Capítulo 648: Empreendimento Bárbaro (1/4)

Talvez tenha sido o jeito como falei que me fez soar como um trapaceiro.

— Muito dinheiro… você diz? — O líder da aliança estreitou os olhos para mim, soando levemente surpreso. Aquele olhar me disse que, se qualquer outra pessoa tivesse dito aquilo para ele, teria sido expulsa imediatamente. — Me diga primeiro. Qual é o seu plano?

Ainda assim, como ele me deu permissão para continuar, rapidamente me expliquei antes que as coisas desandassem. — Estou falando de investir nessa oportunidade.

Ele hesitou. — Um investimento? Você tem algum negócio em vista?

— Não, não estou investindo em um negócio.

— Então…?

— Vamos investir nas terras do Distrito Sete.

— Nas… nas terras?

O líder parecia não entender o que eu queria dizer com essa conversa sem sentido, mas era compreensível. Já esperava por isso. Neste mundo, comprar terras não era uma oportunidade tão atraente para as pessoas. Ou, mais precisamente, não era algo que as pessoas viam como um ‘bom’ investimento. Afinal, só a nobreza podia comprar terras.

“E, honestamente, está mais para uma fonte de renda alternativa que gera ganhos mensais.”

Os nobres que tinham terras de sobra as alugavam, assim como suas construções, embora quase nunca houvesse um caso em que o valor das terras valorizasse.

Era natural. Em uma sociedade deformada onde pedras de mana substituíam todos os materiais, e a moeda era simultaneamente consumida e circulada, o valor do dinheiro muito raramente flutuava. Por isso o valor dos imóveis em Rafdonia nunca subia ou descia, sempre permanecendo constante.

— Como você sabe, o Distrito Sete está em um estado terrível — comecei. — Se comprarmos as terras agora, conseguiremos um preço muito barato.

— Isso não é uma visão simplista demais? Até eles sabem que tudo no Distrito Sete será reconstruído nos próximos anos. Ninguém vai tentar vender suas terras com prejuízo.

Bem, isso era verdade. A maioria dos nobres tentaria segurar suas terras.

Se essa fosse uma situação comum, claro.

— Não sei não. Será que não é você que está tratando isso como um problema simples demais? — rebati.

Um grande evento tinha acontecido, o selamento do labirinto. Além disso, o Distrito Sete era o distrito logo ao lado de Bifron, que foi tomado pelas forças de Noark.

— Pelo que ouvi, muitas casas estão tentando gastar o mínimo possível para manter o máximo de riqueza que podem.

Incerteza sobre o futuro, e a inquietação que a acompanha.

Após explicar tudo isso da forma mais simples possível, falei com confiança. — Se procurarmos o suficiente, encontraremos alguns nobres querendo vender. Quando todo mundo começa a gastar menos, os negócios dos nobres sofrem um grande golpe.

— Isso é verdade… Muitas pessoas vão ficar desesperadas para manter seu dinheiro. — O líder parecia entender meu ponto agora, mas isso não significava que estava totalmente convencido. — No entanto, o mesmo vale para nós. Mesmo que possamos comprar essas terras a um preço mais baixo agora, levará muito tempo para colhermos os frutos desse investimento.

— Verdade.

— Assim como você disse, não temos o luxo de pensar a tão longo prazo quando nem conseguimos ver o que vai acontecer bem diante de nós. Nem eu, nem ninguém.

Ele era tão sábio e experiente quanto velho.

Mesmo que as outras casas nobres estivessem tentando vender suas terras para adquirir mais fundos, as casas de Melbeth precisavam manter sua própria riqueza. Não podíamos nos dar ao luxo de investir em algo que só traria retorno no futuro distante.

“Acho que estou quase lá.”

Sorrindo, abaixei a voz e disse — Mas e se conseguirmos comprar as terras ‘e’ manter nossa riqueza? O que você faria?

O líder da aliança, que viveu em Rafdonia a vida toda, nunca poderia aceitar uma hipótese dessas. Pareceria apenas o devaneio de um bárbaro aleatório, e ele reagiu como eu esperava.

— Isso… é um sonho sem sentido.

— Mesmo assim, me responda. O que você faria então? — insisti.

O líder foi forçado a me dar uma resposta no final. — Por que perguntar de novo? Se isso fosse possível, qualquer nobre aceitaria sua oferta.

— Hmm, é mesmo?

— Mas como isso seria possível, na prática? Comprar terras e ainda reter o dinheiro… não há como comprar terras de graça.

Vendo o líder murmurar para si mesmo, respondi diretamente — Existe um jeito. — Tecnicamente, a terra não seria de graça, mas existe um método que chega perto disso.

