Capítulo 21: Crianças de preto
O trem marrom chega à estação de trem da cidade de Yu durante a noite e desembarca com poucos passageiros, que já se preparam para descarregar os vagões. O maquinista, desce junto destes passageiros, que também o rondam como seu segurança, porém quem se aproxima os dispensando, não são os funcionários da estação de trem.
A capitã Kiti Kuro se apresenta no local, com seu grupo recém formado de aluno, as quais são batizadas de “Crianças de preto’’, por conta do uniforme e serem aprendizes, no total 26 integrantes, separados em trios.
O uniforme padrão, é similar ao da capitã, que está vestida padronizada como o seu grupo, esse uniforme tem como preto cor predominante. No entanto, a maioria do uniforme, fica coberto, por conta do sobretudo militar de botões, onde a parte direita é abotoada por cima da esquerda, e à direita fica espaço para broches O sobre tudo é feito de couro, e possui bolsos na região das coxas.
Para que não fique solto, o sobretudo é apertado a cintura, através do cinto, que na fivela carrega o símbolo “KK’’, o símbolo “KK’’ também é estampado no quepe usado pelos membros, exceto o de Kiti, que possui o símbolo da polícia militar de Mu junto das estrelas que identificam o seu cargo.
O sobretudo usado por Kiti, tem como diferença as lapelas, onde a broches dourados, com xilogravuras pintadas com tinta preta que forma a silhueta de um gato, identificando sua posição, assim deixa dois botões abertos, para que fique visível o símbolo, formando um decote na parte do peitoral da moça, que é chamativo por ser avantajado. As botas são outro diferencial, as crianças, usam de couro com a sola revestida de aço, já Kiti usa salto alto com amortecedores.
Um dos trios que persistiu ao intenso treinamento, é o formado pelo contador de histórias estudante morador da selva Barke que se mantém despojado seu uniforme diferente do de todos, está amassado, graças a esse uniforme consegue parecer maior, colaborando com sua altura, e tirando a impressão de frágil que seus óculos redondos de grau alto passam, e a postura curvada. Com o tempo passado, ele raspou o cabelo para se adequar.
Conta com a improvável presença do pálido entediado, Raikou, que permanece com seus cabelos longos e volumosos de fera, indo até sua cintura, De personalidade forte, não usa botas como todos os outros, permanece com suas sandálias de madeira.
E completando a formação, o rapaz ruivo de cabelos cacheados da cor de sangue, de postura calma, com controle de si irretocável, Akuto se mantém com o uniforme perfeitamente alinhado, e anda com presença igual a oficial. Obedecendo de imediato as ordens.
— Descarregar o trem — ordena a capitã, os subordinados a saúdam e partem a serviço. — E não esqueçam de revistar os vagões, no entanto, as encomendas devem permanecer totalmente lacradas, qualquer danificação, resultará em expulsão mediante a punição severa.
Em trios as crianças de preto, vão retirando as encomendas de cada vagão. Dentro de um dos vagões, há o marmanjo, junto da criança que se parece e muito com ele, porém muito menor, menos que metade do seu tamanho. O ansioso garoto, possui pele escura, cabelos crespos curtos, olhos pequenos de íris castanha, nariz fino que contrasta com seus lábios grossos.
O garoto pensando estar no ponto de chegada, se levanta em direção a saída do vagão, o marmanjo o segura, apertando seu cotovelo com a mão.
— Tá maluco, se a gente descer aqui, estamos frito! — sussurra o marmanjo, trêmulo, em tentativa de aviso ao garoto.
— São militares, nossa viagem não foi permitida, vão espancar agente, e depois nos mandar para trabalhar em campos de reeducação para crimes menores, você com sorte tem direito a reformatório, pior é ser mandado de volta para Ké!
— O que!? Eles não podem ser tão maus assim! — diz o garoto chocado, ficando realmente amedrontado.
— Talvez não sejam, só sejam idiotas, seguindo leis idiotas, temos que fugir de alguma forma — diz o marmanjo, puxando o garoto para perto e se agachando com ele entre os sacos.
Akuto percebendo algo estranho nos vagões acena para seu trio, indicando que achou algo, no entanto o seu trio tem competição, Oliver, membro de um dos trios, rapaz alto, loiro de pele clara, e olhos azuis, possui barba baixa, a crescer, esbelto, com as maçãs do rosto definidas, e queixo avantajado, também perceber barulhos e movimentos estranhos dentro dos vagões.
— Tem algo estranho ali! — diz Oliver, com sua voz grave anasalada, apontando com o dedo indicador para dentro do vagão.
Junto de seu trio, Oliver, é acompanhado por dois outros de pele clara como a dele, um é o gordo, George, de barriga estufada que deixa o sobretudo apertado, com rosto redondo e o outro é o magro Tone, esguio, de rosto fino, algo marcante são seus dentes tortos, e uma mancha abaixo do olho esquerdo, ambos têm cabelo raspado. Estes prosseguem entrando no vagão, e percebem um estranho movimento em meio aos sacos, Oliver vai a frente, e pisoteá os sacos, ouve grunhido de um homem.
