Capítulo 387: Espírito Livre (1/4)
『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: Demisidi – Elteriel – Note 』
Shaaaaaa!
Depois de molhar meu cabelo com água morna, esfreguei minha pele com força usando sabão, por sabe-se lá quanto tempo. Só quando saí do banheiro e vesti roupas confortáveis que finalmente senti que era real. Eu estava de volta em casa.
Tap, tap.
Enxugando meu cabelo molhado enquanto descia para o primeiro andar, encontrei Amelia e Erwen me esperando na sala de estar.
— Você demorou. — Amelia parecia um tanto descontente com minha aparência impecavelmente limpa.
Sentei-me no sofá em frente a ela. — Já que você não está escrevendo nada, imagino que não tenha encontrado nada de importante?
— Sim, apesar de seus medos, não encontrei nenhum dispositivo de escuta ou algo assim.
Isso foi um alívio. Eu estava preocupado que os cavaleiros pudessem ter deixado algo para trás quando invadiram a casa.
— Além dos que já estavam lá, claro — Amelia acrescentou.
“Hã? Já estavam lá?”
— Pelo seu rosto, acho que você não sabia? Sempre houve uma bola de cristal de gravação na sala de estar.
Mesmo que ela dissesse isso como se fosse óbvio, era a primeira vez que ouvia isso. Mas se eu deduzisse da sua fala que ela estava lá há muito tempo…
— Erwen?
Quando lancei um olhar suspeito para a principal suspeita, Erwen estremeceu e desviou o olhar. — B-Bem… já que nunca se sabe… E-E se não fosse pela bola de cristal, não teríamos descoberto o que aconteceu com você tão rápido…
“…Bem, não posso dizer nada contra isso.”
Quando perguntei, ela me disse que as bolas de cristal com capacidade de gravação estavam instaladas apenas na entrada e na sala de estar. Decidi considerar isso uma medida de segurança que qualquer proprietário poderia tomar.
“Não é de se admirar que me encontraram com o marquês tão rápido.”
Levantei uma questão que não pude perguntar na carruagem que o marquês tinha providenciado para nos levar para casa. — Erwen, como você sabia que eu estava na casa do marquês?
— Não havia outro lugar onde você poderia estar! Afinal, aquele homem veio aqui pessoalmente!
— Aquele homem…?
— Ah, você não sabia, senhor? Eltora Tercerion, o filho do primeiro-ministro, foi o comandante que veio te prender!
— O quê? Não é ele que foi recentemente promovido a Comandante do Terceiro Batalhão?1
“O primeiro-ministro está louco? Por que ele enviaria seu filho em uma missão tão perigosa? E se eu tivesse esmagado o crânio dele? Embora, se ele prezasse seu filho em primeiro lugar, não o teria enviado para a batalha.”
A abordagem do marquês para criar filhos me parecia muito espartana, mas isso não era da minha conta.
— Mas Schuitz, o que exatamente aconteceu com o marquês?
— Sim. Por favor, nos conte agora. Você não sabe o quão surpresas ficamos ao ver a porta quebrada e você desaparecido quando voltamos.
Expliquei o mal-entendido do marquês sobre mim e o acordo que ele propôs, e pedi a opinião delas. Suas reações foram significativamente diferentes.
— Oh meu, ele realmente vai devolver seu título? Isso é incrível! — Erwen estava feliz, dizendo que isso era uma boa notícia.
Amelia, que estava em uma sintonia semelhante à minha, expressou preocupações de que as coisas estavam indo bem demais. — O primeiro-ministro é o melhor aliado que você poderia ter, mas não consigo afastar uma sensação de inquietação.
— Mas o que mais eu poderia fazer? Se eu dissesse não, só complicaria as coisas.
— …Vou conduzir minha própria investigação sobre o primeiro-ministro.
— Sim, eu confio em você.
— Desculpe? E quanto a mim?
— Você também, claro, Erwen.
Os únicos em quem você podia realmente confiar eram seus companheiros. Este mundo era duro demais para sobreviver sozinho.
Tap, tap.
Enquanto ele estava ocupado batendo o dedo indicador na mesa em intervalos regulares, perdido em pensamentos, a porta se abriu e um homem entrou. — Chamou, pai?
Eltora Tercerion era o único filho do marquês e o homem que um dia herdaria tudo o que o primeiro-ministro construiu. Mas o olhar do marquês era frio quando se fixou nele. — Se você tivesse olhos e ouvidos funcionais, já teria visto e ouvido isso. Então, vou escolher ignorar isso. O que você acha desse incidente?
— Para ser honesto… fiquei muito surpreso. Nunca pensei que o Baronete Yandel estivesse vivo, como você disse, pai.
— Só isso?
