Heri saiu lentamente de dentro de Aiko, sua forma espectral se solidificando até que a armadura negra cobrisse por completo seu corpo. Aiko sentiu um leve arrepio ao vê-lo se mover com tamanha naturalidade, como se nunca tivesse estado fundido a ela. Ele se aproximou do Rei Demônio e inclinou-se levemente, levando uma mão até o elmo do Rei e murmurando algo em seu ouvido.

    O Rei ouviu atentamente e, por um momento, seu rosto manteve-se impassível. Então, um sorriso se formou, seus olhos vermelhos cintilando com algo que poderia ser diversão ou orgulho. Sua risada ecoou pelo salão, grave e poderosa.

    “Sim. Aliás, já está acontecendo uma agorinha!”

    Aiko franziu a testa.

    “O que ele disse?”

    O rei voltou seu olhar para ela, sem responder. Apenas ergueu uma das mãos, dando um sinal para os guardas que estavam ao lado do grande portão de pedra.

    “Levem-no.”

    Os guardas obedeceram de imediato. Heri apenas assentiu e seguiu sem hesitação, sua figura desaparecendo pelos corredores escuros do castelo.

    Aiko cerrou os punhos. Estava começando a ficar irritada com a mania daquele homem de guardar segredos.

    O Rei virou-se para ela e tocou seu ombro com firmeza.

    “Vamos.”

    Darkborn esperava no pátio na sua forma dracônica, mas bastante reduzida, suas asas colossais semiabertas, como se ansioso para levantar voo. Aiko, ainda frustrada, subiu em suas costas junto ao rei. Assim que se acomodaram, Darkborn ergueu-se num salto e, com um poderoso bater de asas, impulsionou-se para o céu.

    O vento cortante açoitou o rosto de Aiko conforme eles subiam. Ela olhou para o lado e observou as expressões do Rei e de Darkborn. Ambos estavam impassíveis, como se aquele voo fosse algo tão corriqueiro quanto caminhar.

    Não demorou para que o coliseu surgisse no horizonte. A estrutura monumental se erguia entre montanhas, suas arquibancadas lotadas de espectadores.

    Darkborn sobrevoou a arena antes de iniciar a descida. O ar tremia com os rugidos da multidão. Aiko pôde ver figuras de alta patente sentadas em lugares privilegiados, aguardando o início do combate.

    Com um pouso suave, o dragão tocou o solo do coliseu. O Rei desceu primeiro, seguido por Aiko. Assim que seus pés tocaram o chão, os gritos dos espectadores cresceram ainda mais.

    “Eles te reconhecem, Lilith”, murmurou Darkborn, sua voz grave e reverberante.

    Aiko suspirou. O nome Lilith a acompanhava como uma sombra.

    O rei avançou pelo caminho reservado à nobreza até chegar à tribuna mais alta, onde se sentou em um trono de pedra negra. Aiko sentou-se ao lado dele, sentindo os olhares se voltarem para ela.

    Foi então que os portões da arena se abriram.

    De um lado, Heri surgiu, sua armadura negra brilhando sob a luz mágica que iluminava o campo de batalha. Ele caminhava sem pressa, sua presença carregada de imponência e mistério. Sua espada estava embainhada, mas o peso da expectativa em torno dele era sufocante.

    Do outro lado, um segundo cavaleiro adentrou a arena. Seu corpo robusto era coberto por uma armadura prateada adornada com padrões vermelhos. A lança que carregava reluzia como se tivesse sede de batalha. Seu elmo tinha chifres curvados para trás e, em suas costas, uma capa negra tremulava ao vento.

    O arauto do coliseu ergueu a voz, anunciando o combate.

    “De um lado, Heri, o cavaleiro das sombras!”

    A multidão explodiu em gritos e aplausos.

    “Do outro, General Vagnar, o aço inquebrantável!”

    Aiko cruzou os braços, observando atentamente.

    “Ele é um dos generais do meu pai…”

    O rei inclinou levemente a cabeça, sem desviar o olhar do campo de batalha.

