Capítulo 1 — Um dia normal.
— Ano 2.527 —
Nascido do mais pútrido lugar, dado à luz bem em cima de uma velha e empoeirada cama, com um teto quase desmoronando, podre e feito de madeira. Kley nasceu de uma mãe que fez tudo ao seu alcance para criá-lo.
Após o nascimento de uma criança quase indesejada, 7 anos se passaram.
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Voltando da escola sozinho, um garoto de cabelos negros e olhos vermelhos segurava um guarda-chuva negro.
Passeando por uma cidade cinza, quase sem vida, aquele menino tinha um passatempo que fazia aquela cidade sem vida ganhar cor.
Parado ao lado de uma loja, ele olhou um pequeno relógio de bolso que podia ser aberto, apontando aproximadamente às onze e meia da manhã.
Do barulho inquieto de uma cidade, um homem desceu do céu e parou bem ao centro de uma encruzilhada de asfalto.
Um sorriso magnífico estampava o rosto daquele ser que, dando um passo para frente, gritou com todas as suas forças:
— Bom dia cidade linda a qual eu cuido!!! Estou aqui para falar-lhes que em mais um dia belo! Estou aqui! Não só para protegê-los, mas para dá-los um belo dia!!!!
Vendo-o, Kley sorriu suavemente, guardando o relógio em seu bolso e caminhando para casa.
Entretanto, algo intervia o caminho daquele menino. Um certo grupo de adolescentes barraram durante sua vinda cotidiana.
Da mesma calçada, o líder deles botou a mão no peito do vampiro, enquanto os outros consigo cercaram-no.
— Ei! Aonde pensa que está indo?! Não acha que deveria pagar a mensalidade da calçada, vampiroca?
Tapado por seu guarda-chuva, o garoto sequer o olhou em seus olhos e o respondeu: — A calçada não tem mensalidade.
Levantando suas sobrancelhas, o líder franziu sua testa e deu um leve empurrão nele. — Hã? Ouviram só, pessoal?! Acho que alguém não percebeu que é a gente quem manda aqui!
Mesmo recebendo o empurrão, Kley rapidamente se recompôs, se mantendo de pé e cobrindo seu rosto.
Ao ouvirem seu chefe, os garotos começaram a dar leves risadas.
Já sem paciência, o menino empurrou rapidamente o valentão e continuou andando, mas antes dele conseguir passar, outro dos garotos botou seu pé para que tropeçasse e assim aconteceu.
Ao cair de Kley ao chão, todos começaram a rir e, se queimando por derrubar seu guarda-chuva, ele correu para pegá-lo, mas antes que pudesse, o chefe deles pegou-o e esticou a mão para cima, para que não pudesse o pegar.
Rindo, o valentão debochou: — O que foi vampiroca? Tem algo errado?!
Cobrindo seus olhos com seu braço, o garoto rapidamente moveu sua mão como se estivesse agarrando algo, assim, uma mão vinda de sua sombra pegou seu guarda-chuva de volta a força e o cobriu.
Assustados, o grupo de valentões em choque se afastaram com seu líder dizendo:
— O-o que é isso?! Um usuário do manastral?!
Fazendo um sinal de mão, Kley lentamente começou a se curar e gritou: — Saiam daqui!
O grupo de adolescentes então correram enquanto diziam: “Aberração!”. Ignorando-os, o menino continuou seu caminho e, assim, entrou em um gélido beco e chegou até sua casa, sendo recepcionado por sua mãe deitada no sofá:
— Mãe! Cheguei!
— O almoço tá pronto.
Fechando seus guarda-chuva e pendurando-o, caminhou por um minúsculo corredor e chegou na sala, viu sua mãe e acenou com a cabeça. Ele foi então até a pequena cozinha, e pegou um prato de vidro.
Indo até um fogão de lenha, Kley tirou uma das panelas com uma mão sombria, abriu a tampa e revelou o seu almoço e janta, um pouco de arroz temperado.
Sorrindo, ele arrumou seu prato e guardou a panela. Voltando para a sala, ele se sentou no chão e escorou suas costas no sofá.
— Mãe, você almoçou?
— Não, eu não estou com tanta fome, pode comer tudo se quiser.
Juntando suas sobrancelhas, ele se virou levemente, imóvel, encarou-a fixamente. — Você precisa almoçar, ouviu?
— Não, tudo bem, eu realmente não estou com fome.
Suspirando, o menino almoçou e lavou a louça após voltar até a cozinha.
Depois de um tempinho, a mulher chegou atrás dele, pondo suas mãos sobre a cabeça do garoto.
— Está tudo bem, deixa que eu lavo.
