Capítulo 365: Responsabilidade (3/5)

『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: SMCarvalho – Demisidi – Elteriel 』

O Cânion dos Espíritos Vingativos era a barreira de entrada do Continente Negro. Quando você saía de lá, o lago onde estávamos atualmente estacionados aparecia, e depois disso o ‘mapa’ era dividido em três zonas principais.

A primeira era o Estuário de Aribeona. Esta rota seguia um rio até um lago de cachoeira, e se você descesse por ele, chegaria à Cordilheira do Dragão localizada no centro do Continente Negro da maneira mais rápida.

“É também onde os Bellarios surgem.”

O lugar onde eu poderia adquirir a essência responsável pela minha Resistência à Mana nas fases finais da minha estratégia de build estava naquela cordilheira. No entanto, não patrulharíamos até lá.

A segunda área era uma vasta selva a leste do estuário chamada a Grande Floresta. Por ser tão grande, a floresta era subdividida em várias zonas, mas esse era o nome oficial. A terceira era as Ruínas de Panthelion localizadas a oeste do estuário, o destino da Quarta Esquadra de Patrulha, composta por cerca de trinta pessoas, incluindo eu.

— Todas as tropas, marchar!

A esquadra de patrulha chegou à entrada das ruínas, ajustamos nossa formação e, então, entramos oficialmente na área. Claro, o propósito de criar uma esquadra de patrulha era defender proativamente contra possíveis emboscadas, então não viajamos profundamente nas ruínas.

— Linha de frente, marchar!

— Levantem a parede de escudos!

Havia muitos monstros aqui de qualquer forma.

— Krrr…! — Tudo começou com bestas modificadas cujos corpos eram feitos de aço, como Golens.

Boom! Boom!

Golens gigantes, engenheirados magicamente.

Whirl!

Monstros do tipo voador voavam como drones. Monstros que estavam adormecidos por toda a ruína perceberam a presença de intrusos e saíram correndo. Esses monstros não conseguiam penetrar a linha de frente com escudos para nos alcançar.

Kwaaang!

Os monstros foram obstruídos por uma enorme parede de pessoas. A visão era estranha. Nunca pensei que chegaria o dia em que eu veria as costas de outra pessoa desse ângulo.

Isso é o que os outros teriam visto quando olhavam para mim.

Mesmo enquanto eu era tomado por uma sensação estranha, esmaguei os monstros que conseguiram escapar para os lados com meu martelo.

Mesmo que este fosse o sétimo andar, o nível médio dos monstros na entrada das Ruínas de Panthelion não era muito alto, o que significava que não havia um monstro que pudesse sobreviver a mais de um único golpe. Talvez porque fossem convertidos de máquinas, a sensação ao acertá-los também era estranha.

Kakagak, crash, smash!

“Uau, mas é tão conveniente apenas balançar um martelo.”

— Linha de frente para o lado! — o comandante da patrulha logo gritou, e os tanques e seus escudos se moveram em uníssono, abrindo um caminho no centro. Como resultado, os monstros romperam a frente.

— Leona er epura! — Mas um feitiço conjunto já estava pronto na retaguarda.

Swoop!

Algo muito parecido com um canhão de laser disparou do centro da formação e fez buracos em cerca de quinze grandes monstros, interrompendo sua investida e permitindo que os monstros restantes fossem rapidamente eliminados.

“É definitivamente mais fácil caçar em um formato de equipe de Raid. A linha de frente também é estável com um sacerdote aqui.”

Embora o nível médio fosse reconhecidamente baixo, não demorou mais de dez minutos para eliminar quase cem monstros enfurecidos. Isso era natural, já que éramos mais de trinta aqui. Mesmo se matássemos cem, os lucros desta batalha não seriam tão grandes uma vez que fossem divididos pelo número de pessoas.

— Não caiu uma essência, então vamos apenas coletar as pedras de mana e continuar!

A esquadra de patrulha continuou caçando… não, patrulhando… e seguiu a rota planejada circulando a entrada das ruínas.

“Uau, a quantidade de XP que minerei só hoje deve ser mais de cem.”

O número de novos monstros que eu já havia matado durante esta patrulha ultrapassava vinte. Os monstros que surgiam eram de baixo nível, mas havia muitas criaturas únicas aqui que habitavam apenas esta zona.

— Bom trabalho, pessoal.

Após patrulhar por cerca de dez horas, deixamos a próxima equipe assumir nosso turno e voltamos à base. Lá, recebemos um bilhete de um oficial administrativo. Aparentemente, ele confirmava nossa parte do saque da caça de hoje. Parecia que poderíamos receber nosso pagamento submetendo-o ao Ministério do Mérito mais tarde na cidade.

— Ei, você aí. — Quando me virei com meu bilhete, um homem suspeito começou a falar comigo.

Só pude inclinar a cabeça em confusão. — …Quem é você? — Não só eu não tinha memória de fazer um amigo assim, como nunca tinha visto esse cara antes.

— Por que está agindo como se nunca tivéssemos nos encontrado? Eu estava ao seu lado durante toda a luta.

