Capítulo 533: Plano de Fuga (6/6)

『 Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: Demisidi – Note 』

Ba-dum!

Mesmo enquanto meu coração começava a disparar, minha mente ficou completamente em silêncio.

“Cadáveres.”

Eram cadáveres humanos. E enquanto ele me mostrava essa pilha de corpos, o chefe ficou logo atrás de mim e me contou tudo sobre eles com seu tom usual, sem emoções. Esses cadáveres eram o maior segredo de sua aldeia.

Ba-dum!

Mesmo enquanto um suor frio começava a escorrer pela minha espinha, fiz o possível para manter a calma e organizar meus pensamentos. O chefe poderia simplesmente ter me dito que não queria mostrar o que havia dentro desse prédio, mas ele fez questão de me trazer aqui de qualquer maneira. Isso significava que ele provavelmente não ia simplesmente se virar e declarar que eu sabia demais e agora precisava morrer.

— O que são esses cadáveres? — perguntei, com a voz firme.

— Você está mais calmo do que eu esperava.

— Deve haver uma razão para você me mostrar isso.

Claro, ainda havia a possibilidade de que ele me atraiu aqui para me matar. No entanto, meu instinto dizia que não era o caso.

— Você é bastante inteligente. E está certo. Achei que se eu lhe mostrasse este lugar, poderia esclarecer alguns de seus mal-entendidos.

— Mal-entendidos…

Examinei o porão novamente. Estava genuinamente cheio até a borda com montanhas de cadáveres. No entanto, havia algo errado. Em particular, os números não batiam. Mesmo matando todos do Clã do Leão de Prata, não se obteria tantos corpos.

— Então, quem são essas pessoas?

— Eu não sei.

— … O quê? — Pisquei para ele, perguntando silenciosamente o que diabos ele estava aprontando.

— Na verdade, vocês não são os primeiros aventureiros a virem para esta ilha. Outros apareceram aqui antes de vocês.

— Mas então, por que agir como se fôssemos os primeiros que você conheceu?

— Ah, devo esclarecer uma coisa primeiro. Isso não foi um ato.

Ele estava brincando com palavras?

Franzi o cenho, mas no momento em que ia retrucar, o chefe acrescentou — Vocês foram os primeiros aventureiros vivos que conheci.

— O que você quer dizer?

— Exatamente o que parece. Esses cadáveres já estavam assim quando os encontrei. Seus corpos estavam mutilados e seus braços e pernas entrelaçados. E não importa quanto tempo passasse, eles não se deterioravam. Era como se o tempo tivesse parado para eles.

— Então você recolheu esses cadáveres durante a estação chuvosa?

— Não. ‘Recolheu’ não é impreciso, por si só… A queda deles do céu não tem relação com a estação chuvosa. Os intervalos entre cada queda são muito mais longos. — O chefe se abaixou e pegou a cabeça de um dos corpos no chão, olhando para o crânio meio apodrecido com seu habitual olhar inexpressivo. — No ciclo mais curto, é de dez a quinze anos, mas pode ser de trinta a quarenta anos quando mais longo. Cadáveres como este caem do céu nesse intervalo aproximado. E eu suspeito que esse fenômeno possa estar relacionado a colapsos dimensionais.

— Colapsos dimensionais?

— Exatamente. Os ciclos são semelhantes, e um dos diários que recuperamos de um desses corpos mencionava algo sobre um colapso dimensional.

Ele tirou um diário de suas vestes e me entregou, explicando que eu só precisava ler a última página. Aparentemente, as outras páginas estavam tão danificadas que era quase impossível decifrar o que estava escrito.

Abri o livro na última página e li o que estava escrito ali.

O mundo inteiro está desmoronando e se retorcendo ao meu redor. Acho que entendo por que tantos veteranos do labirinto chamam isso de calamidade. ‘Desastre’ não faz jus.

Mulk morreu. Illiya morreu. Sir Swalki morreu, e Lady Kwiliane também morreu. E eu provavelmente também não vou durar muito.

