Capítulo 664: Companheiro (3/4)
Veias salientes na testa. Respiração pesada e irregular. Mandíbula e punhos cerrados.
Qualquer um podia perceber que Baekho estava completamente furioso naquele momento, mas a primeira coisa que pensei ao vê-lo foi que mal o reconhecia.
— …Hah? Por que não está me respondendo? Eu acertei?
Era algo muito estranho.
Baekho sempre cedia aos seus impulsos e fazia o que bem entendia, agindo como se fosse o rei do mundo. Então, por que parecia tão irreal vê-lo tão irritado?
A resposta veio após um momento de reflexão.
“Agora que penso nisso… ele nunca ficou.”
Surpreendentemente, eu nunca tinha visto Baekho genuinamente irritado, nem uma única vez. Mesmo quando discutíamos e ameaçávamos nos matar, parecia mais que ele estava encenando. Como se ele só retribuísse as ameaças porque tinha motivos não ditos para isso.
— Hah, nunca pensei que eu seria ferrado desse jeito.
Essa explosão de raiva não era a mesma.
Baekho acreditava que eu o havia atacado, e estava reagindo de forma genuinamente emocional a isso.
Eu precisava me concentrar. Afinal, não tinha sido eu o responsável.
— Espere.
Mas o mais importante de tudo, eu ambém precisava entender a situação.
— …O círculo mágico de retorno está quebrado?
Se o que ele dizia era verdade, também era um problema sério para mim. Embora o círculo tivesse magia de restauração aplicada, levaria pelo menos um ano para se recuperar completamente.
— …Te peguei enquanto tentava fugir, e agora está fingindo que não sabe de nada?
— Não estávamos tentando fugir.
— Então por que estavam indo embora?
O GM entrou na conversa com cautela quando Baekho rebateu. — Isso foi porque encontramos vestígios de alguém ter estado aqui antes de nós. Nos afastamos porque o fato de o barão e eu estarmos fora dos muros não pode ser divulgado.
— …É verdade?
— Não tenho motivo para mentir. E se alguém realmente destruiu o círculo mágico com más intenções, não temos tempo para discutir isso.
— Hah… Sério?
Após ouvir a explicação do GM, Baekho rapidamente se acalmou. Perguntei-me por que ele ficou tão exaltado se ia se acalmar tão facilmente.
“Ah, agora que penso nisso, esse cara consegue detectar mentiras.”
Embora não funcionasse comigo, essa habilidade provavelmente funcionava bem com o GM.
— Sr. Baekho, eles provavelmente estão dizendo a verdade.
Foi quando o arqueiro que perseguia Baekho se revelou e corroborou nossa alegação de inocência.
— O cheiro de dentro é diferente do cheiro desses dois.
— …É mesmo? — Baekho pareceu um pouco constrangido enquanto dava um passo para trás.
— O cheiro vai naquela direção.
— Certo, vamos lá.
E então, o corpo de Baekho se esticou e foi lançado como um elástico na direção indicada pelo arqueiro.
No fim, não recebemos um pedido de desculpas após sermos o alvo de sua fúria.
— Vamos também.
— Perdão…?
Mas decidi levantar o GM e correr na direção em que Baekho tinha ido.
Também precisávamos conferir, afinal. Precisamos descobrir qual desgraçado havia feito isso conosco.
Enquanto eu corria o mais rápido que podia, o arqueiro de antes acabou me alcançando antes de me ultrapassar. Mas mesmo podendo simplesmente seguir em frente em silêncio…
— …Com licença.
Era regra que personagens focados em destreza tinham que ser irritantes?
De qualquer forma, após correr por um tempo, me deparei com Baekho e o arqueiro, parados em uma clareira na floresta. Os dois estavam curvados e olhando para o chão.
— Parece que esses caras planejaram isso de forma bastante cuidadosa.
— Sim. Suspeito que tenham feito isso apenas para nós.
Baekho estalou a língua. — Então significa que nossa informação foi vazada… Quem foi?
— Encontramos o grupo do barão na antiga cidadela de Noark recentemente. Talvez a informação tenha vazado deles…
— Idiota. É óbvio que o problema vem do nosso lado. Você também acha isso, né, Barão?
Bom, eu não sabia das circunstâncias completas, mas se alguém estava mirando em alguém, achei que Baekho era um alvo mais provável do que eu.
— O que é isso no chão? — perguntei.
— Ah, quer ver?
