Capítulo 2: O caminhar para o sentido da aventura
O céu mal começa a clarear, mas eles estão lá novamente no local combinado, a escola está fechada, não há mais barulhos que indiquem a presença de alguém ali, apesar da rua estar com movimento, pessoas passam ali em frente, porém ocasionalmente. As crianças ficam em silêncio, olhando para os lados sem assunto por conta do entusiasmo, Saikyo está com seu uniforme padrão, mas ao invés de saia está com uma calça de tecido grosso e azul, já Hiro com uma camisa vermelha, shorts cinza e sapatos, que vão para escola, ninguém chega por ali por enquanto, silenciosos, Saikyo olha para Hiro e decide falar.
— Será que eles vem?
— Hm, acho que sim, é difícil alguém falar que vai fazer algo do tipo e não ter palavra — Hiro responde confiante.
— Difícil mesmo é ter coragem, vai ver eles desistiram.
Alguém vindo de cima do muro da escola, fala com eles, se equilibrando de forma perfeita só com um pé, inclinado com a cabeça para frente, como um pássaro.
— Desistência? Qual é isso é coisa para crianças como vocês, porque a gente iria fugir!
É um jovem como eles, um rapaz de pele branca e estranhamente de cabelos brancos também, longos e lisos iam até a cintura, parte dele amarrado fazendo um rabo de cavalo no topo, estando um pouco bagunçado, olhos grandes e com pálpebras pesadas como os de um falcão, e de íris amareladas, grandes cílios e sobrancelhas puxadas, ele veste um kimono branco de tecido leve, com exceção na cinta que o amarra, feita de pano, apertada na cintura de cor marrom, ele calça chinelos de madeira, vestes tradicionais, de aparência tribal para aqueles dois, algo notável é também as unhas de seus pés e mãos, um pouco grandes e afiadas, seu calcanhar é um tanto estranho mais largo que o comum, e seus pulsos mais largos, desproporcional ao antebraço. Ele é magro, um pouco maior que Hiro e alguns centímetros apenas maior que Saikyo.
— Prazer, carinha, meu nome é Picon — Enérgico, ele dá um salto, e paira levemente pelo ar, na visão de Hiro e Saikyo ele desce tão lentamente que é quase como se ele estivesse a planar pelo ar, leva como uma pluma, mas quando piso no chão se move até eles, e de repente está perto dos dois, inclinando sua cabeça para perto dos dois. — Picon Kunununotake, pensei que você viria sozinha Saikyo! Essa é uma das poucas atividades que me permite ficar pela cidade por um tempinho.
— Olá, meu nome é Hiro! — Hiro apresenta-se inclinando para trás, achando o sujeito um tanto quanto excêntrico e estranho.
— Bom você disse que era tipo um grupo de aventureiros, onde estão os outros Picon? Seu pai deve confiar muito em você para o deixar ser membro disso — Saikyou diz olhando para os lados procurando os outros.
— É um ramo da família, apesar dele querer manter a tradição, não precisa ficar preocupada, não está ouvindo os passos? — Picon afasta sua cabeça os indagando, mas mantém-se olhando para eles com um sorriso.
Os três ouvem o barulho do portão da escola sendo destrancado, e focam sua atenção para o portão, e logo depois ele se abre, e o homem do dia anterior sai com um sorriso no rosto com o mesmo uniforme do anterior acompanhado de outros quatro de uniformes parecidos. Eles caminham desajeitados, mais para os pequenos, é como se fosse de forma triunfal. O instrutor abre um sorriso e diz.
— Prontos para seguir a partida? Vejamos, hoje temos nove na patrulha! E dois novatos, isso já é uma vitória! — aponta com o dedão para trás apresentando o restante da equipe. — Veja novatos, esses aqui são como vocês estão treinando para serem recrutados para a batalha real. E descobrir o sentido da aventura!
— Batalha real? — Hiro se atenta questionando sobre estas palavras, seus olhos ficam bem fechados.
— É para quem tem potencial, e meus alunos tem, é o seguinte, é só uma patrulha simples aos arredores, aparentemente um grupo se perdeu na mata, eles foram dar uma lição em um vadios que estavam organizando brigas de galo, algo do tipo tanto faz, vamos! — declara de forma empolgante para os convencer.
