Ao entardecer na casa do sol nascente, no horário de almoço não há nenhum funcionário presente no momento, todos em descanso, exceto Minashi, a única funcionária que mora na casa junta com o Xogum. Ela passa pano com o rodo no piso da entrada da casa, no lado de fora, o sol seca rapidamente o molhado. A garota é interrompida pelo próprio Xogum, que chega no local portando em suas mãos um pote com chá de Kombucha. 

    — O trabalho para você é como açúcar para mim, te distrai quando está ansiosa, descanse, eu liberei todos. 

    — Por que senhor? O que há, estou sentindo um clima estranho, longe de mim, me intrometer. 

    — Se intrometa por favor! — ordena o Xogum, clamando pela opinião da garota, enquanto coloca a mão em seu ombro.

    — Eu acho que devia aumentar a segurança, ouvi você falando com o General Kraig hoje cedo, o Shimpu deveria estar de alerta, aqui.

    — Por que acha isso?

    — Estou preocupada com você — diz a jovem olhando nos olhos do Xogum.

    — O Shimpu serve para policiar, aqueles que realmente são ameaças para mim, quero suas mortes na minha conta! Pois apenas eu posso arcar com as consequências, não deixo consequências no meu nome por que eu mandei, eu assumo pelo que faço. Soldados? Eu sou parte dos tesouros sagrados! Eles mais protegem o restante de mim, do que de fato me proteger! — afirma o Xogum, em tom poderoso.

    — Perdão, mestre! — Minashi abaixa a cabeça se desculpando.

    — Ei, ei, não, não se desculpe! — diz o Xogum, levanta a cabeça dela colocando o dedo em seu queixo. — Eu que devo me preocupar com você, e não você comigo, você já cuida demais de mim, vá para dentro, eu não quero Chisana como uma única companhia, e muito menos que Anjin, seja é o único a testemunhar meu feito, estão chegando, posso sentir.

    Do outro lado da cidade, na casa de Balu, os adultos se reúnem bebendo do lado de dentro da casa. Apesar dos ânimos causados pelo forte destilado, de cor esbranquiçada semelhante ao leite, o silêncio deixa o clima pesado.

    — Eu já saquei, você tem perguntas para mim, eu posso até parecer durão, mas — diz Nassim, abaixando a cabeça. — Sou um homem de coração ferido, e ele se machuca mais do que qualquer parte do meu corpo, eu juro, que se eu pudesse, daria minha vida para não ver meu irmão sofrer por minha causa!

    — Não diga besteiras! — Balu interrompe seu irmão, tirando o copo de sua mão.

    — E por que me deixou aqui? — questiona Dembele, com olhar confuso. 

    — Você e Balu, tem versões diferentes da mesma história, você vê o Xogum como demônio, mas não tem em si pavor, e sim desejo por vingança. Já Balu, tem ressentimento, ambos não estiveram de frente com ele, eu queria saber de alguém que sofreu na pele o poder deste homem, pois eu estarei frente a frente com ele em breve — explica Li Han já encarando Nassim, que é quem o interessa.

    — Bem, viemos atrás de oportunidade, Balu sempre foi esperto, bom com comida, eu não queria ser inútil ou o atrapalhar, apesar de eu ser o mais velho, é esse baixinho que dá conta do recado. Então usei o que tinha de melhor, minha força de trabalho e experiência com animais, fui bem na fazenda, apenas trabalhava para Balu comprar tudo por um preço mais barato, e ajudar no restaurante. Antes tínhamos um restaurante, que nos rendeu dinheiro o suficiente para comprar uma generosa porção de terra. Até ele chegar, e tomar tudo, e assim as terras foram desapropriadas, e dívidas, isso foi bom? Eu não sei, eu só sei que fomos forçados a concordar . . . — Nassim descreve sua história de vida, mas é interrompido pelo mestre.

    — Aquilo te machucou de outra forma, feriu o seu ego — diz Li Han que aponta para o peito de Nassim.

