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    Enquanto caminhávamos pelo corredor com inscrições de círculos mágicos, a grande passagem circular começou a se estreitar.

    — Então… Eu não nem um pouco estou curioso sobre o lado de fora…

    Tap, tap.

    — Talvez seja melhor você fazer essa exploração com seus aliados. Devemos retornar por hoje…

    Tap, tap.

    — C-Como você pode fazer isso?! Me solte!

    Eu presumi que ele não faria nada, mas as reclamações do GM ficaram mais severas quanto mais ele era arrastado para frente.

    Para um bárbaro, isso era apenas fofo, é claro. Era como ouvir o pio de um pintinho.

    — Yurven Havellion. — Soltei o braço dele e o encarei.

    — …Por que você está m-me olhando assim?

    — Me dê alguns dias do seu tempo. É o destino que nos juntou assim. Não seria melhor se nós fossemos amigos?

    — Se o seu objetivo é socializar, então eu posso te dar mais tempo, mesmo sem situações como essa…

    “Heh, sempre dando mais tempo?”

    Era óbvio que ele ia se trancar na torre mágica dele assim que eu o deixasse voltar.

    — Mas é um pouco estranho.

    — Como?

    — Por que você está reclamando tanto para eu te mandar de volta? Você é um mago de verdade. Não está curioso sobre o lado de fora?

    — …Eu só fico curioso com coisas que consigo lidar.

    Esse raciocínio me marcou. Se alguém quisesse viver uma vida longa e sem eventos, fechar os olhos e tapar os ouvidos era, sem dúvida, o melhor método.

    “…Então este é o segredo de como esse cara conseguiu sobreviver por tanto tempo.”

    Só essa frase já me deixou um passo mais perto de entender que tipo de pessoa o GM era. Não que eu tivesse planos de deixá-lo ir tão cedo, é claro.

    — Ainda assim — eu disse — me ajuda aqui, certo? Pelo menos devido à Versyl.

    O que eu disse pode parecer um pedido desesperado, tentando apelar para sua amizade com Versyl, mas, do ponto de vista do GM, ele definitivamente tomaria isso como uma ameaça.

    — Urgh…

    — Vou te fazer uma promessa. Se algo perigoso acontecer, eu vou te proteger, mesmo que eu tenha que me jogar no caminho. Hmm? E também não vai levar muitos dias. Só estou planejando dar uma olhada rápida antes de voltar.

    — Se você diz…

    Com o método da cenoura aplicado, o GM deu um aceno de derrota.

    Pronto, esse problema estava resolvido.

    — Então vamos continuar.

    Após chegar a um acordo, retomamos nossa caminhada pelo corredor. A passagem parou de se estreitar em um certo ponto e, após caminhar nesse estado por mais um tempo, o corredor se alargou novamente e uma inclinação apareceu.

    Whoosh!

    Enquanto subíamos a ladeira, eu podia sentir o vento e a luz começarem a se esgueirar até nós. Pode ter sido apenas um pressentimento, mas a natureza desse lugar parecia diferente da cidade.

    【Você entrou em uma área proibida.】

    Após sair completamente ao ar livre, respirei fundo antes de olhar em volta. Na distância, o sol poente, meio escondido atrás de uma cadeia de montanhas. Um riacho estava tingido de vermelho pelo pôr do sol, e pássaros chilreavam em seus ninhos acima das árvores.

    — Ali deve ser Rafdonia…

    Na direção oposta ao pôr do sol, eu podia ver altas muralhas de castelo. Eram tão altas e tão largas que me lembravam a Grande Muralha da China.

    “É a primeira vez que vejo isso do lado de fora.”

    Eu nunca havia saído das muralhas, mesmo quando jogava o jogo, então ver Rafdonia desse ângulo era algo bem novo…

    — Havellion, o que você está fazendo?

    — Estava dando uma olhada em algo. Vi algumas letras que nunca tinha visto antes…

    Letras desconhecidas?

    Inclinei a cabeça e caminhei em direção à entrada da caverna de onde tínhamos acabado de sair. Lá, encontrei uma marca feita por uma adaga na parede.

    Eu estive aqui.

    Baekho Lee, o forte filho da Coreia.

    Suspirei. Por que eu estava ficando envergonhado ao olhar para isso?

    Quase soltei uma risada seca, mas me segurei e falei como se também não reconhecesse aquilo. — …Não acho que seja uma língua antiga. Interessante.

    — Sim. É peculiar. Sinto que já vi isso em algum lugar antes…

    Então o GM não sabia coreano. Era compreensível, honestamente. Se ele de repente visse hebraico ou algo assim, provavelmente nem seria capaz de reconhecer qual era o idioma, muito menos lê-lo.