Os homens que trabalham junto de Godoi, ficam com vontade de se apresentar. São Ivandro, Ale e Broto os que se manifestam.
— Ei, não vai deixar a gente nos apresentar? — diz Ivandro insatisfeito com a pressa..
— Eles precisam conhecer seus veteranos, afinal vamos ter que ficar cuidando deles — diz Ale se posicionando à frente, tomando o destaque.
— Eu não vou cuidar de criança, vocês que se virem! — Broto grita incomodado com os jovens.
— Olha estamos aqui para ajudar, não vamos ficar parados fazendo nada, apesar de sermos jovens, não somos crianças tá bom, podemos ser úteis. E vamos ser! — Saikyo se pronuncia em meio aos homens.
— Claro que vão, eu já sei até como. Talvez já na próxima vocês ganham um macacão e botas, roupas adequadas para este tipo de atividade — diz o senhor Godoi de maneira pomposa ajeitando seu macacão.
— Ai sim! Vocês vão gostar de fazer parte do grupo! Essa é a terceira vez! — Picon fala animado, provavelmente por ter agora pessoas da sua idade com ele.
O grupo parte até as florestas aos arredores da cidade de Mu, uma cidade privilegiada, apesar de seus habitantes não valorizarem tanto, localizada em altas altitudes, mais não ao ponto do ar fica rarefeito, com vegetação exuberante e verde, convidativa a qualquer um entrar, sem ser densa e hostil aos arredores, um pouco mais distante vegetações diferentes, com terras com matas mais rasteiras, terras mais arenosas, propensas a outros tipos de vegetação e plantio, para criação de animais também, com boas áreas de planície para cidade, e com boas serras e depressões em volta dela, quase como se o local da cidade fosse dentro uma depressão. Em meio a uma das estradas de terra, que levava alguns povoados do local, em meio a mata, durante o crepúsculo da tarde, com a noite quase caindo, está Picon, Hiro e Saikyo, com o árduo serviço de montar as cabanas para eles e os outros.
— É sério? Este é o nosso serviço!? — Saikyo resmunga descontente.
— A normal, meu pai sempre me diz que devemos começar de baixo, ele começou apenas como um limpador de peças industriais, e hoje é um engenheiro! — Hiro descreve a trajetória de seu pai, para tentar ver o lado bom, mas olha para as barracas, confuso, e olha para o manual sem entender nada. — A droga, nunca fui bom de desenhos!
— É só ler e encaixar tudo no local certo! — divergente a Hiro, Saikyo trata aquilo como simples, e vai agilizando o processo, montando algumas barracas, e colocando os suprimentos dentro de forma organizada.
— Jamais deveria ter te falado algo Saikyo! Se você e seu amigo não tivessem vindo, eu não estaria fazendo essa função ridícula, eu sou mais que isso! — Picon reclama irritado, desmotivado a fazer qualquer coisa, apenas faz por obrigação, ele ajuda a armar as barracas.
— Olha não aja como se não fizesse isso quando não estamos aqui, e fosse o cara — diz Saikyo duvidando da posição de Picon no grupo.
— Mas eu sou o cara, montar barracas, tocas, cabanas, isso a gente faz em grupo só na volta das patrulhas, eu vou junto, eu sei me virar no meio das matas, em qualquer lugar na verdade, geralmente me usam como guia — diz Picon enquanto aponta para si mesmo.
— Oh, quase me convenceu! — Saikyo retruca sarcasticamente, e depois volta a uma expressão de insatisfação. — É, vou na do seu pai Hiro, precisamos mesmo começar de baixo.
— É só persistir. E continuar tentando . . . — Hiro diz desmotivado, ao colocar outro pedaço de pau da barraca ele acaba a desmontando completamente, se frustrando ao olhar para baixo. — Aff!
