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    O Marquês Tercerion, o primeiro-ministro de Rafdonia, me olhou e soltou um longo suspiro. Suspirar na cara de alguém era considerado grosseiro na sociedade nobre. Talvez ele tenha feito isso porque era comigo. Esse velho não estava mais se segurando.

    Eventualmente, ele perguntou: — Você não vai falar?

    — Antes disso, posso lhe fazer uma pergunta?

    — Faça rápido.

    — Por que você me evitou esse tempo todo? — Era uma linha meio fraca, até para mim, mas eu sabia que precisava perguntar isso ao menos uma vez.

    — Evitar você? O que quer dizer?

    — Tentei marcar uma reunião com você várias vezes, mas você ignorou todas as minhas tentativas de contato.

    Isso não deveria ter sido possível, a menos que ele estivesse me evitando ativamente. Então, por que o marquês estava me evitando? Não era como se ele estivesse tentando se fazer de difícil. Ele havia me dado uma posição na Reunião Palaciana não faz muito tempo e até tentado casar a filha dele comigo.

    A verdade que ouvi da boca do marquês era bem simples.

    — Eu estava ocupado.

    — Tão ocupado que nem conseguiu mandar uma resposta?

    — Eu nem sabia que você tentou me contatar. Passei os últimos dias trabalhando no palácio.

    Olhei para ele novamente e notei um cansaço profundo em seus olhos. Será que era por isso? Ele parecia muito mais sensível e agressivo que o normal.

    — E ouvi do meu mordomo-chefe que ele lhe disse que era esse o caso, não foi? — ele pressionou.

    — Uh… — Fui informado disso, mas nunca imaginei que fosse real e não apenas uma desculpa.

    Fiquei em silêncio, pego de surpresa. O marquês me lançou um olhar de frustração.

    — Você também é bem estranho. Você veio até mim perguntar por que eu estava te evitando, só porque eu não tive tempo para te encontrar. Não está sendo arrogante demais?

    — …Hã?

    — Você acha que só porque quer encontrar alguém, essa pessoa deve largar tudo para te atender, como se estivesse esperando você chamá-la?

    — Entendi. Vou pedir desculpas por esta vez.

    — Não peça desculpas, faça uma promessa. Nunca mais me procure desse jeito. Posso tolerar algumas atitudes indelicadas devido às diferenças culturais, mas isso foi desrespeitoso.

    — …Eu disse que entendi.

    Talvez por eu não ter desculpa para minhas ações, vê-lo ficar abertamente irritado comigo era assustador.

    “…Estou curioso por que ele anda tão ocupado também.”

    Por que o marquês estava tão ocupado a ponto de alguém que vive e trabalha em Karnon precisar ficar dias no palácio sem poder voltar para casa?

    Minha curiosidade foi despertada, mas acabei guardando para mim, incapaz de perguntar no final. Ele também não me deu uma brecha.

    — Muito bem, então me diga o motivo de sua visita — ele instruiu. — Não posso desperdiçar mais do meu pouco e precioso tempo de descanso.

    Já que o marquês havia deixado claro o quão exausto estava nas últimas trocas, também fiz o meu melhor para ir direto ao ponto.

    — Vim aqui pedir que escolha minha Casa Yandel para os esforços de reconstrução do Distrito Sete.

    Talvez fosse a primeira vez que ele ouvia um pedido tão descarado, ou talvez ele não esperasse que alguém como eu fizesse uma solicitação direta.

    — …Hã?

    De qualquer forma, o marquês respondeu com um grunhido de incredulidade antes de me fazer uma pergunta. — Precisava de tudo isso só para algo tão pequeno? Não sei o que você fez, mas ouvi dizer que Melbeth decidiu te apoiar como representante.

    Bem, isso era verdade. Agora que eu tinha o apoio de Melbeth, não perderia muito, independentemente de entrar na competição de contratos como todo mundo.

    No entanto, era assim que os negócios funcionavam.

    — Tenho um método que me garante ser escolhido. Por que não usá-lo?

    — Concordo com sua linha de raciocínio… — O marquês franziu a testa. — Mas não posso retribuir sua atitude de agir como se estivesse aqui para pegar o que é seu por direito.

    Era um lado dele que eu nunca tinha visto antes. Ele não havia ficado tão irritado nem quando brinquei que esmagaria a cabeça dele.

    “Talvez eu tenha vindo numa hora errada?”

    Um arrependimento tomou conta de mim, mas tentei ser otimista.

    O que mais eu poderia fazer, honestamente? Se eu apenas esperasse por uma resposta dele, não havia garantia de que conseguiria falar com ele a tempo.

    — Diga-me. Por que eu deveria aceitar seu pedido?

    Mantive minha posição e exigi descaradamente de novo: — Pense nisso como um presente de despedida de solteiro.

    — Despedida de solteiro…?