    Olhei para a marca de Baekho pensativo, e o GM me deu um conselho. — Se você está pensando em deixar seu nome aqui, sugiro não fazer isso. Será uma prova de que você esteve do lado de fora. Se o palácio vir isso, pode ser interpretado como traição.

    — …Eu não estava pensando nisso.

    — Que alívio.

    Após ver o GM acenar, rapidamente me virei e estalei a língua.

    Por que eu de repente queria deixar uma marca agora?


    Pelo que o Palhaço me contou, o mundo do lado de fora das muralhas era muito parecido com o Continente Negro no sétimo andar. Se fosse esse o caso, onde estávamos agora?

    Eu precisava primeiro encontrar algo que pudesse usar como referência.

    “Se isso for a Cordilheira do Dragão… Estamos perto da Grande Floresta?”

    Com isso, eu poderia adivinhar minha localização. A Grande Floresta estava localizada na região sudeste do Continente Negro. E como isso parecia estar um pouco mais a leste da Grande Floresta…

    “Então, a região leste da Grande Floresta?”

    Claro, era só uma hipótese. Não havia como eu ter certeza disso. A atmosfera aqui era completamente diferente do labirinto, então eu realmente não tinha ideia.

    “De qualquer forma, vamos apenas tentar aprender sobre isso devagar…”

    — Então… Para onde você vai agora? — perguntou o GM.

    — Vamos em direção à cidade.

    — Para… a cidade?

    — Por que fez essa cara?

    — Para ser honesto, achei que você fosse direto para a floresta, Lorde Barão.

    Uh…

    Para ser honesto, eu também estava interessado na floresta. No entanto, havia muito risco para apenas nós dois viajarmos até lá, e havia algo que eu queria verificar primeiro ao redor das muralhas do castelo.

    — Basta continuar usando magia de detecção e me seguir. Este é um mundo desconhecido. Lembre-se de que qualquer coisa pode aparecer.

    — Sim. Vamos nos mover depois que eu memorizar as coordenadas aqui, por precaução.

    — Ah, isso é bom.

    Decidimos nos afastar da floresta, que parecia pacífica demais para ser a Grande Floresta do Continente Negro, e seguir para o leste.

    Por que diabos o mapa é tão grande?

    O sol já havia se escondido completamente atrás das montanhas nesse ponto, deixando-nos com um céu escuro cheio de estrelas acima de nossas cabeças, mas ainda não estávamos nem perto das muralhas.

    Bem, talvez estivéssemos na metade do caminho?

    “…Achei que chegaríamos lá em poucas horas.”

    Estávamos nas terras altas, e devido à altura das muralhas, isso acabou acontecendo.

    Era como uma miragem. Não importava o quanto caminhássemos para frente, não parecia que estávamos chegando mais perto.

    — Vamos parar por hoje. Vamos pernoitar aqui e seguir novamente pela manhã”, ordenei.

    Não conseguiríamos ver as muralhas quando a noite realmente caísse, então decidi montar acampamento por enquanto. Se nos movêssemos sem poder ver o que estava à nossa frente, poderíamos nos desviar do caminho e acabar desperdiçando ainda mais tempo.

    — …Já faz um bom tempo que não passo a noite em um saco de dormir.

    Enquanto nos deitávamos em nossos sacos de dormir e olhávamos para o céu estrelado, o GM falou comigo.

    O quê? Ele ficou sentimental após ver o céu noturno?

    Embora eu não soubesse o que o fez mudar de ideia, ficou claro que aquele era o início da conversa que eu estava procurando.

    — Você já foi um aventureiro, certo?

    — Sim. Já faz sete anos desde aquela época, no entanto.

    — …Por que você parou de se aventurar?

    — É só… Muitas coisas. Também senti que estava nos meus limites…

    Considerando como ele resumiu tudo isso em ‘muitas coisas’, pude perceber que ele não queria falar sobre os detalhes. Ou ele estava em uma situação em que não conseguia falar sobre eles com facilidade.

    “Assim que ele parou de ser aventureiro, ele entrou na torre mágica e ficou lá por sete anos…”

    Embora eu não conhecesse a situação do GM, isso não significava que eu não soubesse nada sobre os rastros que ele deixou com a vida que viveu. Afinal, eu já tinha feito toda a pesquisa de antecedentes que precisava.

    “Definitivamente, havia um motivo para ele ter se tornado um recluso…”

    Pelo que meu instinto dizia, o motivo provavelmente não era ele, mas algum fator externo. Ou o palácio, ou talvez até Baekho.