Caminhei lentamente até Baekho para ver os restos de um cadáver coberto pela grama. O corpo estava desfigurado. Metade dos ossos estava exposta sob carne e músculos que pareciam ter sido derretidos por algo.
— …É suicídio.
Como era de se esperar de um mago veterano, o GM não parecia abalado com a visão do cadáver e murmurou enquanto olhava ao redor.
Baekho também assentiu em concordância. — Certo? Tenho certeza de que você também pensa o mesmo.
— …Esse é um método muito comum para cortar um rastro em potencial.
— Há mais alguma coisa que você possa deduzir a partir disso?
— …Provavelmente não era um mago.
— Provavelmente. Pelo que posso ver no esqueleto, a costela esquerda é menos pronunciada do que a de um mago.
— Sim, é um fenômeno que acontece porque nossos corações são maiores do que os das pessoas comuns.
Os dois falavam como se fosse algo de senso comum, mas era a primeira vez que ouvia isso.
“A caixa torácica esquerda é maior…”
Não sabia o motivo, mas guardei essa informação para o futuro. Poderia ser útil se eu me encontrasse sozinho em algum momento.
— Tenho uma teoria de que o mago que veio com essa pessoa voltou para a cidade, e essa pessoa aqui foi quem danificou o círculo mágico.
— E então ele veio até aqui para se matar e eliminar qualquer evidência?
— Sim. Olhando para o pó amarelo que mancha as folhas aqui, eles usaram um pó de fruta básica forte. Ah, e o pó de fruta básica é o componente principal do item ‘maldição azul’…
— Eu sei — Baekho cuspiu, a voz gelada de ódio. — É a coisa que o palácio mais usa.
— …Se o palácio realmente estivesse por trás disso, não teriam usado esse item.
— Não sabemos disso. Podem ter feito isso para que pensássemos assim.
De qualquer forma, o resumo da situação era simples: ou Baekho Lee, ou eu. Esse cadáver sem nome destruiu o círculo mágico para causar problemas para nós.
— Ah, isso está uma bagunça. Pelo que ouvi do Vovô, isso vai levar pelo menos um ano para consertar.
Quer gostássemos ou não, precisaríamos permanecer fora dos muros até que o círculo mágico fosse restaurado.
— Não acho que há mais nada que possamos obter daqui. Que tal voltarmos para onde estávamos antes? Também quero verificar o círculo mágico.
Por enquanto, retornamos à entrada da caverna a pedido do GM. Lá, os aliados de Baekho nos aguardavam na entrada.
— Vovô pode nos acompanhar, e o resto fica aqui. Certo?
— Claro, sem problema! Vou garantir que ninguém mais entre, então não se preocupe!
Incluindo o Guardião, havia o arqueiro e um novo aliado misterioso. Esses três permaneceram na entrada, enquanto o GM, Baekho, o Erudito Caído e eu entramos na caverna em uma formação de dois a dois.
— Hmm, talvez tenhamos sido arrastados pelo destino deste amigo.
Após ouvir a situação, o Erudito Caído murmurou algo enigmático novamente, mas não disse mais nada. Nem o GM, nem eu falamos mais nada também.
O clima estava bem esquisito.
Baekho também manteve a boca fechada, aparentemente com muita coisa na cabeça, e o silêncio desconfortável se estendeu até chegarmos ao círculo mágico.
— …Eles fizeram um bom trabalho aqui.
Havia crateras e marcas de queimaduras negras, como se uma dinamite tivesse sido detonada ali.
— O Vovô disse que teremos que ficar aqui e esperar, mas o que você acha?
— …Tenho uma opinião semelhante. Embora haja uma forma de acelerar o processo de regeneração…
— O quê? Tem um jeito? Conte-me.
— Na nossa situação atual, é mais perto do impossível…
— Oh, essa decisão eu tomo, então apenas diga.
Baekho falou em um tom opressor e encarou com as sobrancelhas franzidas, mas o GM rapidamente começou a lhe contar tudo o que precisava saber.
Após ouvi-lo em silêncio, entendi por que ele havia dito que era praticamente impossível.
Núcleo de força do Lich Ancião.
Núcleo de mana do Maravilha da Alma.
Pedra vital do Lorde Ghoul, entre outros.
Todos os materiais necessários eram itens que só podiam ser obtidos no labirinto. E, naturalmente, mesmo que as pessoas andassem com pedras de mana, ninguém teria aqueles itens consigo por aqui.
— Hah… Por que tudo tem que ser material raro? Tenho materiais que vendem fácil, como tendões de Ogro.
