Lilith acordou com os primeiros raios de sol penetrando pelas cortinas do quarto, aquecendo suavemente seu rosto. Ela se sentou na cama, espreguiçando-se enquanto observava Fenrir ainda adormecido no chão ao seu lado. O grande lobo prateado respirava calmamente, seus flancos subindo e descendo em um ritmo tranquilo. Lilith sentiu uma onda de tranquilidade ao vê-lo tão sereno.

    Decidindo não perturbá-lo, ela se levantou silenciosamente e vestiu suas roupas habituais, ajustando a capa sobre os ombros e certificando-se de que sua venda estava firmemente posicionada sobre os olhos.

    Descendo para o salão principal da hospedagem, Lilith foi recebida pelo aroma convidativo de pão recém-assado e chá quente. O lugar estava relativamente calmo, com apenas alguns hóspedes desfrutando do café da manhã. Ela se sentou em uma mesa próxima à janela, apreciando a vista da cidade que começou a despertar.

    Enquanto saboreiava sua refeição, um atendente se aproximou com um sorriso educado.

    — Bom dia, senhorita Lilith. Espero que esteja gostando de sua estadia.

    — Sim, muito obrigada — respondeu ela, com um leve aceno de cabeça.

    — Ah, quase me esqueci — continuou ele. — Chegou uma encomenda para você esta manhã. Está no balcão, se desejar pegá-la.

    Lilith ergueu uma sobrancelha sob a venda, surpresa.

    — Uma encomenda? Obrigada por avisar.

    Após terminar o café da manhã, ela se dirigiu ao balcão, onde um pacote cuidadosamente embrulhado a aguardava. A embalagem é simples, mas elegante, com um selo que ela reconheceu imediatamente: o emblema da guilda de Novograd. A curiosidade a envolveu enquanto pegava o pacote.

    Retornando ao quarto, Lilith encontrou Fenrir já acordado, seus olhos observando-a com interesse.

    — Recebi algo inesperado — disse ela, sentando-se na beira da cama.

    Fenrir se aproximou, farejando o pacote.

    — De quem seria?

    — Acho que do Mestre da Guilda.

    Ela desfez o embrulho com cuidado, revelando uma caixa de madeira polida. Ao abri-la, encontrou uma carta e um objeto peculiar: uma tsuka, o cabo de uma katana, sem lâmina. A tsuka é belamente trabalhada, adornada com detalhes em prata e entalhes que formam padrões elegantes. Lilith pegou a carta e começou a ler.

    — Prezada Lilith. Envio-lhe esta katana de mana como um presente para auxiliá-la em sua jornada. Ela responde à vontade e à energia do portador, materializando uma lâmina quando necessário. Espero que seja útil em seus desafios futuros. Boa viagem. Assinado, Mestre Arlin.

    Lilith sentiu uma onda de gratidão e admiração. Segurou a tsuka com as duas mãos, sentindo uma leve pulsação de energia que parecia responder ao seu toque.

    — Uma katana de mana… — murmurou ela.

    Félix apareceu ao seu lado, flutuando silenciosamente.

    — Interessante. Não é uma arma comum — comentou ele telepaticamente.

    Fenrir observava atentamente.

    — Um presente generoso. Armas assim são raras e valiosas.

    Lilith concordou com um aceno de cabeça.

    — “De fato. Embora já tenha minhas próprias armas, aprecio muito o gesto de Arlin” — disse telepaticamente.

    Curiosa para testar a katana, ela se levantou e concentrou sua energia na tsuka. Fechou os olhos sob a venda e sentiu a conexão entre sua mana e o objeto. Aos poucos, uma lâmina de luz pura começou a emergir, brilhando com um resplendor suave. A arma completa estava agora em suas mãos, leve como uma pluma, mas emanando um poder palpável.

    Ela fez alguns movimentos no ar, cortando suavemente, sentindo a fluidez e o equilíbrio perfeito da katana. Decidiu então testar seu poder de corte. Mirou na manga de sua própria roupa e tentou cortá-la. Para sua surpresa, a lâmina não faz nenhum dano.

    — Talvez precise ajustar algo — pensou em voz alta.

    Concentrando-se mais profundamente, canalizou uma quantidade maior de mana para a lâmina. Tentando novamente, e desta vez a lâmina cortou o tecido com facilidade. No entanto, quase instantaneamente, o material se regenerou, voltando ao estado original graças ao equipamento especial de suas vestes.

    — Esqueci que minhas roupas se auto-regeneram — disse ela, esboçando um leve sorriso.

    — Parece que a arma funciona perfeitamente — observou Félix.

    Lilith desativou a lâmina, que desapareceu em um brilho suave, e guardou a tsuka em seu cinto.

    — Acho que estou pronta para partir.

    Antes de deixar a cidade, decidiu escrever uma carta para Arlin em agradecimento. Sentando-se à escrivaninha do quarto, pegou papel e tinta e começou a escrever com caligrafia cuidadosa.

