Capítulo 663: Companheiro (2/4)

— Fui um mago tardio.

A história do GM começou com essa frase.

— Vinte anos. Para ser honesto, entrar na torre mágica com essa idade foi algo sem precedentes. Pode ser óbvio, mas foi difícil me adaptar a esse ambiente.

Bom, eu conseguia entender isso. Os prodígios que entraram na torre mágica ainda jovens, como Raven, desprezavam magos tardios como o GM. Claro, as pessoas que eles odiavam mais ainda eram os magos não especializados, como Dwalkie.

De qualquer forma, essa não era a parte importante.

“Ele foi um mago tardio…?”

Por mais que eu pensasse, isso não fazia sentido. Esse cara estava mentindo para mim? Quando o conheci no passado, ele disse que virou um mago de sexto nível dentro de um ano após chegar.

— Felizmente meu nível é alto, mas ainda não consigo usar magia direito, então vivo no limite todos os dias…

Essa última parte me fez pensar que era só um problema para ele, já que possuía o corpo de um mago. Mas não era o caso?

“Melhor continuar ouvindo…”

Se ele estivesse dizendo a verdade, seria um caso bastante especial.

Foi algo que aprendi com o tempo ao conversar com outros jogadores em Caça-Fantasmas, mas as pessoas que cruzaram o Portão do Abismo enquanto evoluíam personagens de mago começaram suas vidas já sabendo usar magia. Versyl Gowland, do meu clã, era um exemplo disso.

“Ela também se juntou à torre mágica e treinou magia em uma idade muito mais jovem que vinte anos.”

Então, o que levou o GM a tentar se tornar um mago? Se ele não começou como um, teria sido muito mais fácil crescer como personagem se tornando aventureiro e consumindo essências.

— Há algum motivo para você ter tentado aprender magia nessa idade? — Perguntei diretamente, recebendo uma resposta que nunca esperaria.

— Para ser honesto, eu não queria me tornar um mago. Achei que precisava ser um aventureiro.

— Hã…?

— Claro, enfrentar monstros perigosos dentro do labirinto não combinava comigo, então ser um mago acabou sendo perfeito para mim. Você mesmo disse… é uma situação bem incomum tentar aprender magia depois dos vinte anos.

— …É verdade.

— Originalmente, tentei aprender o arco. Achei que pelo menos seria competente em arquearia.

Então, a classe dos sonhos dele era realmente ser arqueiro…

Isso me deixou ainda mais curioso. Por que ele foi de querer ser arqueiro para acabar como mago?

— Como eu não tinha um centavo no bolso, comprar um arco significava que eu precisava ganhar dinheiro. Quando atingi a maioridade, não havia nada que eu não tivesse feito nas ruas. Até fui à forja uma vez para tentar arranjar um emprego…

Surpreendentemente, enquanto passava seu tempo martelando metal, o caminho para se tornar um mago se abriu para o GM. Como se fosse destino, ele encontrou o mestre de uma escola de magia.

— Meu mestre ficou intrigado com um brinquedo que fiz durante meu tempo livre. Ele me chamou de lado, dizendo que queria conversar, e conversamos por horas.

O mestre observou o quão detalhado era o desenho do brinquedo feito pelo GM e fez questão de elogiar sua imaginação.

“Bom, isso faz sentido. Esse cara veio da era moderna.”

Suponho que fosse meio que um trunfo que uma pessoa moderna tinha. Coisas assim às vezes apareciam em romances, onde um cara comum caía em outro mundo e impressionava todos ao seu redor sempre que criava algo.

— E foi assim que você conseguiu aprender magia? — Estimulei.

— Sim. A Escola Myreta geralmente trabalhava com magias elementais de vento, mas meu mestre, o mestre da escola na época, era muito interessado em engenharia mágica e círculos mágicos. Tive sorte de chamar a atenção dele.

Assenti, mantendo uma postura aberta e atenta. — Então foi isso que aconteceu.

— Não estou querendo me gabar, mas eu tinha aptidão para magia. Aprendi muito rápido e absorvi tudo o que meu mestre me ensinou. Por causa disso, acabei também atraindo muito ódio.

A velocidade de crescimento do GM na torre mágica foi incrivelmente explosiva.

— Quero dizer, na longa história da torre mágica, nunca houve alguém que tenha entrado aos vinte anos e subido para o sexto nível em apenas um ano.

Então ele realmente chegou ao sexto nível em apenas um ano? Não, espere. Então o que ele quis dizer com ‘meio-mago que não conseguia usar magia direito’ naquela época?

Surpreendentemente, consegui a resposta logo depois.

