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    Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: Demisidi – Elteriel – Note 』


    Reencontrar Ainar foi exatamente como eu esperava. Uma reunião chorosa não combinava com bárbaros, afinal de contas. Sim, isso era melhor.

    — Bjoooooorn!

    — Sim, Ainar. Quanto tempo…

    — Behelaaaaaah! — Mal tinha aberto o portão e Ainar já me empurrou para o jardim. — Você mentiu para mim!

    Imediatamente, começou uma troca de socos. Parecia que ela estava muito zangada pelo fato de eu ter fingido minha morte por mais de dois anos e depois me passado por Riehen Schuitz quando nos reencontramos na biblioteca. Considerando tudo o que a fiz passar, estava honestamente disposto a receber alguns golpes, mas sabia que isso provavelmente não era o que Ainar queria.

    — Behelaaah! — Então, clamei aos nossos deuses ancestrais e revidei.

    Pow!

    Eu a acertei no rosto.

    — Rahhh!

    Um quebra pau se seguiu, nós dois rolando no gramado como jiu-jiteiros. Não sei quanto tempo a briga durou, mas quando Ainar finalmente se exaltou o suficiente para pegar a espada que havia deixado no chão, gritei para Erwen trazer meu martelo.

    — Vocês dois… parem!

    A intervenção de Erwen pôs fim à nossa briga de reencontro. Ela estava irritada porque o jardim bem cuidado havia se tornado uma bagunça, mas eu a ignorei o máximo que pude. Agora, Ainar era prioridade.

    Pfff!

    Ainar cuspiu o sangue que tinha na boca e sorriu. — Você realmente é o Bjorn…

    Era isso que significava ser uma verdadeira bárbara? Não podia acreditar que ela já tinha superado a situação. Missha teria me xingado por dias e me afundado em dano de frio.

    — Ainar, você não mudou nada.

    — Sério? Acho que mudei bastante. — Ainar deu de ombros e me cutucou no peito com o punho em um gesto amigável. — Mesmo que você explique o que aconteceu com você, provavelmente não vou entender. Sempre foi assim. Mas, ainda assim…

    — Ainda assim?

    — Estou feliz que você esteja vivo, Bjorn.

    — Ah… — Fiquei momentaneamente sem palavras diante da sinceridade contida nessa declaração calma e simples.

    Mas ela também deve ter achado esse clima sentimental meio estranho. Ela olhou para mim e mudou de assunto. — Mas… o que aconteceu com o seu corpo? Por que você está tão magro?

    Me senti estranhamente envergonhado com a pergunta. Talvez meu orgulho de bárbaro estivesse ferido. As palavras saíram da minha boca. — U-Uma essência! — Gaguejei. — É como a essência do Cavaleiro de Ossos que você pegou! Não se preocupe! Agora que recuperei meu nome, vou eliminá-la em pouco tempo!

    — Hmm, sério? Faça isso o mais rápido possível, então. Bjorn ser mais baixo que eu é estranho demais para suportar. — Cada palavra era como uma faca no peito. — E… acho que vou ter que me segurar para não te arrastar para a terra sagrada hoje. Se nosso povo te ver assim… eles definitivamente ficarão desapontados. — Meu coração murchou. Eu honestamente me sentiria menos ferido se ela dissesse que eu era um péssimo jogador.

    “Poxa, eu realmente preciso apagar a essência de Osso-gacha logo.”

    — Então… o reencontro acabou agora? — Raven interrompeu a conversa, e foi então que Ainar notou sua presença.

    — Oh! Aruru! Quanto tempo também!

    — Esta é a primeira vez que nos vemos em meio ano, certo?

    — Hahaha! Você se preocupa com pequenos detalhes estranhos! Se continuar assim, não vai crescer mais.

    — Eu não vou crescer de qualquer maneira!

    — Não perca a esperança. Olhe para mim!

    — Isso é por causa das suas essências! — Raven gritou, irritada, e Ainar riu enquanto limpava o ouvido com o dedo. Isso só deixou Raven mais brava. A cena foi estranhamente tocante.

    “Faz tempo…”

    Eu senti falta disso. E não era só eu, porque pude ver que Raven estava sorrindo enquanto gritava com Ainar e a seguia para dentro de casa.