Enquanto isso na floresta, o grupo senhor Bodoi caminham por horas, até o anoitecer, onde começam a voltar, formado por Ivandro, Ale, Broto, Gerson e Ferguson, metade deles não eram nativos ou eram descendentes de imigrantes. Ivandro é um homem alto, de pele escura e careca, olhos puxados, possui uma cicatriz na testa, ele é o segundo mais alto entre eles depois do próprio Bodoi, a postura é de ser o segundo em comando, Ale é já é baixinho menor que os jovens, de pele mais clara cabelos curtos, no entanto cara de mau, sua função é de defesa, ele é um ex-militar veterano, Broto é um jovem adulto de cabelos raspados parecido com Ale só que mais alto, Gerson é da mesma altura que Broto e Ferguson, tem pele morena, cabelos lisos e barba curta, e Ferguson pele clara sem barba, com cabelo curto também, mais o seu rosto que chama atenção, com grandes orelhas e nariz grande, lábios para frente e olhos mais afundados para o rosto, além de dois grandes dentes superiores da frente. Após caminharem por um tempo, Godoi se cansa e se senta no chão e fala com seu grupo.
— Então, eles devem ter se perdido feio mesmo, uff, devíamos pedir ajuda aos bombeiros — reclama enquanto tira de seu macacão uma garrafa de cerveja. — Trouxeram o preparo? — Sorri abrindo sua garrafa.
— O que foi, beber já agora? Parece que está preocupado, podemos dar mais algumas voltas — fala Ivandro com olhos cansados, em tom irônico, já convencido que foram mal sucedidos.
— Ah, deixa isso pra outra hora, se estiverem por aqui a gente vai achar mais cedo ou mais tarde! — Ale diz frustrado, e se joga no chão pegando sua garrafa de cerveja e abrindo.
— Ai sim, melhor forma de me preparar, ser patrulheiro é o melhor estágio que se tem, há pausa para cervejinha! — Broto balbucia animado, pega sua garrafa de cerveja, se senta à abrindo batendo na árvore ao qual ele se encosta e começa a beber.
— É, mas se tiver um assassino, sequestrador, a gente vai ter que lidar — Gerson também participa, pega sua cerveja, se encostando de pé na mesma árvore que Broto.
— Qual é a gente tem um bando de assassinos aqui, você é um cara que quer problema com alguém, o Ale era militar, o senhor Godoi também e o Ivandro sei lá, tu era o que? — Broto pergunta para o seu colega, em tom deprimente, apesar da bebida e o momento anestesiar suas palavras.
— Empregado — Ivandro responde sem graça.
— O mais bom — Broto apesar de parecer ser irônico fala com seriedade.
— Eu tenho três filhos e uma esposa que enche meu saco todos os dias, eu tenho dois empregos, eu to precisando matar alguém! — afirma Ivandro, com força em suas palavras.
— Poxa, da minha leva só eu fiquei, não entendi porque ficaram com medo é o mais tranquilo do mundo, e ainda tem o Ferguson que é um psicopata, e aí Ferguson, por que não experimenta a cervejinha? — Broto tenta fazer um convite a Ferguson para a pequena reunião deles.
— Atrapalha meus instintos selvagens — diz Ferguson, enquanto seu nariz se move, e ele sente um cheiro incomum.
— Acho que dessa vez, devemos chamar reforço, vamos avisar as crianças para irem embora! — Godoi comunica de forma séria sua preocupação, dando um gole na cerveja e olhando cabisbaixo para o chão.
— O que? Não, somos fracassados, é uma chance de ganharmos respeito, as crianças estão afastadas daqui! — Ale levanta sua voz tentando os instigar.
Enquanto eles conversam, Ferguson começa a caminhar para longe deles seguindo o rastro do cheiro estranho, ele puxa sua caixinha de cereal enquanto anda e deixa uma bola de cereal para trás. Broto preocupado o reclama.
— Ei Ferguson, volta aqui, não pode ir muito longe!
— Não, deixe! — diz Godoi que levanta sua mão, e logo após se levanta andando atrás de Ferguson. — Vamos ver até onde ele nos leva.
O grupo segue andando seguindo Ferguson, eles acabam em um estranho espaço aberto, só com grama rasteira, circular perfeitamente, com um círculo ao centro sem grama alguma, nele um desenho incomum, uma espécie de símbolo de uma casa. Um retângulo com um triângulo em cima, ao centro do retângulo o kanji 道場 (que significa Dojo). O que Ferguson expressa sua satisfação.
