Índice de Capítulo

    Os viajantes ao entrar no restaurante são recebidos com cordialidade pelos atendentes que disfarçam a estranheza, se comportam de forma a honrar o local, que combina luxo com simplicidade. O local é iluminado pelo mesmo tipo esfera branca que ilumina a casa do sol nascente, o piso se destaca por ser de mármore branco, constratrando com as paredes de pedra queimada, já os moveis são de madeira retirada de pinheiro negro, todos os moveis estão brilhantes, como se tivessem acabado de passar resina sobre eles.

    Os visitantes são levados até uma mesa perto do bar. Ninguém se direciona a eles de forma afrontosa. Os atendentes vão até o dono do local, e o chamam para averiguar a situação adversa.

    Tudo por conta que as histórias sobre o grupo já se espalharam, haja vista que as características de cada um era única. Balu claramente não é daquele país carrega traços muito fortes em sua compostura, apesar de Yu ser um país etnicamente diverso, pessoas como Balu não eram comuns nesta região.

    Li Han, Dembele e Yasuke se assemelham muito pela cor, porém a jaqueta que o mestre usa como capa é chamativa, de cor vermelha e contando com losangos dourados e o desenho de uma peônia atrás. Tão exóticos quanto o mestre, seus alunos, que usam uniforme preto com o símbolo da peônia fechada nas costas, o garoto Hiro possui um cabelo peculiar com a espiral nele sendo o destaque, já Saikyo aparenta ser a mais normal do trio.

    A pessoa que vai averiguar estes seis, é o Ferdinando que Balu havia mencionado para Li Han. Um homem alto, magro e branco, com traços destoantes de todos os outros da mesa. Apesar de que em Mu a diversidade não é algo incomum, Ferdinando possui cabelo lisos castanhos, com corte curto e franja, seus olhos são castanhos bem claros, tem bochechas pequenas, nariz curto e fino, e boca com lábios finos, além de covinhas no queixo, sem pelos em volta da fase, tudo aparado condizente ao seu trabalho. Ele se aproxima com olhar de desconfiança.

    — Com licença, vocês tem reserva? — pergunta Ferdinando.

    Li Han responde afastando com os dedos a sua jaqueta, que cobria sua cintura, assim revelando a bainha da espada ao dono do restaurante em sinal de ameaça, o fazendo se calar por instantes, engolir seco.

    — Vamos pagar, é o suficiente — afirma Li Han.

    — Deixa, tudo por conta da casa, sejam bem vindos ao campos de mármore! — responde Ferdinando, mudando sua postura para uma mais receptiva, abrindo os braços e um sorriso forçado no rosto.

    — Que maravilha, estou morrendo de fome — comemora Hiro por outra refeição grátis.

    — Podem sentar onde quiserem, só temos dois clientes, e estão de passagem, hoje é um dia atípico, poucos clientes, murmurinhos na cidade, sintam-se à vontade para pedir o que quiserem! — garanti Ferdinando, se mostrando seu nervosismo ao suar, enquanto mantém o olhar para outra mesa. 

    Balu se sente feliz, apesar das circunstâncias, dentro de si à satisfação por ver seu concorrente tendo de o servir. Ele escolhe a mesa mais perto do balcão, pegando o cardápio, e dando uma folheada.

    — As comidas, não tem nada haver com o que é produzido na região, eles têm . . . — Balu pausa em sua fala impressionado com o que lê, — Espere, o que isso não é possível, um boi de mármore!?

    — É isso mesmo, todos os peixes do cardápio são de água salgada, e aqui não tem praias, e o boi de mármore, ele não só existia no país de Fushigi? São espécimes raros! — afirma Hiro chocado com tal opção no cardápio, ficando de boca aberta quase deixando a baba escorrer e com a espiral de seu cabelo se abrindo levemente ficando com pêlos arrepiados.

