No dia seguinte, o treinamento de Lilith continuou. Assim que o sol começou a nascer no horizonte, ela já estava de pé, determinada a aprimorar ainda mais suas habilidades e expandir sua compreensão mágica. Alaric, o mago, ainda não sabia sobre a façanha que Lilith conseguiu na noite anterior, quando manipulou sua espada com o princípio dos raios e magnetismo. Hoje, ele parecia decidido a ensinar algo mais profundo, algo que não é comumente mencionado nos círculos de magia.

    — Vamos falar sobre uma magia rara — começou ele, enquanto caminhava com Lilith para um campo aberto ao lado da torre. — Algo que não muitos conhecem, porque nem se atreveriam a aprender. Eu chamo de… “Sacrifício.”

    Lilith ergueu uma sobrancelha sobre sua venda, interessada. Esse nome soava pesado, cheio de implicações sombrias.

    — Sacrifício? — perguntou ela. — O que exatamente é isso?

    Alaric suspirou, olhando para o céu como se tentasse encontrar as palavras certas para explicar.

    — O conceito por trás dessa magia é simples, mas perigoso. É uma troca, Lilith. Você dá algo de valor para obter algo em retorno. Pode ser força, poder ou mesmo prolongar sua vida. Mas sempre tem um preço, e o preço é algo que você valoriza profundamente.

    Ele se virou para Lilith, seus olhos sérios.

    — A teoria é minha. Desenvolvi ao longo de anos de pesquisa. Nunca a testei, nem a vi ser usada, mas a ideia é que o sacrifício em questão deve ser algo significativo para você, algo que tenha peso emocional ou espiritual.

    Lilith pensou por um momento, absorvendo o que ele estava dizendo.

    — Algo como… dar parte da própria vida? — Ela arriscou.

    Alaric acenou com a cabeça.

    — Exato. Não é algo que você fez levianamente. A maioria dos magos se recusa a acreditar que tal coisa seja possível ou mesmo ética, então a ideia nunca se difundiu entre os estudiosos de magia. Para muitos, é uma teoria esquecida. Algo perigoso demais para ser explorado.

    Lilith observou Alaric com atenção, sentindo o peso dessas palavras. Sacrificar algo em troca de poder… parecia uma ideia atraente, mas ao mesmo tempo, terrivelmente arriscada. Ainda assim, ela não pode negar que havia uma certa fascinação na ideia de alcançar algo tão grandioso por meio de uma troca tão pessoal.

    — Entendi. Mas se você nunca usou isso, então como sabe que funciona?

    Alaric deu de ombros.

    — Eu não sei. É só uma teoria. Mas fez sentido dentro da lógica mágica, entende? Se tudo neste mundo é energia, seja mana ou outra forma de poder, fez sentido que você possa converter uma coisa em outra. Mas o problema é o risco. O que você estaria disposto a sacrificar? Parte de sua alma? Sua sanidade? Ou algo mais físico?

    Lilith refletiu sobre isso e depois balançou a cabeça.

    — Já aprendi muita coisa com você, Alaric. Sinto que meu controle e entendimento de mana estão se expandindo cada dia mais — ela fez uma pausa, então respirou fundo antes de continuar. — Acho que estou pronta para voltar.

    As palavras dela ecoaram pelo campo, e Alaric parou por um momento, o rosto dele se contorcendo em uma expressão de desconforto.

    — Voltar? — ele balançou a cabeça lentamente, sua voz ficando mais grave. — Se você voltar, Lilith, eu te garanto que você não vai gostar do que te espera.

    Lilith o encarou, surpresa com a resposta dele. Havia algo na voz de Alaric que parece diferente, mais pesado, como se ele estivesse segurando um segredo há muito tempo.

    — Por que não gostaria? — perguntou Lilith, ficando mais atenta. — O que está me escondendo?

    Ele respirou fundo, seus ombros se encolhendo ligeiramente. Em seguida, ele a encarou diretamente, sua expressão carregada de algo que Lilith não havia visto antes: medo.

    — Porque… você é um bolo que eu estou preparando.

    Lilith piscou, confusa.

    — Um bolo…? — Ela franze a testa, tentando entender a metáfora. — O que isso quer dizer?

    Alaric suspirou novamente, como se estivesse prestes a revelar algo que o consumia há muito tempo.

