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    Interrompido, Kevyn rapidamente foi envolvido pelos braços finos da garota. Tão macia, tão fria, leve tornou-o incapaz de reagir.

    Aycity com seus olhos marejados viu a única reação que sua princesa poderia ter:

    — Aya… — Ele retribuiu o abraço.

    — Eu pensei que tinha morrido, Kevyn. — Apertou-o

    — Desculpa…

    Após um brevemente momento, o recuperar da compostura. A garota limpou seus olhos e logo saiu do abraço enquanto mantinha sua cabeça baixa.

    — Eu precis-

    Dessa vez, foi ela quem interrompida foi.

    Um som suave de passos cortou o momento como uma nota dissonante em meio a melodia. Surgindo das costas do garoto, um homem passou calmamente pelos dois. Os passos leves não combinavam com sua presença assustadora.

    Seus olhos tão incomuns. Amarelos, vividos como girassóis. Um brilho quente, carregados de algo nojento, assim como genérica és a eletricidade. Na cabeça, um grande chapéu de abas largas, talvez como de um bardo, mas ele escondia parte do rosto, projetando sombras sobre sua expressão solene.

    Cabelo desprovido de cor e o sobretudo que usava pareciam ter sido moldados pelo vento, oscilando com elegância a cada passo. Havia algo nele… Algo que chamava a atenção, não por extravagância, mas por contraste. Como se sua existência fosse destoante da realidade ao redor…

    O príncipe o observou, fixando seu olhar na figura que se afastava. Ele tentou encaixá-lo em suas lembranças, mas nada vinha em sua mente.

    Antes de sair completamente, ele parou na porta e então falou… Sua voz tão profunda, mostrava desgosto, mas também o quão lhe faltava ser fidalgo:

    — Eu já comprei o que eu queria, você vai demorar Aycity? 

    Com a pergunta dele, pateticamente a menina abaixou a cabeça e respondeu:

    — Não. — Saiu da loja.

    Kevyn supôs, ainda que sem certeza, aquele homem era o pai dela. Havia algo no modo como ele agiu, ou não reagiu, que insinuava uma conexão, como seu pai, era familiar… Mas não era bom.

    Isso o incomodou profundamente. Mas tentando se afastar desse desconforto, ele virou-se com um leve suspiro, decidido a se ocupar com seus pães de mel, doces como uma pausa do mundo.

    Mas então, parou.

    Congelou…

    O homem estava alí. Bem à sua frente.

    Nenhum som de passos, nenhuma presença anunciada. Apenas… ali tão de repente.

    Como ele tinha se movido tão rápido?

    O garoto não ouviu, não viu, não sentiu. Era como se o espaço tivesse se curvado ao redor daquele homem, como se o tempo entre um piscar e outro tivesse nunca existido.

    Os olhos, agora mais próximos, observavam-no de cima, pareciam observá-lo de dentro para fora.

    — Aonde você pensa que vai?

    Pelos olhos do garoto, algo o perturbou profundamente… Por trás da vastidão dourada daqueles olhos, ele enxergou escuridão.

    O príncipe recuou, instintivamente, o corpo respondendo antes mesmo da mente compreender. Mas não teve tempo.

    O homem que ele presumiu ser o pai de Aycity avançou com uma precisão silenciosa e sua mão envolveu o pescoço de Kevyn com uma força gélida, inesperadamente letal.

    Antes que alguém pudesse notar, o grande sobretudo se moveu com ele, como uma cortina viva, envolvendo os dois e ocultando o ato. 

    A pressão aumentou. E os olhos dele, agora tão próximos, já não brilhavam.

    Eles consumiam.

    — Eu não quero você conversando com a minha filha — sussurrou.

    Deixando-se ser levado pela agressão, o menino franziu a testa e perguntou: — Por quê?

    Percebendo que não fazia efeito, o homem apertou o pescoço dele e respondeu: — Porque eu sou o pai dela, minha ordem prevalece, você entende? Eu não quero nem pensar em ver vocês se abraçando novamente e espero que isso não se repita. 

    Então, como se nada tivesse acontecido, ele simplesmente o soltou.

    Kevyn caiu de joelhos no chão frio da padaria, ofegante, com a mão trêmula sobre o pescoço onde ainda sentia a marca invisível daquela força brutal.

