Índice de Capítulo

    Mostrar parte do passado de personagens através de flashbacks e falas, é bem mais difícil do que eu pensei.

    “O abuso com os bons e preconceito contra os feios são silenciosamente aceitos. É tentador ser mau quando o mundo te recompensa tão bem.’’

    Ouve consequências para os homens da mesa ao lado, que levantaram se revelando para aqueles que os conhecem, se tratavam de condenados. Dentre os dois, é o maior que se posiciona para frente, à direita de seu parceiro, é um homem alto de quase dois metros de altura, com ombros e cinturas largas, musculoso porém rechonchudo, barriga estufada. Tem a pele clara, rosto com traços fortes, nariz grande quadrado, assim como o queixo, que é avantajado, boca de lábios finos e largos, olhos castanhos e cabelo liso arrepiado curto. Possui duas deformidades na face, no lado direito do rosto perto do queixo uma cicatriz por perfuração, o local é mais profundo que o restante do rosto, e o nariz é amassado no meio.

    De vestimenta, o homem grande utiliza camisa social azul de manga comprida com botões, calça jeans pretas e sapatos de couro marrons. Se mantém de mãos no bolso, com olhar arrogante direcionado ao mestre, sorrindo, mostrando seus dentes, que são grandes e brancos de forma artificial. Ao se levantar ele arregaçou as mangas revelando cicatrizes de corte em seu braço, alguns causados por perfurações junto de queimaduras, o que revelava que já foi ferido por todo tipo de arma, desde de laminas a balas.

    Já o seu parceiro se porta de forma mais discreta, é muito menor, e magro, com quase um metro e meio de altura, com as costas deformadas, sofrendo de cifose (corcundez) grave, sua cabeça fica quase colada ao peito. O formato do crânio também é deformado, com a traseira sendo maior que o normal. Sua pele também é clara, um pouco menos que a de seu colega, é careca, em contrapartida suas sobrancelhas são grossas, com muitos pelos, tem nariz alongado e pontudo, boca seca e rachada, dentes porosos e desgastados, alguns podres. Seus olhos são o que mais se destaca, grandes, quase saltando, redondos e cor castanha escura, quase pretos. Exótico na aparência física, mais simplista na vestimenta, usa uma camisa verde escura listrada, listras de verde com tom mais claro, junto de uma calça marrom amarrada por uma corda, e sapatos cinzas, ambos desgastados.

    O corcunda em primeiro momento, olha para Saikyo fixamente, e seus olhos saltam ficando maiores, ele abre sua boca, ficando visível os seus dentes podres para garota, seus lábios contraem, e ele sorri, a garota fica enojada, se assustando, levantando da cadeira e indo para trás, fazendo os olhos do homem revirarem.

    — Fecha essa boca, seu bafo podre já acabou com os seus dentes, devia imaginar como fede! — Saikyo insulta em forma de defesa ao homem que a encara de forma desconfortável.

    — Eu fui até o inferno por conta de fazer garotas como você pagar, eu estou disposto a fazer isso de novo! — responde o homem irritado, ele pega debaixo da mesa o que escondidinha.

    Pulseiras ligadas a correntes que na ponta possuem lâminas com cerca de trinta centímetros de extensão, em formato de meia lua que se curva até a ponta, ao total cinco para cada mão. O homem balança as correntes junto das lâminas sobre o ar, o som do atrito com o vento lembra chiados. Por algum motivo o corcunda enxergava em Saikyo, as jovens que o zombavam, e haviam palavras que não saiam de sua mente.

    “Hahahaha! Olha que esquisito, ele nem fala direito”

    De forma oposta ao corcunda, o homem maior utiliza armas menos sofisticadas, manoplas, que se assemelham a bolas de boliche só que são de aço, a parte é a oca com suporte para as mãos se acoplarem, quando vistas de frente parece uma esfera completa, mas um quarto dela não é preenchida para que o usuário ainda possa se aproximar e usar as mãos.

    — Com calma, apenas vamos bater neles, até entregarem o que queremos — indica o homem de tamanho maior, contendo o menor que está hostil.

    — E se eu os desfigurar e os deixar viver? — sugere o corcunda ao seu colega, em tom de sádico.

    — Seu carniceiro! — repreende o homem maior respondendo ao seu parceiro de forma sarcástica, mas enojado por sua sugestão.

    — Ah! Que miséria, eu já ouvi falar desses dois! São os piores! — destaca Balu, que se levanta espantado.

    — E quem seriam? — pergunta o mestre que vira outra garrafa de cerveja, enquanto finge interesse no que Balu acaba de falar. 

    — Eu sei pouco, mas o que sei não é bom, quando cheguei já não era mais o pior dos perigos! — explica Balu, sobre visão acerca dos dois criminosos.

    — É, mas para quem vivenciou a época das histórias, não consegue esquecer desses monstros. Não a dúvida que o maior é Hareta Tekubi, o principal cobrador de agiotas que existia, ele era mau, ninguém que era cobrado por ele resistia, e se resistia morria — afirma Dembele, revivendo as histórias em sua mente.