— No entanto, eu ainda era apenas um meio-mago… Sabe? Existem tantas áreas de magia que, mesmo que você não aprenda um único feitiço de ataque, pode se tornar um mago de alto nível.

O GM pertencia a essa categoria.

Após demonstrar um talento excepcional em engenharia mágica e círculos mágicos, o GM se tornou um mago de sexto nível sem nunca ter aprendido a lançar um feitiço de bola de fogo corretamente.

— Os magos que sabiam disso sempre me provocavam. Eu precisava agir em segredo, tomando cuidado para não ser pego. Ahh… Aqueles dias na torre mágica foram brutais.

— No entanto, mesmo assim, meu mestre não acreditava que aprender outras magias seria produtivo para mim. Meu talento estava na engenharia mágica, e ele dizia que eu não tinha tempo para desperdiçar com outras coisas. Após muitos pedidos, consegui aprender um ou dois feitiços, mas meu foco sempre foi o estudo da engenharia mágica. Foi muito difícil naquela época. Acho que nem consegui dormir mais de duas horas por noite.

Mas, mesmo assim, o GM conseguiu. Ele achava a engenharia mágica divertida e sentia uma profunda gratidão por seu mestre.

— Pode parecer estranho… mas naquela época, eu às vezes sentia que meu mestre era como um pai. Porque eu… não tinha um pai.

Após ser completamente manipulado por tanto tempo, o GM achou que sua vida estava se distanciando cada vez mais da de um aventureiro, mas ainda continuava a suportar isso. No entanto, essa resistência encontrou seu limite em algum momento.

— Mas, no fim, não consegui continuar, então fugi. Reuni aliados para me tornar um aventureiro e, depois disso, passei muitos anos assim, sem nunca mais retornar à escola.

Durante esse tempo, mesmo gastando mais tempo aprendendo magias úteis para aventuras, o GM nunca parou seus estudos em engenharia mágica.

E então, por volta da época em que o mago Yurven Havellion começou a ganhar fama como aventureiro…

— Foi quando o incidente aconteceu. Você pode ter ouvido falar disso também… mas meu mestre mexeu com magia proibida.

Magia proibida, magia que era vedada aos magos.

Assim que foi revelado que o mestre do GM lidava com esse tipo de magia, os soldados do palácio entraram em ação, e seu mestre foi executado na hora.

— Todos os magos da escola passaram os meses seguintes vivendo como se estivessem presos, sendo constantemente investigados. Dentre eles, eu, que passei mais tempo pesquisando com meu mestre, fui o mais escrutinado.

Após ficar confinado em uma sala de interrogatório e contar a verdade todos os dias, o GM acabou descobrindo por acaso o que exatamente era aquela magia proibida em que seu mestre havia trabalhado.

— Foi chocante, eu não conseguia acreditar.

— …O que era?

— Meu mestre estava pesquisando magia relacionada a ‘enxerto de alma’.

Era uma pesquisa de magia que visava colocar a alma de uma pessoa em um objeto para transformá-lo em uma ferramenta mágica… algo relacionado a como, se uma consciência removida das limitações biológicas pudesse ser ensinada eternamente, isso poderia levar a um progresso sem precedentes.

“Isso não é como o ‘deep learning’ de uma IA? Incrível.”

— O ponto mais importante desse plano era o ‘talento’. Meu mestre acreditava que a velocidade de aprendizado da alma enxertada dependeria de quão brilhante ela fosse, e ele também havia listado alguns candidatos.

Só então entendi por que o GM queria contar essa história.

— Entre os nomes no documento de planejamento que o interrogador me mostrou, o meu estava escrito no topo. Era como se ele tivesse nos classificado, e os números atrás do meu nome também eram os mais altos.

A traição do mestre que ele considerava como pai.

— Depois disso, bem… Toda a escola desapareceu, e no fim, de algum jeito, acabei criando uma escola própria. À medida que a escola crescia, fiquei mais ocupado e entrava cada vez menos no labirinto.

Eu podia imaginar o que aconteceu a partir daí. Ele gerenciou a comunidade enquanto fazia sua escola crescer, provavelmente mantendo contatos políticos com o palácio em questões confidenciais. Tudo com o objetivo de um dia deixar esse maldito mundo.

— Então… O que achou? Da minha história, quero dizer.

O GM soltou um suspiro de alívio, e eu pensei por um momento antes de dar uma resposta curta.

— Definitivamente, não foi uma história tão interessante.

— …Ahaha. É mesmo?

