Índice de Capítulo

    Após encerrar minha reunião com o líder da aliança, fui me encontrar com o anão pela primeira vez em um bom tempo.

    — Hikurod Murad.

    — Bjooorn! Por que só agora…? Por que só veio agora?! Te mandei tantas cartas…!

    A reação dele ao nosso reencontro foi mais intensa do que nunca. Com razão, já que sua forja foi varrida pela situação e ele ficou praticamente desempregado. Era também por isso que estávamos nos encontrando no saguão da Estalagem Kommelby.

    — Desculpa. Deveria ter te visitado antes, mas estive ocupado.

    — Ocupado? Já faz um mês que você voltou!

    — Ei, e eu tô te dizendo que estava ocupado.

    Ele não respondeu. Honestamente, eu poderia ter arrumado tempo para visitá-lo a qualquer momento, mas adiei algumas vezes, e agora estávamos aqui.

    “Mas ele me disse que a maior parte de sua riqueza e o Mystium que confiei a ele estavam perfeitamente seguros. Então, acho que ele não estava tão mal assim?”

    Pelo que li nas cartas que ele me mandou, assim que o incidente ocorreu, ele usou o caos para reunir todos os bens importantes que tinha e conseguiu fugir com sucesso.

    Bem, ele não conseguiu evitar perder a forja, afinal.

    — Então, Hikurod. Como você está esses dias?

    — Hah… Estou de olho nas coisas por enquanto. Pensei em chamar alguns contatos para recuperar a forja… mas como você sabe, mesmo que reabramos, não conseguiremos fazer vendas com as coisas como estão. Então estou pensando até em começar de novo em Kommelby, mas…

    — Mas?

    — Recentemente, o aluguel em todos os distritos aumentou bastante, até mesmo em Kommelby. Parece que muita gente teve a mesma ideia que eu. Um conhecido me disse que muitos aventureiros estão tentando abrir lojas.

    Ah, isso era novidade. Talvez fosse o efeito cumulativo de pessoas se mudando do Distrito Sete e Distrito Treze para os outros distritos e o fato de o labirinto estar selado agora.

    “…E, porque os nobres que possuem as terras estão desesperados por dinheiro.”

    Como diz o ditado, quem sofre com as consequências do caos é o povo.

    — Mas eu queria ouvir sua opinião antes de tomar qualquer decisão… — Hikurod ponderou. — Então, você sabe? Como essa situação vai se resolver…?

    A propósito, esse anão sempre foi tão baixo assim? O jeito como ele perguntou fazia parecer que uma criança estava pedindo conselhos a um especialista da indústria, buscando qualquer informação útil.

    Presumi que, como eu era um nobre, ele provavelmente achava que eu sabia de algo que os outros não sabiam.

    — Não sei quando essa crise vai acabar — respondi.

    — Hah… Entendo…

    — Mas se você está pensando em reabrir a forja, abra no Distrito Sete, e faça isso rápido.

    — Por que isso?

    — A reconstrução começará em breve. Mesmo que tudo o que você venda sejam barras de metal e pás, você poderá recuperar seu dinheiro rapidamente. Talvez eu até encomende trabalho de você. — Eu contei que participaria da concorrência de contratos como representante de Melbeth, e a expressão do anão mudou.

    Ele também sabia. Em qualquer lugar do mundo, um negócio ligado ao governo sempre rendia muito dinheiro.

    — Então! Tenho que me apressar! — exclamou. — Pode confiar em mim! Vou trabalhar duro!

    — Ah, mas não precisa se apressar tanto.

    — Hã…? O que quer dizer? — Ele inclinou a cabeça, e como a oportunidade se apresentou, expliquei a ele o método do ‘jeonse’. — O quê? Existe uma maneira de alugar terras livremente sem pagamento mensal?!

    — Isso mesmo. Se você comprar o terreno de mim no futuro próximo, poderá usar esse contrato. Então, só pense em como vai construir seu prédio antes disso.

    Ele devia estar passando por momentos difíceis ultimamente. Quando bati no ombro dele, lágrimas surgiram em seus olhos. — Bjorn…! Sei que já somos bons amigos, mas isso é uma grande ajuda para mim…! Obrigado! Muito obrigado!

    As pessoas deste mundo eram inocentes demais.


    Conversei com o anão por mais um tempo. Embora ele fosse agora um homem de negócios, como começou como aventureiro, ele fez muitas perguntas sobre a expedição ao Primeiro Subsolo.

    Afinal, talvez fosse algo que qualquer pessoa da cidade pudesse se interessar. Mesmo que não fosse um aventureiro?

    — Um oceano de prata cobre todo o andar subterrâneo. E objetos que foram perdidos quando o labirinto se fechou flutuam nas águas.

    Como ele não era conhecido por guardar segredos, tirei todas as informações sensíveis e contei apenas o que eu não me importava que outras pessoas soubessem.

    — Um oceano de prata… — Hikurod disse baixinho. — Talvez ele gostasse de ver isso também.

    — Provavelmente teria gostado, mesmo que não fosse um oceano. Ele era um cara bem curioso.

