Aiko avança pelo caminho destruído, seus passos firmes ecoando na neve que cobre as ruas desertas da cidade.

    Seus pensamentos ainda estão presos à cena que testemunhou momentos antes.

    Heri…

    Ele não apenas perdeu um combate.

    Foi vencido por uma única palavra.

    Aiko aperta os punhos. Seu olhar afiado brilha sob a neve caindo lentamente, e a determinação endurece seu semblante.

    Ao alcançar a guilda, as grandes portas duplas já estão entreabertas, como se estivessem à sua espera.

    Lá dentro, a atmosfera é diferente da última vez que esteve ali. O ambiente está mais silencioso, quase tenso. A luz amarelada das lamparinas lança sombras dançantes pelas paredes de madeira, e os poucos aventureiros presentes observam a cena com expressões discretas de curiosidade.

    O mestre da guilda está no centro do salão.

    Ele a aguarda.

    Aiko caminha até ele sem hesitação.

    Seu rosto carrega marcas da idade e de inúmeras batalhas, mas seus olhos são tão penetrantes quanto os de um guerreiro em seu auge.

    Quando a vê se aproximar, ele respira fundo e a chama pelo nome que todos conhecem.

    — Lilith.

    Aiko para diante dele.

    — O que houve?

    Não era uma pergunta casual.

    Ele já sabia que algo havia acontecido.

    Aiko cruza os braços, seu olhar inabalável.

    — Uma dungeon apareceu na cidade.

    O mestre da guilda arregala levemente os olhos.

    Mas sua surpresa não é de espanto, e sim de uma espécie de lamento silencioso.

    Ele suspira, passando a mão pelo rosto, e balança a cabeça devagar.

    — Então, aconteceu de novo… — murmura, sua voz carregada de um peso que Aiko não compreende totalmente.

    — Essa dungeon nunca foi completamente concluída, não é? — Aiko diz, observando a reação do homem.

    Ele a encara por um momento antes de assentir lentamente.

    — Não. Nunca.

    Ela estreita os olhos.

    — Mas já passamos pelo primeiro obstáculo, certo?

    O mestre da guilda a encara fixamente.

    — A estátua.

    Aiko assente.

    — O que tem no final dessa dungeon?

    O homem cruza os braços, sua postura tornando-se mais rígida.

    — Um portal.

    Aiko franze o cenho.

    — Para onde?

    A resposta vem sem hesitação.

    — Diretamente até o Dragão da Escuridão.

    O ar parece ficar mais pesado.

    Alguns aventureiros ao redor se enrijecem ao ouvir essas palavras.

    — “Darkborn! O Rei Dragão! O que vive na Floresta Negra!” — diz Heri na mente de Aiko.

    Aiko pisca lentamente.

    — Darkborn? O Rei Dragão?

    O mestre da guilda acena afirmativamente.

    — Sim.

    Ela franze a testa.

    — Mas ele não está na floresta?

    O homem suspira novamente.

    — Está. Mas essa dungeon… — ele faz uma pausa, seus olhos carregando um brilho indecifrável. — É um teste.

    — Teste?

    — Feito pelo próprio Darkborn.

    Aiko sente um arrepio percorrer sua espinha.

    Um teste…

    Feito por um ser tão poderoso quanto Darkborn?

    Isso significava que esta dungeon não era um acidente, nem uma ruína comum.

    Era uma provação.

    Ela cerra os punhos.

    — Eu irei para lá.

    O mestre da guilda a observa por um momento, sua expressão ilegível.

    Então, ele solta um pequeno riso seco.

    — Você é bem direta, hein?

    Ele suspira, massageando as têmporas.

    — Embora o nome seja “dungeon”, na verdade há apenas uma sala.

    — A sala da estátua, certo? — Aiko confirma.

    — Sim.

    O silêncio paira por um instante antes do mestre da guilda acrescentar algo com um tom sombrio:

    — Se você entrar, só poderá sair se derrotar a estátua.

    Aiko permanece impassível.

    — E se conseguir derrotá-la?

    O homem cruza os braços.

    — Aí você poderá escolher.

    — Escolher?

    — Sair da dungeon… ou atravessar o portal para enfrentar Darkborn.

    Aiko reflete sobre essa informação por um momento.

    — O último Rank S que tentou derrotar essa estátua… — ela começa, sua voz mais baixa.

    O mestre da guilda fecha os olhos por um instante antes de responder:

    — Saiu todo destruído.

    Aiko sente seu peito apertar levemente.

    — Ele sobreviveu?

    O silêncio se estende.

    O homem finalmente abre os olhos, seu olhar sombrio encontrando o de Aiko.

    — Não. Ele morreu logo após sair.