    O marquês inclinou a cabeça ao ouvir o termo estranho. Esses velhos não sabiam de nada.

    — Vamos lá, não vou me casar no futuro, então não pode pelo menos me dar um presente por isso?

    Mesmo antes de ser arrastado para este mundo, disparidades assim existiam na sociedade moderna. Quero dizer, era injusto para aqueles que nunca se casavam, certo? Eles sempre davam presentes e dinheiro sempre que alguém conhecido se casava, mas os solteiros eternos nunca recebiam nada em troca.

    O marquês se pegou pensando e parou de falar por um momento. Não importava se eu estava tentando forçá-lo aqui. Como a pessoa que havia me impedido de casar, ele não podia simplesmente ignorar meu pedido.

    — …Você tem um ponto decente.

    Felizmente, o marquês entendia o princípio da troca.

    — No entanto, como isso é uma questão de interesse nacional, não posso decidir as coisas por capricho. Como devo fazer isso…? — o marquês começou a murmurar, pensativo.

    Entretanto, eu honestamente não conseguia simpatizar com ele nesse ponto específico. O velho à minha frente era quem fazia o que queria da segunda posição mais poderosa do país. O melhor que eu poderia fazer era encarar seus murmúrios como apenas efeitos sonoros antes de ele chegar ao ponto.

    — Ah, então que tal isso?

    Como esperado, o marquês ofereceu um compromisso logo em seguida.

    — Vou lhe dar uma oportunidade de competir de forma justa com os outros — ele declarou.

    — Uma oportunidade…?

    — Na verdade, há um total de cinco casas, incluindo a sua, sendo consideradas para a tarefa. É muito improvável que a Casa Yandel seja selecionada após o exame completo.

    Bem, isso era esperado. A Casa Yandel ainda não tinha nenhum projeto de construção no nome. Se Melbeth não tivesse me dado total apoio, minha casa nem estaria na corrida para começar.

    Foi por isso que eu não podia ficar parado e precisava encontrar o marquês. Eu sabia que não teria chance se não fizesse isso.

    — Então? — provoquei. — O que quer dizer com me dar uma oportunidade?

    — Exatamente como eu disse. Vou preparar um palco para você, então prove seu valor por seus próprios méritos.

    Como exatamente ele iria me dar essa chance? Eu não conseguia imaginar.

    No entanto, após ouvir a explicação do marquês, fiquei surpreso.

    — Simplificando… as cinco casas vão se reunir e ter uma competição de construção?

    — Mais do que uma competição, será uma vitrine para cada casa mostrar seus pontos fortes.

    Eu não sabia se ele podia realmente chamar essas coisas de diferentes, mas o que o marquês disse a seguir me deu alguma confiança.

    — Apenas traga provas suficientes para não passar vergonha. Se fizer isso, este contrato irá para o Baronato de Yandel.

    Era uma sensação meio estranha. Embora as coisas tivessem progredido além desse ponto e não se encaixassem mais nesse cenário, eu tinha quase dado a volta completa para aquela mesma competição que quase tive contra a casa dos anões de Melbeth.

    — Certo, me avise quando a data estiver decidida.

    Nunca pensei que alguém como ele faria um desafio de construção.


    Eu voltei à terra sagrada após terminar a conversa com o marquês, e quando o fiz, vi a sala da administradora-chefe ainda iluminada enquanto ela trabalhava noite adentro.

    Hmm, ou talvez não?

    — Shavin, o que está fazendo, lendo até tão tarde?

    — Oh… É… É uma carta. O gerente da filial do Banco Alminus está me perguntando se estou pensando em trocar de emprego… Mas é estranho. Eles não deveriam me conhecer tão bem para fazer esse tipo de pergunta…

    Hã? Será que o Conde Alminus deu uma boa oferta para ela? O banco a contrataria na hora se ela fosse se encontrar com eles uma vez só?

    “Esse velho, hein…”

    — Apenas ignore. Isso definitivamente veio de algum golpista.

    — …E por que ouvir você dizer isso faz minha autoestima despencar?

    — Não se preocupe, não se preocupe.

    — Então, o que está fazendo aqui a esta hora?

    — Preciso de um motivo para te visitar?

    — Sim. Achou que eu não ia perceber que você nunca chega perto de mim porque está com medo que eu peça algo?

    Uh… Então ela sabia.

    Me senti pego por um segundo, então rapidamente fui direto ao ponto. — Eu estava falando com o primeiro-ministro e acabei de voltar.

    — …O primeiro-ministro?

    — Por que está me olhando assim?

    — Só porquê. Te olhando nessa luz faz você parecer alguém importante…

    Shavin jogou um elogio sarcástico no final, mas ignorei, já que não estava ali para brincar com ela.

