Capítulo 390: Espírito Livre (4/4)

『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: Demisidi – Elteriel – Note 』

De certa forma, a mentalidade do marquês era semelhante à de uma pessoa visitando um zoológico. Essas pessoas olham para feras selvagens trancadas em gaiolas e as chamam de fofas e dignas de pena. No entanto, não é preciso ser um gênio para reconhecer que isso é arrogância. Bastava todas aquelas barras de ferro desaparecerem. No momento em que a divisão entre eles desaparece, os humanos começam a ver a verdadeira natureza da fera, assim como o marquês estava agora.

Claro, o marquês era diferente das pessoas comuns. Apesar da minha declaração agressiva, embora sincera, ele só estremeceu ligeiramente e rapidamente recuperou a compostura. Bem, não era como se as barras de aço tivessem realmente desaparecido. Eu não podia matar o marquês, e ele sabia disso melhor do que ninguém.

— Isso é uma resposta suficiente? — Como se minha declaração fosse puramente uma resposta à sua pergunta, terminei nosso impasse de maneira despreocupada. Seria mentira dizer que eu não queria ver a máscara orgulhosa do marquês se romper. Por ora, não tinha escolha a não ser me contentar com isso.

— Não se preocupe — respondeu o marquês. — Eu entendi completamente o que você estava tentando transmitir.

— Fico feliz.

Isso foi um aviso. Eu estava disposto a aceitar um relacionamento mutuamente benéfico, mas, se ele ultrapassasse a linha, eu estava preparado para atravessar essas barras e atacá-lo a qualquer momento.

— Se eu saciei sua curiosidade, quero ouvir agora a segunda condição.

— Ah, sobre isso. Esta é a segunda condição. — O marquês olhou para a mulher draconiana ao seu lado e então disse — Ajude a Srta. Ravien a matar o Matador de Dragões, Regal Vagos.

— O Matador de Dragões…?

— Essa é uma reação diferente do que eu esperava. Ouvi da Srta. Ravien que você odiava o homem?

“Quero dizer, eu odeio, mas esse pedido é realmente inesperado… Acho que ele sabe o que aconteceu entre mim e o Matador de Dragões por causa dessa mulher?”

Isso de repente me fez questionar: que tipo de relacionamento o marquês e essa mulher draconiana tinham? Como matar o Matador de Dragões era sua segunda condição, isso significava que ele definitivamente tinha algum tipo de ligação próxima com ela. Seria um relacionamento de negócios?

— Agora, você me dará uma resposta?

A curiosidade crescia em mim, mas era hora de dar meu veredito primeiro. Depois de perguntar mais uma coisa, claro. — Você me fez esperar até amanhã só por isso?

— A Srta. Ravien não estava em casa mais cedo. Achei que era justo ter essa conversa com ela presente.

“Hmm, se você diz.”

— Tudo bem, eu já estava planejando matar aquele desgraçado com minhas próprias mãos um dia, de qualquer forma.

— Então está decidido.

— Ainda não cheguei a um acordo satisfatório com você sobre isso — disse enquanto estendia meu pulso.

O marquês riu. — Vamos parar por hoje e nos encontrar novamente amanhã de manhã. Hoje em dia, quando perco a hora de dormir, tenho grandes dificuldades no dia seguinte.

— …Tudo bem.

Quando a conversa terminou, o marquês se levantou da cadeira e se virou. A mulher draconiana colocou a cadeira de volta no sub-espaço com a familiaridade de alguém que já tinha feito isso centenas de vezes.

— Baronete Yandel, não seja muito imprudente — a guarda me advertiu em voz baixa.

“O que, isso é uma vingança pelo que eu disse antes?”

Essa foi minha primeira impressão, mas não demorou muito para perceber que não era o caso.

— Se você morrer de novo, minha irmã ficará triste.

— Irmã? Ah, você é…?

A mulher draconiana não confirmou nem negou. Ela simplesmente se virou e seguiu o marquês, mas isso já era resposta suficiente.

“Huh, não é de admirar que seus traços parecessem familiares. Penetasaur.”

Pen era a xamã draconato e filha do draconato ancião, também conhecida como Criança Dragão para encurtar. Então esta era sua irmã mais velha, a mulher que poderia ter se tornado minha companheira de equipe.

Quando Eltora Tercerion, o único filho do marquês, acordou, a primeira coisa que viu foi seu pai.