    “Vamos ver se seu cavaleiro está à altura.”

    Aiko sorriu.

    “Ele vai te surpreender.”

    Lá embaixo, Heri e Vagnar se encaravam, imóveis.

    A lâmina negra de Heri brilhou sob a luz sobrenatural do coliseu. Seu metal parecia devorar a luz ao redor, uma presença sombria e ameaçadora. Do outro lado, Vagnar manteve a posição, seus olhos ocultos pelo elmo prateado, avaliando cada movimento do oponente.

    O silêncio foi quebrado pelo soar de um grande sino. O duelo havia começado.

    Vagnar foi o primeiro a avançar, sua lança cortando o ar como um raio. Seu movimento era rápido, a ponta da arma mirando diretamente o peito de Heri. Mas antes que pudesse alcançar o alvo, o cavaleiro negro moveu-se. Seu corpo desapareceu como uma sombra dissipando-se ao vento, deixando apenas um rastro de escuridão no lugar onde estava.

    A lança de Vagnar perfurou o vazio.

    A multidão prendeu a respiração.

    Aiko observou com interesse.

    “Isso foi rápido.”

    O Rei Demônio manteve-se em silêncio, com os olhos fixos na batalha.

    Vagnar não perdeu tempo e girou a lança em um arco largo, criando uma onda de vento cortante. No mesmo instante, Heri reapareceu atrás dele, sua espada descendo em um golpe preciso.

    O clangor metálico ecoou pelo coliseu quando Vagnar virou-se a tempo de bloquear o ataque.

    Centelhas voaram no impacto.

    Os dois recuaram ao mesmo tempo, medindo um ao outro.

    “Interessante…”, murmurou Vagnar, sua voz profunda ressoando dentro do elmo. “Você não é apenas um fantasma, afinal.”

    Heri manteve-se calado, sua postura inabalável.

    Então, sem aviso, Vagnar atacou novamente.

    Dessa vez, seu corpo inteiro moveu-se como uma tempestade. Cada golpe de sua lança era acompanhado por uma explosão de força, rachando o chão sob seus pés. Ele desferiu uma sequência de estocadas velozes, cada uma buscando um ponto vulnerável na defesa de Heri.

    Mas o cavaleiro negro era um espectro em movimento.

    Ele esquivava-se com mínima margem, seus reflexos sobre-humanos o permitindo deslizar entre os ataques como se estivesse prevendo cada um deles. E então, quando uma abertura surgiu, ele contra-atacou.

    A lâmina negra cortou o ar em um golpe diagonal.

    Vagnar girou a lança para bloquear, mas o impacto foi brutal.

    O general foi jogado para trás, deslizando pelo chão da arena até fincar os pés e deter seu movimento.

    Ele olhou para a própria lança. A lâmina de sua arma tremia levemente.

    Aiko sorriu.

    “Agora você entende, né?”

    O Rei Demônio inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos brilhando com renovado interesse.

    Lá embaixo, Vagnar ergueu a cabeça.

    “Impressionante.”

    Ele girou a lança entre os dedos, firmando sua posição.

    “Mas ainda não acabou.”

    O chão sob seus pés brilhou.

    Círculos arcanos surgiram ao redor dele, runas ancestrais queimando com uma luz escarlate.

    Aiko estreitou os olhos.

    “Magia de reforço…”

    O Rei Demônio cruzou os braços.

    “Agora as coisas ficam interessantes.”

    Com um rugido poderoso, Vagnar avançou novamente, e dessa vez sua velocidade era completamente diferente.

    O ar ao redor dele estalou com a força bruta de seus movimentos.

    Heri permaneceu imóvel enquanto Vagnar avançava como um cometa em chamas, sua lança vibrando com energia demoníaca. Mas, ao invés de erguer sua espada para bloquear, ele fez algo inesperado.

    Com um movimento fluido, ele girou a lâmina negra e a lançou para longe.

