Lilith cortava os céus com suas asas de éter, o vento frio da manhã chicoteando seu rosto enquanto ela avançava em altíssima velocidade. Seus pensamentos se perdiam entre as possibilidades do que encontraria em Colbith, misturados às memórias recentes de Novograd e à estranha visão que ainda pairava em sua mente.

    À distância, os contornos de Colbith começaram a surgir. Uma cidade que, para ela, já tinha sido uma fortaleza de atividade e força, agora parecia um fragmento de si mesma. Decidindo não chamar atenção, Lilith diminuiu a velocidade e aterrissou suavemente em um campo coberto de neve, fora dos limites da cidade.

    Com um movimento rápido, ela desmaterializou suas asas de éter, verificando instintivamente se seus chifres ainda estavam escondidos sob o capuz. Satisfeita, ajustou a venda sobre os olhos para evitar olhares desnecessários e seguiu em direção ao portão.

    Ao entrar, percebeu de imediato que algo estava errado. Não havia guardas vigiando os portões, e o silêncio que pairava no ar era quase inquietante. Caminhando pelas ruas, ela notou que partes da cidade estavam parcialmente destruídas, algumas casas com rachaduras e escombros espalhados. Muitas lojas e tavernas estavam fechadas, as portas trancadas ou os interiores completamente abandonados.

    Os poucos cidadãos que ela viu pareciam tensos, com olhares cansados e movimentos apressados. Alguns pararam por um momento para observá-la, mas logo voltaram ao que estavam fazendo, como se evitassem qualquer tipo de interação prolongada.

    Lilith seguiu em frente, concentrada em sua missão. Quando finalmente alcançou a guilda, encontrou o prédio ainda de pé, mas com sinais visíveis de dano. Vidraças estavam quebradas, e partes da fachada pareciam ter sido reparadas às pressas. No interior, o ambiente era mais movimentado, mas não de forma confortável.

    Um grupo de pessoas feridas estava encostado em uma das paredes, sendo atendido por curandeiros e ajudantes. Havia cortes, queimaduras e hematomas por toda parte, e os rostos refletiam tanto dor quanto alívio. Lilith sentiu um peso em seu peito, mas manteve sua postura firme enquanto caminhava até o balcão principal.

    Uma jovem de cabelo curto e expressão tensa estava atrás do balcão, organizando papéis e distribuindo instruções com pressa. Assim que percebeu a presença de Lilith, sua expressão mudou para algo entre surpresa e curiosidade.

    — Em que posso ajudar? — perguntou, sua voz ligeiramente hesitante.

    Lilith retirou o cartão da guilda e o colocou sobre o balcão, deixando que a atendente o pegasse.

    — Tenho uma encomenda para o mestre da guilda — disse Lilith com firmeza, mas de forma educada. — Preciso falar com ele.

    A atendente pegou o cartão e olhou para ele por um momento, seus olhos arregalando-se ao ler o nome.

    — Lilith…? — sussurrou, quase para si mesma. Ela então olhou para Lilith com uma mistura de espanto e respeito. — Claro… Claro, por favor, me acompanhe.

    Sem hesitar, a atendente saiu de trás do balcão e começou a conduzir Lilith pelos corredores da guilda. Enquanto caminhavam, Lilith notou que o interior estava mais bagunçado do que esperava. Pilhas de documentos estavam espalhadas, várias portas estavam abertas, revelando salas de reuniões improvisadas e estoque de suprimentos médicos.

    Chegaram a uma porta de madeira reforçada, com um emblema gravado em alto-relevo. A atendente bateu duas vezes antes de abrir a porta e gesticular para que Lilith entrasse.

    — O mestre da guilda está lá dentro — disse ela com um tom respeitoso.

    Lilith agradeceu com um aceno curto, ajustando o capuz antes de entrar. Ela sabia que a conversa que se seguiria seria crucial.

    Lilith entrou na sala com passos firmes, o som de suas botas ecoando no ambiente. Rynvar Stoneclaw, mestre da guilda de Colbith, estava sentado atrás de uma imponente mesa de carvalho, repleta de mapas e documentos estratégicos. Ele a encarou com olhos que revelavam cansaço, mas também determinação.

    Sem hesitar, Lilith retirou sua venda, revelando seus olhos sombrios, e inclinou ligeiramente a cabeça em cumprimento.

    — Mestre Rynvar — ela disse, sua voz baixa e firme. — Aqui está a carta que me pediram para entregar.

