Capítulo 31: Bem vindo aos campos gramados
A equipe de Li Han parou para descansar após a mudança de rota, com a saída do trem durante o período da madrugada, no meio da estrada, indo para a mata. O mestre não pediu ajuda de ninguém, ele foi apenas até a mata e colheu alguns galhos secos, e de repente acendeu uma fogueira. Das malas de dentro da carroça, o grupo pegou cobertas para se aconchegar e assim, unidos ali no meio da estrada, o grupo parou para cochilar, e os cavalos também.
Quando o sol começa a iluminar o local, no início do amanhecer, quando a chama da fogueira já está apagada e a madeira toda já se tornou cinzas, é a hora de voltar a viagem. Os cavalos ainda cochilam, assim como Balu, Dembele, Yasuke, Hiro e Saikyo que aproveitam o sono. Mas o mestre não os deixa eles aproveitar por muito tempo, porém, antes de acordar o grupo, ele se aproxima dos cavalos e com uma ordem, os faz despertar.
— Acordem, todos de pé! Já deu tempo de descansar, estamos perto dos campos gramados, vocês não podem perder essa linda visão meus alunos, e eu preciso dos meus guias de pé para me indicar a fazenda correta! — ordena Li Han, batendo as palmas para que todos levantem.
Com barulhos e gritos, todos acordam, cansados por não conseguirem descansar tempo o suficiente.
— Bom dia para você também, mestre! — diz Saikyo emburrada.
— Todo mundo precisa estar acordado mesmo durante a viagem? — pergunta Hiro exausto.
— Claro Hiro, a água não vai durar toda viagem e eu preciso de ajuda com os cavalos, podemos ter imprevistos no caminho — responde Li Han.
Li Han anda até os cavalos e acaricia-os, dando um beijo na cabeça de cada um deles.
— Como vão caramelo e chocolate? Dia bonito para cavalgar, com sorte não vão andar por muito tempo, pra nossa sorte também, seis bebem água demais! — diz Li Han de forma carinhosa com os cavalos que acabará de desenvolver laços.
O mestre se senta em seu banco, esperando que todos vão para suas posições. O grupo se organiza guardando tudo que usaram durante o sono, e cada um volta para suas posições na carroça. Yasuke vai ao banco junto de Balu e Li Han, já Dembele, Hiro e Saikyo vão apoiados em cima das encomendas e bagagens.
— Já andei muito por essas estradas com meu velho quando éramos próximos, estamos perto da fazenda onde eu trabalhava, vou informando por onde ir — diz Dembele, como guia do grupo.
Ao ouvir isto, Li Han não perde tempo, e ordena que os cavalos começam a cavalgar, assim o grupo prossegue sua viagem.
Em meio a estrada quando se aproximam da região de Ké, se deparam com os enormes campos que podem ser visto de longe, em enormes planícies com plantações de diversos tipos, que formam campos de plantações imensos, bonitos, mas fica tudo mais belo quando se aproximam da plantação de arroz, os terraços de diferentes planos, formando escadarias belas esverdeadas. É possível ver também trabalhadores chegando logo cedo às plantações para trabalhar.
A paisagem é incrível, costumeira para os habitantes do local, mas para Hiro e Saikyo é impressionante, a garota pega sua câmera fotográfica, e tira algumas fotos da paisagem de recordação, e também do grupo em cima da carroça, descontraindo deixando o clima da viagem leve.
E quando em certo momento a estrada se torna perigosa, podendo haver vigilância, Li Han se esquiva, mandando os cavalos cavalgarem pelas estradas de terra. Onde a carroça sofre com tremedeira, por conta do solo desnivelado, então eles seguem em ritmo moderado, e com poucas paradas.
Então ao meio-dia, após terem percorrido metade do caminho, Dembele percebe a proximidade e avisa sobre os perigos e prevê o horário de chegada.
— Aqui se torna mais vigiado pela noite, a gente nesse ritmo provavelmente chegará perto do entardecer.