Erguendo-o pela cabeça, a mãe de Kley tirou-o de frente da louça e continuou o serviço dele.
De maneira quieta, ele foi para sala e se jogou no sofá.
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O dia se passou e Kley apenas tentou ajudar sua mãe, antes dela simplesmente o interromper e terminar o que ele estava fazendo todas às vezes.
Anoiteceu e, sentado no sofá, o menino olhou para o teto, entediado.
Observando-o, a mulher sorriu e disse: — Eu vou trabalhar, tudo bem?
Ao escutá-la, o garoto se levantou, correu até ela, abraçou-a e reclamou: — Não vai! Eu não vou ter o que fazer!!
Sorrindo, ela acariciou o topo da cabeça dele. — Tudo bem, tudo bem… mas eu não posso, prometo fazer algo pro seu tédio viajar! Vooh! Vooh! — Pegou-o no colo e girou.
— A-ah! Não vale!
Pondo-o de pé, a mulher o deixou no chão. Tonto, o garoto ficou no sofá, enquanto sua mãe saía de casa rindo.
Após a saída de sua mãe, Kley semicerrou seus olhos. “Aquelas velhas… por que eu não consigo parar de pensar no que elas falaram? Minha mãe… ela não faria aquelas coisas, ela… ela não é aquilo que elas falaram”.
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Ao amanhecer de um novo dia, uma voz chamou pelo menino.
— Kley! Você dormiu no sofá de novo? Acorda! Você precisa ir para a escola!
Ao despertar de seu leve sono, o garoto encarou-a, franzindo suas sobrancelhas e tentando parecer fofo para enganá-la:
— Só… só mais cinco minutinhos.
— Quê cinco minutos, o quê?! Já são 6:22!
Após sua tentativa ter falhado miseravelmente, Kley se levantou do sofá e se arrastou para o banheiro.
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Logo após se arrumar, ele correu para a escola com seu guarda-chuva nas mãos e uma torrada na boca.
Durante o trajeto, ele acabou batendo de frente com alguém em meio a uma encruzilhada.
Sendo queimado pelo sol, ele tapou seu rosto com seu braço, olhou para quem acabou de esbarrar e se desculpou:
— S-sinto muito! Eu estou com… pressa.
Após finalmente ver o rosto daquela pessoa, viu uma menina aparentemente da mesma idade que ele.
Nervoso, o menino pegou seu guarda-chuvas, levantou e estendeu a mão para ela.
— A culpa foi minha, eu não prestei atenção no que estava fazendo.
Seu lindo cabelo branco, quase como a neve, comprido, chamou a atenção do rapaz. Ela então aceitou a ajuda dele e, só de olhá-la nos olhos, Kley pensou: “As pupilas dela, elas… tem caveiras?”
A garota então sorriu para ele e disse: — Você não parece com medo, hein? Ah! Eu sou a garota nova, você deve ter escutado na escola, meio que eu me mudei a pouco tempo, sabe?

— A-ah! Claro! Toma cuidado, as pessoas daqui não são boas com recepções — disse, pondo a mão na nuca e tapando o rosto com o guarda-chuvas.
Levemente erguendo o protetor do garoto, a menina viu-o com suas orelhas e rosto corado, então sorriu e disse: — Eu acabei derrubando sua torrada, eu te ofereço algo melhor depois, que tal irmos juntos para a escola?
Ingenuamente, Kley concordou com a cabeça e, assim, foram.
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Ao chegarem na escola, os dois se separaram e em meio a todos com seus uniformes, o garoto era o único que se destacava.
Seu sobretudo negro tapava grande parte da blusa escolar, mas ainda era evidente seu uso.
Em pouco tempo, o sino pôde ser ouvido e todos os alunos foram para suas respectivas salas. Ao se sentar na carteira escorada na parede ao lado esquerdo da sala 9B, Kley pegou seu material e os arrumou em cima da mesa.
“Será que ela vai para essa sala? Eu sou o único que não tem um dupla”, pensou sobre algo incomum daquela escola, todas as turmas eram feitas por duplas, mas infelizmente, quem seria a seu companheiro, preferiu ficar sozinho do que estar com ele.
Aos poucos, os outros alunos e suas duplas foram chegando, enquanto Kley, sozinho, esperou que aquela garota passasse pela porta, mas algo ainda podia dar muito errado, aquele que seria sua dupla, também estava sozinho. Contudo, a garota poderia acabar não escolhendo-o.
Assim, enfim chegou a professora junto a tão esperada aluna nova. As duas param a frente do quadro, a mulher mais velha, de pele negra e cabelo branco, entregou um giz a menina que escreveu seu nome no quadro e então se apresentou:
— Prazer, meu nome é Etubezaab Suedrom Learza, podem me chamar só de Puryyn. Eu vim de ¹The Summer para poder ter uma vida pacífica aqui, no país da liberdade, ²Calisto.
