Ato 5 — Despertar — Capítulo143
De passos largos, Kevyn cruzou a floresta e caminhou pela grama da planície, com respirar pesado. “Não consigo entrar em um confronto direto, ele é muito mais forte que eu.” Estalando um de seus ossos, o entender de um poder…
Reversão.
Toda a destruição foi restaurada à sua harmonia. Menos o garoto. Por mais de tudo estar devidamente em seu lugar, talvez seus ossos não. “Sinto que quebrei uma costela… talvez meu braço?” Erguendo seu ombro e vendo seu antebraço, o príncipe presenciou-o indo para o lado oposto, ficando pendurado sobre sua pele e escamas.
— Eu não sinto mais dor nesse braço… então essa é a vantagem de ter uma maldição?
Manipulando seus ossos para voltarem ao seu estado original, por mais de não se curar, Kevyn aguentou o bastante para saber que não precisaria da cura.
De repente, na frente dele surgiu Tsushite. Suas roupas não estavam intactas, talvez o efeito da sua habilidade não fosse tão forte? Será que ele havia se recuperado?
“Então basta estalar os meus ossos que o mundo fica de ponta cabeça? Hehe…” Sorriso cínico, com novas coisas em seu arsenal, o garoto deu outro passo, mas sua linha foi interrompida por um avanço repentino.
Pela terceira vez, o apóstolo avançou. Girou no próprio eixo e lançou um chute giratório. Kevyn desviou por pouco e contra-atacou com um soco direto ao seu rosto, que também foi evitado. Finalmente, a batalha começou.
Num estalo, Tsushite agarrou o pulso do garoto e disparou dois de seus dedos rumo à sua garganta. “Segurando minha mão? Não estamos em um encontro.” Debochou Kevyn, firme, usou seus olhos para prever o movimento.
Com a outra mão, segurou o braço do apóstolo e… ‘Atsui’. Desferiu um chute carregado de calor e força letal. Mas antes que acertasse, o olho por trás da máscara brilhou. Um corte limpo explodiu o ar, rápido demais para ver. A lâmina cortou a perna de Kevyn, arrancando-a com brutal precisão.
Tsushite soltou o garoto e girou o corpo, chutando de baixo para cima e acertando o queixo de Kevyn em cheio. Lançado ao céu como um projétil e sumindo entre as nuvens, o príncipe teria uma pequena parcela de tempo para pensar no que fazer.
“Está tudo bem, não é a primeira que perco um membro…” Usando seus olhos a 50 mil por cento por uma fração de nanosegundo, sua mente teve tempo para calcular o que fazer. “Eu vou precisar usar a Kind, ele é forte demais para enfrentar, mas o outro problema é a minha perna. Se eu soubesse usar o sangue que nem daquela vez?!… Tudo bem… afinal, quem precisa de uma perna? Hehehe.” Sorrindo, Kevyn abaixou o valor de seus olhos e uma perna feita somente de seus ossos surgiu. “Vamos, vamos…” Retirando Kind da bolsa dimensional, o príncipe desceu do céu em pé, como se andasse sobre o ar.
Colidindo contra a terra, o chão se partiu.
— Ei, caçador de Calamith’s…
De passos largos, o apóstolo jogou a perna dele para ele.
— Não quero ouvir o seu papinho!
Com a poeira baixando com a pressão de suas auras, Kevyn pegou sua perna e então absorveu os ossos para recolocá-la.
— Como meu pai aceitou um lixo como você, hein?
Arrepiando com aquela interjeição, Tsushite não abaixou a guarda e estendeu sua mão sobre o ar.
— Porque ele não precisa criar os próprios soldados, ele conquista eles, Kevyn Calamith.
Finalmente repondo sua perna, o príncipe levantou sua cabeça um tanto triste e repousou sua arma sobre o ombro.
— Entendi… pode me contar como ele te encontrou?
Se aproveitando daquela enrolação, o homem sorriu e o respondeu com toda sua paciência:
— Ele veio até mim quando fui expulso do nosso clã por supostamente não possuir nenhuma qualificação para eles!
— Qualificação?
— Nem os olhos, nem o vazio, apenas o ourobion e a metamorfose!
De olhos levemente arregalados, o garoto indagou: — Eu nunca soube que nosso clã fazia isso…
— Não se preocupe, tenho certeza de que você não é igual a eles, mas, se ninguém se impor, isso pode continuar acontecendo.
— Entendi… mas convenhamos, você continua um lixo!
— Hehm?! Cala a boca! Você é só um menino ainda!
Sorrindo, Kevyn conseguiu o enrolar e finalmente uma página saiu de sua bolsa dimensional. Percebendo aquilo, Tsushite recuou. Mas um grimório surgiu, e a ele, a folha se juntou.