“Ah, realmente? Pensando bem, é verdade…”

Pela experiência, era melhor ignorar coisas assim e mudar de assunto nesses casos. — Ah, então, o que você quer?

Quando perguntei por que ele se aproximou de mim, o homem sem nome deu um tapinha no meu ombro como se fosse meu chefe. — Você lutou muito bem lá.

“Hmm, ele veio socializar?”

Com esse pensamento em mente, decidi ser humilde por enquanto. — Você acha isso bom? Você tem padrões baixos.

— O quê?

Por alguma razão, o homem franziu a testa. No entanto, isso não era problema meu. Tirei a mão dele do meu ombro. Estava me irritando.

Tap.

“Se quiser fazer amigos, escolha uma maneira melhor de abordá-los.”

— Então, o que você quer?

Quando perguntei novamente, o sorriso falso do homem desapareceu, e a próxima coisa que saiu de sua boca foi algo inesperado. — Pensei em te dar um conselho.

— …Conselho?

— Parece que você despejou tudo ignorantemente em Força. Se continuar pegando essências assim, estará em grande perigo algum dia. — Ele tirou um punhal e cortou o braço. — Viu isso? Mesmo se eu aplicar muita força, é difícil cortar. Os aventureiros devem ser bem equilibrados como eu, em vez de apenas confiar na Força…

— Ah, o quê, você é só um idiota? …Ah, desculpe. Esqueci de dizer isso na minha cabeça.

Mesmo que eu tenha me desculpado como um homem, a expressão dele ficou pétrea¹ e ele me encarou.

“Cara, você parece que pode ser derrubado com um único tapa. Quem você pensa que é, se gabando de sua mísera Resistência Física para mim?”

Mas, por via das dúvidas, perguntei o nome dele primeiro. — A propósito, qual é o seu nome?

— Melliver Eltain.

“O quê, você nem é um Hans?”² 

— Entendi. Até mais.

— Senhor, o que você está fazendo aí?

— Como pode ver, alguém está me chamando — eu disse ao homem. Então, apagando o nome que acabei de ouvir da minha memória, me afastei.

“Então, o nome era Melliver… Como era mesmo?”

Eu não conseguia me lembrar e, infelizmente, nunca mais vi o homem. Continuei assumindo deveres de patrulha depois disso, mas me juntei a uma unidade de patrulha diferente a cada vez. A razão era simples. Cada unidade de patrulha patrulhava apenas uma zona. Esta era uma estratégia sensata do ponto de vista do Comando. Se cada esquadrão de patrulha fosse responsável por uma área, eles se familiarizariam com o terreno e trabalhariam melhor como um grupo. Normalmente, era impossível mudar de equipe toda vez… a menos que você tivesse o apoio de um superior no exército.

— Raven, ouvi dizer que a Décima Primeira Esquadra de Patrulha vai entrar fundo desta vez…

— Ok. Vou escrever uma recomendação.

— Obrigado.

Graças à ajuda da Raven, consegui visitar o Estuário de Aribeona e a Grande Floresta, além das Ruínas de Panthelion, para acumular XP. Claro, eu só me aventurava até a entrada e ainda não tinha encontrado a maioria dos monstros, mas ainda assim acumulava XP cada vez que mudava de equipe e o tempo voou até hoje.

Finalmente, alcancei o sétimo nível, pelo qual vinha lutando, e adicionei um novo slot de essência. Isso significava que eu poderia adicionar uma nova sinergia ao meu combo atual.

“Como nosso problema de dinheiro está essencialmente resolvido, não precisarei me juntar ao esforço de guerra na próxima vez. A partir do próximo mês, devo farmar por uma essência. Ah, preciso de um barco primeiro?”

Enquanto refletia vagamente sobre várias coisas, de repente notei o quão quieto estava. — Raven?

— O que foi?

— Onde estão a Erwen e a Emily?

— Emily saiu do quartel mais cedo para dormir um pouco e a Erwen… não sei. Ela seguiu aquela mulher não muito depois.

— Hmm, entendi.

— Então, essas são todas as perguntas que você tem? — Raven já havia tirado os olhos de mim e estava lendo um documento.

“Cara, pelo menos me dê tempo para responder. Pensando bem… parece que estou sozinho com ela.”

Quando dei um passo para trás e parei de falar para não atrapalhar o trabalho da Raven, percebi o quão estranho esse momento parecia. Isso porque a Amelia e a Erwen tinham estado constantemente ao meu lado desde a nossa reunião com Raven.

“Deveria aproveitar esta oportunidade para fazer a pergunta que está na minha mente.”

— Um, Raven.

— O que é desta vez?

— Aquela ‘coisa’ que você mencionou antes… o que era aquilo? — perguntei cautelosamente.

A caneta de Raven tremeu e parou de se mover. Ela levantou os olhos para me olhar. — O que você quer dizer?

“Cara, fingindo não saber?”

— O que você mencionou na frente das grades de aço. Você disse que ‘aquela coisa’ aconteceu não muito depois de você ir para a Torre Mágica.

— …Eu realmente não quero falar sobre isso. Não é importante.