Não, eu definitivamente vou sobreviver e voltar para casa. Devo relatar as últimas palavras que eles deixaram.

Era a última entrada determinada no diário de um aventureiro que provavelmente morreu logo após escrevê-la.

Eu podia entender por que o chefe apostava no colapso dimensional como a causa mais provável. O fato de a última entrada no livro falar sobre isso era uma pista bastante poderosa.

Claro, essa era outra questão inteiramente.

— Então por que você colocou todos esses cadáveres neste porão? — pressionei. — E por que manteve isso em segredo de nós?

— Essa parte da história é um pouco longa. — O chefe acenou com a mão, e os guerreiros monstros que nos seguiram obedientemente se retiraram para nos dar espaço.

“Quero dizer, eles nem falam nossa língua, então por que ele os mandou sair?”

Apesar da pergunta que queimava no fundo da minha mente, eu não o questionei.

— Esses cadáveres significavam muito para mim. Através de sua existência, eu podia dizer que o tempo estava passando no mundo exterior, e através dos registros e diários que apareciam às vezes com eles, eu também podia ouvir sobre algumas das coisas que aconteciam lá fora.

— E então?

— Comecei a fazer pesquisas. Tentando descobrir se eles continham alguma pista para escapar deste maldito lugar. No entanto, fiquei decepcionado. Tentei de tudo, mas esses cadáveres eram apenas cadáveres comuns. A única coisa especial neles era que pareciam congelados no tempo.

E assim, quando sua última tentativa de enviar esses cadáveres de volta ao primeiro andar para tornar sua presença conhecida no mundo exterior falhou, o chefe parou suas pesquisas por completo. Ele então reuniu todos os corpos e os armazenou aqui.

Ele desistiu por enquanto porque perdeu a motivação, mas os manteve, caso um dia pudesse encontrar um uso para eles.

— E então, todos vocês chegaram à ilha, logo depois que eu quase desisti completamente. Vocês eram minha última esperança.

— Então você decidiu esconder esses corpos de nós?

— Vocês já estavam desconfiados de nós devido à nossa aparência monstruosa. Se eu também mostrasse os cadáveres, temia que seus equívocos ofuscassem sua razão. Mesmo que eu tivesse que contar isso a vocês algum dia no futuro, eu faria isso da maneira mais cuidadosa possível.

No entanto, Amelia acabou infiltrando-se neste lugar e vendo o que havia dentro, e ele acabou tendo que me contar toda a verdade.

Isso era a essência da história.

— Isso respondeu à sua pergunta?

— Quem sabe.

A história dele não era completamente inverossímil¹. No entanto, também não podia negar que havia algumas partes com as quais eu não estava satisfeito. O fato de que ele não ficou surpreso quando falei sobre o mundo exterior, o fato de que ele já sabia que o tempo estava passando antes mesmo de eu dizer algo, se essa história fosse verdade, então a maioria das perguntas que eu tinha sobre ele seriam resolvidas aqui e agora…

“Mas parece que as peças foram encaixadas apenas o suficiente para fazer algum sentido.”

Pensando bem, havia um princípio fundamental que parecia valer em todos os mundos: a melhor maneira de esconder toda a verdade era contar partes dela.

Sua resposta também não respondeu à minha maior dúvida.

— Então você não tem nada a ver com o desaparecimento do Clã do Leão de Prata?

— Isso mesmo. Afinal, que razão teríamos para prejudicá-los?

Hmm… e agora?

Isso teria sido muito mais fácil se ele simplesmente tivesse me traído. Aí eu poderia ter respondido com ‘Eu sabia’ e lutado até a morte.

Em vez disso, as coisas ficaram bastante complicadas.

“Devo simplesmente confiar nele com isso, ou não?”

Tive que pensar nisso por um instante, mas a resposta veio rapidamente.

“Não há como eu confiar nele.”

Você não pode confiar em ninguém no mundo, exceto em seus companheiros.