    Aiko não desvia o olhar.

    O mestre da guilda observa sua reação, mas, para sua surpresa, ela apenas acena lentamente, absorvendo a informação sem demonstrar hesitação.

    Ela se vira para Heri, que está no seu ombro.

    — Nós vamos.

    A voz dela é firme.

    Heri, ainda existindo em sua forma de névoa, não responde imediatamente. Mas, então, sua presença vibra levemente dentro dela.

    — Claro.

    O mestre da guilda suspira novamente, derrotado.

    — Eu já esperava por essa resposta…

    Aiko sorri levemente.

    — Obrigada pelas informações.

    Ela então retira seu casaco, entregando-o para Heri.

    Ele o recebe silenciosamente e, sem cerimônia, o guarda em seu inventário dimensional.

    Aiko acena para Aria, que ainda está na guilda. A outra garota levanta a mão levemente em resposta, seus olhos carregando um misto de preocupação e curiosidade.

    Mas Aiko não se demora mais.

    Ela sai da guilda e segue direto para o buraco que leva à dungeon.

    O vento frio corta seu rosto, mas ela ignora.

    Ao chegar à borda da cratera, ela observa o abismo negro abaixo por um breve instante.

    Então, sem hesitação, ela salta.

    A descida é rápida.

    Seus pés tocam o solo frio da passagem subterrânea, e ela avança sem perder tempo.

    A escuridão ao redor não a incomoda.

    Ela caminha, seus passos ecoando contra as paredes úmidas e rochosas.

    Heri, ainda existindo como névoa, acompanha cada um de seus movimentos, sua presença flutuando ao seu redor como uma sombra viva.

    Aiko finalmente alcança o portão.

    Ela o empurra com uma única mão.

    A porta se abre lentamente, revelando a vasta sala do desafio.

    O ar ali dentro é diferente.

    Algo neste lugar exala uma pressão sufocante.

    Ela sente.

    Aiko dá um passo à frente.

    E então, sua mão desliza até o cabo de sua espada.

    Com um movimento fluido e elegante, ela a saca.

    A lâmina de éter puro brilha em um tom roxo hipnotizante, iluminando a escuridão ao redor.

    Ela avança.

    Seu olhar fixo.

    Emanando poder ao seu redor.

    Sua determinação inabalável.

    O desafio a aguarda.

    Aiko avança pela câmara escura, seus passos ecoando contra o chão de pedra. A iluminação precária vem apenas do brilho etéreo de sua espada, que lança um reflexo roxo nas paredes rugosas ao redor.

    A atmosfera é sufocante.

    O silêncio absoluto da sala pesa sobre seus ombros, mas ela não para.

    Então, uma voz ecoa das profundezas da escuridão.

    Uma voz imponente.

    Fria.

    Poderosa.

    — SAIA.

    O comando reverbera pelo ambiente como um trovão, e um vento invisível varre a câmara, pressionando Aiko como se o próprio ar tentasse empurrá-la para trás.

    Ela sente a onda de energia em sua pele, um poder esmagador que poderia reduzir qualquer um à submissão instantânea.

    Mas ela não cede.

    Seus olhos se estreitam.

    Seus músculos se enrijecem.

    Seu corpo inteiro age por instinto.

    E então, no último instante, Aiko se move.

    Ela desvia.

    O impacto invisível explode atrás dela, rachando o chão onde estava um segundo antes.

    Aiko gira no ar, aterrissando com graça felina.

    Sua respiração permanece firme.

    Seus olhos, atentos.

    E ali, emergindo da penumbra, a gigantesca estátua se move.

    As pedras rangem quando o colosso ganha vida, sua estrutura imensa tremendo enquanto cada uma de suas juntas se encaixa, como uma armadura sendo despertada de um sono milenar.

    Aiko não espera.

    Ela avança.

    A lâmina de éter rasga o ar.

    Um golpe.

    Dois.

    Três.

    Golpes velozes, precisos, cortando a superfície da estátua com força avassaladora.

    Mas nada acontece.

    A lâmina desliza contra a estátua de pedra com corpo humano, sem causar danos perceptíveis.

    Aiko franze a testa.

    Ela continua.

    Mais golpes.

    Mais velocidade.

    Mais força.

    O aço etéreo de sua espada brilha como um trovão, desferindo cortes em sucessão frenética.

    Aiko gira, salta, se move como uma sombra letal, atacando de todos os ângulos possíveis.

    Mas a estátua permanece inabalável.

    Nenhum dano real.

    Apenas pequenos arranhões marcando sua superfície.

    Dentro de Aiko, Heri observa em silêncio, sentindo cada movimento, cada impacto.

    Então, sua voz ressoa em sua mente.