Logo os três se reúnem abrindo o saco que este está escondido, se revela ser um homem adulto careca de pele bronzeada, e com barba volumosa, sem bigode, vestido de forma similar ao marmanjo, calças largas marrons e blusa branca, ele treme, com medo. O grupo o agarra.
— Você vem com agente — diz Oliver, agarrando o homem pelo braço.
Quando o homem reage se jogando para trás tentando fugir, os três o cercam, com as mãos o empurram no chão, caído o homem recebe pontapés, para depois ser levantado, e os três revezaram quem iria o acertar com socos, igual a um saco de pancadas. Depois que saem, se vangloriam quando o levam até Kiti.
— Ei capitã, achamos estrume no meio da encomenda! — diz Oliver, insultando o homem já humilhado.
Kiti não esboça reação, diferente do marmanjo e do garoto, que aproveitam o momento para descer do vagão, o marmanjo parte correndo na ponta do pé ao lado da plataforma dos trilhos e o garoto se aproveitando de seu tamanho, rastejar por debaixo do trem, entre os trilhos escondidos. Apesar do esforço do marmanjo para ser rápido, Raikou já está a um passo de distância, quando o marmanjo se da conta ao olhar para o lado, e o ver, se assusta quase caindo para trás, quando se recompõe corre para a esquerda na direção que o garoto percorrera por debaixo dos trilhos.
A fuga se mostra inútil, Raikou com maior velocidade, a ponto de estar na frente do marmanjo antes que ele complete seu primeiro passo. O marmanjo reagindo no susto, lança seu punho esquerdo, vindo de trás, por ser canhoto, joga o corpo todo junto com o soco que vem de cima abaixo na direção do queixo de Raikou, que segura o soco com uma mão. E através do agarram, torce o braço do marmanjo, e com a outra mão tapeia o seu rosto o jogando contra o trem, antes que cai nos trilhos Raikou o segura pelo pescoço o imobilizando.
O garoto consegue se manter oculto, e fica aterrorizado quando vê seu parceiro, completamente impotente, levanta bruscamente batendo a cabeça na parte inferior do vagão de trem, se machucando fica desorientado, e sobe para a plataforma, quando olha para trás, vê os homens o encarando, ele corre com medo, quando esbarra em Akuto e cai no chão, este já o aguardava.
O garoto se assusta e na hora que se levanta para correr, Akuto coloca a mão no seu ombro e se agacha sorrindo para ele simpaticamente, antes que ele reaja.
— Calma, a gente não vai machucar vocês. Pode ficar tranquilo, já está a salvo — diz Akuto acalmando a criança.
— Por favor, não machuquem meu amigo, por favor! — implora o garoto assustado.
— Não, cada um pode escolher seus métodos, mas não os resultados — afirma Akuto, ele se levanta olhando para Raikou que mantém o marmanjo imobilizado. — Pode soltar.
— Ele não consegue ir muito longe — responde Raikou, que solta o marmanjo em cima do solo firme.
— Uhuhuu, obrigado, por favor, eu coopero só não me mandem de volta! Me prendam, mas por favor não me deportem para lá! — implora o marmanjo, que se afasta de Raikou com medo, passando a mão no próprio pescoço que está marcado.
Barke adiantando a situação, se encontra próximo a Kiti Kuro, para negociar com ela a situação de seu trio.
— Capitã, podemos tomar conta deles?
— É, parece mais sério do que eu pensei, bom, sintam-se à vontade para interrogar após levarmos eles daqui — aprova Kiti, levantando o polegar.
— O que? Meu grupo achou um primeiro, e eles deixaram aquele neguinho solto de boa! — reclama Oliver, se intrometendo no meio da conversa.
— Para trás, meu trio está no comando aqui, e ele claramente não tem pretensão de revidar! — grita Raikou de longe colocando Oliver em ordem.
— Não mesmo — concorda o marmanjo.
— Tsk, tá, depois não se arrependa — diz Oliver, que se conforma ao ser ameaçado.
O pequeno garoto sorri agradecido para Akuto, que do fundo de si ao ver aquele garoto feliz, abre um largo sorriso assim como ele, ambos felizes. Então os três suspeitos são levados até o interrogatório, onde o escritório do trio que se apelidou de folha vermelha do céu, os interroga, inicialmente de forma separada.
O restante do grupo, é encarregado de colocar os sacos em caixotes de carretas para a entrega e a acompanhar, sendo responsável pelo serviço pesado, já Kiti Kuro vai pessoalmente falar com o homem que solicitou tal entrega, Oliver e seu trio que se apelida de azeitonas, não saem perdendo, pois eles acompanham a capitã.
Vão ao encontro do barão que mora na parte nobre da cidade, o bairro da ponta de chifre de prata, construído para os novos ricos e homens de grande empreendimentos.
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