Foi uma risada obviamente constrangedora. No entanto, se eu empatizasse com ele e ficasse triste junto, o clima ficaria ainda mais esquisito. E não acreditava que isso seria benéfico para ele.

— Mas não foi ótimo no fim das contas?

— Perdão?

— Em vez do cara que te traiu viver uma boa vida, ele morreu de maneira patética.

O GM ficou sem palavras por um momento e então explodiu em gargalhadas. — Ahahaha, é verdade. Sim. Dá para ver por esse lado…

Após rir alto por um tempo, sua expressão de repente ficou amarga enquanto murmurava — Seria incrível se eu conseguisse pensar de forma tão simples assim… De verdade.

Bem… O coração é algo que você realmente não pode controlar.

Após acordar cedo na manhã seguinte à nossa conversa franca, seguimos rapidamente para a caverna que levava ao túnel subterrâneo. Quando o sol estava se pondo, chegamos ao nosso destino.

No entanto, o problema era…

— Não é tão ruim tirar um tempo para coisas assim de vez em quando. Parece que voltei aos tempos em que era um aventureiro. Obrig… Espere, falei algo errado?

“Olha, você só deveria dizer isso quando voltarmos para a cidade.”

Isso me deixou nervoso, como se algo fosse acontecer agora que ele disse isso…

— …Pare.

Enquanto olhava ao redor por hábito, com o coração inquieto, congelei no lugar.

— O que foi…?

Abaixei a voz. — Fique quieto.

Ele parecia ter percebido que algo estava errado, pois segurou o cajado nervosamente.

“Por que todos os magos são como Dwalkie?”

Embora eu tenha tido esse pensamento repentino, isso não era o mais importante agora, então foquei na entrada da caverna.

Eu estive aqui.

Baekho Lee, o forte filho da Coreia.

Era a marca deixada por Baekho Lee que vimos antes.

E abaixo dela, uma nova marca.

Rafdonia’s king, motherfucker.

Era usada como um meme em Caça-Fantasmas. Uma frase que qualquer jogador ativo na comunidade reconheceria.

Era óbvio quem escreveu também.

Baekho Lee. Provavelmente escreveu porque ficou entediado no caminho de volta.

— I-Isso é…!

— Sabe o que é isso?

— Sei que é um alfabeto usado pelos espíritos malignos. Agora que vejo, as marcas acima parecem ser outro alfabeto deles.

Como não podia revelar que era um espírito maligno, o GM arranjou desculpas enquanto tentava esconder que estava um pouco perturbado. Normalmente, eu teria fingido inocência enquanto fazia perguntas comprometedoras para provocá-lo, mas não tinha tempo para isso agora.

— De qualquer forma, alguém deve ter estado aqui antes de nós — falei. — Vamos sair daqui agora.

— Perdão…?

— Nada de bom sairá desse encontro. E será um problema se descobrirem que estou fora da cidade.

— Ah…

Para ser honesto, disse isso porque não queria encontrar Baekho de novo, mas o GM apenas aceitou meu raciocínio, já que não sabia de nada melhor.

Assim que paramos de falar, começamos a nos mover para trás na direção de onde viemos, no sentido oposto à caverna.

Um passo, dois passos, três passos.

Após recuar rapidamente, me preparei para virar.

— Ahhh!

Um homem gritou de dentro da caverna.

O som estava longe de ser o que eu chamaria de um grito. Não, se eu fosse analisá-lo…

— Puta-merda-caralho!

Era um rugido de fúria que não podia ser contido.

Surpreendentemente, o rugido ecoante parecia se aproximar rapidamente de nós…

— Consegue me ouvir? Você está por perto! Você consegue me ouvir!

E logo, um homem saiu correndo da caverna tão rápido que se tornou difícil acompanhá-lo com os olhos.

“…Baekho?”

Como esperado, o autor do grito era Baekho. No entanto, o problema ali…

— Espere só até eu te pegar! Certo? Se eu te pegar, vou…

…era que, ao sair da caverna, Baekho saltou enquanto avançava como um foguete.

Seus olhos encontraram os nossos.

Com isso, Baekho deixou de parecer que ia voar para o céu e caiu no chão com um baque.

— …Uh, por que você está com esse cara, Barão?

Ele parecia genuinamente surpreso, diferente de como costumava agir. No entanto, não demorou para que sua expressão se torcesse em raiva.

— Espere… Foram vocês dois que fizeram isso…?

Nós dois que fizemos o quê…?

Olhei para ele sem entender enquanto Baekho gritava frustrado — Não finjam que não sabem do que estou falando! Vocês quebraram o círculo mágico de retorno?!

Espera, que diabos era isso agora?