Capítulo 15: Segredos
Quando tudo se acalma naquela mesma noite, Lilith foi chamada para a guilda pelos membros e seus amigos. Eles a conduziram a uma sala separada, protegida por uma barreira mágica que impede qualquer informação de vazar.
Lilith sentiu a tensão no ar enquanto se acomodava em uma cadeira no centro da sala. Tharon e Elyra estavam ao seu lado, seus rostos cheios de preocupação e curiosidade. Outros membros da guilda, incluindo os líderes e magos mais poderosos, formaram um círculo ao redor dela, todos esperando por explicações.
— Lilith, precisamos entender o que está acontecendo — começou Tharon, quebrando o silêncio. — Nós vimos você… morta. Mas então você voltou, e com um poder que nunca vimos antes. O que está acontecendo?
Lilith respirou fundo, sabendo que é hora de revelar a verdade que havia guardado por tanto tempo.
— Eu entendo suas preocupações e devo uma explicação a todos vocês — disse Lilith, olhando ao redor, encontrando os olhos de cada um. — A verdade é que eu possuo uma habilidade única… uma habilidade de imortalidade.
Murmúrios de surpresa e descrença percorrem a sala, mas Tharon levantou a mão para silenciar o grupo.
— Continue, Lilith — disse ele calmamente.
— Esta imortalidade não é absoluta — explicou Lilith. — Eu posso morrer, como todos vocês viram hoje. Mas há algo mais… algo que me traz de volta. Sempre que minha vida está em perigo ou sou morta, os deuses intervêm.
Os olhos de todos se arregalam, e Elyra não contém sua surpresa.
— Os deuses? Você tem contato com os deuses? — perguntou Elyra, incrédula.
Lilith assentiu lentamente.
— Sim, tenho. Quando morri hoje, minha alma foi levada para um plano divino. Lá, encontro dois deuses, um azulado e uma alaranjada. Eles reconstituem meu corpo e me deram força para derrotar o monstro. Mas isso não é sem custos ou riscos. Eles me deram um prazo de 24 horas para eliminar a criatura e recuperar minha alma, o que conseguimos juntos.
A sala ficou em silêncio por alguns momentos enquanto todos absorvem as revelações de Lilith.
— Então, toda vez que você morre, os deuses a trazem de volta? — perguntou um dos magos, ainda tentando processar a informação.
— Não é tão simples assim — respondeu Lilith. — Eles só intervêm em situações extremas, como hoje. E cada vez que isso acontece, há consequências e limites. Eu devo ser cuidadosa, pois não posso depender apenas deles para sempre. Além disso, cada intervenção dos deuses é acompanhada por uma bronca… e uma cobrança.
Tharon franziu a testa, preocupado.
— Isso significa que você está constantemente em perigo, Lilith. Precisamos encontrar uma maneira de garantir sua segurança sem depender dos deuses.
— Concordo — disse Elyra, determinada. — Mas, por enquanto, estamos aqui para você, Lilith. Vamos enfrentar qualquer ameaça juntos.
Lilith sorriu, grata pelo apoio de seus amigos e companheiros de guilda.
— Obrigada, Tharon, Elyra, e todos vocês. Eu sei que não é fácil entender ou aceitar isso, mas prometo que farei o possível para proteger a todos e não colocar mais ninguém em risco por causa da minha imortalidade.
O mestre da guilda falou:
— Imortalidade… Deuses… se está sendo controlados por eles, não vejo perigo nisso, pois está em pleno controle deles.
Lilith percebeu que há mais uma coisa que precisa compartilhar com seus companheiros. Ela sabe que, para construir uma verdadeira confiança, terá que revelar todos os aspectos de sua condição.
— Há mais uma coisa que preciso mostrar a vocês — disse Lilith, com um tom de voz sério.
Os membros da guilda olharam curiosos, enquanto Lilith levantava as mãos lentamente até a venda que cobre seus olhos. Tharon e Elyra trocaram um olhar, sentindo a gravidade do momento.
— Desde que recebi os poderes dos deuses, meus olhos mudaram — continua Lilith. — Eles ficam dessa cor devido à energia divina que corre através de mim.
Com um movimento firme, Lilith retirou a venda que cobre seus olhos. O brilho laranja intenso de seus olhos iluminou a sala, refletindo a fusão dos poderes dos deuses que ela possui. Há um silêncio profundo enquanto todos processam a mudança drástica na aparência de Lilith.
— Uau… — murmura Elyra, maravilhada. — Seus olhos… eles são incrivelmente lindos, mas também… intensos.
Tharon dá um passo à frente, olhando diretamente nos olhos de Lilith.
— Então foi isso que fez com que brilhasse na nossa luta contra o golem — disse ele.
*Referente ao capítulo 11.
Lilith assentiu, sentindo um misto de alívio e vulnerabilidade ao se mostrar completamente.
