel mais perigoso e lutou mais desesperadamente do que qualquer outro. No entanto, Raven fez uma chamada.
“Isso… também foi para se salvar… Isso é tudo…”
Ela deu um passo.
Thump.
Cada passo a levava para mais longe das barras de aço. As coisas que ela experimentou com o homem lá dentro, grandes e pequenas, e toda a ajuda que recebeu dele passaram por sua mente. E cada vez que isso acontecia, Raven pensava:
“Isso nem foi tão difícil… Ele não arriscou a vida naquela vez… Eu dei pelo menos tanta ajuda em troca.”
A maioria eram coisas que ela podia ignorar com pensamentos assim, mas…
— Você… veio até aqui por mim? Através daquele fogo?
— Eu estava dando um passeio.
O que aconteceu no dia em que a capital real foi incendiada…
— O-O que você está fazendo? Você não está pensando em levantar todo esse barco…?
— Ahhhhhh!
Como ele mandou todos embora da Ilha Farune e ficou para lutar contra o inimigo.
— Suas… c-c-costas…!
Até mesmo a maneira como ele bloqueou o feitiço voando em sua direção com o corpo…
“Isso… foi para o próprio bem dele…?”
Raven logo descobriu que, por mais que tentasse negar, estava cada vez mais difícil fazê-lo.
“Não… pode ser…”
Embora estivesse em perigo de vida na época, ainda se lembrava claramente. Aquele homem, mesmo enquanto se contorcia de dor tão intensa que as veias em seu pescoço estavam saltando, suportou tudo enquanto a abraçava cuidadosamente para não esmagá-la. Não havia mais sentido em mentir para si mesma.
— Raven, foi porque você estava em perigo. É por isso que eu te salvei.
Embora tentasse refutar várias vezes, ele estava falando uma verdade inegável.
Creak.
A porta no final do corredor além das barras de aço se fechou.
— Ela se foi.
— Sim…
Eventualmente, Raven foi embora. Agora eu tinha que abandonar a esperança de que ela voltaria e abriria essa jaula.
— Espírito maligno.
“Hã?”
Quando olhei para o lado, encontrei Erwen. Sua cabeça estava abaixada e tudo o que eu podia ver eram seus olhos, que estavam fixos nos meus. — …Você é um espírito maligno?
“Sim, eu estava me perguntando por que você estava quieta.”
Como pensei, ela estava chocada com essa notícia. E fazia sentido que estivesse com raiva. Ela provavelmente assumiu que eu não contei porque não podia confiar nela.
— Erwen, acalme-se. Eu vou explicar-
— Esta mulher já sabia. Então eu sou a única que não sabia.
— Sobre isso, eu…
— Eu disse que não me importava. Eu disse…! Mas por que você me enganou? Porque não podia confiar em mim? O que será necessário para você confiar em mim?
“Acho que esta é a primeira vez que a vejo tão brava…”
Olhei para Amelia em busca de ajuda, mas ela apenas deu de ombros e evitou meus olhos.
“Está tentando dizer que isso é carma e que tenho que lidar com isso sozinho? Mas, por outro lado… ela realmente não parece se importar que eu sou um espírito maligno.”
Será porque ela acabou de ver a Raven sair com seus próprios olhos, incapaz de aceitar o fato de que eu era um espírito maligno? Enquanto, por um lado, eu estava tonto com toda a intenção assassina que a Erwen estava irradiando, por outro, estava aliviado e agradecido.
“Bem, isso e aquilo são duas coisas separadas. Como posso acalmá-la?”
Não precisei pensar muito.
— E a Raven, e quanto a ela?! Você e-escondeu isso tão bem de mim, mas só porque aquela mulher estava em p-perigo…! Proteger ela ao custo da sua identidade é…!
Tap.
Antes que Erwen pudesse explodir ainda mais, peguei seu pulso no ar. — Erwen, eu teria feito o mesmo se você estivesse em perigo. — Cada palavra que falei foi sincera. Eu definitivamente teria feito o mesmo pela Erwen.
Mas isso era difícil para ela acreditar? — M-Mentiroso… V-Você nem me contou com antecedência… V-Você acha que ela é mais confiável do que eu.
— O quê…? Por que você pensaria isso?
— Porque… E-Eu sou assim… Só porque peguei essas essências… Sou tratada como uma louca instável…1
“Hã. Eu não sabia que você estava pensando essas coisas sobre si mesma.”
Parecia que Erwen secretamente sentia muita vergonha de sua condição. — Erwen, isso não é verdade.
— Então… por que só escondeu de mim…?
“Caramba, é por isso que eu disse que ia explicar.”
Suspirei internamente.
— Porque ele queria te proteger. — Por algum motivo, a resposta saiu da boca da Amelia, não da minha. — Isso é razoável, não é?
O que essa garota estava falando? Ignorei ela e observei a Erwen, que parou enquanto absorvia isso.
— …Uh, Hã? — Seus ombros tremeram e começaram a sacudir depois de um momento. — E-E-Eu?
“Ok, parece que ela se acalmou um pouco…”
Só para garantir que ela não tenha entendido algo mal, rapidamente expliquei. — Você também viu. Raven interrogou a Amelia.
Mesmo que eu tivesse o presente de Auril Gavis, não podia impedir que magia da verdade fosse usada contra outras pessoas. Foi por isso que quis manter o número de pessoas que sabiam do meu segredo o menor possível. Claro, essa decisão também era vantajosa para mim, mas não foi tomada exclusivamente para meu benefício.
— Eu queria te dar uma saída caso houvesse um momento em que você se metesse em apuros por eu ser um espírito maligno. Se você não soubesse, seria vista apenas como uma vítima. Mas se soubesse e ainda assim me ajudasse, seria tratada como cúmplice.