    Em vez disso, entrei em detalhes sobre a conversa que tive com o marquês e disse que precisaríamos avaliar pessoalmente as habilidades de construção dos guerreiros.

    — Para… Amanhã…?

    Eu senti um toque de intenção assassina em sua voz trêmula, então tentei me explicar rapidamente. — Não precisamos trazer todos eles. Mas não escolha só os bons. Precisamos julgar qual é a média, então selecione um grupo deles.

    — Hmm… Isso não parece tão difícil.

    — Não precisa se estressar com isso. Precisamos apenas ter uma noção das habilidades dos guerreiros agora e ver que melhorias serão necessárias para prepará-los para a competição.

    — Entendido. Vou prepará-los.

    Beleza, então eu poderia olhar isso amanhã…

    Depois de completar minha missão aqui, falei com Shavin sobre algumas outras coisas relacionadas aos assuntos internos da terra sagrada antes de voltar silenciosamente para o meu quarto para dormir.

    E então, o amanhecer chegou no dia seguinte.

    — Ohhhh!

    — O guerreiro mais forte da nossa raça veio ver nossas habilidades!

    — É hora de mostrar do que somos capazes!

    — Behelaaah!

    Por alguma razão, os bárbaros que chamei cedo pela manhã pareciam bem motivados e apaixonados.

    Fiquei completamente surpreso. Nem os tinha chamado ali para avaliar suas habilidades de combate.

    “Desde quando esses caras ficaram sérios sobre construção?”

    Fiquei curioso, então perguntei a Ainar. Mas a resposta que recebi me deixou perplexo.

    — É graças à lavagem cerebral da administradora-chefe.

    Uma palavra que eu, como chefe, não podia ignorar foi dita na minha frente. — …Lavagem cerebral? — repeti.

    — A administradora-chefe disse que com recompensas suficientes e elogios intermináveis, até um goblin pode ser “corrigido”.

    Eu fiquei me perguntando do que ela estava falando, então ouvi a história toda. Aparentemente, Shavin fez várias coisas para mudar a percepção dos guerreiros.

    Sempre que um guerreiro terminava o trabalho, ela lhe dava uma pequena recompensa e depois o elogiava exageradamente em público para aumentar seu desejo de honra.

    “Ela conseguiu satisfazer o desejo deles por reconhecimento…”

    Acho que ela foi capaz de identificar perfeitamente como motivar um bárbaro.

    Mas, honestamente, por que os guerreiros eram tão obcecados por força?

    O fato de que o poder que eles possuíam estava diretamente ligado à subsistência era um fator. No entanto, por natureza, a força preenchia o desejo de serem respeitados. Todos os guerreiros treinavam derramando sangue e suor para serem vistos como fortes e respeitados por todos.

    — Eu não sei muito bem, mas eles até realizaram uma competição para ver quem conseguia construir uma casa mais rápido outro dia! — exclamou Ainar. — Ouvi dizer que, se você vencer, vai ficar popular com o sexo oposto, então eu também tentei, mas foi difícil!

    Eu não respondi.

    — Que pena! Se eu não tivesse entrado no labirinto e tivesse aprendido construção, teria feito melhor!

    Até a Ainar estava falando besteira agora. Eu não precisava de uma explicação sobre o quanto as habilidades de construção estavam valorizadas na minha tribo.

    “Não sei se isso é bom ou ruim…”

    Como chefe, isso era um pouco preocupante, mas tentei ver a situação de forma otimista. Com melhores habilidades de construção, abrir-se-ia um caminho onde ser um guerreiro não seria a única maneira de alguém viver a vida.

    E ter mais opções sempre era uma coisa boa.

    “…Bem, acho que posso esperar por isso?”

    Com isso, dei um passo atrás e observei o processo de construção de teste que Emoor havia preparado e comecei a avaliar os guerreiros por suas habilidades de construção.

    — Eu consigo carregar três barras de aço de uma vez!

    — Bem, eu consigo carregar quatro!

    Alta capacidade em movimentar materiais.

    — Behelaaah!

    Alta velocidade de construção.

    — O que está fazendo?! Só enfia esse pilar aí!

    Baixa atenção aos detalhes.

    — …K-Kirita, segundo filho de Myulka! A janela não cabe aqui. O que fazemos?!

    Baixa capacidade em técnicas de construção complexas.

    — Continuem! Se terminarmos de construir hoje, o chefe vai nos dar dez mil pedras!

    Baixo custo de mão de obra.

    Além disso, alguns pontos interessantes para destacar: eles só conseguiam construir edifícios retangulares. Não sabiam como fazer telhados arredondados. No geral, eram rápidos na construção, mas cometiam muitos erros. E não sabiam ler uma planta arquitetônica nem por um segundo…

    “Então esse é o limite deles…”

    Eu respirei fundo enquanto observava suas fraquezas evidentes.

    “…O que eu posso fazer quanto a isso?”

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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