    — Eu ouvi dizer que havia uma pequena fazenda na região, mas estes eram só reservados para membros da realeza! — informa Balu, enquanto visualiza o cardápio e observa indignado as outras opções. — Os ingredientes, são os mais caros possíveis

    — Agrada o paladar de alguém vindo de Fushigi, principalmente o peixe, afinal o país se trata de um grande arquipélago, a culinária no entanto tem bases de colonos Portenses — explica Li Han, ao analisar o cardápio.

    — De Porto? É muito longe daqui! — expressa Balu com espanto, levantando as sobrancelhas retraindo sua careca.

    — Sim, é comum a culinária de Porto nesta região. Mas os pratos são caros, pois lá predomina o uso de peixes salgados na comida, a pesca é forte, assim como em Fushigi. Apesar de em Fushigi, não salgar o peixe como em porto, deve haver adaptações para agradar ainda mais o paladar do Xogum. Além de que muitos ingredientes se diferenciam, parece que combinou as duas culinárias para ser o mais palatável possível ao seu verdadeiro dono —  deduz Li Han acerca das combinações usadas pelo restaurante.

    — Sem se quer pagar pelo preço, o açafrão que é usado aqui é o puro, e os que trabalham na colheita não ganham sequer um tostão. Alguns cultivos se iniciaram de maneira forçada, como o do Wasabi, ninguém aqui gosta de Wasabi! — destaca Dembele revoltado com o local, pois o lembra das injustiças cometidas.

    — Hurr, eu concordo, wasabi é horrível! — complementa Yasuke, com nojo, só de pensar em wasabi coloca a língua para fora, enquanto fecha os olhos.

    — Quer saber, vamos encher a barriga, reclamamos depois! — sugere Balu, em tom animado.

    — Eu acho uma ótima ideia! — concorda Hiro, sorrindo, empolgado para experimentar o que há no cardápio.

    — Ai, ai to afim de experimentar um monte de coisa, essa viagem tem se provado uma verdadeira experiência gastronômica, devia ter trazido minha câmera! — lamenta Saikyo, arrependida.

    — Será que aqueles babacas vão deixar a gente comer? — Dembele se referia a mesa ao lado com grosseria, se sentindo incomodado por ser encarado.

    Realmente os homens da mesa ao lado os encaram com olhares estranhos e que incomodam, os observam como alvos, procuram ser discretos com medo de serem reconhecidos. Apenas dois homens, que se contrastam muito, um se vestia de forma formal, camisa social de botões, calça e sapatos padrões, sendo é alto e forte, maior do que todos da outra mesa. Já o seu companheiro é muito menor, vendo de longe parece que tem a metade do tamanho, e é nitidamente corcunda, calças mais desgastadas e camisa esverdeada listrada simples, mas ambos pareciam igualmente ameaçadores, e com as pernas escondiam algo debaixo da mesa.

    — Fica na sua! A gente vai comer e depois cuidar de vocês! — diz o homem dentre os dois, que tem uma voz grave de tom alto, mesmo falando baixo.

    — Melhor não, lutar de barriga cheia, faz mal! — indica Saikyo, se preparando para o combate.

    — O problema é de vocês, estou dando lhes a chance de uma última refeição, a escolha é de vocês! — responde o homem percebendo a iniciativa da garota.

    — Vamos comer Saikyo, depois cuidamos deles, a comida vai nos deixar fortes! — sugere Hiro, sorridente de forma ingênua, não se importando com a ameaça.

    — Aproveitem — recomenda o homem alto em tom sarcástico.

    O clima ruim se instaura, contudo todos voltam aos ânimos quando Ferdinando retorna ao local direcionando a mesa deles, fazendo a função de garçom, mesmo sendo o dono, é possível notar o incômodo no rosto dele ao se submeter ao papel de atendente. 

    — O que vão querer? — pergunta Ferdinando com blocos de notas apostos em uma mão e na outra na caneta, pronto para anotar.

    — Ainda estou em dúvida — diz Saikyo, indecisa se apoiando com o braço na mesa e colocando a mão na bochecha.