    — …Que bom — disse ela baixinho enquanto passava por mim.

    — Hã?

    — Você parece mais feliz agora.

    — …Não sei do que está falando. Vamos entrar.

    — Certo.

    Depois de nos reencontrarmos no jardim, entramos na casa e continuamos a conversar. Ainar cumprimentou Erwen de forma tão desajeitada quanto Raven, e depois veio Amelia.

    — Bárbara, quanto tempo…

    “Por que está se fazendo de amigável?”

    Rapidamente cobri a boca de Amelia e a interrompi. — Vocês já se conhecem, certo?

    — Conhecemos…? — Ainar inclinou a cabeça. Eu estava honestamente perplexo. Eu ainda lembrava de como ela ficou deprimida porque Amelia havia pisado na honra dela como guerreira ou algo assim. Mas, pensando bem, ela também nem a reconheceu na Ilha de Farune. — A-Ahhh! Eu me lembro! Você era a mulher de Noark que ficou para trás com Bjorn! — Parecia que Ainar pelo menos ainda se lembrava da Ilha de Farune, porque ela assentiu. — Seu nome era…1

    — Emily Raines.

    — Ah, definitivamente era algo assim!

    “O que você quer dizer com ‘algo assim?’ Vocês nunca se apresentaram naquela época.”

    Naquele momento, todos só a chamavam de saqueadora e vagabunda, ninguém se importava com o nome real dela.

    “Sobre a honra dela ter sido pisada no segundo andar… Melhor fingir que não me lembro disso, certo?”

    Enquanto pensava nisso, Ainar se dirigiu a Amelia com um tom surpreendentemente amigável. — Você disse Emily Raines?

    — Sim?

    O que se seguiu foi inesperado. — Primeiro, deixe-me agradecer.

    — …Hã?

    — Não sei muito sobre você, mas tenho certeza de que Bjorn manteve você ao lado dele porque você é confiável — disse Ainar, com uma seriedade atípica. — Obrigada. Por estar ao lado de Bjorn durante o maior desafio dele.

    — …Isso não é algo pelo qual mereça agradecimento.

    — Haha! Para mim é! Fico triste por não ter sido eu quem ele confiou, mas tenho certeza de que é por causa de quem sou! Não sou tão esperta quanto Aruru, nem cega o suficiente para virar as costas para minha tribo como aquela elfa.

    Erwen pensou por um momento e depois franziu a testa. — …Hm, você acabou de me insultar?

    Ainar se esquivou do problema como uma cobra. — Haha, é assim que soou?

    “Uau, ela nem negou.”

    Não sei o que aconteceu, mas as habilidades de conversação da Ainar melhoraram bastante.

    — De qualquer forma, chega disso. Vim assim que ouvi as notícias na taverna. O que diabos aconteceu com você?

    Depois disso, tirei um tempo para explicar. Claro, não foi cem por cento a verdade, algumas coisas foram filtradas. Ainar alternou entre quatro reações em particular enquanto ouvia minha história:

    — Oh!

    — Ah!

    — Uh!

    — Entendo.

    Ao contrário de Erwen e Raven, terminei rapidamente. Uma vantagem de conversar com bárbaros é que as conversas entre eles não se arrastam.

    — …Foi isso que aconteceu até agora.

    — Oh!

    Ao mesmo tempo, esse também é o problema de conversar com bárbaros. Eu não tinha como saber se ela entendeu algo do que eu disse, a menos que perguntasse diretamente. — Você entendeu?

    — Mais ou menos!

    Isso já é o suficiente para mim. — A história terminou aqui, e passei para o próximo tópico como se fosse um sinal. — Mas Ainar, você deve ter ficado muito surpresa.

    — Hã?

    — O palácio anunciou que eu sou um espírito maligno. Tenho certeza de que isso deve ter sido um choque. Não só para você, mas também para os nossos compatriotas.

    — Oh, isso? Não foi grande coisa.

    — …Não foi?

    — Só para os idiotas. Como você poderia ser um espírito maligno? Ninguém na nossa tribo acreditou nisso. Só achamos que o palácio cometeu outro erro.

    “Oh, entendo…”

    Essa foi uma resposta diferente da que eu esperava, mas não podia deixar passar sem insistir um pouco mais. — A propósito. Estou perguntando isso apenas por curiosidade e por nenhum outro motivo, mas… — Mantive meu tom cuidadosamente leve enquanto perguntava — O que você faria se eu fosse um espírito maligno?