    — Ainda assim, deitar assim me traz paz de alguma forma.

    — O que é isso agora? Você estava agindo como se eu estivesse te arrastando para o inferno com o quão irritado parecia.

    — Continuo insatisfeito. No entanto, isso me deixa um pouco mais tranquilo.

    — E o que seria isso?

    — O fato de que ninguém sabe que estou aqui.

    Só então entendi o que ele quis dizer com a situação lhe trazendo paz de espírito. Provavelmente também estava sendo vigiado pelo palácio. Ele até tinha sido emboscado por Baekho uma vez quando saiu da torre mágica por um instante.

    Seria certo dizer que ele tinha ainda mais inimigos na cidade?

    “Eu nunca deveria contar a ele que Baekho Lee também está fora das muralhas…”

    Tomei cuidado para não dizer nada que pudesse mudar sua opinião e continuei a conversa leve.

    — Algum romance…? Como sou velho, conheci algumas mulheres na minha vida… Mas nenhum deles acabou bem.

    Ele era alguém que não gostava de namorar.

    — A escola de magia que estudei primeiro? Isso é… Não gosto particularmente de falar sobre isso. Peço desculpas.

    E, inesperadamente, quando ele estava em uma situação constrangedora, em vez de mentir ou tentar desviar com comentários vagos, ele era do tipo que encarava de frente. Ou talvez fosse apenas uma coisa que ele detestava falar sobre.

    “Devo investigar isso mais profundamente depois.”

    A escola de estudos à qual ele havia se dedicado inicialmente se fragmentou em vários ramos por um motivo ou outro, e ele acabou criando um novo campo de estudo no qual estava agora.

    No entanto, infelizmente, era difícil encontrar registros sobre o que foi esse ‘incidente’.

    Tudo era tratado como ultrassecreto por algum motivo. A única coisa que eu sabia era que o incidente estava relacionado a alguma magia proibida.

    “Talvez eu deva encontrar o Sr. Kyle mais tarde. Ele deve ter conhecimento sobre magia proibida.”

    Depois disso, continuamos conversando sobre coisas pequenas, e houve algumas coisas que percebi durante esse tempo.

    Baekho e eu éramos parecidos em alguns aspectos. O fato de não estarmos do lado dos jogadores, do lado do palácio ou do lado de Noark.


    E assim, o dia seguinte chegou.

    — Dormiu bem?

    — Meu corpo todo está dolorido.

    — Aqui, beba um pouco de água. Vai se sentir melhor.

    — …O que isso tem a ver com estar dolorido?

    — Não se preocupe com os detalhes.

    Assim que nos levantamos, fizemos um desjejum leve e retomamos imediatamente nossa jornada rumo às muralhas.

    — Finalmente chegamos.

    — O que você quer dizer com ‘chegamos’? Isso é só o começo.

    Após chegarmos perto das muralhas ao pôr do sol, continuamos a caminhar ao longo do perímetro externo das muralhas.

    Eu havia lido uma certa informação em uma pequena seleção de literatura. ‘Rafdonia’, localizada na extremidade do continente, era um território que vivia das importações e exportações de comércio e mercadorias.

    O que significava que deveria haver um oceano perto de Rafdonia.

    Tap, tap.

    Uma barreira invisível estava formada ao redor das muralhas do castelo. Eu conseguia senti-la com um leve toque da mão. Após segui-la por todo o percurso e continuar caminhando pela noite, chegamos à parte leste de Rafdonia, perto do Distrito Nove e do Distrito Dez, antes do amanhecer.

    — Não podemos ver nada por causa de como está escuro. Vai amanhecer em breve, então vamos esperar até lá.

    — Você deve estar cansado. Que tal tirarmos um cochilo antes disso?

    O problema aconteceu depois que acordamos.

    — Lorde Barão…? Acorde! O-O que é aquilo…?

    — …Vamos chegar um pouco mais perto.

    Assim que despertamos, ficamos apenas observando a paisagem por um momento antes de seguirmos rapidamente em sua direção.

    Então, ficamos ambos sem palavras.

    Mas primeiro, para resumir a situação atual… O oceano realmente existia.

    Na extremidade do continente, olhando de cima de um penhasco, pudemos ver o oceano se estendendo vasto e amplo.

    “Cinza.”

    O problema era que o oceano era cinza.

    Não, não apenas o oceano, mas o céu também.

    As ondas se chocando.

    As nuvens no céu.

    Com o desfiladeiro como limite, tudo além dele carecia de cor e estava imóvel, como se fosse uma foto em preto e branco.

    Vendo essa cena, o GM murmurou para si mesmo, atônito: — …Então o mundo nunca se normalizou.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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