    — Sim…

    Embora seus olhos brilhassem de alegria com minha história, eles perderam o brilho quando ele olhou para longe, como um homem bêbado relembrando seu passado.

    — Bjorn, o que você acha?

    — Do quê?

    — Se… Se aquilo não tivesse acontecido naquela época. Eu ainda estaria por aí como aventureiro?

    Havia um arrependimento profundo e uma saudade em sua voz. Hesitei por um momento, sem saber o que dizer. Ainda assim, me recompus e continuei em um tom mais brincalhão — Bem, há uma chance de que sim, mas nós não poderíamos estar juntos nas aventuras de qualquer forma.

    — …Hã?

    — Não sou fraco de coração para arrastar um aliado que fica para trás só por sentimentalismo.

    O anão sorriu de volta para mim. — Um aliado ficando para trás… Do jeito que as coisas estão, não posso falar muito sobre isso. Não seria forte o suficiente para te acompanhar. Mas talvez ele pudesse ter sido.

    — Hmm, objetivamente falando, acho que você teria uma chance melhor que Dwalkie?

    — Haha, é mesmo? De qualquer forma, nós teríamos te seguido, não importa o quê.

    — Hã? Você não ouviu o que eu disse? Eu teria deixado você para trás.

    — Que piada boa. Você é o tipo de pessoa que não consegue abandonar seus aliados, né?

    Que piada? Antes daquele incidente acontecer, eu já tinha pensado em dissolver o Time Meio-Lesado. Era por isso que eu me arrependia tanto. Deveria ter tomado essa decisão muito antes.

    O anão quebrou o silêncio que caiu sobre nós. — Ainda assim, parte de mim se sente aliviada ao ver minha forja completamente destruída.

    — Aliviado? Você bateu a cabeça em algum lugar?

    — Sem ferimentos aqui. Só parece que meu amigo estava me empurrando para seguir em frente e deixar o passado para trás…

    Também acabei tendo um momento solene. Porque, agora que pensei nisso, aquela forja que ele administrava…

    “Era originalmente reformada da casa do Dwalkie…”

    O anão começou a compartilhar suas ambições de criar uma forja maior, com instalações melhores e mais modernas do que antes.

    — Não sei por que falo tanto sempre que te encontro. Minhas desculpas. Mas posso fazer uma última pergunta?

    — Claro.

    — Aquele amigo… Se ele me visse agora, o que você acha que ele pensaria? Eu não sou mais aventureiro nem mestre de forja… Agora sou apenas um homem de negócios. Ele me acharia patético?

    Acabei rindo do tom vacilante na voz dele, embora me sentisse um pouco mal por isso, já que o momento tinha sido tão sério. — Ele talvez ache você patético.

    — Então você pensa o mesmo…

    — Quando ouvir você se preocupando com coisas idiotas como essa.

    Eu estava esperando uma pergunta grandiosa quando ele introduziu dessa maneira, mas acabou sendo ridículo.

    Já havíamos conversado por bastante tempo naquele ponto, então comecei a encerrar a conversa e me levantei.

    — Ah, certo. Ninguém deveria saber disso ainda. — Aproximei-me e sussurrei no ouvido do anão — Matador de Dragões, Regal Vagos.

    Hikurod estremeceu ao ouvir o nome, como se reagisse a algum trauma enterrado. A reação me ajudou a acabar com minha hesitação.

    — Não pense mais nele.

    Para a maioria dos segredos, quanto menos pessoas soubessem, melhor. Mas esse cara tinha o direito de saber.

    — Ele não está mais neste mundo.

    O anão nunca tinha dito isso em voz alta, provavelmente porque não queria colocar pressão em mim, mas ele devia ter desejado isso desesperadamente em seu coração. E agora, era praticamente como se seu desejo tivesse sido atendido.

    — Entendo…

    Ainda assim, ele ficou em silêncio com essas palavras.

    “Como?”

    “Como você sabe?”

    “Foi você que fez isso?”

    Ele não perguntou nada disso. Era como se tivesse percebido minha situação. Depois de um longo momento de silêncio, ele disse mais uma coisa.

    — …Obrigado.

    Me virei de forma desajeitada. — Não precisa agradecer.

    Ainda havia muitos outros com quem eu precisava acertar as contas.


    Como eu esperava, não demorou muito para o líder da aliança entrar em contato comigo de novo, na verdade, cerca de quatro dias. Honestamente, foi um tempo tão curto que me senti justificado em pensar que ele foi direto para casa refletir sobre o assunto antes de me contatar o mais rápido possível.

    “Já que ele disse que começaria a procurar os nobres querendo vender suas terras amanhã, posso deixar isso nas mãos dele…”

    Depois de ouvir a resposta dele, marquei uma reunião com o Conde Alminus e também me encontrei com ele.

    — Isso é uma ideia genial. Disse que o nome dela é Shavin Emoor? Não sei por que só estou ouvindo falar dela agora.

    Eu não ligava que ele estivesse interessado na minha administradora-chefe.

    Após sorrir e tirar uma foto amigável, o conde acolheu a ideia do contrato de ‘key money’ que eu havia idealizado e me deu conselhos sobre como formular o contrato.