“Tudo bem, então é isso.”

O que eu tinha que fazer a seguir também era claro para mim.

— Já que também escondemos isso de você, não vou pedir que você assuma a responsabilidade por sua aliada quebrar as regras da aldeia ou pelo erro que você cometeu como resultado. Que tal?

Respondi à tentativa do chefe de acalmar as coisas com uma risada alta.

Não, para ser mais preciso…

— Que alívio. Fico feliz que conseguimos resolver tudo.

— Sim. É bom que seu mal-entendido tenha sido… Hã?

Com um sorriso, balancei meu martelo.

Bang!

Um impacto intenso reverberou pela minha mão quando o martelo acertou sua cabeça.

O ferimento criado fez com que ele sangrasse por todo lado.

Finalmente, uma emoção rachou a fachada indiferente do chefe.

— …Por quê?

Ele estava calmo demais para que eu chamasse de raiva, mas também estava agitado demais para que eu chamasse de apatia.

Ele me encarou com olhos cheios de perguntas, então decidi responder.

A verdade era que havia muitas partes de sua história que eu não conseguia confiar, e parecia quase como se ele estivesse ganhando tempo. E algo no meu instinto me dizia que, se eu lhe desse esse tempo, ele acabaria usando-o para me apunhalar pelas costas.

No entanto, não havia motivo para dar a ele argumentos tão irracionais.

Afinal, uma única frase bastava.

— Eu não gosto da sua cara… por isso te bati. Tem algum problema com isso?

Um bárbaro não precisava de outra razão além dessa.

O chefe era meu aliado ou inimigo? Se ele fosse um inimigo, o que estava tramando? Das coisas que ele me contou, quais eram verdade e quais eram mentiras?

Não havia mais necessidade de me preocupar com questões complicadas como essas. Com um único golpe do meu martelo, toda essa situação complexa se tornou muito mais simples. O chefe e eu agora estávamos impossibilitados de voltar ao relacionamento que tínhamos antes. Então eu o mataria aqui e agora, e se falhasse…

“Meus aliados e eu sairíamos dessa aldeia.”

Era uma solução simples e elegante.

No entanto, o chefe ainda me olhava como se não conseguisse seguir minha lógica. — Não havia razão para você fazer algo tão extremo.

— Oh! Sério?

— Você se preocupa muito com seus aliados. Colocá-los em perigo assim não é típico de você.

Eu não sabia no que ele baseava essa declaração, considerando que ele nem me conhecia há tanto tempo, mas não tinha intenção de ficar por perto para descobrir.

— Behelaaah! — gritei meu grito de guerra e balancei meu martelo novamente.

Boom!

Infelizmente, o chefe estava preparado desta vez e conseguiu bloquear meu martelo com sua espada. No entanto, parecia que aquele golpe serviu para finalmente fazer com que ele percebesse que eu tinha terminado de falar.

— Você pagará caro por tomar a decisão errada aqui — ele jurou, com a voz baixa e fria.

Cara, essa frase não soa nada legal saindo de alguém com cabeça de peixe. Talvez ele precisasse dar uma olhada no espelho antes de sair por aí agindo todo pomposo.

Decidindo fazer um favor para ele, fiz bico como um peixe e o imitei com um tom nasal. — Ah, você pagará caro por tomar a decisão errada aqui.

Por algum motivo, sua resposta demorou um pouco a vir. — …Você perdeu a cabeça.

Hmm, bem, ele podia me elogiar o quanto quisesse, isso não significava que eu ia pegar leve com ele. Segurando meu martelo com as duas mãos, coloquei mais força no golpe, e a espada do chefe começou a recuar.

“Já que ele está sendo empurrado para trás enquanto ambos usamos duas mãos, ele perde para mim em força.”

Talvez chegando à mesma conclusão, o chefe terminou nosso impasse e inclinou a espada para desviar meu ataque para o lado.

Bang!