“Técnicas aprimoradas, nova técnica criada… reversão e shi no kage”, pensou o menino, que sorriu animado e passou sua mão sobre a lâmina de sua espada.
Vendo-o gerar intensas chamas, o homem coçou a cabeça meio confuso. E, após atravessar dois continentes, um machado finalmente chegou à sua mão, Mytrik.
— Vamos finalmente usar tudo que temos?
Em silêncio, o príncipe ficou e deu passos pequenos para o lado. Entendendo a situação, o apóstolo fez o mesmo, mas para o lado contrário.
Qualquer deslize seria percebido. Mas, de repente, o príncipe levou sua lâmina até o chão e girou seu corpo na direção de Tsushite.
Nervoso, o homem agarrou firmemente o cabo de sua arma e se preparou enquanto suava. “Eu não posso morrer três vezes…”
Antes, as chamas intensas agora viraram nada pela lâmina de Kind, carregada de uma força monstruosa, ao mesmo tempo que seu dono ressoou:
ꚴ𖤢ꚳꛅ𖣠 𖤀𖦪ꛎꚽꛎ𖣠 𖤀𖤢 𖤢ꕷꛕꛎ𖢑ꛎꕷ ꚴ𖤢𖦪𖢑𖤢ꚳꛅꛎꕷ.
Não sabendo qual língua era aquela, ele não deixou que Kevyn pudesse ter tempo de pensar em algo. Assim, o apóstolo já estava diante dele, o machado elevado ao céu, pronto para cortar o mundo ao meio.
Instintivamente, o garoto manteve a calma. Não havia tempo para se defender… então ele avançou.
Em um estalar de ossos, Reversão.

Num pensar, seus corpos trocaram de lugar. O príncipe, com o braço erguido, girou-o com precisão milimétrica, aproveitando que Kind ainda estava suspensa no ar após a troca.
Percebendo a reversão, o apóstolo se lançou para o lado no impulso mais desesperador de toda a sua vida.
Mesmo sem atingi-lo, o golpe de Kevyn seguiu em linha reta, como uma extensão da sua própria intenção. A katana mal roçou uma única folha de grama, mas bastou isso. Tudo à frente cedeu à gravidade obliteradora, colapsando como se o espaço fosse sugado por um único vácuo, antes de ser engolido pelas chamas aniquiladoras da lâmina.
O impacto avançou, derretendo tudo até quebrar o próprio mar, que, de pé, se recusou a fechar pela temperatura intensa. Com seus olhos levemente arregalados, Kevyn hesitou diante do próprio poder.
Mas não havia tempo para admiração.
Após seu desvio, o machado de Tsushite ressurgiu. Sua lâmina pesada cortou o ar em um movimento feroz, prestes a encontrar-se com o pescoço do príncipe.
Em um estalar de ossos, reversão.
ReveR
OssO
Dessa vez, não foi com o inimigo; o príncipe trocou de lugar com uma pedra atrás dele. A troca aconteceu no exato instante em que o espaço devastado começou a se restaurar. Então, sem hesitar, Kevyn investiu novamente, sua katana em punho, olhos fixos na máscara do apóstolo.
Mas Tsushite o leu com uma facilidade impossível.
Com sensação, um gesto, rapidamente, seu poder. O apóstolo vibrou seu machado. O impacto não foi metal com metal; era o ar.
Uma rachadura invisível percorreu o espaço ao redor, e então tudo começou a girar. Como se um mundo só dele fosse afastado por um redemoinho sem cor. O chão se torceu, a luz distorceu, e, antes que Kevyn pudesse entender, o machado subiu; um golpe perfeito e brutal, vindo de cima para baixo, como se cortasse o próprio destino.
O som não veio, não havia de onde vir, foi imediato.
Mas a dor sim.
Kevyn tentou recusar: seus olhos, sua mente, seu corpo… todos lentos demais. Um estalo seco atravessou sua mente no instante em que o fio cruzou a linha tênue entre o chão e seu rosto. O olho direito se foi. O mundo não escureceu, mas seu sangue sim. O corpo então cambaleou.
Mas ele não caiu.
Sangue escorria pela lateral do rosto, quente e tão denso; não era a primeira, nem a segunda, então não havia motivo para não ficar de pé. O olhar restante ardeu em fúria brevemente contida. Mas…
O tempo parou.
Não congelou.
Foi forçado a parar.
Pela reversão.