— Então é porque você se importa mais comigo do que com a Rainwales…? P-Porque você escondeu de mim de propósito. Para… me proteger…
— Uh… — Meus olhos naturalmente se voltaram para Amelia. Ela riu de um jeito que parecia perguntar por que eu estava tão estressado, então assentiu.
“Acho que ela está me dizendo para não me preocupar com ela e cuidar disso primeiro… Ufa, ela é tão confiável.”
— Sim, foi por isso que eu escondi de você.
— E-Eu sabia! — Quando concordei com ela, Erwen ficou radiante e cerrou os punhos. Em seguida, olhou para Amelia, com os ombros eretos e os cantos da boca curvados para cima.
— …Isso é um pouco irritante — disse Amelia, franzindo a testa.
Erwen não deu a mínima e voltou a atenção para mim. — Senhor, eu agradeço, mas… não faça isso de novo. Não há como eu querer te deixar se virar sozinho. — Erwen olhou além das barras na direção em que a Raven saiu. — Eu sou diferente daquela mulher, que não conhece vergonha mesmo depois de você salvar a vida dela várias vezes.
“Uh, você é…?”
— Então, apenas confie em mim! Tudo bem?
— Sim…
Uma vez que isso estava praticamente resolvido, Amelia entrou na conversa e mudou de assunto. — De qualquer forma, o que você vai fazer agora?
“Ah, isso… eu deveria começar a me preparar.”
— Vamos juntar nossas coisas primeiro.
— Coisas?
— Não podemos deixar o equipamento para trás.
Ajoelhei-me sobre os itens que saqueei do Guardião do Farol. Juntando o equipamento em sua túnica estendida, embrulhei-o como um pacote e o amarrei firmemente ao redor do meu pescoço — Modo Ambulante Bárbaro. Eu carregaria assim por enquanto e depois colocaria no sub-espaço quando tivesse a chance.
— Se você pegou tudo, me diga agora: o que você vai fazer? Tenho certeza de que tem algo planejado. — Como Amelia estava perguntando novamente, compartilhei o Plano B que estava elaborando em minha mente.
Então, esperei pacientemente até a hora chegar. Um tempo depois, a maçaneta no final do corredor começou a girar, antes de se abrir lentamente com um rangido.
Clink! Plic!. Tap.
Raven apareceu novamente, sem ninguém acompanhando-a.
— Ela está sozinha — disse Amelia.
— O que ela está planejando? Ela já deve ter relatado isso aos superiores.
Amelia e Erwen olharam para fora da jaula, segurando suas armas como se estivessem em guarda. Com isso, Raven estremeceu e parou.
— Por que você está sozinha?
— Para verificar algo — respondeu Raven, em voz baixa.
A conversa ocorreu a uma distância de sete metros. Talvez por causa do eco das nossas vozes no corredor, cada centímetro entre nós parecia mais largo do que nunca.
— Verificar o quê?
Raven não respondeu. Ela apenas continuou andando e reduziu a distância.
Tap, tap.
Quanto mais Raven se aproximava das barras, mais eu podia ver sua expressão sem a escuridão obstruindo. Ela tinha uma expressão complicada, uma que não poderia ser resumida em apenas uma emoção. Mas uma coisa era óbvia à primeira vista.
— …Você não me denunciou? — perguntei, e Raven novamente respondeu com silêncio.
Tap, tap.
Seus pés continuaram sem pausa, e não demorou muito até que a única coisa entre nós fossem as barras de aço. Raven me encarou através delas com seus olhos azuis claros, e eu olhei de volta para ela sem dizer uma palavra. Não sabia quanto tempo se passou antes de…
Clunk.
Raven tirou as chaves do bolso sem dizer uma palavra. Que tipo de mudança de coração ela teve? Mais cedo, as muralhas ao redor do seu coração estavam tão altas que nada do que eu disse estava funcionando.
“Pode ser… uma tentativa de nos enganar?”
Isso era plausível. Nosso poder de combate teria sido incluído em seu relatório. Como seria problemático nos transformar em inimigos enquanto estivéssemos no barco, ela poderia estar fingindo nos ajudar por enquanto apenas para nos prender mais tarde na cidade.
— Por que você está fazendo isso de repente? — perguntei diretamente. — Como você disse antes, o que está prestes a fazer agora vai trair todos que confiaram em você.
Enquanto falava, foquei nos olhos da Raven. Estava convencido de que suas habilidades de atuação ruins me diriam se ela estava dizendo a verdade ou não, mas Raven apenas riu.
— Por que está rindo…? — Não parecia uma risada de zombaria. Pelo contrário, a risada parecia mais autodepreciativa, mais tingida de tristeza. Mas por que seria?
— É só que isso me lembra de antes.
“Hã?”
— Se eu não soubesse que você era um espírito maligno, você nem teria feito essa pergunta.
— Ah… — Por um momento, fiquei sem palavras. Parecia que Raven havia tomado sua decisão antes mesmo de descer aqui, pois não havia hesitação em seus movimentos.
Swip.
A chave deslizou na fechadura e girou. As barras de aço entre Raven e eu brilhavam à luz das tochas e refletiam nossas imagens como espelhos. Por algum motivo, senti-me aflito. Para ser honesto, pensei que estava acabado, e foi por isso que pensei no Plano B.
— …Minha resposta é a mesma que a sua. Se você ficar aqui, estará em perigo, Sr. Yandel. Decidi te ajudar por enquanto, sem me importar com o que acontece depois. Então…2
— A chave terminou de girar com um clique. — Saia rapidamente. Também preciso ouvir o que você planeja fazer a seguir.
A porta firmemente fechada se abriu.
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