Capítulo 48: A calamidade!
O vento sopra com violência, como se o próprio mundo temesse o embate iminente. O céu, antes límpido, agora se agita em um turbilhão de sombras e luzes distorcidas. Aiko mantém sua postura firme no ar, as asas abertas, o corpo vibrando com a energia da luta. Diante dela, o velho de manto escuro a observa, sua expressão calma como se toda aquela batalha não passasse de um mero jogo.
— Você disse… Lilith? — Sua voz ecoa, carregada de um peso ancestral.
Aiko franze a testa, segurando a espada com mais força.
— Sim. Lilith. Filha do Rei Demônio.
O velho inclina a cabeça levemente, como se estivesse analisando a resposta.
— Interessante… Mas você não se parece com o que eu esperava.
Aiko mantém o olhar fixo nele.
— E o que esperava?
Ele solta um suspiro baixo, suas mãos se cruzando atrás das costas.
— Um ser de pura malícia. Um monstro sem hesitação. Uma filha digna do trono do inferno.
Aiko estreita os olhos.
— “Malícia”? “Monstro”? Tsk. Se você tá esperando uma vilã de conto de fadas, vai se decepcionar.
O velho sorri de canto.
— De fato. Você… é diferente.
Aiko cruza os braços, sua expressão se tornando ainda mais firme.
— E quem é você pra me dizer isso?
Os olhos do velho brilham em um tom roxo profundo, e sua aura se intensifica por um instante.
— Eu sou Darkborn.
O nome ressoa no ar como um trovão, carregado de um poder esmagador. Aiko sente um arrepio percorrer sua espinha.
— Então você é Darkborn…
Ele assente.
— E você… é mesmo filha do Rei Demônio?
Heri e Lilith se manifestam dentro da mente de Aiko, suas vozes surgindo em uníssono.
— “Aiko, cuidado com o que diz.”
— “Esse cara tem um jeito estranho. Ele sabe mais do que parece.”
Aiko ignora os avisos e encara Darkborn diretamente.
— Eu sou.
O velho permanece em silêncio por um momento.
E então, ele sorri.
— Isso muda as coisas.
Aiko ergue uma sobrancelha.
— Como assim?
Darkborn a observa mais atentamente, como se estivesse vendo através dela.
— Eu vou levá-la ao castelo do Rei Demônio.
O silêncio que se segue é cortante.
Aiko pisca, surpresa.
— O quê?
Dentro de sua mente, Lilith reage imediatamente.
— “O castelo do Rei Demônio?! Aiko, você tem noção do que isso significa?”
Heri, por outro lado, permanece em silêncio por um instante antes de murmurar:
— “Isso pode ser perigoso.”
Aiko aperta os punhos, mantendo os olhos fixos em Darkborn.
— Por que você quer me levar pra lá?
Darkborn mantém seu sorriso, mas seus olhos carregam um brilho enigmático.
— Porque você é herdeira do trono. E porque ele está esperando por você.
Aiko sente seu coração acelerar.
— Ele…?
Darkborn assente.
— O próprio Rei Demônio.
Lilith parece congelar dentro da mente de Aiko.
— “Impossível…”
Aiko solta um riso baixo, carregado de desconfiança.
— Você espera que eu simplesmente vá com você?
Darkborn dá um passo à frente no ar, sua presença ficando ainda mais esmagadora.
— Você pode recusar, se quiser. Mas o destino não espera ninguém.
O olhar de Aiko se estreita.
Ela sabe que aquilo é arriscado.
Mas…
Se o Rei Demônio realmente está esperando por ela…
Talvez seja hora de descobrir o que isso realmente significa.
Ela respira fundo, e então, assente.
— Tudo bem. Vamos. Mas antes, quero passar numa cidade… não a destrua por favor.
Ele assente.
O céu se distorce ao redor do gigantesco corpo de Darkborn quando ele assume sua forma dracônica. Aiko sente uma pressão esmagadora no ar quando a energia do ser colossal se manifesta completamente. Sua pele formiga, e um calafrio percorre sua espinha. Antes que pudesse reagir, o dragão a agarra com uma de suas enormes garras e a lança para suas costas.
— Qual cidade? — Sua voz ressoa como um trovão, reverberando pelo espaço ao redor deles.
Aiko se ajeita, fixando-se nas escamas densas e maciças de Darkborn.
— Colbith.
Darkborn não responde. Em vez disso, abre suas asas colossais, cada uma com um diâmetro monstruoso que rivaliza com o tamanho de uma grande média. O ar ao redor deles se estilhaça com um estrondo ensurdecedor, como vidro se partindo.
— CHAAAAAAAAOOOOOOOOOOOOO!