    O olhar do marmanjo, vê em Hareta a fazenda a qual trabalhava, onde em outros tempos, os motivos de conflito eram diferentes, propriedades e dívidas, pagas com sangue, só podia haver um cavalo na cidade. Agiotas e executores andavam entre os nobres da cidade, quando os mais ricos dentre eles eram fazendeiros, e todos dançavam sobre o ritmo de só um pé. Embora o terror maior venha do menor, aponto que o pequeno Yasuke, se sinta tão apavorado que se esconde debaixo da mesa, se abraçando na perna de Li Han, isto apenas por ter cruzado olhares com o corcunda.

    — Por favor, nos proteja daquele monstro — súplica Yasuke, apavorado, sua voz afina ao máximo, e sua respiração fica pesada por conta do ranho que começa a escorrer de seu nariz, a vontade do garoto é de chorar, mas seu corpo impede por só conseguir tremer.

    — Qual é a do anão corcunda? — questiona Li Han, estranhando o medo de Yasuke.

    — É um verme, desgraçado, este é Surudoi Chēn’neiru, que devia ser executado, mas a politica do Xogum não permite pena de morte, ele transferiu os presos para a prisão debaixo de sua casa. Deixar alguém vivo mostra como aquele homem é um louco! Os crimes desse cara . . . — Dembele fica com ânsia de vomito só de lembrar, se calando por conta do refluxo causado, quase expulsando toda a comida para fora.

    — Vamos, não poupe detalhe, eu tenho orgulho, eu não preciso fingir nada, para quem vai morrer — afirma Surudoi, se exaltando com orgulho por suas barbáries.

    — Não se exceda, ou eu mesmo vou esmagar seu crânio — diz Hareta, irritado, bate as bolas de aço uma na outra, gerando faísca e um eco chato de se escutar.

    — Não conte — recomenda Hiro se levantando da cadeira. — Quanto menos eu souber do meu oponente, melhor vai ser, tanto faz se ele é um assassino, ou sei lá o que, eu posso ser melhor que ele no combate, mais saber do que ele fez só vai ajudar a me distrair, Saikyo você fica com o maior! — aconselha Hiro, que se levanta e vai caminhando em direção a dupla. 

    — Obrigada! — agradece Saikyo, se aproximando para a luta. 

    — Nada cavalheiro da sua parte, um homem deixar uma garota lutar em seu lugar, que seja, eu vou ser gentil, só irei a machucar, até os adultos entregarem o que devem — avisa Hareta, sem demonstrar ânimo ao dizer que irá machucar a garota, apenas indiferente, contrastante a Surudoi que apresenta um desejo sádico.

    — Mestre? — pergunta Saikyo, enquanto olha para Li Han esperando sua aprovação. 

    — Acabem com eles, esse é o verdadeiro teste, antes de enfrentarmos o Xogum! Ele trouxe os piores dessa cidade até vocês, mostrem que são o melhor! — discursa Li Han, aparentemente bêbado, levantando a cerveja e apontando para eles.

    — O’ss! — respondem Hiro e Saikyo juntamente.

    Enquanto os alunos se aproximam para o combate, o mestre puxa Balu e Dembele para perto, enquanto Yasuke ainda se mantém debaixo da mesa, se escondendo por debaixo da jaqueta de Li Han.

    — Então, enquanto a porrada come solta, eu quero que me contem, quem são esses caras afinal — indaga Li Han, curioso e com a fala puxada por conta do consumo de álcool.

    — Eu conheço melhor o grandão, quando foi preso, eu já estava mais por dentro da cidade, ele era um agiota famoso, foi preso a um ano atrás, pelo próprio Xogum, mas o bizarro mesmo até onde eu sei é o baixinho — explica Balu, demonstrando ter nojo similar ao de Dembele por Surudoi. 

    — Sério? Ele até parece com você, tem certeza que não são parentes? — Li Han brinca comparando os dois por serem carecas.

    — Esse tipo de piada não se faz, ele é o pior tipo de pessoa que existe! — reclama Balu, se sentindo ofendido, contraindo os olhos e a careca de tanta raiva.

    — A decisão do Hiro de optar por não saber foi a melhor. Porque ele lida com um serial killer, o demônio maníaco dos picados ou demônio das gordas. Ele tinha duas preferências, casais, capturava os garotos, para fazer suas parceiras sofrerem em sua frente e depois as matar, matava os rapazes, ele fatiava as garotas . . . — Dembele de tanto horror que vê em sua mente que não consegue concluir. — Todos jovens, e casais que namoravam escondidos, o temiam. O seu segundo alvo eram mulheres gordas. Por muito tempo suspeito de traficantes de carne humana e de escravas, porém era apenas o filho deficiente de um açougueiro, que os jovens pregavam peças . . . 