    — Eu me calei, mais não pode ver os maustratos feitos aos meus companheiros, da onde venho, aqueles que trabalham junto com você são como irmãos, e então, eu iniciei uma revolta, é dificil de acreditar no que vi, agente conseguiu com bravura vencer soldados armados, mais quando o Xogum chegou, sentado em um trono dentro de uma carroça puxada por dois cavalos negros imensos, o que assustou mesmo foi que ele tinha ao seu lado uma besta fera medonha que parecia ter vindo do inferno. A qual ele acariciava como se fosse um cachorro dócil, tranquilo, ele bebia chá, como se nós fossemos meros mortais, perante sua presença — narra Nissim, lembrando das imagens do ocorrido. —  E éramos, pois movendo uma mão, ele fez homens explodirem! E eu fui um deles — Levanta a camisa mostrando no lado esquerdo de tronco as marcas de queimadura e deformidades na costela. — Porém, nenhuma cicatriz em meu corpo, se compara a ferida ainda exposta em meu ego, eu sou uma vergonha, meu irmão teve que se submeter a trabalhos ilegais para pagar meus remédios, eu me sinto inútil, eu sou um peso morto! — lamenta colocando as mão no rosto para disfarçar as lágrimas.

    — Perdemos o restaurante, então tive que achar uma forma de pagar as contas, dava para trabalhar lá de vez em quando e na barraca, o garoto sabe como era uma boa grana — explica Balu, envergonhado abaixou a cabeça.

    — Suja, mas era contra esse sistema — justifica Dembele.

    — Explodir pessoas movendo as mãos, que tipo de monstro é esse — observa o mestre entretido com a história.

    — Minha vó disse que seus poderes vêm de demônios, tanto faz, eu vi você lidar com um espírito, então se chegarmos até ele, pode mesmo o matar? — questiona Dembele, esperançoso em relação a Li Han.

    — Não tenha esperança jovem. — avisa Nassim.

    — Boah, boah, eu não lido com esperanças — afirma o mestre.

    Diferente da melancolia na casa, no quintal o clima é leve, os jovens se reúnem Rihanna e Saikyo que alimentam com ração os cordeiros, e ovelhas fêmeas que são para produção de leite e o carneiro o macho, é para a carne, enquanto Hiro e Yasuke enchem baldes de água, através de uma caixa da água, para saciar a sede dos cavalos que os trouxeram até ali, que descansam também no quintal.

    — Ainda estou curioso, não consegui entender esse tal de Xogum, ele é bom ou mau? — pergunta Hiro.

    — Eu acho que lá no fundo é uma pessoa boa, que acaba fazendo coisas ruins, ele ajudou muita gente! — revela Yasuke sobre sua experiência pessoal, em tom defensivo, com a fala tremida, com pouca certeza.

    — E qual é a dos vários nomes?

    — É que, a gente aqui chama ele de diferentes formas, sabe onde moro, os chamamos de Faraó!

    — Faraó? Que nem os reis do deserto? — relaciona Hiro, pois para ele aquela nomenclatura é igual a qual havia estudado.

    — Exatamente! — confirma Yasuke.

    — Sério, que legal, mas por que? Que tipo de ofensa isso significa? 

    — Não é ofensa sabe, é que o nome Xogum trás medo as pessoas, mais ele fez muito bem a parte de nós, claro, Yasuke não suporta ele, e eu o entendo, é por isso que eu fui atrás dele, é que, quando eu era mais novo ele era minha inspiração, eu fiquei com muito medo do Xogum matar ele! — diz isso com olhos arregalados, e pesar na fala, enquanto ergue com dificuldade o balde, diferente de Hiro que leva dois em cada mão com relativa facilidade. 

    — Fico me perguntando por que o mestre nos trouxe para enfrentar um cara tão perigoso assim, talvez ele esteja convicto que ele não seja tão ruim . . . o que estou pensando, droga, ele não deve olhar para mim com dó, eu vim ajudar a pegar esse cara, mais, ao mesmo tempo, pelo que você me disse, eu não consigo querer acabar com ele! — Hiro reflete sobre a natureza do Xogum, que o faz ficar em dúvida, a espiral de seu cabelo se embola, assim com o restante que fica embaraçado ao tentar achar algo em comum nos vários relatos que ouviu sobre o Xogum.