O rugido bestial ecoa pelo mundo.
Aiko desfaz parte de sua armadura, mantendo apenas o necessário nos braços e nas pernas para garantir que se mantenha segura nas costas do dragão. O vento sopra com uma força avassaladora, chicoteando seus cabelos e quase arrancando sua respiração. Ela se vira para o lado e observa as asas imensas cortando os céus, sua extensão sendo comparável à de Vern, a antiga cidade que visitou.
A cada batida de asas, eles avançam distâncias impossíveis para qualquer outro ser voador. O horizonte se deforma, os céus se dobram e se rompem em sua passagem. O som do deslocamento de ar é semelhante ao de trovões contínuos explodindo ao redor deles.
*
*
*
Na cidade, os cidadãos olham para o céu com expressões de puro terror.
Um ponto roxo minúsculo se forma ao longe, crescendo violentamente a cada segundo. Primeiro, parece um meteoro cortando os céus. Então, toma forma.
O pânico se espalha.
Os sinos de emergência ecoam, os aventureiros da guilda correm para fora de suas tavernas e postos de descanso, alguns pegando armas, outros incapazes de sequer se mover. Quando Darkborn sobrevoa Colbith, a cidade inteira mergulha em uma sombra opressiva.
E então, ele desaparece no ar.
Em seu lugar, dois pequenos pontos roxos caem suavemente do céu.
Eles pousam diante da guilda.
O impacto é forte o suficiente para rachar o solo ao redor, formando fissuras no chão de pedra. Aiko cai sobre os joelhos, exausta. Seu corpo ainda sente o impacto da viagem absurda em velocidade.
Darkborn, ainda em sua forma humanoide, olha ao redor e então vira-se para Aiko.
— É aqui?
Aiko levanta um dedo, ainda tentando recuperar o fôlego.
— S-sim…
Os murmúrios das pessoas rapidamente se transformam em vozes alarmadas. Um grupo de aventureiros se aproxima, espantados e tensos.
— Q-quem são eles…?
— Isso foi um dragão?!
— Que tipo de monstro é aquele homem?
Antes que alguém tente fazer algo, uma figura sombria se manifesta ao lado de Aiko.
Heri emerge dela em sua forma de armadura completa, segurando sua espada. Ele finca a lâmina no chão e sua voz ressoa firme:
— Parem.
A pressão emana dele com força o suficiente para fazer os aventureiros hesitarem. Eles não estavam lidando com qualquer inimigo comum.
Darkborn observa Heri com curiosidade. Seus olhos roxos brilham, analisando-o por um instante.
“Hm… Você me lembra algo”.
Ele então assente, como se já tivesse compreendido o suficiente, e não pensa mais nada.
As portas da guilda se abrem com um estrondo, e um homem alto e imponente emerge.
— Quem é esse ser monstruoso?
Aiko se levanta, estalando os ossos do pescoço.
— Ele é Darkborn.
O silêncio toma conta do ambiente.
— Darkborn…? — O mestre da guilda, Rynvar Stoneclaw, repete o nome com incredulidade. Seus olhos se arregalam.
Aiko estala os dedos.
— Relaxa. Só tô de passagem. Tô indo pra casa.
O peso das palavras parece acalmar a multidão aos poucos. Mesmo assim, os olhares continuam inquietos.
Aiko suspira, dá meia-volta e encara Darkborn.
— Vamos.
Heri se dissolve em sombras e retorna para dentro dela.
Darkborn a encara por um momento e então estende a mão.
Aiko mal tem tempo de reagir antes de sentir o ambiente ao seu redor se distorcendo.
De repente, está no alto do céu.
O vento uiva ao redor deles, e seu coração salta no peito. Ela se vira, vendo Darkborn flutuando ao seu lado, sua forma humanoide ainda intacta.
— O que diabos foi isso?! — Aiko grita contra o vento.
Darkborn sorri.
— Se eu me transformasse ali, teria destruído tudo.
Aiko hesita por um momento e percebe que ele está certo.
Mesmo no alto dos céus, o ar se agita violentamente, como se uma tempestade estivesse se formando ao redor deles.
— Ainda assim, as rajadas de vento vão atacar a cidade… — Darkborn comenta, sem emoção.
Os olhos de Aiko se arregalam.
Ela olha para trás, para Colbith, onde vê a cidade sendo atingida por ventos colossais, derrubando estruturas, fazendo poeira e detritos subirem ao ar.
Dentro de sua mente, Heri e Lilith murmuram ao mesmo tempo:
— “Droga… desculpa, Colbith.”
E então, Darkborn bate as asas na sua forma de dragão e eles disparam pelo céu, deixando a cidade para trás.
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