    Esta era uma informação muito crítica para decidir como lidaria com Ainar daqui para frente. Dependendo da resposta dela, eu poderia voltar atrás em tudo o que disse antes e contar a verdade. Fiquei imaginando o que ela diria, e parecia que não era o único. Erwen, Amelia e Raven engoliram em seco silenciosamente junto comigo.

    — Hahaha! Bjorn, você, um espírito maligno? Isso é engraçado!

    — Não ria disso como se fosse uma piada, pense a respeito. Quero saber sua resposta.

    Ainar deve ter percebido o clima estranho, pois não parecia ignorar minha insistência. — Hmm, Bjorn, um espírito maligno… Bem, só há uma resposta.

    — Que é…? — perguntou Erwen.

    — Você o aceitaria de qualquer forma? — Raven provocou. — Já que ele é seu companheiro de equipe com quem você compartilhou tempo e afeto?

    Ainar inclinou a cabeça. — Do que vocês estão falando? Claro que eu o espancaria até a morte!

    — Espancaria… até a morte…?

    — O chefe disse ele mesmo! Espíritos malignos devem ser espancados até a morte!

    “Ahh, é… Ela não vai ser fácil de convencer.”


    A visita de Raven e Ainar se estendeu pela noite. Bebemos chá e conversamos por um tempo, e depois tomamos alguns drinques durante o jantar. Isso naturalmente evoluiu para uma festa de bebidas depois do jantar.

    — Está ficando tarde… Acho que devo ir. — Raven pegou o casaco e saiu tarde da noite.

    Ainar, que estava bebendo como se não houvesse amanhã desde o início, já estava desmaiada. Ela saiu de manhã depois de uma refeição para curar a ressaca.

    — Você disse que tinha coisas para fazer a partir de hoje, certo? Me avise quando terminar tudo. Passe também pela terra sagrada. Sei o que disse ontem, mas todos ficarão felizes se você aparecer.

    — Claro…

    Depois de despedir-me de Ainar, Erwen também começou a se preparar para sair. Considerando as coisas que aconteceram no labirinto, aparentemente, ela também precisava mostrar seu rosto na sua terra sagrada hoje.

    — Então, cuide bem da casa. — Depois que Erwen saiu, eu também saí, deixando a casa aos cuidados de Amelia. Como eu disse a Ainar ontem, tinha muito trabalho a fazer a partir de hoje.

    Como Erwen me avisou antes de escalar a cerca para sair, uma grande multidão estava esperando em frente à casa. Eu tinha certeza de que minha história já havia se espalhado por toda a cidade. Algumas das pessoas eram jornalistas, e outras eram curiosos que só vieram me ver.

    — Baronete Yandel…!

    — Ah… Baronete! Diga algo, por favor!

    — Uauuu!

    — Por favor, segure minha mão!

    “Uau, Ainar conseguiu passar por essa multidão? Bem, acho que não é tão difícil.”

    — Behelaaah! — Gritei o nome do nosso deus ancestral e empurrei a parede de pessoas.

    — Agh! E-Ele está fugindo!

    — Sigam-no!

    “Ei, fugindo? Só estou avançando.”

    Huf, Huf!

    Depois de romper a multidão com minha força avassaladora, corri pelas ruas desertas da manhã. Algumas pessoas me seguiram teimosamente, mas consegui despistá-las em pouco tempo.

    “Vamos lá, então.”

    Coloquei uma capa grande em um beco escuro e segui o mapa até o meu destino.

    “O lugar mais próximo é… Aqui.”

    Era uma casa pequena com um portão vermelho memorável. Verifiquei o nome escrito na placa da porta, respirei fundo e bati cuidadosamente.

    Toc, toc.

    Depois de um tempo, uma mulher de aparência exausta abriu a porta. — Você é…! — Ela não conseguiu esconder a surpresa ao me ver. Isso era compreensível.

    — Posso entrar, Sra. Ashed?

    Ela mordeu o lábio com a minha pergunta, mas ainda assim se moveu para abrir caminho. — Hm… Não tenho nada preparado além de chá…

    — Está tudo bem. Não estou aqui para uma refeição. Estou aqui para lhe devolver algo.