    — Será melhor se as cláusulas que mencionei entrarem imediatamente no formulário do contrato. Elas então serão tratadas como hipotecas normais, tomando esse ‘depósito’ como ‘garantia.’

    Ele explicou claramente o objetivo da visita de hoje.

    Fiquei um pouco chocado, honestamente. De certa forma, senti um pouco de desconforto com a rapidez com que a situação estava progredindo.

    Meu incômodo me levou a fazer algumas perguntas sobre uma coisa ou outra, mas o Conde Alminus respondeu a tudo sem esconder nada.

    — Se o negócio terá sucesso, você pergunta… Para ser honesto, estou em cima do muro por enquanto. É uma estratégia que você pode empregar agora devido à situação como está, mas isso também é a razão pela qual nada é certo.

    — Hmm…

    — Se tiver sucesso, os ganhos serão extraordinários. Por outro lado, você sofrerá grandes perdas se falhar. A Casa do Conde Alminus não tem planos de investir nessa estratégia por enquanto.

    Claro, essa parte não fazia muito sentido para mim.

    — Então não seria correto você não aceitar esses novos empréstimos hipotecários? — questionei.

    O fato de o Banco Alminus estar emprestando o dinheiro tornava praticamente certo que o Conde Alminus estava correndo tanto risco quanto eu. Mas por que o conde tomou essa decisão?

    — Concluí que isso não será uma grande perda.

    — …E por que acha isso?

    — Porque você está aqui. — O olhar nos olhos do Conde Alminus era tão claro que eu quase me cobri sem pensar. — Se o negócio falhar, você não ficará enormemente endividado comigo?

    Eu não respondi.

    — Só pensei nisso do ponto de vista de um homem de negócios. Acredito firmemente que você será capaz de pagar toda a dívida… Mesmo que leve sua vida inteira.

    Com isso, minha pergunta foi respondida. — Ah…

    Ele estava correndo o risco porque, mesmo que perdesse todo aquele dinheiro, valeria a pena se pudesse me usar como escravo pelo resto da minha vida. Um calafrio percorreu minha espinha por um momento.

    — E então? Ainda quer minha ajuda?

    — Claro. — Assenti sem nem um pingo de hesitação.

    O conde soltou uma risada. — Achei que diria isso. Honestamente, demorou um pouco para me acostumar, mas é muito mais confortável do que eu esperava.

    — O que quer dizer?

    — Conversar assim. Como não precisamos prolongar nossas conversas escondendo nossos verdadeiros pensamentos, economizamos tempo. E também é mais eficiente, porque reduzimos o desgaste mental. Seria ótimo se eu também pudesse fazer isso com outras pessoas…

    Como o conde passou a vida inteira envolvido em trapaças e esquemas, parecia gostar de como um bárbaro fazia negócios.

    — De qualquer forma, estou indo embora agora — declarei.

    — Não vai pelo menos dividir uma refeição comigo?

    — Tenho mais planos depois disso!

    — Haha, então desocupe sua agenda antes de vir da próxima vez. Depois de me acostumar com seu jeito de falar, percebi que gosto de conversar com você.

    — Entendido.

    Depois de encerrar minha reunião com o conde, fui imediatamente em direção à mansão do primeiro-ministro.

    — Barão Yandel…? — O mordomo da mansão parecia surpreso com minha visita repentina. — Peço desculpas, mas o marquês não foi informado sobre essa visita…

    Para ser justo, quem mais seria atrevido o bastante para visitar outro nobre sem nenhum compromisso marcado além de mim? E ao visitar a segunda pessoa mais poderosa da nação, o marquês, ainda por cima.

    — Claro que ele não foi informado. Não precisa ficar tão confuso.

    — …Perdão?

    — O marquês está em casa?

    — E-Ele está fora no momento?

    — Ah, então posso esperar por ele dentro. Me leve até lá!

    — Isso… Por favor, me desculpe, mas o Lorde Marquês está atualmente atendendo aos seus compromissos com a nação, e não sabemos quando ele pode voltar. Talvez agendar um novo encontro e visitar daqui a alguns dias…

    O quê? Eu estava aqui sem um compromisso justamente porque ele não respondeu a nenhum pedido de reunião.

    — Tudo bem! O marquês e eu somos próximos o suficiente para não precisar seguir essas convenções! Vou só sentar e esperar lá dentro!

    Com isso, empurrei o mordomo para o lado e entrei na mansão. O servo não pôde fazer muito além de me aceitar como convidado.

    Um dia, dois dias, três dias…

    Hmm, não planejei esperar tanto tempo, mas tanto faz.

    Ignorei os apelos do mordomo para que eu saísse e voltasse depois.

    A partir do segundo dia, nem me deram comida, então saciei minha fome com a carne seca que trouxe. Até resisti todas às vezes que os cavaleiros vieram para me expulsar à força.

    — Hah… Não tenho muito tempo, então diga logo. Qual é o motivo para fazer tudo isso só para me ver?

    Finalmente, o marquês se revelou.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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