    Dembele fecha os olhos enojados, e Surudoi percebe que fala dele, isso o faz abrir novamente a boca, o seu olhar fica contemplativo. Olhando para Hiro, Surudoi vê uma peça de carne de boi, e dentro de suas mentes revive as memórias dos tempos de açougue, de fatiar a carne com o cutelo, e de vez em quando babar em cima da tábua, e no presente derrama sua saliva no chão sem querer. Surudoi pisca ao perceber que se distraiu perdendo a consciência por um breve momento, fica furioso e range os dentes, lançando um olhar irado para Hiro o culpando.

    — Não tente pregar peças em mim! Não tente! — Surudoi repete as falas a fim de não se perder no raciocínio.

    — Não irei, serei justo — promete Hiro, tratando com respeito o seu oponente, principalmente por não saber de quem se trata.

    — Para com isso, está me irritando, em outra realidade, eu estaria esmagando o seu crânio agora! — ameaça Hareta, perdendo a paciência ficando com olhos avermelhados, tamanho o incômodo de ter que cooperar com Surudoi.

    — Estou te deixando ficar com a menina, é um sinal que consigo controlar meus impulsos — justifica Surudoi que caminha em direção a Hiro. 

    Apesar do tamanho, Hiro fica temeroso em se aproximar por conta das lâminas ligadas às correntes, que são arrastadas pelo chão, o garoto não conhece nada sobre o seu oponente, mas com o olhar consegue observar além da postura do Surudoi, que mantém os braços abaixados e relaxados, sorridente e com olhar fixado no garoto, se esforçando para não perder a concentração, ao ponto das veias da testa ficarem aparentes. 

    Hiro o rodeia, evitando ficar parado na frente de Surudoi, que não espera, e ataca lançando as correntes com as lâminas, as quais Hiro vê a sua própria imagem refletida e depois a de seu oponente. Reflexo que Surudoi também observa, mas se confunde nas visões, sem ver a si mesmo, apenas o de um casal brigando. Formado por um Homem grande vestido de branco e usando avental de mesma cor, careca, usa chapéu semelhante ao de um cozinheiro, ao redor manchas de sangue pelo chão, o homem agarra com as mãos a silhueta de uma mulher, em frente a um pequeno menino sentado no chão, no meio de toda aquela sujeira.

    — Sua vadia, VOCÊ ME TRAIU! Me traiu, o seu ventre é podre, este moleque é retardado e deformado! — relembra Surudoi das falas de seu pai para sua mãe, pensando “Foi o que ele disse, o ventre dela era podre ou eu o apodreci?’’.

    No presente, Hiro rola pelo chão saindo da direção das lâminas de Surudoi, que utilizando suas correntes manipula a direção das lâminas ao vento, às fazendo perseguirem o garoto.  Analisando o cenário no pouco tempo que tem, Hiro se aproxima de uma mesa que está vazia, ficando de pé ao lado dela e colocando a sua palma virada para cima debaixo do tampo de mesa a puxa para perto de si, a jogando em sua frente o protegendo. 

    A barreira formada pela mesa, bloqueia o ataque  das lâminas de acertarem o garoto, apesar delas facilmente atravessam a mesa, cortando a madeira como manteiga, não possuem alcance para chegar até Hiro, que pensa “é difícil lutar com armas a longa distância de mãos vazias, por sorte eu tenho meus nunchakus!”, ao apalpar sua cintura procurando sua arma, ele percebe que havia a esquecido, relembrando “A droga, eu deixei com a Saikyo, ela guardou consigo! Ah, e pelo jeito que ela é, nem vai usar!”, ao se ver desarmado, observando as pernas da mesa perto das lâminas, enxerga uma engenhosa solução. 

    Hiro utiliza a parte das lâminas que estão do seu lado, para dar suporte na hora de arrancar duas das pernas da mesa e logo depois salta para cima da mesa que está virada ao chão, se equilibrando na borda, com as pontas do pé, pronto para saltar a qualquer momento.

    — Eu já olhei para alguém e vi maldade em volta dela, mas nunca vi miséria — observa Hiro, diferente de todos os outros, sente pena.

    — Hehehe, tem pena de mim? — brinca Surudoi de forma distorcida.

    — Não estou te colocando nessa posição — objeta Hiro, se mantendo distante até mesmo na fala, evitando de qualquer forma deixar sua mente ser abalada pela presença perturbadora do corcunda.

    A dupla de alunos de Li Han tem de lidar com um teste mais mortal que os animais selvagens que enfrentaram na selva, agora se encontram com verdadeiros assassinos.

    Bom, gosto de reservar aqui para quem gosta de curiosidades aleatórias que ninguém pediu, essa aqui é para quem conhece o jogo, para os ajudar a imaginar a arma que o Surudoi Chēn’neiru usa, vem de uma mistura das armas de dois personagens diferentes da franquia Samurai Shodown, é uma mescla entre as garras do Genan e da kusarigama do Earthquake.

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