Eltora engoliu seco com a pergunta de acompanhamento do marquês e escolheu suas palavras cuidadosamente. — Seu retorno parece ser vantajoso para nossa família. Embora tenham se passado anos, muitas pessoas ainda se lembram dele. Como um símbolo político, ele pode ser bem aproveitado…
— Basta. — As observações lógicas de Eltora foram interrompidas pelo marquês. — Sua percepção é realmente tão limitada? — Ele lançou um olhar não apenas de decepção, mas de desgosto para seu filho. Ao ver isso, Eltora desviou o olhar para o chão e suspirou internamente.
“Por que esse velho tem agido assim ultimamente?”
Ele nunca foi um pai gentil, mas também nunca foi tão ruim. Ele tinha piorado um pouco dois anos atrás, e agora Eltora estava começando a se sentir como um saco de pancadas emocional.
“Ele também trouxe aquela mulher estranha… Será que ele notou algo sobre mim?”
Era suspeito. Ultimamente, seu pai nunca o chamava, a menos que tivesse ordens a dar, nem compartilhava informações com ele adequadamente. Assim como agora.
— Pai.
— Fale.
— Esta é a primeira vez que ouço que o Baronete Yandel não é um espírito maligno. Por que também escondeu isso de mim? — Eltora perguntou cuidadosamente, tentando sondar seu pai.
A resposta do marquês foi gelada. — Parece que você espera que eu segure sua mão para sempre.
— Não é isso que eu quis dizer. É só que, eu estava pensando que poderia ter sido mais útil se soubesse disso antes…
— O fato de você acreditar que o Baronete Yandel não é um espírito maligno é um sinal de que você é desesperadamente inútil desde o começo.
— Desculpe? Mas pai, você claramente disse…
— Basta. Eu só estaria desperdiçando meu fôlego tentando explicar isso para você.
Suas palavras eram duras demais para serem dirigidas ao próprio filho. Eltora apertou os lábios com isso, mas o marquês não lhe deu atenção, em vez disso trazendo à tona o motivo pelo qual o chamou ali.
— Amanhã, quero que você vá pessoalmente informar Yandel sobre a data do nosso próximo encontro. Quero continuar a conversa que não pudemos terminar hoje.
— O encontro… qual data devo dar a ele?
— A lua cheia deste mês.
O encontro seria realizado à noite.
Era a tarde do dia quinze.
— Então, até logo, senhor. Cuide-se! — Quando saí de casa com a despedida de Erwen, a carruagem esperando em frente ao nosso portão se abriu.
— Quanto tempo, hein — eu disse.
— Decidiu parar de usar discurso polido agora?
— Ouvi dizer que você é o filho do marquês. Então já deve saber quem eu sou.
— Isso é verdade… — O filho do primeiro-ministro desviou o olhar com uma expressão um tanto amarga no rosto, mas isso não era da minha conta.
— Tanto faz, vamos logo.
— Claro.
A carruagem viajou pela larga estrada principal. Em pouco tempo, uma plataforma militar apareceu. Como da última vez, usamos isso para viajar com estilo até Karnon, a capital real.
— É conveniente chegar à capital real em menos de uma hora. Quanto custa uma viagem dessas?
— Um milhão de pedras por pessoa. Claro, isso assumindo que não haja carruagem.
— …Então é melhor simplesmente ir de carruagem.
— Certo. Não há muitos nobres que usam este lugar acompanhados por servos, de qualquer forma. Ouvi dizer que é usado apenas para negócios urgentes.
Enquanto conversávamos, a carruagem finalmente chegou ao seu destino. Uma enorme mansão era visível à distância. Eu me perguntava quanto custava possuir tanto terreno em um lugar tão caro quanto a capital real.
— Devemos nos apressar. Meu pai está esperando.
— Acho que desta vez não será uma bola de cristal?
— Eu te disse. Meu pai quer jantar com você.
Bem, mesmo que ele tenha dito isso, eu meio que presumi que o marquês estava planejando realizar esse jantar via chamada de vídeo.
Creeeek.
O filho do primeiro-ministro me levou ao salão de banquetes localizado no quarto andar. Havia uma grande janela em uma das paredes externas que dava vista para o jardim e oferecia uma bela visão do palácio ao longe. Eu não tinha o luxo de apreciar a vista, porém.
— Você está aqui. — O primeiro-ministro, que estava sentado na cabeceira da mesa, me cumprimentou.
— Faz um tempo, Marquês Tercerion.
— Você veio de longe. Sente-se, Baronete Yandel. Ah, Eltora, pode ir agora.
— …Tenha uma boa conversa.
Quando o filho do primeiro-ministro saiu, o grande salão parecia ainda mais vazio, mas não havia lugar melhor para uma conversa privada.