O martelo caiu no chão com um baque. No mesmo momento, a espada do chefe começou a brilhar com uma luz branca intensa.

Vwoong!

Esse foi o ataque que matou um Hipramajent em um golpe. Pelo que eu podia ver, era semelhante a uma aura.

“Mas há muitas habilidades no labirinto exatamente como essa.”

Como resultado, eu não tinha como saber ao certo qual era a habilidade que ele estava usando, mas, para ser honesto, essa era a menor das minhas preocupações agora.

Ainda era apenas uma arma cortante, no fim das contas, certo?

Clang!

A espada que havia cortado a cabeça do Hipramajent como tofu foi bloqueada pelo meu escudo e desviada. E quanto ao próprio escudo…

“Acho que tem um pequeno amassado nele agora?”

Sim, como sempre, não havia adversário mais assustador do que a própria imaginação. Agora que eu havia experimentado seu ataque em primeira mão, podia dizer que era algo gerenciável. Bem, claro, isso não significava que tudo estava correndo às mil maravilhas.

Vwoong!

O atributo de Agilidade dele parecia ser muito mais alto que o meu, já que nenhum dos meus ataques, exceto o primeiro, conseguiu acertá-lo.

Mesmo usando 【Olho da Tempestade】, que era especialmente eficaz em um espaço pequeno como este, eu tinha apenas trinta por cento de chance de acertar.

Boom!

E quando consegui acertá-lo, ele não sofreu tanto dano assim.

“Acho que a Resistência dele é bem baixa… Mas parece que sua regeneração é muito boa.”

O maior ferimento, aquele que eu havia causado com o primeiro ataque, já havia cicatrizado completamente. Quando percebi isso, rapidamente reavaliei minha estratégia.

“Não consigo matá-lo aqui sozinho.”

Desisti de tentar matar o chefe sozinho e mudei de tática.

— Chefe, você sabe quais são as duas melhores maneiras de deixar alguém irritado? — Primeiro, fiz uma pergunta completamente não relacionada para interromper seu fluxo de pensamento. Ele me olhou, confuso.

Crasshh!

Assim que ele estava tentando entender o que eu estava falando, tirei um coquetel molotov do meu subespaço e o joguei na montanha de cadáveres.

Fwoosh. Hush.

Então, deixei a pilha em chamas para trás e corri escada acima.

— Behelaaah!

Parece que o porão era bem à prova de som, já que não havia um único guerreiro monstro me esperando nas escadas, e eu fiz questão de destruir o teto enquanto corria para bloquear o caminho do chefe.

Brrrm, brrrm!

Esta cidade não ia ganhar nenhum prêmio por sua arquitetura, com certeza. Tudo o que precisei foi dar algumas pancadas, e a câmara subterrânea começou a desabar sobre si mesma como dominós.

Boom!

Sacudi os escombros e pedras que caíam sobre mim e avancei.

Bang!

Cerca de trinta segundos depois, explodi pela porta de alçapão e escapei para a superfície. Na sala de estar do primeiro andar, encontrei os guerreiros monstros de prontidão com meus aliados, que estavam esperando meu retorno.

— Algo deve ter acontecido lá embaixo! Precisamos descer…

— ⟅Precisamos verificar se o chefe está bem…⟆

Ambos os grupos pararam de falar no momento em que me notaram, suas bocas caindo abertas de surpresa. A primeira a recuperar a compostura foi Versyl.

— Uh… Sr. Yandel? O que está acontecendo agora…?

“O quê, você não consegue perceber só de olhar?”

Eu havia destruído o máximo do porão que pude, mas tinha certeza de que o chefe apareceria aqui a qualquer momento, então não tinha tempo para explicar.

Qualquer um com um mínimo de cérebro entenderia o que estava acontecendo em um segundo, de qualquer maneira.

Crunch!

Esmaguei a cabeça do guerreiro monstro mais próximo com meu martelo e gritei — Estamos saindo dessa aldeia agora!

1. Aquilo que não é ou não parece verdadeiro.[↩]