— Então me diga. Como isso é possível?

— Vamos alugar as terras sem receber aluguel. — Não pegaríamos pagamentos mensais ou anuais.

— O quê? Que absurdo, não cobrar aluguel…

“Ei, não me interrompa.”

— Escute — eu o cortei e continuei minha explicação. — Não receberemos aluguel pelas terras que comprarmos. No entanto, receberemos uma soma com base no valor da terra e daremos aos inquilinos o direito de usar a terra como quiserem.

O líder estava ouvindo atentamente para ver o que eu diria, e quando ouviu isso, soltou uma risada. — Hah! Você está dizendo que vai comprar as terras por meio de um procurador? Isso é estritamente ilegal pelas leis de terras do reino!

Comprar terras por meio de um procurador era algo que os comerciantes ricos, o outro lado da equação financeira, que queriam comprar terras, faziam. Raramente eram pegos, já que não era um crime comum de ser investigado, mas certamente poderia se tornar um problema se alguém decidisse focar nisso.

— Tecnicamente, isso não será ilegal — expliquei. — Para fazer uma compra por procurador, os direitos da terra precisam ser incluídos em uma cláusula perpétua no contrato, mas eu não estou planejando colocar uma cláusula dessas no meu.

Ele hesitou. — Nesse caso, você poderia escapar disso. Mas quem iria querer alugar de nós então? Não seria muito mais barato simplesmente alugar normalmente?

— As pessoas virão até nós. Uma compra por procurador exige gastar quase três vezes o valor da terra, mas estou apostando em receber dinheiro que seja menor que o valor da terra… E também devolverei o dinheiro deles quando o contrato acabar.

— O quê?!

Infelizmente, o líder da aliança, que passou a vida inteira na cidade, não conseguia compreender a nova ideia que eu estava propondo.

— Devolver o dinheiro? — ele balbuciou. — Então eles usarão a terra de graça enquanto nós nem recebemos aluguel?!

“Hmm… Isso é tão difícil de entender?”

O líder viu isso como uma perda garantida para nós, e levou muito mais tempo para eu explicar tudo para ele. — Vossa Senhoria, vou dizer mais uma vez, então escute com atenção.

Mesmo os coreanos que estavam interessados em imóveis debatiam se esse era um método genial ou terrível. Era hora de ensiná-lo os benefícios do sistema ‘jeonse’.

Meu plano era bem simples.

Nós compraríamos as terras do Distrito Sete de nobres que precisavam de dinheiro e, então, pegaríamos um depósito alto de comerciantes ou outros indivíduos ricos e lhes daríamos a chave metafórica para usarem as terras como quisessem.

“E depois usaríamos esse dinheiro para comprar mais terras. Repetir o processo.”

O velho se perguntou se isso funcionaria, mas com alguma persuasão persistente, ele acabou se convencendo.

— É verdade… Se um prédio decente puder ser reconstruído nas terras arruinadas, não será difícil encontrar quem queira entrar nesse contrato com a gente. Também será muito mais barato para eles a longo prazo.

O ‘jeonse’, ou ‘key money’, exigiria muito dinheiro inicial do lado do cliente. No entanto, se eles tivessem o dinheiro, seria muito mais vantajoso financeiramente para eles.

“Isso porque eles não pagariam aluguel mensal.”

Quero dizer, esse nem era um mundo onde colocar dinheiro no banco gerava juros. Se minhas previsões estivessem corretas, algumas pessoas tomariam empréstimos no banco para pagar o depósito que estávamos pedindo, e os juros mensais iriam para o banco.

— Vou conversar com o Conde Alminus, o diretor do banco, também. Vou ver se civis comuns podem pegar empréstimos com minha assinatura como fiador…

Em certo ponto da minha explicação, no entanto, o líder da aliança murmurou — I-Isso é… inacreditável… — O tom dele estava completamente diferente de antes. Se antes ele dizia isso de forma zombeteira e incrédula, agora estava mais para impressionado e surpreso. — E o palácio não prometeu pagar pela maior parte dos custos de reconstrução de todos os prédios destruídos?!

— Sim?

— Se esse plano avançar como você diz… O dinheiro que antes era suficiente para comprar uma rua pequena pode comprar todo o Distrito Sete!

Como ele era nativo deste mundo, demorou para absorver novas ideias. No entanto, ele ainda era bem hábil em finanças e negócios, então acabou entendendo qual ‘negócio’ eu estava propondo.

Bem, não era uma imagem perfeita, mas isso era o suficiente.