— Sim, é verdade. Esses olhos simbolizam a ligação que tenho com os deuses e também a responsabilidade de usar esse poder com sabedoria e cautela. Eu queria que vocês vissem isso, para entenderem completamente o que está em jogo.
Os outros membros da guilda, embora ainda surpresos, começam a se sentir mais conectados com Lilith. A revelação dos olhos é um sinal de sua confiança neles, e isso significa muito.
— Estamos juntos nisso, Lilith — disse um dos líderes da guilda, com uma voz firme. — Vamos apoiar você e encontrar maneiras de enfrentar esses desafios sem depender apenas dos deuses.
— Obrigada, a todos vocês — respondeu Lilith, emocionada. — Com o apoio de vocês, sei que podemos superar qualquer obstáculo que apareça.
Depois de Lilith revelar seus olhos, a tensão na sala aumentou. O mestre da guilda, um homem sério e de olhar penetrante, não parece tão convencido quanto os outros.
— Lilith — começou o mestre, com um tom autoritário. — Você trouxe muitas informações à tona hoje, e agradeço por sua franqueza. No entanto, há algo que me preocupa profundamente. Esse grupo de Lectus… Eles têm um interesse em você, e agora você carrega um poder que é extremamente perigoso, não só para você, mas para todos ao seu redor. Se os Deuses fornecem poder a você para batalhar, isso sim eu acho perigoso.
Lilith olhou para o mestre da guilda, percebendo a gravidade em sua voz.
— Entendo suas preocupações, mestre da guilda, mas eu posso controlar esse poder e vou fazer o possível para proteger a todos.
O mestre balançou a cabeça.
— Não se trata apenas do seu controle, Lilith. O perigo vem de fora também. Esse grupo de Lectus já causou problemas antes, aliás descobrimos que foi esse grupo que causou toda essa destruição, e agora que sabem do seu poder, eles não vão parar até conseguirem o que querem. Eu não posso colocar toda a cidade em risco por sua causa.
Elyra e Tharon daram um passo à frente, prontos para defender sua amiga.
— Lilith não está sozinha, nós estamos aqui para ajudá-la — disse Tharon, firme.
— Sim, não podemos simplesmente deixá-la desprotegida — acrescentou Elyra.
O mestre ergue a mão, pedindo silêncio.
— Agradeço a lealdade de vocês, mas minha decisão é final. Por ora, Tharon e Elyra, vocês não poderão acompanhar Lilith. É para o bem de todos.
Os dois amigos de Lilith protestaram, mas o mestre da guilda permanece firme.
— Lilith — disse ele, voltando-se para ela — para garantir a segurança da cidade e dos seus amigos, vou pedir que você saia de Colbith por enquanto. Talvez em outro lugar você encontre uma maneira de lidar com os desafios que esses poderes trazem. Se precisar de ajuda, faremos o possível para auxiliá-la de longe, mas você não pode ficar aqui agora.
Lilith sentiu um peso esmagador de tristeza e resignação. Olha para Tharon e Elyra, seus olhos laranjas brilhando com emoções conflitantes.
— Eu entendo, mestre — disse Lilith, finalmente. — Se essa é a decisão para proteger a cidade, então eu aceitarei. Tharon, Elyra… sei que é difícil, mas prometo que encontraremos um jeito de nos reencontrarmos.
Tharon apertou o punho, tentando manter a calma.
— Lilith, vamos encontrar você, onde quer que esteja. Não importa o que aconteça, estaremos ao seu lado.
Elyra assentiu com lágrimas nos olhos.
— Por favor, fique segura. E lembre-se, você nunca está sozinha.
Um homem dá uma leve tossida e levanta sua mão, é o líder dos vigilantes da cidade.
— Perante ao seu emblema, não tem problema de usar ele, você não foi expulsa dos Vigilantes, você ainda faz parte. Aliás, o emblema também está estampado no seu cartão de guilda, então se você saísse teria que fazer outro cartão. Fazer parte desse grupo lhe dá alguns benefícios, podendo lhe ajudar em certas coisas como missões. Só quero dizer é que boa sorte na sua aventura, abuse, mas não abuse desse emblema.
*Realmente foi escrito dessa maneira, não é um erro.
Lilith olhou surpresa para ele, mas dou um sorriso e o agradeceu.
Lilith, determinada a sair da cidade de Colbith, pediu tempo para se preparar antes de partir. Ela colocou a venda sobre seus olhos laranjas, ocultando o brilho intenso que refletia seus poderes divinos. Com a decisão tomada, começa a se despedir das pessoas importantes em sua vida na cidade.
Com um último olhar para seus amigos, Lilith deixa a sala e a cidade de Colbith, sentindo o peso da responsabilidade e da separação no coração.
Primeiro, ela vai até a alfaiate. A artesã, que fez tantas roupas para ela, está ocupada trabalhando em seu ateliê quando Lilith entra.
— Lilith, que surpresa boa! O que a traz aqui tão tarde? — perguntou a alfaiate, levantando os olhos do trabalho.