— Sério? Que pena, então. — Por mais que eu me esforçasse para fingir ser um bárbaro dia e noite, não tinha intenção de ser o meu rude habitual agora. Recuei prontamente. — Então como está sua mãe? Ela está bem? — Apenas decidi bater um papo. Isso também pode ter sido um assunto sensível, mas não era totalmente fora do contexto para mim perguntar.

— Você… já sabia de algo…?

— Hã?

Quando inclinei a cabeça para sua reação estranha, Raven rapidamente soltou — Não é nada. Mas… por que está perguntando sobre minha mãe de repente? Não vejo como isso seria algo de seu interesse.

“Haha, eu sabia que você diria algo assim.”

— Por que não estaria? Fui eu quem convenceu sua mãe a enviá-la para a Torre Mágica.

Raven tremeu. — O-O q-que você disse?

— Não sei se você se lembra, mas houve um tempo em que você veio à biblioteca depois de ser espancada por sua mãe. Naquela época, você chorou como uma criança e implorou por ajuda…

— E-Eu nunca fiz isso!

— Hã? Pensei que você não se lembrava muito do que aconteceu naquela época?

— Mesmo assim, eu… estou confiante de que nunca teria feito isso.

— Ah, sério?

— Não estou de bom humor, então pare de brincar e diga. É verdade o que você disse? Que você… persuadiu minha mãe?

— Sim.

Já que estava nisso, contei mais sobre o que aconteceu no passado. Apenas pulei isso na gaiola porque não tinha tempo para entrar no assunto. Eu queria ter um momento assim com ela pelo menos uma vez. Para ser mais exato, queria saber quanto impacto positivo minha presença teve na cadeia geral de eventos. Nunca se sabe. Pode chegar o dia em que eu tenha que usar o Fragmento da Pedra dos Registros novamente.

“Ah, mas devo deixar essa parte de fora.”

Enquanto eu falava, certifiquei-me de omitir partes da conversa que tive com sua mãe. A razão para isso era simples.

— Aquela criança me abandonará. Ela se tornará uma grande pessoa um dia e olhará para mim de cima. Então, no final, ela me deixará para trás para aquele mundo dela. Assim como ele fez naquele dia, já que ela é do sangue dele… Isso não é injusto? Por que a vida daquela criança é tão fácil? Eu a dei à luz, mas ninguém em toda a minha vida jamais me ajudou por esse motivo. Mas… por que aquela criança…?

Como eu poderia relatar algo tão sombrio, e para a própria pessoa em questão?

— Esqueça o que aconteceu na biblioteca e me diga logo. Aquele dia… o que você conversou com minha mãe?

— Nada especial. Tentei persuadi-la a enviá-la para a Torre Mágica dizendo que pagaria todas as despesas, mas ela recusou.

— Recusou?

— Ah, ela recusou o dinheiro, para ser exato. Aparentemente, alguém da Torre Mágica havia visitado alguns dias antes. Acho que você chamou a atenção de alguém, eletrocutando pessoas com magia onde quer que fosse.

— Entendi… é por isso que ela de repente mudou de ideia…

— Ahem, não para me gabar, mas sou meio que seu salvador de certa forma… — Eu insinuei essa interpretação, mas Raven apenas me ignorou.

“Cara, você está me deixando sem jeito.”

— Então… o que aconteceu com sua mãe? Vocês estão se dando bem agora?

Quando mudei de assunto novamente, a resposta de Raven foi fria. — Não podemos, ainda que eu quisesse.

— …Hmm?

— Ela já faleceu.

Fiquei momentaneamente sem fala, e o silêncio se fez. — Ah, uh… s-sério? Isso é lamentável. Ela não parecia ter nenhum problema de saúde… — Já fazia muito tempo desde que eu ficava tão atrapalhado assim, então tentei me acalmar e resolver isso, mas não era como se pudesse colocar o gênio de volta na garrafa.

— Não foi um problema de saúde. Nem foi um acidente. E ela também não estava no fim da vida.

— …Então?

— Ela se enforcou. Foi cerca de um mês depois que eu fui para a Torre Mágica. Pude ir para casa pela primeira vez em uma semana por causa de alguns deveres de casa do Mestre, e… — O tom da Raven era calmo enquanto falava, como se estivesse simplesmente lendo uma entrada em um diário antigo que havia encontrado escondido no canto de uma sala de armazenamento, como se não fosse sua história. — Havia um cheiro podre no quarto. E essa foi a minha última lembrança de minha mãe… Não me olhe assim. Já superei isso há muito tempo. Pessoas morrem. Não é novidade.

Raven acabou sendo a que ofereceu conforto em vez de ser o contrário, enquanto eu acabei sem conseguir falar nada. A memória ficou cada vez mais clara.

— Não é estranho? Tudo o que conquistei na vida está em um único quarto neste lixo… Então, qual foi o propósito da minha vida?

Essa foi a última conversa que tive com sua mãe. Depois disso, a vi cambalear para o beco como uma pessoa que havia sido drenada de toda a vida.

1. duro como pedra, ‘fechou a cara’.[↩]
2. Demisidi: Grazadeus né![↩]
3. MrRody: A quanto tempo eu não colocava um destes, sensação boa![↩]