— Acho que você entendeu errado, Lorde Visconde. Meu objetivo não é comprar todo o Distrito Sete. Vamos comprar o Distrito Sete inteiro e vender depois, quando seu valor aumentar.

Esse era o cerne do plano.

Se eu comprasse toda a terra e a entregasse a todos sob contratos de depósito de chave, de que me adiantaria? Se o valor da terra não aumentasse, seria apenas uma perda para mim.

Bem, se o valor aumentasse, por outro lado, eu veria lucros enormes.

— Vossa Senhoria, você sabe tão bem quanto eu — comecei. — Quando a poeira baixar e o Distrito Sete voltar ao normal, os preços voltarão ao que eram antes do desastre.

Era uma vitória garantida para nós.

Quer dizer, a menos que os Noarkianos voltassem a atravessar os muros e destruíssem o Distrito Sete novamente no meio da reconstrução.

“Uh… Isso não vai acontecer, né?”

Não queria me amaldiçoar e empurrei esses pensamentos incômodos para longe.

— De qualquer forma, pense bem sobre isso, Lorde Visconde. Quando chegar a hora, quanto dinheiro você acha que faremos?

— …O que posso fazer para ajudar?

“Ótimo, o olhar nos olhos dele me diz que não precisa mais de convencimento…”

Para ser honesto, eu já tinha dito tudo o que precisava. Não poderíamos nem tentar esse plano se o Velho aqui não me ajudasse ativamente.

Desde encontrar nobres querendo vender suas terras, até capital para comprá-las, e até mesmo conseguir mais fundos para sobreviver até que os prédios fossem erguidos e nossos inquilinos adquiridos… Cada etapa do processo exigia a ajuda do líder.

Como eu mesmo não tinha muitas conexões, fracassaria já no primeiro passo.

— Vou dizer isso pela última vez, mas a menos que queiram vender por mais barato, não compre deles. Provavelmente somos os únicos loucos o suficiente para tentar comprar terras nesse clima de incerteza.

— Não se preocupe com essa parte — o velho tranquilizou. — Negociações nessa área são algo que já fiz incontáveis vezes na minha vida.

Sim, era isso. Uma casa com milhares de anos de história, e as conexões que isso trazia. Além disso, ele desenvolveu habilidades de negociação afiadas por anos de política e negócios. Com o líder aqui, eu podia confiar que ele faria o trabalho…

— No entanto, receio que não posso tomar uma decisão tão pesada neste exato momento. Vou pensar mais nisso antes de entrar em contato com você de novo.

Ele deu um passo para trás no final, mas assenti sem tentar convencê-lo novamente. Eu já tinha visto a mudança nos olhos dele.

— Certo.

Ele entraria em contato comigo em breve.

Criar um sistema ‘jeonse’ em Rafdonia com certeza traria grandes lucros. No entanto, uma pequena preocupação que eu tinha era que um sistema tão capitalista pudesse me fazer parecer demais como um espírito maligno.

“No entanto, não tem nenhuma técnica específica sendo aplicada aqui. E o sistema jeonse é algo que qualquer um pode pensar.”

Claro, os coreanos que já conheciam o sistema ficariam desconfiados ao verem isso.

“Mas só existem três coreanos aqui.”

Baekho Lee, Hyeonbyeol e eu. E todos os três conheciam minha identidade.

Bem, poderia haver mais coreanos no mundo vivendo escondidos, mas decidi que valia o risco.

Eu não era mais o fraco de antes, que se acovardava de medo dos caçadores de espíritos malignos do Ministério da Segurança. Agora eu tinha maneiras de me proteger.

E, mais importante, eu havia tomado algumas precauções antes de colocar o plano em prática.

— Isso tudo… foi algo que você planejou com antecedência, Barão Yandel?

— De jeito nenhum! Foi ideia da minha administradora-chefe! Parece que o cérebro dela estava funcionando nessa direção desde que começamos a construir casas na nossa terra sagrada!

— Está falando da Administradora Shavin Emoor?

— Isso mesmo. Ela foi promovida recentemente.

— …Realmente não entendo. Não sei se esses talentos se aproximam de você por pura sorte… ou se estar ao seu lado os faz brilhar ainda mais.

O jeito como os olhos do líder brilhavam de inveja me fez sentir um pouco envergonhado. No entanto, um guerreiro experiente nunca deixava uma oportunidade passar.

— Bem, você não vai poder ver qual das duas opções é no futuro? — Sorri enquanto dizia — Afinal, agora estamos do mesmo lado.

Pode não ser óbvio, mas frases emocionais como essa funcionam melhor em pessoas velhas que já passaram por todo tipo de dificuldade na vida.