— Vim me despedir e agradecer por tudo que fez por mim — responde Lilith, com um sorriso triste. — Estou partindo da cidade.
A alfaiate se aproximou e coloca a mão no ombro dela.
— Vai fazer falta por aqui, minha querida. Cuide-se, onde quer que vá.
— Obrigada, senhora. Eu nunca esquecerei sua gentileza — disse Lilith, abraçando a mulher antes de sair.
Em seguida, Lilith se dirigiu à forja do ferreiro. O calor e o som do martelo batendo no metal são familiares e reconfortantes. O ferreiro, um homem robusto e de poucas palavras, levanta a cabeça quando ela entra.
— Lilith, sabia que você viria. Tenho algo para você — disse ele, com um sorriso enigmático.
Lilith franziu a testa, curiosa.
— O que é?
O ferreiro se vira e pega um conjunto de Hidden Blade, reluzentes e aprimoradas.
— Fiz isso para você. Não são apenas blades comuns. Elas se autorreparam com mana e podem criar uma lâmina extra feita de pura energia. Não só isso, mas também recupera a roupa do usuário.
Lilith ficou surpresa e emocionada.
— Você fez isso para mim? Não sei como agradecer…
— Apenas use-as bem e fique segura — disse o ferreiro, entregando-lhe as blades.
Lilith as colocou, sentindo a energia fluir através delas. Ela explicou a situação e se despede calorosamente do ferreiro, prometendo usá-las com sabedoria.
No dia seguinte, Lilith acorda cedo, sentindo o peso do que está por vir. Ela se preparou, arrumou suas coisas e desceu para o saguão da hospedagem. Os funcionários estão ocupados com suas tarefas diárias, mas quando viram Lilith, se aproximaram dela com expressões de preocupação e carinho.
— Lilith! Ouvi rumores de que você está indo embora — disse a recepcionista, com um olhar preocupado.
— Sim, estou partindo. Queria me despedir e agradecer a todos vocês pela hospitalidade — respondeu Lilith, com um sorriso triste.
Os funcionários da hospedagem se reuniram ao redor de Lilith, oferecendo palavras de encorajamento e desejando-lhe boa sorte em sua jornada. Ela agradeceu a cada um deles. Com um último abraço e um sorriso, ela se despediu do pessoal da hospedagem.
Finalmente, Lilith encontrou Tharon e Elyra, que estavam esperando por ela perto da entrada da cidade. Seus rostos estão marcados pela tristeza, mas também pela determinação.
— Lilith, sabemos que essa é a melhor decisão para você e para a cidade — disse Elyra, com lágrimas nos olhos. — Mas vai ser difícil ficar longe de você.
— Eu sei. Vai ser difícil para mim também — respondeu Lilith, com a voz embargada. — Mas farei o possível para encontrar um caminho e nos reunirmos novamente.
Tharon, com um olhar de firmeza, estendeu a mão para Lilith.
— Leve isso como um lembrete de nossa amizade. Sempre que olhar para ele, lembre-se de que estamos com você, não importa onde você vá.
Lilith olhou para o pequeno amuleto que Tharon lhe entregou, um símbolo de sua união. Ela sorriu, emocionada, e o colocou em seu bolso.
— Obrigada, Tharon. Eu guardarei isso com carinho.
Elyra se aproximou e ofereceu um último abraço.
— Cuide-se, Lilith. E, por favor, volte para nós assim que puder.
Com um último olhar para seus amigos e para a cidade que começou a chamar de lar, Lilith deu um passo em direção ao futuro incerto. Ela sentiu a carga da responsabilidade e da separação, mas também uma nova determinação. O caminho à frente será desafiador, mas com as bênçãos dos deuses e a força de seus amigos, ela está pronta para enfrentá-lo.
Enquanto se afastava, os sons da cidade foram ficando mais distantes, e Lilith se preparava para enfrentar o que quer que venha a seguir. Ela sabia que a jornada está apenas começando, e que terá que ser forte para enfrentar os desafios que a esperam.
Com seus novos hidden blades e o amuleto de seus amigos, Lilith sentiu uma renovada sensação de propósito. Ela sabia que precisava ficar mais forte, não apenas para si mesma, mas também para aqueles que deixou para trás. O mundo além dos muros de Colbith é vasto e cheio de perigos, mas também de oportunidades para crescimento e aprendizado.
Caminhando por trilhas pouco conhecidas e enfrentando as adversidades da natureza, Lilith encontrou tempo para refletir sobre os recentes eventos. A ajuda dos deuses, a traição do grupo de Lectus e a decisão do mestre da guilda pesavam em sua mente. Ela precisava entender melhor o que os deuses esperam dela e como pode se preparar para futuros confrontos.
De longe em cima de uma ponta de um penhasco, podia-se ver o Fenrir de antes, observando tudo de longe. Lilith olhou para Félix e continuou sua jornada.
*Fim do Volume 1*
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