— …É por isso que eu disse. Realisticamente, é impossível…
— Hmm? — Baekho resmungou displicentemente. — Mas não acho que seja completamente impossível, não?
O GM inclinou a cabeça, e o Erudito Caído explicou — Bem, se esta é a sua primeira jornada aqui, pode ser que ainda não tenha visto.
— …Não tenha visto o quê?
— Também existem monstros fora das muralhas.
Era a primeira vez que eu ouvia falar disso.
Monstros existiam fora das muralhas. Pelo que ouvi, esses monstros tinham algumas características específicas.
Primeira: por algum motivo, os monstros não apareciam perto de Rafdonia.
Segunda: quando eram derrotados, sempre deixavam materiais, e se fossem caçados com magia de distorção, poderiam soltar essências ou até mesmo pedras de mana.
Terceira: como compensação pela baixa quantidade, esses monstros eram mais inteligentes do que os do labirinto.
Esses eram os três pontos principais; pelo que pude perceber, o segundo ponto era o mais importante.
— …Você pode obter os materiais deles, garantido, se os derrotar?
— Isso mesmo. É o oposto completo do que acontece no labirinto.
Baekho conseguia viver fora das muralhas e obter facilmente os drops dos monstros. Com espaço de inventário limitado, ele só saqueava materiais caros, como tendões de Ogro.
“Isso é insano…”
Um calafrio subiu pela minha espinha.
“Um campo de caça onde a distorção funciona se você apenas matar?”
Em certo sentido, era mais chocante do que a fábrica de essências no andar subterrâneo. Afinal, apenas caçando e vendendo materiais de monstros, você podia obter uma vantagem financeira incrível.
“E pode ignorar as baixas taxas de drop todas às vezes?”
Para mim, era a parte mais atraente. Afinal, os bárbaros eram uma raça tão obcecada por materiais quanto os magos. Para conseguir nossa Impressão da Alma, precisávamos dos drops dos monstros.
“O que significa que posso conseguir os materiais para o oitavo estágio no caminho.”
Embora fosse lamentável termos ficado presos fora das muralhas, era uma ótima oportunidade para aprimorar minha Impressão da Alma, que eu havia negligenciado por um…
— E então, Barão? No que está pensando para sorrir assim?
— …Não é nada.
— Certo, então vamos em frente. Depois apresento meus aliados adequadamente. Parece que teremos que trabalhar juntos por um tempo.
Trabalhar juntos por um tempo… — Claro.
Era Baekho Lee com quem eu estava lidando, então ainda me sentia desconfortável. Mas, pensando logicamente, mover-nos juntos era o mais sensato. Antes de tudo, esse cara sabia mais sobre o mundo exterior do que nós dois. Fazia mais sentido viajar com eles por enquanto.
— Você conheceu o Vovô, eu e Aures na última vez, então não preciso apresentá-los…
Baekho fez uma breve apresentação de seus aliados enquanto saíamos da caverna.
— Este é o nosso arqueiro. O nome dele é Leyton Bryat.
Ele parecia humano, mas disse que suas habilidades eram tão boas quanto as de um elfo. E fez um comentário após me olhar.
— Ah… mas acho que ele não é tão bom quanto a arqueira elfa do seu grupo.
É, como ele poderia superar aquela que comandava a Regente Elemental e que alimentei com uma Essência de Andar?
— …Prazer em conhecê-lo. Ouvi muito sobre você da Srta. Karlstein.
— Sim, prazer.
Apenas ignorei o aperto de mão tímido de Bryat e passei para a próxima pessoa. Já tinha ouvido falar desse arqueiro por Missha também, e não estava tão interessado.
O mesmo não podia ser dito sobre o novo aliado misterioso.
— Ah, e essa é a curandeira do nosso time…
— Eu me apresento.
A nova pessoa, cujo rosto estava escondido por um manto, interrompeu Baekho e deu um passo à frente. Ela ainda parecia não querer mostrar o rosto e continuava cobrindo a cabeça com o capuz.
“…Eu suspeitava, mas é uma mulher.”
Percebi que ela era bem baixa.
— Sou Jaina.
— E?
— Só isso?
Acho que tudo bem, mas aquele tom dela me lembrava Raven.
Bem… Será que era assim que pessoas baixas agiam?
Enquanto eu sorria, o tanque do time de Baekho, Lek Aures, riu alto enquanto se aproximava de mim.
— Bahaha! Não sei por quanto tempo será, mas vamos trabalhar bem juntos, Barão!
Talvez eu conseguisse manter uma relação amigável com esse cara por enquanto.
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