— Tudo limpo, mas ainda tem cheiro, achei algo!
Ferguson no momento sorri inocentemente, enquanto o Senhor Godoi atrás dele deixa cair sua garrafa no chão que se despedaça, o que deixa os outros preocupados, e Godoi com suas palavras reforça o porque devem se sentir assim.
— Vamos nos retirar, eu já ouvi falar desse símbolo, esse tipo de encrenca não é nossa, vamos ser espancados.
—Ei, calma aí, eu também já vi, mas esses caras não matam, no máximo a gente apanha — Ale dúvida de Godoi, e esfrega sua mão em seus próprios cabelos descontraído e calmo, causa da mistura de sua imaturidade e pelo álcool.
— Do que vocês estão falando, Dojo? Que caceta é essa! — Broto debocha da situação.
— Por enquanto eu não vejo nada com que se preocupar tem ninguém aqui, só um desenho no chão, em um espaço aleatório, talvez mensagem de um sequestrador, é um símbolo de um grupo de sequestradores? — Ivandro reflete com racionalidade, apesar de confuso.
— Não, não são criminosos, mas os desaparecidos, que azar — Godoi lamenta imaginando serem os próximos.
— É isso a aventura, poder encontrar coisas incríveis, e outras perigosas — Gerson fala enquanto dá mais um gole na bebida para se tranquilizar.
— Gostei do que encontrei! — Ferguson ironiza, e caminha para frente com um sorriso, indo até o outro lado, os outros não o seguem ficando na retaguarda.
Assobiando alguém vai saindo do meio das árvores as quais Ferguson se direciona, a pessoa no escuro se revela, segurando em suas mãos galhos secos. O sujeito, tem traços afeminados, mas mantém uma postura de superioridade perante ao homem em sua frente, apesar de estar olhando para baixo. O sujeito tem lábios finos, nariz pequeno e fino, olhos delicados e largos, com bonitos cílios e sobrancelhas longas e finas também, rosto magro, com as maçãs no rosto bem demarcadas, uma delicadeza que provoca uma visão de beleza, que escondida por inexpressividade e sua franja que cobre sua testa e parte de seu rosto, mas que ainda sim é delicada cortada de forma simétrica, assim como seu cabelo que vai até seu torso. Usando um kimono abotoado inteiramente preto, de gola alta que cobre seu pescoço, o kimono cobre também quase todo seu corpo, apenas as mãos e pés amostras, nos pés usa sapatilhas. Sua pele apesar de ser clara, fica sombreada pelo seu kimono inteiramente preto e seus cabelos escuros, que chamam a atenção de Ferguson.
— Senti seu cheiro de longe, está perdida?
— Não sou um dos desaparecidos, eu sou o motivo deles terem sumidos, já que conseguiu sentir então eu deveria arrancar seu nariz por o colocar aonde não devia — o sujeito nas sombras responde de forma direta e ameaçadora.
— Ferguson corre! — diz Godoi arregalando os olhos já prevendo o que iria acontecer.
O sujeito larga os galhos secos, dá um passo para trás com a direito, esticando a perna para trás flexionando a perna dianteira, se jogando para trás indo um pouco para baixo, posicionando os pés sobre a sombra de sua vítima e de repente se ergue para frente lançando sua mão direita em direção ao nariz. Sangue espirra no ar, junto de bolinhas de cereal e a caixa cai no chão, o restante do grupo olha assustado, enquanto Ferguson grita de dor.
— Faça silêncio — o sujeito ordena-o, agora está inclinado para frente, aproveita o impulso, pisa firme com a perna de trás e levanta a dianteira próximo do rosto de Ferguson, e depois lança o seu pé bem em sua boca.
Os dentes de Ferguson voam em cima do grupo de patrulheiros, enquanto ele cai no chão, e o sujeito pisa em cima da cabeça dele enquanto gira, e logo se lança em cima deles. Ivandro entra em fúria e avança.
— Não vamos deixar isso barato, vamos lutar!
— Quem é este!? — Godoi grita, já não sabendo o que pode acontecer, apenas sem entender quem é aquele sujeito.
— Eu sou a sombra — diz aquele que se identifica como a sombra.
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