    — Eu quero qualquer coisa com carne — ressalta Hiro, mas ainda sem clareza em sua decisão, olhando com atenção o cardápio.

    — Não se poupem, eu vou pegar um combo completo, entradas, prato principal e sobremesa — recomenda Balu, já decidido de sua pedida. — Eu quero que me tragam os seus takoyakis, duvido que com a distância que o polvo é trazido sejam melhor que meu falafel! — fala de forma provocante, duvidando da qualidade do local.

    — Eu vou querer um pouco disso também — aponta Hiro interessado em qualquer comida que ouve falar.

    — Já que esse restaurante gosta de esbanjar! Que tal me darem um belo filé mignon do seu bife de mármore, com spaghetti ao molho de queijo das estrelas! — pede Balu debochando do que oferecido no local.

    — Eu também quero bife de mármore, mas vocês não tem picanha com batata frita? — questiona Hiro, mirando na simplicidade.

    — Claro, claro! — confirma Ferdinando enquanto anota educadamente todos os pedidos.

    — Sorvete de baunilha com um petit gateau, trate de trazer tudo da melhor forma, com um vinho Portense para acompanhar! — aproveita Balu para destratar seu rival.

    — Acho que vou querer umas bolinhos de bacalhau, ah, queijo coalho com mel é uma boa pedida, quero também! De prato principal uma boa paella e pudim de maracujá! Com suco de morango! — pede Saikyo, já sentindo satisfação apenas com o pedido, salivando ao pensar na comida.

    — É . . . eu vou querer o que o garoto pediu — diz Dembele, mais retraído que o restante, aponta com o dedão para Hiro indicando que vai querer o mesmo.

    — Eu também! Ei, espera, e se tudo vir envenenado? — ressalta Yasuke, preocupado o garoto levanta as sobrancelhas e o queixo, assustado com a possibilidade.

    — Eu saberia — afirma Li Han.

    — Eu tenho honra. O que vai querer senhor? — diz o dono do restaurante se direcionando a Li Han. 

    — Não comerei nada. Não é hora de encher meu estômago, nem mesmo de água —  diz o mestre de forma enigmática, ficando em silêncio, mas ele não consegue ficar quieto por muito tempo. — A que saber, me trás umas boas cervejas de melão, álcool não é problema, serve para abrir o corpo! Vai me ajudar.

    O chefe volta até a cozinha para preparar todos os pedidos junto de seus assistentes, e quando voltam serve um banquete aos visitantes do local, nada resta dos pratos, bandejas e copos, tudo vazio. Todos ficam fartos com a comida, exceto Li Han que se satisfaz apenas com a bebida. 

    — Foi o melhor prato que já comi na vida! — exalta Hiro, quase chorando de tão satisfeito.

    — Muito obrigada mestre por nos proporcionar experiências como esta! — agradece Saikyo, com os olhos cheios de lágrimas emocionada. 

    — Meu sonho foi realizado! — comemora Yasuke com extremo agradecimento e satisfação por ter comido no restaurante que tanto desejou.

    — É assim que deve ser o gosto do céu! — elogia Dembele, o sabor da comida quebrou sua postura, antes retraída, agora apenas consegue compartilhar o mesmo sentimento que os outros.

    — Ah, eu tenho que admitir, essa comida é maravilhosa! Reconheço! — Balu parabeniza seu rival, engolindo seu ego e passando a admirar a comida.

    — Que bom que você reconhece o óbvio, pena que logo antes da morte — ameaça Ferdinando se afastando e olhando para os homens que sentam à mesa ao lado.

    — O que? — pergunta Balu confuso anestesiado pela comida.

    Enquanto os homens que Ferdinando olha, se levantam revelando suas faces, que tiram todo o ânimo de quem os conhece. Li Han fica calmo, Hiro e Saikyo curiosos, porém apenas Balu, Dembele e Yasuke sabem quem são os homens que olham, assassinos, os mais infames dos campos gramados.

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