    — “Você só conseguiu arranhar a superfície”.

    Aiko cerra os dentes.

    Raiva e frustração queimam em seu peito como brasas incandescentes.

    Isso não era o suficiente.

    Isso não era aceitável.

    Ela respira fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções dentro de si.

    Mas a estátua não espera.

    A criatura colossal ergue um braço descomunal.

    O ar treme.

    E então, o punho gigante desce.

    Aiko salta para trás, escapando por um fio.

    A pancada atinge o solo com um estrondo ensurdecedor, rachando o chão da sala.

    Aiko aterrissa com leveza, sua expressão endurecendo.

    Ela precisa de mais poder.

    Seus olhos brilham.

    — Heri.

    — “Hã”?

    — Me empreste sua espada.

    Heri hesita por um instante.

    Mas ele sente a determinação em sua voz.

    Ele sente a energia pulsando dentro dela.

    Então, sem questionar, ele concede.

    A névoa que compõe seu corpo se move ao redor de Aiko, concentrando-se em sua mão.

    E ali, em meio à escuridão da câmara, a espada de Heri se materializa.

    Uma lâmina negra e afiada, exalando um brilho ameaçador.

    Aiko a segura firmemente.

    E, no instante seguinte, ela se lança ao ataque.

    Mais golpes.

    Mais cortes.

    Mais velocidade.

    A espada de Heri dança em suas mãos, cortando com precisão cirúrgica.

    Cada golpe carrega mais impacto, mais destruição.

    E agora…

    Finalmente…

    A estátua começa a sentir.

    Pequenos fragmentos se desprendem de seu corpo massivo.

    Não é muito.

    Mas é um começo.

    Aiko não para.

    Ela ataca.

    Mais.

    E mais.

    E mais.

    O chão treme sob seus pés.

    A estátua reage.

    Ela levanta um braço e tenta esmagá-la.

    Aiko desvia, deslizando pelo campo de batalha como um raio roxo.

    A estátua contra-ataca.

    Ela tenta pisoteá-la.

    Aiko salta, girando no ar e golpeando seu joelho maciço.

    Rachaduras surgem.

    Ainda pequenas.

    Mas significativas.

    A estátua se move mais uma vez.

    Desta vez, com um golpe lateral.

    Rápido.

    Forte.

    Aiko vê o ataque vindo.

    Mas…

    Desta vez…

    Ela não consegue escapar a tempo.

    O impacto colossal a atinge.

    A imensa mão de pedra a golpeia com força esmagadora.

    O ar escapa de seus pulmões.

    Seu corpo é arremessado pelo campo de batalha.

    Mas antes que pudesse ser jogada contra a parede, Aiko reage.

    Instintivamente, ela ativa suas asas.

    Asas de éter roxo e imponentes surgem em suas costas, abrindo-se com uma força avassaladora.

    O ar as preenche.

    Aiko tenta se agarrar à estátua, usando suas garras para se prender à sua superfície.

    Mas…

    Não há apoio.

    A estrutura da estátua é lisa demais.

    Suas mãos deslizam.

    E então, Aiko cai.

    Aiko ainda voa pelo impacto brutal do golpe, seu corpo girando descontroladamente no ar. A dor explode em cada fibra de seu ser, e por um momento, sua visão escurece.

    Mas antes que seu corpo atinja o chão, algo acontece.

    Uma força envolve seu corpo.

    Uma energia negra e densa surge ao seu redor, tomando forma com rapidez assustadora.

    Placas metálicas emergem do nada, encaixando-se umas às outras em um processo fluido e mecânico.

    Uma armadura.

    Uma carapaça negra, intimidadora, moldada à sua estrutura.

    Heri a está cobrindo.

    Não apenas cobrindo, ele está protegendo.

    A armadura que se forma ao redor de Aiko tem o mesmo formato daquela que Heri usava, mas ajustada às suas proporções. Uma versão mais esbelta, mas igualmente intimidadora.

    Heri não a deixaria cair indefesa.

    O corpo de Aiko atinge o solo com violência.

    Seu corpo quica contra o chão como uma boneca quebrada, rolando descontroladamente.

    O impacto de cada rotação estala seus ossos, gerando um som terrível de fraturas que ecoa por toda a câmara.

    Mas antes que pudesse afundar na inconsciência, um grito ressoa em sua mente.

    — “Levante-se”!

    Aiko sente algo tomar o controle.

    Seus músculos reagem.

    Seu corpo se ergue automaticamente, puxado por uma força que não é inteiramente sua.

    Heri está segurando as rédeas.

    Ela se mantém em pé, mesmo enquanto a dor lateja violentamente em seu corpo.

    Mas então, algo acontece.

    A estátua muda.