    — Devolver algo?

    Em vez de responder, tirei uma caixa do meu subespaço. A mulher desembrulhou cuidadosamente o tecido e explodiu em lágrimas quando viu os restos na caixa.

    — A-Ah, ahh…

    — Desculpe. Isso foi o melhor que pudemos fazer na época. Gostaria de poder tê-lo trazido para você intacto.

    — A-Ah…

    — Estes são os itens que Ashed tinha com ele. Eu os guardei no subespaço, então veja quando puder. Se achar que falta algo, avise-me a qualquer momento. Ou se precisar de alguma coisa, escrevi meu endereço aqui, para que possa me visitar a qualquer momento.

    Hic… snif… hic…

    — Se você se sentir desconfortável com a minha presença, eu posso sair agora. — Não houve resposta, mas aceitei o silêncio como confirmação e me levantei lentamente.

    — Espere… Por favor… espere um minuto… — A Sra. Ashed se levantou, foi até a cozinha e voltou com uma xícara de chá perfumado. — Este… é o chá que ele sempre servia as visitas.

    — Entendo… Não entendo muito de chá, mas o cheiro é bom. É calmo, como ele.

    — Conte-me. Como… ele estava…

    — Acho que vamos precisar de mais chá.

    Matei a sede com chá e contei a ela sobre nossa missão. A maioria das histórias era anecdótica2, já que não podia contar a verdade completa. Em vez disso, falei sobre os pequenos incidentes que ocorreram durante a expedição, as conversas casuais que tivemos, o cuidado e a consideração por trás de suas ações que pessoas menos atentas poderiam ter ignorado.

    — É por isso que todos na equipe gostavam dele. Você deve saber. Ele pode não se destacar, mas estar ao lado dele é confortável e reconfortante.

    — Sim… realmente.

    — Ele sempre ouvia os outros, mas estranhamente nunca falava sobre si mesmo. Por isso ficamos tão surpresos quando mencionou que tinha uma esposa.

    — Ele… falou de mim…?

    — Sim.

    — O que… ele disse?

    — Ele disse que você é uma mulher forte, mas que com certeza choraria quando ele se fosse.

    Snif…

    A mulher, que havia se esforçado para segurar as lágrimas desde que recebeu os restos mortais, abaixou a cabeça. Não disse nada, desviando o olhar enquanto esperava ela se acalmar.

    Algum tempo depois, ela sussurrou — Obrigada… por… vir aqui.

    — Não há necessidade de me agradecer. Graças a você, pude experimentar um bom chá.

    — …Você vai visitar os outros?

    Assenti ligeiramente. — Há pouco que nós, sobreviventes, podemos fazer.

    Depois de sair da casa de Ashed, visitei a casa de cada membro do esquadrão, uma por uma. As cinzas das pessoas que consegui trazer comigo foram devolvidas. Se não houvesse cinzas, entregava alguns dos pertences deles. Se nem isso eu tivesse, abaixava a cabeça e me desculpava. As reações foram todas diferentes.

    — Ora, você não é o grande baronete? O que o traz a este lugar humilde?

    Alguns foram sarcásticos. Alguns apenas aceitaram os itens e me expulsaram. Alguns questionaram a versão dos eventos do marquês, e alguns se sentiram honrados por um herói famoso não tê-los esquecido. Mas uma coisa era clara.

    — Agora, Meirin… diga olá para sua mãe…

    — Esta… é minha mãe? Por quê?

    Eu era sempre o vilão para eles. Até o dia em que pudesse contar-lhes a verdade com confiança, provavelmente teria que viver com esse peso no peito.

    O tempo passou. Um dia, dois dias, três… Alguns dias não foram suficientes para enviar todos os membros mortos do esquadrão para casa. Quatro, cinco, seis dias…

    【Sua alma ressoou e está sendo atraída para um mundo diferente.】

    Esse dia havia chegado.

    1. MrRody: O fato da Ainar não reconhecer a Amelia em Farune sempre foi um problemão pra mim, ela nunca esqueceria alguém que feriu sua honra de tal forma. Eu acredito que a Ainar fingiu não reconhecer por que precisava cumprir a promessa que fez.[]
    2. Histórias que representam experiências pessoais.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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