    — Prezado Arlin. Agradeço sinceramente pelo presente. A katana de mana é uma arma magnífica, e sinto-me honrada por sua consideração. Estou partindo agora para a torre do mago em busca de respostas. Deixarei Fenrir em Novograd por enquanto, para que possa descansar e evitar chamar atenção indesejada. Espero retornar em breve e compartilhar o que descobri. Com gratidão, Lilith.

    Ela selou a carta e a entregou ao atendente da hospedagem, solicitando que fosse entregue ao Mestre da Guilda.

    De volta ao quarto, virou-se para Fenrir.

    — Preciso que fique aqui, Fenrir. A jornada até a torre pode ser perigosa, e sua presença poderia atrair olhares que preferimos evitar.

    Fenrir a observou com compreensão.

    — Entendo. Ficarei esperando por seu retorno. Tenha cuidado.

    — Obrigada. Cuidarei para que tudo corra bem.

    Com tudo preparado, Lilith ajustou sua capa, certificando-se de que suas armas estão em ordem e verificou seus suprimentos. Félix permaneceu ao seu lado, pronto para acompanhá-la.

    — Pronta para enfrentar o desconhecido? — perguntou ele, com um tom ligeiramente provocador.

    — “Sempre” — respondeu Lilith telepaticamente com um leve sorriso.

    Enquanto ela deixava a hospedagem, a cidade começou a despertar completamente. O céu estava claro, mas o ar é frio, indicando que o inverno permanecia. As ruas de Novograd estavam movimentadas, mas Lilith se movia com facilidade entre as pessoas, sua figura discreta passando quase despercebida.

    Saindo pelos portões da cidade, ela sentiu a vastidão do mundo à sua frente. A estrada que levava à Torre do Mago é longa, e o tempo começou a mudar por causa da neve. Enquanto caminhava, conversou com Félix.

    — “Como você acha que esse mago será?” — perguntou ela, olhando para o horizonte.

    Félix ponderou por um momento antes de responder.

    — Difícil dizer. Se os rumores forem verdadeiros, ele é extremamente antigo, talvez tão velho quanto algumas montanhas. Mas a aparência pode ser enganosa. Talvez nossas perguntas finalmente encontrem respostas.

    — “Espero que sim. Há muito que preciso entender.”

    Decidindo acelerar a jornada, Lilith começou a correr, aumentando sua velocidade gradualmente até alcançar um ritmo impressionante. Ela percorreu cerca de 20 quilômetros em um terço de hora, a paisagem passando como um borrão ao seu redor. Félix a acompanhou sem esforço, flutuando ao seu lado.

    Conforme a tarde avançava, o céu começou a adquirir tons alaranjados, indicando que o sol logo iria se pôr. Ao longe, a silhueta da torre apareceu no horizonte, erguendo-se imponente contra o céu. A construção é alta e esguia, feita de pedras antigas cobertas por musgo e trepadeiras. Há uma aura misteriosa que emana dela, algo que fazia o ar ao redor parecer mais denso.

    Aproximando-se, Lilith notou uma figura sentada próxima à entrada da torre. É um homem jovem na aparência, com cabelos negros que contrastam com a palidez de sua pele. Ele estava sentado em um degrau, observando o céu como se estivesse imerso em pensamentos profundos. Quando percebeu a presença de Lilith, ele levantou o olhar e acenou com um leve sorriso.

    Surpresa com a recepção inesperada, Lilith diminuiu o passo e se aproximou com cautela. Félix permaneceu atento ao seu lado, analisando a situação.

    — Ele parece nos esperar — comentou Félix.

    Lilith parou a alguns metros do homem.

    — Olá — disse ela, mantendo a voz neutra.

    — Bem-vinda — respondeu o homem, com um tom calmo. — Estava aguardando sua chegada.

    Lilith franziu a testa sob a venda.

    — Você me conhece?

    Ele sorriu enigmaticamente.

    — De certa forma. Mas creio que você tenha muitas perguntas. Talvez possamos conversar.

    — Você é o mago desta torre?

    — Sim, alguns me chamam assim. Mas pode me chamar de Alaric.

    Lilith sentiu uma mistura de curiosidade e cautela. As histórias sobre o mago eram muitas, e encontrar alguém tão receptivo não era o que esperava.

    — Meu nome é Lilith.

    — Eu sei — respondeu Alaric, com um brilho nos olhos. — Venha, vamos entrar. O tempo está mudando, e a noite aqui pode ser fria.

    Lilith trocou um olhar significativo com Félix, que apenas assentiu.

    — Cuidado, mas acho que devemos ouvir o que ele tem a dizer — Félix aconselhou.

    Decidida, Lilith seguiu Alaric para dentro da torre, pronta para descobrir os mistérios que a aguardam.

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