    — Se você sair daqui, ele vai te devorar — ele se vira, os olhos encarando o horizonte, como se o simples pensamento trouxesse dor. — O demônio que me amaldiçoou, Lilith. Ele está esperando, pacientemente, por qualquer um que eu treine ou aprimore para… absorver.

    Lilith sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

    — Absorver…? — repetiu ela, hesitante.

    Alaric balançou a cabeça lentamente, as lágrimas começando a brilhar em seus olhos.

    — A maldição que carrego é uma prisão. Qualquer um que eu treine, qualquer um que se aproxime demais de mim ou aprenda meus segredos… ele os rastreia. Ele os persegue. E, se você for embora agora, ele virá atrás de você, Lilith. Porque, aos olhos dele, você agora é uma fonte de poder, um alvo.

    Lilith sentiu o ar se esvair dos pulmões enquanto as palavras dele começavam a se aprofundar.

    — E como é essa maldição? — perguntou ela, agora mais assustada, mas tentando manter o controle.

    Alaric fechou os olhos por um momento, as lágrimas caindo silenciosamente por suas bochechas.

    — Ele está dentro de mim, Lilith. O demônio… ele vive dentro de mim, se alimentando da minha própria magia, da minha vida. Ele prolonga a minha existência, mas a um custo. E sempre que alguém se aproxima de mim, como você fez… ele começa a absorver essa pessoa também. É por isso que nunca posso deixar ninguém sair em segurança. Se você sair, ele vai atrás de você.

    Lilith o observou, vendo o peso do sofrimento dele. Alaric está visivelmente abalado, a dor em seu rosto se tornando mais clara.

    — Por isso você se afastou… — sussurrou Lilith, entendendo agora o motivo pelo qual Alaric vive isolado. Ele não está apenas escondendo seu conhecimento ou protegendo segredos. Ele está aprisionado.

    — Se você sair agora, Lilith, ele vai devorar sua essência. Eu não posso permitir isso — ele coloca as mãos no rosto, soluçando. — Eu nunca quis isso. Só queria ensinar, passar adiante o que aprendi. Mas agora… agora me vejo preso nesse ciclo. E qualquer um que eu ensine, qualquer um que cresça perto de mim, será amaldiçoado também.

    Lilith ficou em silêncio por um longo momento, tentando absorver tudo o que ele acabou de revelar. Ela sentiu uma mistura de compaixão e terror pelo que ele estava passando, mas também entendeu a gravidade de sua própria situação.

    — Então… se eu ficar, ele não virá atrás de mim?

    Alaric assentiu, ainda chorando.

    — Não, não enquanto você estiver perto de mim. Eu consigo conter a maldição, mas não para sempre. Eventualmente, ele encontrará uma maneira de agir, se alimentando de mim ou de você.

    Lilith olhou para ele com uma mistura de tristeza e resolução. Ela agora entende o verdadeiro fardo que Alaric carrega e o perigo que corre.

    Lilith está na torre com Alaric, a mente dela fervilhando com a revelação sobre o demônio que o assombra. As chamas na lareira ao fundo lançam sombras tremeluzentes pelas paredes de pedra, mas Lilith não conseguiu afastar a sensação crescente de perigo. Ela olhava fixamente para o mago, sua determinação crescendo.

    — Me diga mais sobre essa maldição, Alaric — disse ela, com uma firmeza que fez o mago hesitar por um momento.

    Ele suspirou profundamente, esfregando o rosto com as mãos trêmulas antes de finalmente responder.

    — Quando o demônio toma o controle, minha alma é forçada a sair do meu corpo, enquanto ele assume minha forma. Eu me torno um mero espectador, sem poder algum, enquanto ele usa meu corpo para… — ele engoliu em seco, a angústia visível em seus olhos. — Para destruir, corromper e consumir. Ele se alimenta de vida e de magia. É por isso que ninguém que eu treino pode escapar. Ele rastreia cada traço de energia mágica.

    Lilith absorveu as palavras dele, mas em vez de ser consumida pelo medo, sentiu uma vontade avassaladora de lutar.

    — Eu vou derrotar esse demônio, Alaric. Não importa o que aconteça.

    Os olhos do mago se arregalaram, incrédulos. Ele balançou a cabeça rapidamente, como se tentando persuadi-la do contrário.

    — Não, Lilith. Você não entende. Enfrentar essa criatura é suicídio. Ele não é como os inimigos que você já enfrentou. Ele é puro ódio e fome, e a única maneira de você sair daqui viva é me deixar selar a maldição em você também, para que ele não possa te seguir.