    A multidão ofegou.

    Vagnar hesitou por um instante.

    “O quê…?”

    Mas antes que pudesse processar o que havia acontecido, Heri já estava sobre ele.

    O cavaleiro negro desferiu um soco brutal contra o elmo de Vagnar, que foi arremessado para trás como um projétil. O impacto fez o chão da arena estremecer, rachaduras se espalhando pelo mármore negro.

    Sem dar tempo para recuperação, Heri avançou novamente. Seu punho coberto pela armadura se ergueu, brilhando com um poder escuro.

    Vagnar mal teve tempo de firmar os pés antes que outro golpe o atingisse diretamente no peito.

    O general voou para trás, rolando pelo chão, mas se ergueu rapidamente, seu corpo irradiando poder mágico. Ele cuspiu um pouco de sangue e limpou o canto da boca, apesar de seu elmo ainda estar intacto.

    “Hah… você luta bem sem arma, mas não ache que sou fraco sem a minha também.”

    Vagnar cravou a lança no chão e ergueu os punhos.

    O Rei Demônio observava tudo com um brilho intrigado nos olhos.

    Aiko inclinou a cabeça.

    “Espera… isso virou uma luta de punhos agora?”

    O dragão ao seu lado apenas riu.

    “Parece que sim.”

    No chão da arena, os dois guerreiros começaram a trocar golpes ferozes.

    Heri desviava dos socos de Vagnar com movimentos mínimos, sua agilidade sobre-humana permitindo que evitasse os ataques com precisão milimétrica. Quando via uma abertura, contra-atacava com jabs rápidos e diretos, atingindo o torso do inimigo.

    Mas Vagnar não era um simples guerreiro.

    Mesmo sem sua lança, ele era um veterano em combate corpo a corpo. Seu físico aprimorado pela magia demoníaca absorvia os impactos, e seus próprios golpes eram como marteladas.

    O primeiro soco certeiro dele atingiu Heri no estômago, jogando-o para trás.

    Heri deslizou pelo chão, mas logo se firmou, limpando a poeira da armadura.

    “Hah… nada mal.”

    Vagnar sorriu sob o elmo.

    “Digo o mesmo.”

    Eles avançaram ao mesmo tempo, trocando golpes tão rápidos que os espectadores mal conseguiam acompanhar.

    A arena tremia com cada impacto.

    Então, enquanto o combate acontecia, algo se moveu silenciosamente pelo campo de batalha.

    A espada de Heri, que ele havia jogado antes.

    A lâmina negra deslizou pelo chão como uma sombra viva, sua presença quase imperceptível.

    Ninguém notou… até que foi tarde demais.

    Lilith se ergueu em um golpe traiçoeiro, visando as costas de Vagnar.

    Mas no último instante, algo aconteceu.

    Vagnar virou-se com um reflexo absurdo, desviando o corpo. O fio negro passou rente ao seu pescoço.

    Se tivesse sido um segundo mais lento, sua cabeça teria sido separada.

    A multidão engasgou com a surpresa.

    Heri riu.

    “Reflexos impressionantes.”

    Vagnar olhou para a espada com um brilho intenso nos olhos.

    “Então essa lâmina está viva…”

    Aiko cruzou os braços, observando atentamente.

    “Isso está ficando interessante.”

    O Rei Demônio sorriu.

    “Vamos ver como isso termina.”

    Vagnar deu um passo para trás, flexionando os músculos enquanto uma aura negra começava a se espalhar ao seu redor. Seu olhar ia de Heri para a lâmina negra no chão, avaliando a situação.

    A espada Lilith tremulava levemente, como se tivesse uma vontade própria.

    Heri girou os ombros, preparando-se para o próximo embate.

    “Vai continuar fugindo da minha lâmina?”

    Vagnar riu, cuspindo um pouco de sangue no chão rachado.

    “Eu não fujo, cavaleiro negro.”