— Então é melhor a gente acampar e descansar por lá, a gente pode se esconder dentro do rancho qualquer coisa, vocês ficam lá dentro e eu garanto a segurança — propõe Li Han, traçando um planejamento.
— A plantação que tinha lá já deve ter sido queimada, mas acho que preservaram o rancho, para criar uma nova plantação no futuro, mas deve estar temporariamente abandonado — diz Dembele.
— E enquanto ao dono? — pergunta Li Han.
— O pé de pano não mandaria ninguém de volta para lá, depois do massacre que ocorreu — explica Dembele, ficando momentaneamente cabisbaixo, mas logo erguendo a cabeça.
— Pé de pano!? — Balu indaga com medo, por reconhecer este nome.
— É eu também já ouvi esse nome — afirma o mestre.
— Claro, ele é o criminoso mais procurado de toda nossa região, a recompensa dele é de 100 mil jades! — ressalta o jovem Yasuke, passando a informação de forma ingenua e
— 100 mil! Você tem que trabalhar por 4 anos sem gastar nada para conseguir isso! — calcula Hiro, impressionado com o tamanho da recompensa.
— É o preço de um atum azul! — compara Saikyo, igualmente impressionada com a recompensa.
— Isso não seria um décimo do que o Xogum receberia, caso a caçada a ele começasse — afirma o mestre.
— Mesmo assim, ele nunca conseguiu pegar o pé de pano, é o único que resiste à tirania dele — constata Dembele, em tom de admiração.
— Nunca se encontram de frente, e não vai acontecer — afirma o mestre, desta vez de forma mais firme.
— Quem é esse pé de pano? — questiona Hiro, curioso no tal homem por conta de sua recompensa.
— É um homem que resiste à tirania do Xogum! — afirma Dembele de forma defensiva.
— Isso não é verdade, ele é um criminoso, não me orgulho disso mais eu vim parar aqui apenas graças às práticas criminosas, da extensa rede de crimes do grupo dele — diz Balu cabisbaixo, olhando para as fazendas e relembrando o que havia passado.
— Você não é de Yu? De onde? — pergunta Hiro, agora curioso com Balu.
Balu olha para os lados, sem conseguir disfarçar seu sentimento receoso, ele olha diretamente para o garoto, decidindo dentro de si contar sua história.
— Do canto das chamas, lugar distante daqui, onde os sinalizadores do senhor são a autoridade, ou descendentes de seu profeta, diferente daqui que é o Imperador e o primeiro ministro. As autoridades mágicas são os Jins, ao invés dos Xás. Vivemos em guerra desde o grande cisma, na região de Malaluk e Sumiria. Só há duas opções para aqueles que não entram na guerra, viver em opressão, ou mudar, os lugares com maior oportunidade é Arverita do norte, porém, na terra de Yu, sempre haverá emprego, e é melhor ser escravo aqui, do que voltar para lá! — explica Balu, se emociona ao contar sua história, evitando derramar lágrimas, apesar de seus olhos se encherem delas.
— E o por que de tanta guerra!? — prossegue Hiro com os questionamentos, carregando inocência acima da curiosidade, ele quer ouvir o senhor, pois para ele parece que o senhor precisa ser ouvido.
— No ínicio, eu também acreditava, depois que vi ataques como os de 20 anos atrás, a destruição do país espiral e aparição de coisas de planos superiores em nosso mundo, percebi que não faz sentido para nós, oferendas em meio a ganância, eles não servem a quem eu reconheço, não! — complementando sua história, Balu segurar suas lágrimas lembrando de seus traumas. — Por isso que eu vim para cá, e graças a Deus, aqui tem grãos de bico de qualidade, combinei com minha receita de falafel, com isso ganhei muito dinheiro, Yu não segue religião específica, hoje em dia são livres. Mas o Xogum, não aceita qualquer um, ele quer que todos sigam o seu iluminado!
— O iluminado? — pergunta Hiro intrigado, porém Balu olha para ele confuso, sem resposta desta vez.
Quem toma a frente para responder o garoto, entrando no assunto é o seu mestre, com certo incômodo.