    — Caramba garotos, vocês estão enrolando viu! — Saikyo reclama da demora.

    — Deixe-os demorar, é bom que a gente tenha mais tempo para bater papo, eu gostei de vocês, deu pra ver que não são daqui pela gentileza comigo! — diz Rihanna, querendo aproveitar o tempo com os novos amigos.

    — O que? O pessoal daqui é rude? — Saikyo pergunta ressaltando as sobrancelhas com estranheza a fala de Rihanna.

    — A bom, não costumava ser, uma parte sabe, depois que meu pai começou a tentar a sorte, eu comecei a tentar fortalecer a minha fé, para conseguir dormir bem todas as noites, acontece que a fé aqui não é uma escolha, apesar de da onde eu vir não ser também, aqui costumava ser, eu tinha abandonado, mais gostava de ter a escolha de saber, poder voltar, eu estava apenas . . . frustrada — Rihanna se abre nesse momento, demonstrando confiança, suas bochechas incham e narinas ficam rosadas.

    — No que as pessoas aqui creem? — pergunta Saikyo.

    — No iluminado — responde Rihanna.

    — Nirvana, buda? Eu também acredito que existam budas, se bem que é mais fácil ver relatos de dragões do que um buda, sabe antes de morrer quero ver um dragão e um buda, seria demais, mas com certeza se isso acontecer cedo não quero morrer depois disso! Perdão, eu me empolgo falando dessas coisas, o Hiro é cético, continue! — Saikyo se restringe, colocando a mão na própria boca ao perder o controle de suas falas.

    — Hahahaha, assim eu que perco o foco! Vocês são engraçados, no início parecem ser o contrário, mas são igualzinhos, o alinhamento espiritual de vocês é o mesmo — observa Rihanna, olhando para os dois os comparando.

    — Agora que percebi, seus olhos são iguais! — ressalta Yasuke, apontando para os olhos dos dois, reparando que ambos são castanhos e arredondados.

    — Somos primos, só que eu sou o lado mais maduro da família! — afirma Saikyo, estufando o peito.

    — Tem mais iniciativa, porém é menos focada, vocês têm as mesmas características, só trocam alguns atributos, a propósito aqui vocês acreditam em signos né? — Rihanna pergunta e coloca a mão no queixo, observando para sua análise.

    — Eu nasci no ano do grande dragão! — revela Saikyo orgulhosa, seus cabelos se arrepiam levemente.

    — A é aqui vocês têm signos diferentes, é por ano — observa Rihanna. — E você Hiro qual seu signo? 

    — Hã? Olha que eu não sei! Ela é mais velha que eu. Pelo ano, deve ser macaco ou cabra! — Hiro em sua mente faz as contas, de forma precisa, porém falta-lhe a informação das datas exatas.

    — Com certeza deve ser um carneirinho! — Saikyo caçoa de seu primo, procurando o irritar.

    — Você não vai falar isso quando eu te derrotar, e derrotar o Raikou! — provoca Hiro confiante e aponta o dedo para Saikyo.

    — Tenta a sorte tampinha! Você até agora lutou contra capangas, eu lutei contra o homem do toque da morte — relembra Saikyo, se exaltando ergue os braços para cima.

    — Você sempre se acha melhor que eu, mas é porque pego os desafios mais pesados antes de mim, se não eu os resolveria! — diz Hiro irritado, colocar os baldes com água perto dos cavalos e cordeiros, se aproxima de Saikyo e a encara.

    — Chega vocês dois, acho que não deviam ter aflorado o lado competitivo, vocês trabalham muito melhor juntos, deu pra perceber! — Rihanna intervém, ficando entre os dois primos. — Que tal se exaltarem!

    Hiro contrai os lábios e olha mau encarado para Saikyo, que arregala um dos olhos e retribui a encarada, dando para sentir a tensão do olhar dos dois se chocando, quase como um impacto físico no ar. 

    — Você ficou menos rechonchudo! — Saikyo elogia seu primo de forma irônica.

    — O seu cabelo cresceu! — retruca Hiro, apesar de tentar ser irônico, soa com certa sinceridade.