    Ela colocou a carta sobre a mesa, deslizando-a na direção dele. Rynvar a pegou, desdobrou e leu em silêncio, suas sobrancelhas arqueando-se levemente enquanto avançava pelas linhas. Ao terminar, ele soltou uma risada seca, quase amarga, e recostou-se na cadeira.

    — Não é que eu não soubesse o que dizer antes… — comentou, deixando a carta sobre a mesa. — Mas depois de ler isso, agora sei exatamente como começar.

    Ele a encarou com intensidade, um sorriso irônico surgindo em seus lábios.

    — Bem-vinda de volta, Lilith. A situação aqui é grave. Estamos em guerra contra o grupo de Lectos, que agora se autodenominam os Capuzes Vermelhos. Como deve ter percebido ao entrar na cidade, a batalha já está acontecendo dentro de nossas muralhas.

    Lilith sorriu de canto, sem pressa, antes de erguer as mãos e puxar o capuz para trás, revelando os chifres negros que cintilavam com um brilho opaco à luz da sala. Logo em seguida, ela tirou sua túnica, expondo a armadura fina e negra, marcada por listras e espirais.

    — Espero que isso não incomode — comentou, ajustando-se na cadeira. — A sala está quente demais para mim.

    Rynvar observou-a por um momento, sua expressão endurecendo.

    — Bem-vinda, filha daquele grande ser. Parabéns por ter descoberto suas raízes.

    Lilith inclinou a cabeça levemente, um sorriso provocador dançando em seus lábios.

    — Apenas parte delas — respondeu, exalando uma leve névoa roxa enquanto falava.

    Rynvar ergueu uma sobrancelha.

    — Seu pedido para rank A será tratado com urgência. Afinal, você já está registrada na guilda há bastante tempo.

    Ela o encarou, o tom de voz ficando mais sério.

    — Então me explique, Mestre Rynvar, como foi que vazou para Arlin que eu sou imortal?

    Ele suspirou, cruzando os braços sobre o peito.

    — Eu sabia que você passaria por Novograd. O caminho que você tomou inevitavelmente a levaria até lá. Mas, para ser honesto, não esperava que você fosse demorar mais de um mês para chegar.

    Lilith riu suavemente, quase em deboche.

    — Acredite, as circunstâncias me seguraram por lá — comentou, divertida.

    Rynvar não sorriu. Ele inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados na mesa.

    — O grupo dos Capuzes Vermelhos encontrou um método para enfrentá-la, Lilith. Embora eles não saibam sobre sua imortalidade, estão cientes de sua resistência e força. O novo líder deles é especialmente perigoso.

    Lilith estreitou os olhos, interessada.

    — E o que exatamente ele faz?

    — Ele utiliza a energia vital de seus discípulos e seguidores para alimentar seu próprio poder. — Rynvar deu um suspiro pesado. — Tentamos reduzir o número de seguidores que ele tem, mas eles estão infiltrados em toda a cidade. Até agora, conseguimos manter a guilda segura.

    — E qual é minha missão? — Lilith perguntou, direta.

    — Você deve derrotar o grupo. Sua imortalidade é nossa maior vantagem. No entanto… — Rynvar hesitou, sua expressão tornando-se sombria. — Não posso garantir a sobrevivência de todos na cidade, precisamos de você.

    Lilith assentiu lentamente, a expressão firme.

    — E quanto aos cidadãos?

    — Vamos convocar todos para a guilda e ativar uma barreira protetora de pureza extrema, classificada como nível 10. Ela deve repelir até os ataques mais poderosos, com um consumo mínimo de energia.

    Lilith soltou uma risada curta e genuína, satisfeita.

    — Isso soa promissor.

    Mas logo, sua expressão suavizou, e ela inclinou levemente a cabeça.

    — E Tharon e Elyra?

    A pergunta atingiu Rynvar como um golpe. Ele fechou os olhos por um momento antes de responder, a voz mais grave.

    — Eles morreram recentemente. Foram emboscados pelos Capuzes Vermelhos. Ainda não conseguimos recuperar os corpos.

    Lilith fechou os olhos por um instante, um calafrio percorrendo sua espinha. Quando os abriu novamente, havia uma chama fria de determinação em seu olhar.

    — Então eu vou acabar com eles — prometeu, sua voz carregada de decisão.

    Rynvar não respondeu, mas seu olhar dizia que confiava nela, mesmo que a missão fosse quase suicida.

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