    Lentamente, as pedras de sua estrutura se distorce.

    Um som profundo de pedra se arrastando ecoa pela câmara.

    E então…

    Uma boca surge.

    Uma fenda larga se forma no rosto antes inexpressivo da estátua.

    E um sorriso se abre.

    Um sorriso grotesco.

    Feroz.

    Quase… satisfeito.

    Era como se estivesse gostando da batalha.

    Como se estivesse esperando por aquilo.

    Como se estivesse se divertindo.

    Aiko e Heri não têm tempo para reagir antes que novos horrores comecem.

    Tentáculos.

    Lisos, grotescos, feitos de pedra negra e brilhante, surgem do corpo colossal da estátua.

    Eles deslizam para fora como serpentes gigantescas, movendo-se com uma velocidade impossível para algo tão massivo.

    Eles disparam contra Aiko e Heri como lanças perfurantes.

    Heri, ainda no controle do corpo de Aiko, abre os braços em um movimento instintivo.

    As espadas.

    Ambas, sua própria lâmina negra e a espada de éter roxo de Aiko, disparam pelo ar, voando direto para suas mãos.

    E no momento exato em que o primeiro tentáculo se aproxima…

    Ele corta.

    Os movimentos de Heri são perfeitos.

    As espadas giram em suas mãos como extensões de seu próprio corpo, cortando através dos tentáculos com precisão letal.

    Cada golpe divide os apêndices monstruosos em pedaços, espalhando fragmentos de pedra pelo ar.

    Mas algo estranho acontece.

    Uma substância escapa.

    Não poeira.

    Não destroços.

    Mas sim…

    Sangue.

    Sangue escarlate jorra dos ferimentos como jatos pulsantes, espalhando-se por toda a sala.

    Era o sangue de Aiko.

    Os olhos de Heri se arregalam por um instante.

    Mas não há tempo para hesitação.

    A batalha continua.

    Heri corre.

    Ele dispara pelas paredes cilíndricas da câmara, seus pés tocando as superfícies verticais como se desafiasse a gravidade.

    Os tentáculos o perseguem.

    Eles se fincam na pedra como lanças, tentando acertá-lo a cada instante.

    Mas Heri é rápido.

    Ele salta.

    Desliza.

    Desvia.

    E então, em um único movimento calculado…

    Ele se lança diretamente para o pescoço da estátua.

    As espadas brilham.

    Com um golpe avassalador, ele corta.

    A lâmina atravessa o colosso de pedra.

    E a cabeça da criatura cai.

    Ela despenca do corpo massivo, colidindo contra o chão com um estrondo destruidor.

    Aiko ainda está ali dentro, observando tudo através dos olhos de Heri.

    Ele solta uma risada ofegante.

    — Hah! Conseguimos!

    Mas então…

    Algo muda.

    Aiko sente.

    Heri sente.

    Os fragmentos começam a se mover.

    As pedras quebradas, os pedaços do corpo da estátua, todos eles começam a se arrastar de volta ao seu ponto de origem.

    O colosso se regenera.

    E antes que Aiko e Heri possam reagir…

    Um tentáculo perfura eles no ar.

    E atravessa diretamente o abdômen deles.

    — GHAAAARGH!

    Aiko grita.

    A dor explode em sua mente como uma tempestade avassaladora.

    Heri tenta manter o controle, mas sente a resistência dela diminuir diante da dor excruciante.

    O tentáculo ainda está dentro deles.

    E então…

    Ele os joga.

    O corpo de Aiko é lançado com brutalidade para longe, batendo contra a parede da câmara com força destruidora.

    A estrutura racha.

    Partes da parede desmoronam, soterrando-os sob escombros pesados.

    As espadas caem de suas mãos.

    Silêncio.

    Heri tenta se erguer.

    Mas seu corpo cambaleia.

    Sangue jorra sem parar da cratera grotesca em seu abdômen.

    Ele mal consegue manter os olhos abertos.

    O elmo da armadura se desfaz, revelando o rosto de Aiko.

    Seu olhar está vidrado.

    Sua boca se abre.

    E um rio de sangue escapa.

    O líquido vermelho escorre pelo queixo dela, respingando no chão enquanto ela continua a tossir e engasgar.

    Sangue escapa de seus olhos.

    De seu nariz.

    De seus ouvidos.

    Seu corpo treme violentamente.

    Heri sente a conexão entre eles enfraquecendo.

    Ele sente a consciência de Aiko vacilar.

    E então…

    Uma sombra.

    Apenas uma silhueta se forma no fundo da sala.

    A estátua se levanta novamente.

    E no meio da penumbra, tudo o que se pode ver…

    É um sorriso tenebroso da estatua.

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