    Lilith cruzou os braços, determinada.

    — Eu não sou uma presa fácil, Alaric. Não importa o que você diga, eu não vou ficar à mercê desse monstro. A única maneira de eu sair daqui livre é enfrentando-o. E eu vou acabar com ele, com ou sem a sua ajuda.

    Alaric suspirou pesadamente, resignado.

    — Você é teimosa — ele esfregou a testa, já cansado. — Mas se é isso que você quer… então preciso me preparar. Só que vai demorar. Ele é muito mais forte do que você imagina.

    Mas Lilith já estava motivada pela sensação de urgência. Sem perder tempo, ela correu para fora da torre, ignorando as advertências de Alaric.

    — Lilith! Volte aqui! — ele gritou atrás dela. — Sua peste imprudente!

    Lilith não olhou para trás. Seus pés moviam-se rapidamente pela trilha estreita que desce a colina. O ar ao redor parecia mais pesado, como se o próprio ambiente sentisse o despertar iminente do demônio. Conforme o dia começava a escurecer, as nuvens no céu se aglomeraram, criando um ambiente sombrio. Ventos fortes sopravam ao redor, e o mundo parecia inquieto.

    Determinada, Lilith correu o máximo que pode, querendo encontrar o demônio. Ela sabia que a única opção é enfrentá-lo fora do corpo do mago.

    Quando ela já estava distante da torre, sentiu uma perturbação no ar ao seu redor. Lilith parou abruptamente e fechou os olhos, concentrando-se. Ela liberou sua mana, expandindo seu radar mágico ao máximo.

    Conforme o campo mágico dela se espalhava pela região, Lilith sentia cada criatura nas proximidades: animais pequenos, pássaros… até que ela captou algo diferente, uma assinatura de energia massiva e densa. Um ser extremamente poderoso estava se aproximando com uma velocidade aterradora.

    De repente, algo se moveu no horizonte, rápido demais para ser natural. Lilith mal teve tempo de reagir. Ela se jogou para o lado, desviando por centímetros de uma mandíbula cheia de dentes afiados, como os de um tubarão, que rasgou o ar exatamente onde ela estava segundos antes.

    — Um demônio… — Lilith sussurrou para si mesma, os olhos arregalados enquanto se levantava e enfrentava a criatura.

    A presença do demônio é opressiva. Ele não é nada como Lilith havia imaginado. A figura se movia como uma sombra densa, escuridão viva que flutua e se estende ao redor, os dentes cintilando no que parece ser um sorriso cruel. Sua pele é negra e escamosa, como se feita da própria noite, e seus olhos são vermelhos de pura malícia.

    Lilith se preparou, flexionando os dedos enquanto convocava sua magia interna. Sua mente correu a mil por hora. O demônio é veloz e implacável, mas ela sabe que sua força está em sua inteligência e estratégia. Ela não é uma guerreira qualquer.

    O demônio rosnou, avançando em alta velocidade novamente. Lilith mal teve tempo de invocar uma barreira de ar para desviar o próximo ataque, o impacto foi tão forte que a fez deslizar alguns metros para trás, arranhando o chão. Ela recuperou o equilíbrio rapidamente, mas percebeu que esse demônio não será fácil de derrotar.

    Félix, que vinha observando em silêncio todo esse tempo, manifestou-se, sua voz ecoando na mente de Lilith.

    — Lilith, isso é… perigoso. Você nunca enfrentou algo assim antes. Mas… você é um prodígio, nunca se esqueça disso.

    As palavras de Félix a fortaleceram. Lilith apertou os punhos, sentindo sua mana circular intensamente dentro de seu corpo. Ela sabia que precisava usar tudo o que aprendeu até agora para sobreviver a essa batalha.

    Ela deu um passo para trás, encarando a criatura, que a cercava com movimentos rápidos e imprevisíveis. Suas garras brilhavam com um brilho sinistro enquanto a escuridão ao redor começava a se solidificar, cercando Lilith.

    Ela respirou fundo e sussurra para si mesma:

    — Eu sou Lilith. Eu sou uma guerreira, e não serei devorada por um demônio.

    O combate está apenas começando, mas Lilith já sentia que está à beira de algo maior. Algo sombrio e terrível se aproximava, e ela teria que lutar com tudo o que tem para sair viva dessa batalha.

    O demônio avançou, e Lilith se preparou para o confronto, sabendo que o que está por vir pode mudar tudo.

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