    Com um movimento súbito, ele ergueu a mão e puxou sua lança do chão. A energia demoníaca ao redor de seu corpo aumentou exponencialmente, faíscas negras dançando ao redor da arma.

    “Mas já que trouxe sua espada de volta para o jogo… acho justo que eu use minha lança de novo.”

    Heri estreitou os olhos.

    “Finalmente levando a sério, hein?”

    Vagnar girou a lança, criando um vórtice de energia ao seu redor.

    Aiko observava de seu assento, os olhos fixos na arena.

    “Esse cara é forte.”

    O Rei Demônio cruzou os braços.

    “Vagnar não é general por acaso. Ele já enfrentou incontáveis batalhas e venceu guerras sozinho. Se Heri não tomar cuidado, pode acabar caído.”

    Darkborn soltou uma risada grave.

    “Hmph. Quero ver como isso termina.”

    A luta recomeçou.

    Vagnar avançou primeiro, sua lança cortando o ar em um arco brutal. Heri desviou por um triz, sentindo o vento do golpe passando perto de sua armadura.

    Ele recuou um passo e tentou contra-atacar com um chute, mas Vagnar se defendeu girando a lança como um escudo.

    A espada Lilith deslizou pelo chão novamente, atacando Vagnar por trás.

    Mas dessa vez, ele estava pronto.

    Com um movimento rápido, ele virou-se e golpeou a lâmina com a haste da lança, jogando-a para longe antes que pudesse atingi-lo.

    “Você não vai me pegar duas vezes com o mesmo truque!”

    Heri sorriu de dentro da armadura.

    “Veremos.”

    Ele avançou, desferindo uma sequência de socos e chutes. Vagnar bloqueava ou desviava a maioria, mas alguns golpes atravessavam sua defesa, fazendo sua armadura rachar.

    Mas então, quando Heri tentou mais um ataque, Vagnar girou a lança e o atingiu diretamente no peito com um golpe violento.

    Heri foi jogado para trás, arrastando-se pelo chão.

    Ele se ergueu lentamente, ofegante, mas antes que pudesse se recuperar, Vagnar já estava sobre ele.

    O general girou sua lança para um golpe final.

    Mas foi aí que Lilith atacou.

    A espada, que Vagnar achava ter neutralizado, surgiu de forma inesperada, cortando o espaço entre eles com um brilho negro.

    Vagnar tentou se defender, mas dessa vez foi tarde demais.

    O fio negro passou de raspão pelo seu braço, deixando um corte profundo que fez seu sangue escuro jorrar na arena.

    Ele recuou com um rosnado.

    Heri aproveitou a brecha.

    Num piscar de olhos, ele estava na frente de Vagnar, desferindo um soco direto no rosto do general.

    O impacto foi brutal.

    Vagnar foi arremessado contra a parede da arena, rachando a pedra.

    Silêncio.

    A multidão prendeu a respiração.

    Aiko observava atentamente, esperando para ver se Vagnar ainda se levantaria.

    Após alguns segundos, o general se moveu.

    Ele cuspiu sangue, soltou uma risada baixa e, com esforço, ficou de pé.

    “Você… é forte.”

    Heri apenas o encarou.

    Vagnar girou a lança, cravou-a no chão e soltou um longo suspiro.

    “Mas acho que já chega por hoje.”

    Heri não relaxou de imediato.

    “Está admitindo a derrota?”

    Vagnar sorriu, mesmo com o sangue escorrendo pelo rosto.

    “Digamos que você provou seu valor.”

    Ele ergueu a mão e fez um gesto para os espectadores. A luta havia terminado.

    Aiko se recostou, soltando um suspiro.

    “Pelo menos ninguém morreu.”

    O Rei Demônio sorriu.

    “Heri se saiu bem.”

    Darkborn apenas observou, seus olhos brilhando levemente.

    Heri recolheu a espada Lilith e a embainhou, voltando-se para Aiko.

    “E agora?”

    Aiko ficou em silêncio por um momento antes de responder.

    “Agora… seguimos para o próximo passo.”

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