— O líder supremo, de Fushigi, o escolhido, lá o imperador é ele, porém ele não é um imperador, ele acabou com os imperadores, e Xoguns, Xogum é um termo pejorativo para o devoto escolhido por ele que capturou a cidade de vocês, são chamados de tesouros sagrados, pois cada um de seus oficiais imediatos de alto escalão, possuem uma função especial e pelo menos um tesouro sagrado em sua posse. A autoridade mágica daqui são os Xás, há também os encantados, mas lá são chamados de Kami, também feiticeiros, os de grau menor. Kamis e Xás são inimigos mortais! — esclarece Li Han, suas palavras são diretas, mas carregadas de impacto.
— Fushigi não foi nosso dono por um bom tempo? — relembra Saikyo confusa com a explicação.
— É impressionante que aquele arquipélago foi capaz de dominar o grande império de Jade, o país celeste — ressalta Balu, interessado em ouvir está história, cruza os braços intrigado.
— Isso foi a muito tempo, eu nem era nascido, foi durante a segunda guerra nessa época, que o general de Mu, ganhou o título de general celeste, mas nesse tempo o iluminado não era quem comandava o país, isto foi bem depois, a cerca de apenas 30 anos atrás, os Xá se consolidaram como os senhores da magia — diz Li Han, demonstrando certo orgulho em falar sobre o general celeste.
— Mas como assim, Xá, e magia? Pensei que era um título que permitia tudo — questiona Hiro, dessa vez ainda mais confuso e com ceticismo, o que deixa a espiral de seu cabelo ainda mais enrolada, encolhendo e ficando com fiapos saltando
— A magia permite tudo, mas isso depende, Hiro, é como o povo se relaciona com ela — responde Li Han, deixando mais dúvidas ainda, desta vez ele não tenta ser claro.
— Hiro não acredita tanto em magia, em tudo que agente tem visto, como pode ainda ser tão cético? — Saikyo questiona seu amigo.
— Não posso acreditar em algo que nunca vi! — afirma Hiro mantendo seu posicionamento.
— Não é sobre ver, é sobre sentir idiota! — diz Saikyo irritada com o ceticismo de seu amigo mesmo depois de tudo que passaram.
— É real, eu já vi o Xogum explodindo pessoas apontando a mão para elas, e boom explodiu em chamas — descreve Yasuke a terrível cena, gesticulando com as mãos, mas de forma lúdica, sem passar tanta credibilidade.
— De fato, acabou com muita gente assim — confirma Dembele sobre o relato de Yasuke.
— Seus homens já são assustadores, imagine ser explodido —corrobora Balu demonstrando seu pavor em relação ao homem mencionado, reforçando o fato das explosões.
— Ele usa pólvora, simples — conclui Hiro, pensando de forma lógica.
— Tá bom, continue assim Hiro! — afirma Saikyo, irritada.
— Logo ele vai acreditar — frisa o mestre, finalizando a discussão, confiante que logo mudará o pensamento de seu aluno.
O grupo chega no rancho ao entardecer, na hora de repousar. Ao descer da carroça, se deparam com o cenário de guerra, resultado da batalha que foi travada. E como previsto toda a plantação havia sido queimada, cinzas apenas do que havia no local, porém o rancho também estava queimado e danificado, partes da madeira estava com aspecto de carvão.
A lona está esburacada com marcas de fogo, é a mesma que foi usada no dia da tempestade, ela cobre os corpos que foram nivelados junto com o chão, que acabaram por ser queimados ao ponto de se tornarem irreconhecíveis, restando intacto apenas ossada de alguns dos esqueletos.
Dembele cai no chão de joelhos olhando o local desolado, suas lágrimas caem na terra queimada, Balu acostumado com esse tipo de cena se lamenta, mais abraça o pequeno Yasuke de lado, para com os braços cobrir seus olhos, e evitar que a criança continue aquela cena.
Hiro fica chocado nesse momento, calado sem conseguir demonstrar reação. Já Saikyo junta as mãos, ajoelha-se e ora por aqueles que se foram de forma terrível, o mestre coloca as mãos no ombro da garota, a apoiando.
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