— Está acordado?

— …Sinto muito. — Eltora não fez nenhuma pergunta sobre o que havia acontecido. Em vez disso, a primeira coisa que fez foi pedir desculpas.

A resposta que recebeu foi fria. — Você acha que esperei ao lado da sua cama a noite toda para ouvir isso? Diga-me o que aconteceu… todos os detalhes.

Às palavras de seu pai, as memórias voltaram lentamente à mente de Eltora e ele deu um breve resumo do que aconteceu à meia-noite. Não havia muito o que contar. Ele havia invadido o quarto daquele homem conforme as instruções de seu pai e foi imediatamente agarrado pelo pescoço e espancado tão violentamente que desmaiou antes mesmo de poder se explicar. Foi isso.

— Idiota patético.

Eltora engoliu sua humilhação e não disse nada. Desta vez, realmente não havia desculpas possíveis. Então uma pergunta lhe ocorreu de repente. — Mas por que você escolheu fazer isso dessa forma? Se queria confirmar se ele era um espírito maligno ou não, deve haver uma maneira mais segura…

A princípio, ele pensou que era simplesmente porque seu pai não queria ofender o Baronete Yandel. Afinal, ele via o homem como uma ferramenta útil. Mas, quando pensou sobre isso, o método escolhido foi um pouco estranho. Não, tinha que haver outro motivo.

— Você não consegue descobrir algo assim sozinho?

— …Por favor, me ensine.

Quando Eltora baixou a cabeça submissamente, o marquês franziu a testa, mas respondeu à sua pergunta. — A fraqueza do inimigo só pode ter valor real para nós se eles não souberem que a possuímos.

— Porque escondemos fraquezas que ainda não foram expostas, mas trabalhamos duro para corrigir as fraquezas que já foram.

— Fico feliz que pelo menos isso você pareça entender. Então vá, agora. Preciso pensar.

— Sim, pai… — Eltora mancou até a porta, prestes a seguir as ordens de seu pai para sair, quando parou. Outra pergunta surgiu em sua mente. — Hum… Pai?

— Se você tem algo a dizer, diga logo.

— Você mencionou a fraqueza do inimigo anteriormente… Isso significa que você identificou o Baronete Yandel como seu inimigo? — Parecia que seu pai talvez tivesse revelado sua mão por acidente.

No entanto, Eltora não conseguiu confirmar sua teoria. — Isso não é da sua conta. Pode ir.

— Sim, pai… — Após sair do escritório de seu pai, Eltora se dirigiu ao seu quarto. Mesmo enquanto fazia isso, sua mente estava agitada.

“O Baronete Yandel é o inimigo do marquês…”

Que tipo de esquema sombrio o marquês estava tramando? Enquanto pensava nisso, os pés de Eltora logo pararam na frente de seu destino.

Clink! plic!

Por algum motivo, seus dedos tremiam ao redor da chave. Embora este quarto não fosse o mesmo que ele havia aberto anteriormente, mas sim o quarto em que ele vivia há vários anos, parecia que no momento em que ele abrisse essa porta, encontraria uma fera dormindo dentro. Ele podia até ouvir.

— Eltora Tercerion.

Era uma voz profunda e retumbante que fazia arrepiar a espinha do ouvinte, junto com olhos que pareciam estar olhando para um inseto.

— …Espero que tenha vindo preparado para morrer.

Ele tinha a estranha sensação de que, se esse homem quisesse pegá-lo, ele não seria capaz de escapar, não importa o que fizesse. A sensação desagradável de déjà vu fez Eltora pensar instintivamente em outro homem.

“Bem, nunca poderia ser ele, no entanto.”

— Eu entrei nessa comunidade… há vinte e dois anos atrás.

Bjorn Yandel nem tinha nascido naquela época.

— Até o Goblin riria de mim se descobrisse essas ilusões.

Eltora riu e balançou a cabeça. Então ele inseriu a chave e abriu a porta.

Click.

Era um típico quarto de nobre decorado com armadura, uma espada longa e uma cabeça de cervo empalhada na parede. Como sempre, não era nada do seu gosto.

Na manhã seguinte, juntei-me ao marquês para o café da manhã. Quando cheguei, havia apenas duas pessoas dentro da sala de jantar onde a comida estava sendo servida: o marquês, que estava sentado, e a guarda draconiana atrás dele.