❍̴̢̧̢̨͈̬͍̭̰͈̪͆͋̀_̵̵̵̢̣̜͉̺̹̫͇̜̈́͒ͨ̓̓̆̒̕͜ ≫̴̸̸̧̨̢̛̦͍̳̞̥̳̖̦͙͚̬̲̙͈̠̀̽̇ͮͮ́̀̓͛ͬ̓̃͆͋͗͊́̒͐̉̾̕͢͝͞ ─̶̴̢̞̪͕̠̪̮̦̲̯̹͍̮̮͉̱̭̱͐̇̅ͨ̇̏͛ͥ̔ͮ̕͘͘͘͜͞─̖̥͉̜̩̦̜͂̑̓ͥ̏͌̅͊ͭ̊̄͊─̸̢̢̢̖̦͙̼͚̩̝̠͕͖̪̗̬́̔̏̃̓ͩͩͨ͐̔̊͜͠─̷̷̳͍̝̻͍̣̭̲̼ͣ̽̇ͯͫ̒̓͐̑͒̇͆̐̌̍͛̌ͣͬ͊̒ͫͩ͗̈́̃͌͘͘͢͡ ≪̶̨͈̙͉͖̭͕̼͔ͯ̀̅̉̿̄̓͐͗ͪͭ͋̊̀͟͠͡ •̸̴̴̶̨̛͓̳̘̺͚̳̱͙̳̱͈̗͎̰̥̟ͨͪ̃̂͊̈́͊͐̾̈́ͩ̎̐ͣ́͐̀̇̌̂͐͜͡͡ ◦̶̱̗̺͊̉̏̐ ❍̴̴̧̟̓̍̃́̊̈͜ ◦̸̨̛̛̳̰̙̠̯͇̳͉̑̆ͯ̾ͧ͛ͣ̾ͮͬ̍̈̏̍̅ͮ̑͘͘͟͠͠_͕͈̱ͣ͊̇ͥ̽ •̴̜͍ͣ̐͟ ≫̸̭̱̪̪̝̳̲͉̫̰̤͍͙̽͋͆̍ͣ̀̄ͮͮͫ̓̽ͨ͋̔ͧ̊͌͂̐̎͒̕͘̕͜͜͠͠ ─̴̸̹̞̥̠͎̘͖̙ͧͬ̈͆͑̃̆̑̄̒̂ͦ̾̇̄ͬ̉ͥͭ́͟ͅͅ─̶͕͇̫̙̣̍ͯͣ͊─̨͔͚̥͈̘̩̝̖̲̈́ͦ̍̾̓̄ͩ͋́̓͂͑͢͜͝─_̴̢͍̥̲̥̫͓͔̹̩́̄ͦͩͨ̓̀̈̕͜͞͝ ≪̵̺̞͇̜̺̓̒ͬͤͤ̚͝͠ ❍̴̪͇͋͆͆̅͘
— Hmph… você tem uma igualzinha à minha agora!
“Tic, Tac.”
O som ecoou, um sussurro entre pedaços vazios da realidade. Uma verdade, uma história, tudo se encontrou.
No limite entre o tempo, o espaço e o delírio, Kevyn viu o sol e a lua coexistindo em um ambiente tão lindo; ambos imobilizados no céu feito ponteiros em um relógio quebrado. À frente, uma mesa simples, duas cadeiras. E, sentada ali…
Uma mulher.
“Tic, Tac.”
Ela tinha orelhas felinas, idênticas às dele; mas, diferentes, ela mantinha-as em pé com uma elegância feroz. Seus olhos, de cores opostas: um azul celestial do lado esquerdo, o outro laranja ensolarado, em chamas. Eles fitavam-no com uma familiaridade impossível de descrever.
Os cabelos longos e brancos caíam sobre o véu do ar à volta, marcados por finas mechas negras que os cortavam como sombras remanescentes.
“Tic, Tac.”
Ela sorriu.
Um sorriso largo e seguro, com um dente canino — o direito — mais afiado que os demais, pontudo como se jamais tivesse sido humano.
Havia uma cicatriz no olho esquerdo, larga e cruel, mas ainda assim… ela era linda. Assustadoramente linda. Como se tivesse saído do caos, como se fosse o próprio príncipe.
“Tic, Tac.”
A mulher cruzou as pernas devagar, por trás de um sobretudo pesado, que oscilou ao redor de sua figura como se o vento respeitasse seu espaço. Tranquila, se absteve sentada como se sempre estivesse ali; de quem sempre soube que esse momento viria.
Então, com a mais genuína alegria, como se estivesse se vendo no espelho, disse:
— Você ousa ficar confuso na presença da sua avó? Não pense que vou mimá-lo! Rápido! Não reconhece a Calamith mais forte?!
Diga o meu nome!
Diga Kairós Calamith!
“Tic, Tac.”


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