    Uma bela atuação.

    E no instante seguinte, o homem já não estava mais lá. Nenhum som, nenhum passo. Apenas o vazio onde antes havia uma presença sufocante.

    Uma ação precisa, silenciosa… Letal.

    Digna de um assassino.

    O garoto reconheceu isso de imediato. Aquilo não foi um aviso. Fora uma demonstração.

    Enquanto tentava achar uma linha de pensamento, sentou-se lentamente, o olhar perdido entre as pernas dobradas. E então pensou, com um nó se apertando no peito:

     “Será que fiz algo errado?”, levou a mão até a testa e suspirou enquanto seu cabelo voltava a se tornar negro.

    ❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍

    Após comprar seus pãezinhos de mel, mais avoado do que o normal, Kevyn chegou no mercado e pegou uma cesta para fazer suas compras. 

    Leve, ele andou pelo mercado em devaneio, pegando diversos ítens, ele viu uma caixa de morangos e lembrou de sua amada. “Ainda tem 2 caixas lá, mas…”, pegando quatro caixas, ele as botou em sua cestinha, assim sem espaço ele foi buscar por um carrinho.

    Olhos estavam o cercando como sempre.

    Uma presença pairou no ar, tão naturalmente quanto poderia. Algo poderoso o vigiava. Era incomum demais, até para ele. Um tipo de poder que não sentia todos dias, e ainda menos tão de perto.

    Inquieto, seu instinto de luta gritou para que ele fosse atrás, mas se saciar, valeria pela morte?

    Pois assim, tentando ignorar o peso daquela sensação, voltou às compras, empurrando o maior carinho que achou. As rodas rangendo sob o piso do supermercado, maior maturidade do que todas essas responsabilidades?

    Mas… Perdido em suas reflexões, novamente acabou esbarrando em alguém. Outra vez…

    Um leve choque, uma dança involuntária entre corpos desatentos e… Diferente da última vez, o ar ficou pesado. Muito pesado.

    Dejavu nítido… Mas com um extra.

    Dessa vez, ele sentiu. Não uma dor, mas uma pressão. Como se seu corpo reconhecesse, antes mesmo da sua mente, que a pessoa a sua frente era absurdamente forte. Uma força inerente, contida por trás de uma face serena.

    Talvez das últimas vezes que se encontraram, ele fosse fraco demais para sentir?

    Mas agora era claro, aquela pessoa podia destruí-lo com um único gesto.

    Ela esbarrou de propósito.

    Finalmente se viraram, guiados um na direção do outro, e no instante do encontro, a figura tropeçou em meio ao seu próprio susto e caiu sentada no chão, com um leve baque abafado e um suave gemido.

    A cena teria sido cômica… Se não fosse por um contraste imenso.

    Ela pareceu frágil, inofensiva. Com seu rosto tão confuso, um gesto infantil. Ela levou uma de suas mãos até a cabeça como quem se protege do desconhecido. Mas algo nela quebrou toda sua fofura…

    Os olhos.

    Vermelho escarlate. Vazios para quem testemunhou horrores e sobrevivido para contar. Aquilo era singelo, trouxe familiaridade para o príncipe. No entanto, ainda eram aterrorizantes, penetrantes, ele viam além da carne.

    Aquilo destoava tanto do seu cabelo branco, quase perfeitamente alinhado, com a franja caindo como uma linha torta e reta ao mesmo tempo, cobrindo a testa pálida. Uma beleza quase aethica, mas que não suavizou a pressão e os olhos dela.

    Quando cruzou seu olhar com o de Kevyn, foi como um choque entre mundos muito parecidos, algo suave ocupando o mesmo espaço.

    Por um momento, ela não sabia se estava vendo seu reflexo, ou seu oposto, em meio a discórdia, existe paz, então se ela fosse a guerra, ele seria… A destruição?

    Péssima Atriz.

    — D-desculpa… — ela disse.

    Levemente se curvando, Kevyn respondeu: — Sinto muito, eu estava um pouco distraído. — Apenas seguiu em frente.

    — Tudo… Bem?

    Assim que o garoto foi, Notherite se levantou e estranhou o que acabou de acontecer, ele não sabia quem era ela? Justamente a dona da máfia Ride?

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