— Seu filho?

— Ele estará descansando hoje.

“Esses caras geralmente não convidam seus filhos para eventos como este?”

A pergunta veio à mente, mas ter menos pessoas ao redor era melhor para mim de qualquer maneira. Ele estava sendo atencioso?

— Vamos comer.

Começamos a comer e a conversa naturalmente seguiu. Havia algo que ele precisava terminar de discutir comigo hoje, o acordo mencionado ontem.

— Se houver algo que você gostaria como compensação pelo nosso erro, me diga.

— Antes disso, quero verificar algo.

— Vá em frente.

— Quanto tempo levará para recuperar meu nome?

— Estou pensando em cerca de três meses. Temos que fazer isso perfeitamente.

Três meses, hein? Soava longo a princípio, mas eu tinha certeza de que o marquês não podia fazer muito a respeito. Ele teria que falsificar um rastro de papel impecável mostrando que Bjorn Yandel havia recebido uma missão real para se infiltrar em Noark por dois anos do início ao fim.

— Até lá, você tem um trabalho importante a fazer. Se sua identidade se espalhar antes de estarmos prontos, outros começarão suas próprias investigações independentes sobre você.

— Marquês, você não pode impedir isso?

— Se chegar a esse ponto, farei o possível para evitar que algo aconteça, mas não posso garantir que a informação não vaze. É assim que o palácio funciona. Nenhuma pessoa tem controle total.

Simplificando, a menos que você fosse o rei e governante deste país, era impossível ter controle total sobre as instituições estatais. Isso era uma coisa estranha de ouvir vindo do homem que tinha uma má reputação por transformar o rei em um fantoche, mas não estava fora do reino das possibilidades. Na verdade, o primeiro-ministro era nominalmente o segundo em comando do reino, mas isso não significava que ele não tinha rivais.

Um exemplo clássico era o Duque Kealunus. A sua era uma grande família nobre com um ramo de sua linhagem controlando a Torre de Magia. Historicamente, eles haviam participado ativamente dos negócios relacionados aos labirintos e garantido uma forte influência sobre grandes clãs. Para ser honesto, a família do duque tinha áreas de influência muito mais diversas e amplas do que a família do marquês, cujo único trunfo era a posição de primeiro-ministro.

— Se você entender por que isso provavelmente levará tanto tempo, gostaria de ouvir seu pedido agora.

— Quero me encontrar com o xamã da tribo bárbara.

— Seu motivo?

Por que você está perguntando uma coisa tão óbvia? Oh, ele não sabe, já que não é um bárbaro? Há apenas uma razão para um guerreiro se encontrar com um xamã.

— Para obter uma Impressão da Alma.

Por várias razões, minha Marca Espiritual havia estagnado no estágio seis. Eu até comprei os suprimentos necessários para chegar ao estágio sete, mas não consegui obter a marca antes de ser arrastado para o passado de repente. Felizmente, Raven manteve a Alma dos Mortos¹ após recebê-la como parte de sua herança de mim, então, enquanto eu resolvesse a questão da identidade, poderia receber a marca.

— Como eu disse antes, será problemático se sua identidade vazar antes de as preparações estarem completas…

Interrompi o marquês. — É por isso que estou pedindo para você lidar com isso. Para que eu não precise me preocupar.

— Então essa é a compensação que você quer.

— Sim, eu não sei o que vai acontecer no labirinto em um futuro próximo, e três meses é muito tempo.

O marquês fechou os olhos por um momento e contemplou meu pedido. Eu supus que ele concluiu que aumentar meu poder de combate não era uma má ideia, considerando que ele queria que eu participasse de uma guerra. — Certo. Farei o possível para conseguir uma reunião com o xamã dentro de um mês.

— Isso é bom. — Eu não me incomodei em perguntar como ele iria convocar o xamã ou convencê-lo. Isso era para o marquês se preocupar. Considerando o quão bom ele era em resolver as coisas, eu tinha certeza de que ele conseguiria.

Tap.

Quando chegamos a um acordo, terminamos de comer. Deixamos os pratos vazios onde estavam e continuamos conversando. Afinal, ainda havia muito o que discutir.

— Você mencionou que está formando uma unidade comigo no centro. Já tem algo em mente?

— Estou formando uma unidade de trinta pessoas.

— Então serão cinco equipes no total.² Já decidiu quem ocupará as vagas?