Tap.
A primeira coisa que fiz foi sentar em frente a ele. Talvez para evitar que os empregados precisassem entrar durante a refeição, a mesa já estava coberta de comida. Para referência, a quantidade de comida colocada na minha frente era cinco vezes maior que a colocada na frente do marquês. Parecia que eles tinham levado em conta minhas necessidades como bárbaro.
— Não se preocupe e coma. Não pretendo pedir que siga regras sufocantes de etiqueta.
— …Se você diz. — O marquês começou a cortar sua carne, e eu arranquei uma coxa de frango e a enfiei na boca.
— Como está a comida?
— Está excelente.
— Que bom.
Enquanto continuávamos nossa refeição, decidi ir direto ao ponto. Eu sabia que, de acordo com a etiqueta Rafdoniana, não se podia falar de trabalho durante as refeições, mas eu era de uma raça que não era presa a essas formalidades vazias. — Marquês, a comida está ótima, mas quero ouvir mais sobre o que você estava dizendo outro dia.
— Sobre como vou ajudá-lo a recuperar seu título?
— Sim. Tenho certeza de que a maioria das pessoas não conseguirá aceitar que eu voltei dos mortos de repente.
O marquês não comentou sobre minha falta de etiqueta e respondeu. — Deixe-me perguntar uma coisa. Quantas pessoas sabiam quem você era quando estava em Noark?
— Nenhuma. Eu também estava me escondendo lá.
— Isso facilita as coisas. — O marquês começou a explicar o que tinha em mente. — Pretendo afirmar que você recebeu uma missão especial da família real para se infiltrar em Noark. Agora, depois de dois anos e meio, você completou sua missão e retornou. O que acha?
Era uma mentira curta que poderia ser resumida em apenas algumas frases, mas não havia motivo para perguntar se funcionaria. O marquês tinha o poder para fazer isso acontecer. — Nada mal.
— Claro, levará algum tempo. Terei que criar um rastro de documentos dentro do palácio para fundamentar a alegação.
— E o que você fará sobre o anúncio que me declarou um espírito maligno?
— Não se preocupe. Posso simplesmente dizer que os rumores eram necessários para que sua missão de infiltração funcionasse.
Eu gostei bastante do cenário que ele estava elaborando. Se eu fizesse um retorno assim, poderia recuperar minha antiga vida.
Mas se há um problema com esse plano…
— E o que você quer de mim em troca? — Era a questão do que eu teria que sacrificar para conseguir tudo isso.
O marquês pousou a faca com a qual estava cortando a carne e levantou a mão. — Um total de duas coisas.
— Diga.
— Quero criar uma unidade de forças especiais centrada em você. Você as liderará e se junta à guerra.
— Por quanto tempo?
— Até o fim da guerra.
Ele estava tentando me transformar em seu escravo. — Até o fim da guerra? É difícil aceitar uma oferta sem uma data de término.
— Então vamos estabelecer um máximo de três anos. Se a guerra terminar antes disso, os termos do acordo ainda serão cumpridos. Claro, você também será recompensado por qualquer conquista de guerra que acumular nesse período.
Essa era uma condição com a qual eu poderia viver. A maioria dos aventureiros estava ganhando dinheiro no esforço de guerra atualmente, de qualquer forma. — E a segunda?
— A segunda… — O marquês parou e colocou o garfo na mesa. — Eu lhe direi a segunda coisa que quero amanhã de manhã. Será mais rápido assim. Há muitos quartos vazios aqui, então passe a noite.
“O que é isso, um intervalo comercial após um suspense?”
Após o jantar, um servo me guiou até um quarto de hóspedes. Para ser honesto, eu queria mais do que tudo ir para casa, mesmo que levasse horas, mas havia algo suspeito no comportamento do marquês.
Dada a data e hora em que o marquês me convidou para a mansão, e até mesmo o pedido repentino para passar a noite, eu estava começando a entender a situação. Mas depois de pedir para enviar uma mensagem para Erwen em casa, decidi passar a noite aqui a pedido do marquês. Às vezes, você podia transformar uma crise em uma oportunidade.
— Ugh… — Este quarto realmente era espaçoso e luxuoso demais para uma única pessoa.
Tick, tick.
Acendendo apenas a luz do abajur, deitei na cama e verifiquei a hora. Então desliguei as luzes de mana do quarto e coloquei o relógio de lado.
Tick, tick, tick.
O som constante do ponteiro dos segundos pontuava o silêncio.
Tick, tick.
O som se repetiu mais dez vezes, e então aconteceu.
【Sua alma ressoou e está sendo atraída para um mundo diferente.】
Imediatamente me sentei na cama de Hansu Lee. Desta vez, eu precisaria agir mais rápido do que o habitual.2
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