    — Que tal voltarmos ao assunto de antes? — sugere Rihanna.

    — Eu acho melhor — concorda Saikyo. — Ok, o que o Iluminado seria mesmo?

    — Um buda, mas eu não sei se é realmente o que dizem, se bem que eu fiz as mesmas perguntas sobre o que eu acreditava, sabe, as vezes é difícil ter fé . . . — Rihanna se questiona, enquanto olha para o céu.

    — Puxa — diz Saikyo.

    Enquanto os cavalos bebem, os adultos também, mas Li Han sabendo que todos estão dispostos a ajudar, toma uma decisão que dará fim a bebedeira, e os fara se preparar.

    — Balu, eu iria pedir para ficar aqui. . . 

    — Eu quero ir com você até o final! — afirma Balu, se aproximando do mestre e olhando para o seus olhos em forma de súplica. 

    — Eu sei, e é por isso que, eu vou pedir para o seu irmão ficar com as encomendas, pois tudo acaba ao amanhecer do dia seguinte, eu preciso apenas que ele se comprometa, com a tarefa, pois logo depois do descanso, iremos partir para continuar nossa jornada — Li Han atesta o pedido de Balu, entregando para o irmão dele uma missão perigosa. 

    — Eu, não posso pedir isso a ele! — Balu responde relutante, seus olhos ficam totalmente abertos, sem piscar, sua respiração fica pesada, acumula tensão em seu corpo. 

    — Eu não quero que você peça, se eu posso ser útil, serei, eu me sinto honrado! —  Nassim fala as palavras que vem do fundo de seu coração, a sua satisfação em fazer o favor, faz com que Li Han sorria admirado. – Descansem, mais tarde a gente tem que partir de Balu — avisa Li Han, já se aconchegando na cadeira.

    O grupo repousa até por volta das três da tarde. Os viajantes reunidos do lado de fora, com as ruas estando novamente movimentadas, e cheias de gente, Balu abraça Nassim e Rihanna, e os deixando com a responsabilidade  de cuidar da casa com os cavalos e as encomendas.

    — Se cuidem! Eu voltarei em breve! — Balu se despede, acena se afastando preocupado, logo volta a sua atenção para o grupo. — Espero que nada aconteça a mim, mas minha filha vai ter um pai corajoso ao qual se orgulhar.

    — O mais importante você já fez, tudo que vier agora, é pequeno perto daquela garota — Li Han consola Balu colocando a mão em seu ombro, e o lembrando de sua maior conquista. 

    — É, mas eu quero garantir o melhor para ela! E vou até o inferno! — afirma Balu, olhando para o céu, suas palavras são para acima do céu vivo, se soubesse do pai, teria o recorrido.

    — E é para lá que estamos indo, o pedido é claro, guiá-los até a casa do sol nascente, onde muitos homens se perdem! — diz Dembele, transformando sua fúria em determinação, o sorriso que esboça se mistura com olhar selvagem.

    — Hahahaha, e esse garotinho aqui? Acho que não dá pra chamar ele de homem, você é muito corajoso sabia! — Li Han elogia Yasuke, fazendo cafuné em sua cabeça.

    — Eu tenho certeza que nada vai acontecer, vocês são demais! — diz Yasuke, cruzando os braços com um sorriso confiante.

    — É isso aí! — concorda Hiro, levantando o punho para cima, a espiral em seu cabelo como restante se arrepia e é balançado pelo vento, como fogo.

    — Que bom que você concordou Hiro, você fica responsável pelo moleque, e eu da porrada! — diz Saikyo, projetando o corpo para frente, socando o punho direito na palma do esquerdo, se preparando para o combate. 

    O grupo motivado parte em rumo ao leste, mesma direção da onde vem os ventos, e para onde é a casa do sol nascente, onde se encontra a ruína para muitos homens. Enquanto o crepúsculo começa.

    Bebedeira e papo furado, esses são os momentos que gosto, ai se eu consumisse álcool rsrs! (Se houver algum erro neste capítulo, comentem por favor, ele ficou um pouco maior do que eu previa).

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