— Não, mas identifiquei alguns candidatos.

O marquês começou a listar os nomes dos membros prospectivos, e enquanto eu ouvia em silêncio, fiquei bastante surpreso. Havia muitos nomes que até eu, alguém que não estava atualizado com as últimas notícias, reconhecia. Um membro dos Sete Poderosos, um ás de um grande clã, um paladino renomado, um novato promissor no exército, o marquês estava tentando montar algum tipo de equipe dos sonhos?

— Mas essas pessoas realmente vão se juntar à unidade?

— Vão. A maioria deles. Porque pretendo prometer uma grande recompensa em troca.

— Se você diz. — Eu me perguntava se isso realmente era viável, mas considerando que ele estava tão confiante, isso significava que estava de alguma forma dentro do reino das possibilidades. E assim discutimos o que viria a seguir.

— Baronete Yandel, você será responsável por uma das cinco equipes. Entre seus membros estará a Srta. Ravien.

— Então há espaço para mais quatro pessoas além de mim.

— Você planeja trazer aquelas duas com você, correto? — Era óbvio a quem ele se referia, Erwen e Amelia.

“Então, ele também sabe sobre Amelia. Ele não sabe que ela é de Noark, sabe?”

Mesmo enquanto me preocupava com isso, assenti. — Planejo sim.

— Então só restam duas vagas. Se você não tiver ninguém em mente, me diga quem você quer dos nomes que mencionei antes. Vou garantir a melhor oferta possível se isso significar que posso consegui-los para você.

“Membros adicionais, hein?”

A primeira pessoa que veio à mente foi Raven. Precisaríamos de um mago na equipe e ela não faltava nem em habilidades nem em confiabilidade. Mas e quanto ao nosso navegador? Eu definitivamente não poderia preencher a vaga restante com aquele cara. Devo deixá-lo no porão até a guerra acabar?

“Vou ter que discutir isso com a Amelia mais tarde. E vou ter que perguntar a Raven sobre sua disposição em se juntar antes de mencioná-la ao marquês.”

Depois de pensar um momento, disse — Vou te contar depois de mais reflexão.

— Certo. — Isso concluiu nossa conversa de hoje. Ou assim pensei. Justo quando estava prestes a me levantar, o marquês falou. — Ah, tenho mais uma coisa para te dizer. Não estou estabelecendo esta unidade sozinho.

— O que isso significa?

— Em resumo, isso significa que há interesses de várias facções diferentes em jogo aqui. A única coisa dentro do meu poder é garantir que você poderá comandar uma das cinco equipes.

— Então? O que você está querendo dizer?

— O comandante em chefe ainda não foi decidido.

Em outras palavras, a posição de líder do grupo estava vaga. — Por quê?

O marquês me encarou diretamente. — Essas não são o tipo de pessoas que obedecem ordens só porque vieram de cima. E mesmo que obedeçam, isso não significa que seus apoiadores as aceitarão.

Então, era política. Se até o marquês estava limitado na quantidade de controle que tinha, eu supus que havia várias pessoas influentes envolvidas na criação dessa unidade. No entanto, isso era uma boa notícia para mim. Eu estava começando a entender o que o marquês estava insinuando.³

— Enfim… Decidimos que, uma vez que todas as trinta pessoas estejam reunidas e os líderes das equipes sejam escolhidos, qualquer candidato disposto competirá para escolher a pessoa certa. Se essa unidade realizar grandes feitos na guerra, então a pessoa que patrocinou o comandante em chefe também compartilhará muitas dessas conquistas. — O marquês parou por um momento para estudar minha expressão. — O que você acha, é viável?

Essa pergunta direta deixou claras suas intenções. Eu me peguei rindo. Isso porque era tolice ele perguntar se isso era viável.

— Não há razão para que não seja, desde que haja recompensas garantidas.

Para ser honesto, as pessoas que ele mencionou antes eram todas ótimas… mas eu não achava que qualquer um deles pudesse me derrotar.

1. Cap 262.[↩]
2. Elteriel: Lembrando que agora as equipes são de 6 pessoas[↩]
3. MrRody: Isso meio que abriu minha mente, o Marquês quer o Bjorn porque ele tem ótima reputação e vai ser fácil por ele na liderança? Mas o Eltora não levantou a suspeita dele ver o Bjorn como um inimigo? Mantenha inimigos perto e tal?[↩]