De maneira desanimada, os alunos gritaram: “Bem vinda, Puryyn!!!”, de Kley, ele parecia feliz em vê-la, mas após a calmaria dos alunos, a velha professora disse de maneira baixa:
— Bem vinda, srta.Suedrom, como já dito pela diretora, por favor, escolha com quem você vai lutar e fazer dupla.
A garota apontou para o pequeno vampiro que, ao ser escolhido, sorriu, mas logo percebeu o que iria acontecer.
Suedrom também sorriu, suas bochechas estavam vermelhas por tamanho drama.
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Direcionados à quadra da escola, o garoto vampiro e a garota de cabelo nevado esperaram pelas instruções da professora enquanto empunhavam espadas de madeira.
A velha mulher então andou até o meio da quadra e disse:
— Como você é nova, é o seguinte, essa luta tem como fundamento unir a dupla e mediar quem é o mais forte dela. Quem vencer será o líder com o fundamento do outro sempre poder desafiar mais uma vez para tomar seu posto de líder da dupla e arrumar algo que seu parceiro está fazendo de errado. Obviamente, os dois podem não brigar e só conversar, mas isso varia de dupla para dupla. As regras são simples, não se matem, não finjam estarem lutando e sem pedidos de casamento ou sexo.
Incomodada, Suedrom perguntou: — Como assim sem pedidos de casamento?
— Hm? Você não estava com essa ideia, ou estava? — a professora perguntou.
— Só… uma pergunta.
— Ah! Sabe como é… se tem regra, tem história. O duelo será com base no velho duelo de espadas, quem imobilizar o outro com sua arma vence… enfim… comessem!!!
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As espadas de madeira se cruzaram em um choque latente, leve som do seu colidir ecoando no pátio e surpreendendo quem assistia.
O impacto foi forte, e ambos recuaram alguns passos antes de investirem novamente seus corpos em busca de luta, causando um colapso no toque de suas armas, mas cancelando por forças tão parecidas.
Outro estrondo. As lâminas colidiram mais uma e mais uma vez. O garoto sentiu algo diferente, uma mudança tênue, porém evidente. A gora estava mais forte, mais veloz.
Movimento rápido e cirúrgico, de maneira letal, ela canalizou a força do embate e o lançou para trás. Klay tentou resistir, mas foi empurrado com violência, então iria coexistir com aquela força e dançou como se aquilo fosse apenas uma mudança inevitável.
Seus pés contra o chão empoeirado. Suedrom não hesitou e avançou sem dar espaço para respirar. Enquanto seu equilíbrio era finalmente recuperado, Kley flexionou os joelhos e se projetou para frente com uma rápida estocada.
Foco preciso. A garota apenas sorriu. Com elegância e firmeza, girou o punho e redirecionou a lâmina do vampiro com a sua.
As espadas deslizaram uma sobre a outra, se não fossem de madeira, as faíscas poderiam ser vistas, porém, enquanto os dois se encaravam, ofegantes e a centímetros de distância.
Algo ficou claro.
Mesmo desviando aquele golpe, a estocada de Kley havia conseguido tocá-la. Superficial corte que rasgara a superfície lateral de sua roupa, bem na cintura, sua pele exibia um risco tênue, quase simbólico.
As pupilas de caveira da garota estavam dilatadas, vibrando com a excitação da luta. O brilho em seus olhos dizia o que ambos sabiam: ainda não havia acabado.
Num instante, os dois recuaram.
— Bela estocada — disse Purryn.
— Obrigado, admiro você conseguir lutar de igual para igual. — Kley sorriu e trocou a mão que segurava sua espada.
— Ambidestro? Que curioso, hein? — Ela começou a caminhar em círculo e aos poucos começou a se aproximar dele.
— Não é nada de mais, pode se dizer que eu sou um gênio — debochou.
— Um nerd?!
— Ei! Não, eu sou um prodígio, minha querida — respondeu enquanto imitava ela e andava de forma circular em sentido horário.
— Oh! É raro ver dois prodígios no mesmo lugar, kukuku! — riu e debochou de volta.
— Vamos ver qual é mais forte, então!
Logo Kley avançou e, com seus olhares se cruzando mais uma vez, nasceu uma rivalidade? Uma amizade?
Com mais um colidir, um pouco de suas energias pairavam no ar. De um lado, mana, e do outro, magia.
Um leve piano tocou.
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¹The Summer — É um país.
²Calisto — É o primeiro nome do que mais tarde se tornaria Impel-sister.
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